Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 3
Capítulo 3 – Rebeliões são construídas com esperança




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Capítulo 3 – Rebeliões são construídas com esperança

                Jyn estava de olhos fechados. Não via ou ouvia nada, mas sabia que alguma parte dela estava acordada. Logo acordaria completamente para mais uma fuga, ou só mais um dia agitado e cansativo. Ou não! Enquanto dormia Jyn tivera sonhos. Ela e Cassian estavam a bordo de uma nave qualquer, ambos feridos e exaustos à beira de um desmaio. Então tudo voltou de uma vez a sua mente. Scarif, a Estrela da Morte, seu pai, todos os seus amigos mortos, a destruição que eles viram na praia. Aquela onda imensa de pensamentos se chocou com Jyn fazendo-a sentir-se tonta mesmo de olhos fechados.

                Então pode ouvir o apito constante de monitores hospitalares e algumas vozes estranhas no lugar, algumas provavelmente de droids médicos. Jyn não ousou dar um mínimo sinal de vida, tinha certeza que iriam sedá-la novamente sem lhe dar sequer a chance de dizer uma mínima palavra. Mesmo que sentisse dor ao acordar por completo ela não se importava. Precisava saber o que tinha acontecido. Era para ela estar morta. E precisava descobrir o que acontecera com Cassian.

                Esperou por vários minutos até ter certeza que o quarto estava vazio e a porta fechada. Abriu os olhos lentamente, piscando um pouco até se sentir confortável. A luz que entrava pela única janela estreita no alto da parede indicava que estava claro lá fora. A primeira coisa que fez foi retirar a máscara de oxigênio de seu rosto após ter certeza de que estava bem sem ela. Depois reparou no soro em sua mão esquerda e tentou descobrir o quanto tinha se ferido. Ela não sentia dor, devia estar anestesiada, se sentia apenas fraca. Pode notar que bandagens envolviam seu ombro esquerdo, suas duas pernas e o pé direito, e vários arranhões e hematomas eram visíveis em seus braços, bem como pode sentir em seu rosto e pescoço. Estava vestindo uma roupa branca do hospital, o tecido era leve, macio e agradável, quase parecia um pijama comum. Então se atentou a outra coisa. Havia um monitor cardíaco ligado nela, mas estava ouvindo dois bips. De quem era o segundo? Finalmente olhou para sua esquerda, percebendo que o quarto era bem maior do que ela pensava, mas foi outra coisa que fez seus batimentos se alterem de choque, medo e alegria ao mesmo tempo. Um tanque de bacta estava instalado ali. Lá dentro ela podia ver Cassian, desacordado, vestido apenas da cintura para baixo com calças brancas do hospital, ainda visivelmente ferido, apesar de que ele devia estar bem pior antes dela acordar. Uma queimadura se mesclava a outro ferimento maior que ia do ombro para o peito, provavelmente de quando fora baleado e caíra, além de hematomas e ferimentos menores em cicatrização no restante do corpo. Uma máscara de oxigênio e um monitor cardíaco estavam ligados a ele.

                Os olhos de Jyn se encheram de lágrimas, ele estava vivo, os dois estavam! Os bips do monitor indicavam que o coração dele estava bem, batendo num ritmo constante e tranquilizador. Queria desesperadamente vê-lo acordado e falar com ele. Queria correr para o tanque para ficar mais perto dele, mas temia que suas pernas não obedecessem. Tentou movê-las e notou que conseguia, apesar de doer um pouco, mas estava fraca. Provavelmente não se sustentaria em pé ainda, por isso nem tentou. A porta tornou a se abrir e um droid médico entrou para a infelicidade de Jyn.

                - Se me sedar eu juro que acerto você com um blaster quando eu levantar.

                - Foi o que me orientaram a fazer se você acordasse confusa ou agressiva.

                - Não estou confusa. Estou muito consciente de tudo, inclusive do que acabei de dizer.

                - Ameaçar um droid não é uma coisa boa.

                - Ameaçar sedar uma paciente em boas condições mentais e sem dor também não.

                O droid se calou visivelmente irritado e reconhecendo sua derrota.

                - Você acordou outras três vezes nos últimos quatro dias, por poucos segundos, e só a sedamos novamente na primeira delas porque você chorava de dor. Não parecia ser muito, mas pela sua expressão os médicos garantiram que você ficaria mais feliz dormindo. Na última vez, ontem à noite, você perguntou pelo paciente Cassian Andor.

                Jyn seguiu o olhar do droid para o tanque onde estava Cassian.

                - Nós o colocamos no bacta ontem de manhã. Quando chegaram aqui tomamos dois dias o estabilizando, cuidando dos ferimentos mais sérios e colocando ossos no lugar.

                - O que ele quebrou?

                - Ele chegou com muita febre, por causa de tantas horas ferido sem receber assistência adequada, tinha algumas costelas quebradas e danificadas e machucados mais sérios do que você pode ver agora. Você torceu o pé direito, mas já está tudo bem. A deixamos apenas algumas horas no bacta. Não se lembra que chegou aqui à beira de um desmaio implorando pra salvarmos ele e não separarmos vocês? Isso estava fora de cogitação, mas não importava o quanto o tempo passasse, enquanto cuidavam de você, tudo que você pedia era pra não levarem ele pra longe. Falou isso até perder a consciência uma hora depois.

                Jyn tentou se lembrar.

                {Flash Back}

                O fim havia chegado. A luz, a poeira e o calor haviam consumido tudo, inclusive o casal abraçado na praia. Mas como ainda eram capazes de estar pensando sobre isso? Jyn começou a tomar consciência. Seus olhos se abriram e focou o teto de uma nave que ela não reconheceu a princípio, e na janela podia ver um céu azul escuro repleto de estrelas. Tentou se mexer. Sentia dor. E estava jogada no chão da nave. Então se lembrou! No último segundo um milagre fizera a destruição arrastar uma nave abandonada e vazia da Aliança para a praia. Apesar de alguns danos externos na nave, os dois conseguiram entrar e decolar a tempo. Seus olhos procuraram desesperadamente por Cassian. Estava sentado na cadeira do piloto, desacordado. Fez força para levantar, ignorando cada protesto de seu corpo para chegar até ele.

                - Cassian! – Chamava batendo de leve em seu rosto – Cassian! Por favor, esteja vivo!

                Ele reagiu com um gemido de dor quando Jyn tocou em seu ombro direito, e abriu os olhos.

                - Já estamos no hiper espaço... – ele falou baixinho quase fechando os olhos de novo – Me comuniquei com a Aliança. Estamos em piloto automático com rota programada pra Yavin 4, eles têm um centro médico.

                - Podemos não aguentar até lá... Fique acordado, se distraia com qualquer coisa, mas tente não dormir até eu voltar! – Pedia afagando o topo de sua cabeça.

                Ele assentiu devagar. Jyn revirou a nave, que por sorte não era grande, até encontrar um kit médico no pequeno banheiro de um dos cômodos. Voltou até Cassian vendo-o adormecido de novo.

                - Cassian!

                Ele abriu os olhos no mesmo instante. Jyn o ajudou a deitar no chão, observando-o manter seus olhos na cadeira onde estava sentado.

                - Não era eu que devia sentar ali... Devíamos estar todos aqui. Com K-2SO falando asneiras pra nos irritar.

                Jyn sentiu-se pesar de tristeza ao pensar no mesmo que ele e ambos se esforçaram para conter as lágrimas.

                - Nada disso foi em vão.

                - Eu sei... O que eu disse na praia, eu não disse à toa, Jyn. Eu tenho certeza que seu pai está orgulhoso, como todos os nossos amigos estão, como eu estou, e como você deve ficar de si mesma. Só dói... Eu só queria dizer... – ele falava baixo e pausadamente.

                - Também dói em mim. Eu queria todos aqui, até o chato do K-2SO.

                Os dois compartilharam um riso baixo.

                - Nós não vamos deixar que ninguém se esqueça deles, nem de tudo que fizeram e de terem sacrificado suas vidas por tudo isso – ela lhe disse segurando sua mão, como fizeram na praia, sentindo Cassian apertá-la de volta.

                Os dois se permitiram chorar e ter alguns instantes de silêncio, velando silenciosamente todos os amigos e aliados que haviam perdido e pensando quem estaria naquela nave que salvara suas vidas. Jyn secou as próprias lágrimas e depois estendeu a mão pra enxugar as de Cassian.

— Precisa me dizer onde está ferido. Eu encontrei bacta, bandagens e algodão.

                - E você?

                - Acho que torci um dos meus pés e minhas pernas estão queimando, mas você tá muito pior. Eu vou ficar bem.

                - Devo ter quebrado alguma coisa, dói muito. E o tiro do blaster está me matando.

                Jyn aproveitou um rasgo no tecido para abrir a costura da camisa e expor o torso de Cassian. A pele estava avermelhada e roxa em alguns lugares, além de alguns grãos da areia da praia de Scarif. Um ferimento profundo estava visível no ombro e rodeado por uma queimadura que ia até o peito. A pele estava avermelhada e roxa em alguns lugares, além de alguns grãos da areia da praia de Scarif. Um ferimento profundo estava visível no ombro e rodeado por uma queimadura que ia até o peito. Jyn afastava o tecido com cuidado, pois ele gemia de dor toda vez que ela puxava, mesmo que não tivesse secado o suficiente para grudar no tecido. Ela pediu que ele ficasse quieto, e saiu novamente em busca de água, sabão e uma toalha, encontrando os itens no banheiro e voltando até Cassian. Removeu a areia e lavou o ferimento da forma mais cuidadosa de que era capaz antes de aplicar o bacta num algodão. Cassian gritou, mas se conteve em seguida.

                - Cassian...

                - Desculpe – ele disse tão baixo que Jyn temia que ele desmaiasse de novo.

                Ele se contorceu durante todo o processo, mas não gritou mais. Por fim Jyn aplicou algumas bandagens umedecidas com o bacta para que não colassem no ferimento ao menos por algumas horas e enfaixou o lugar. Cassian sentiu muita dor, sua respiração se tornou descompassada e ofegante por alguns minutos de desespero para Jyn até que ele se acalmou e ficou quieto. Devia estar muito mais ferido, mas aquilo era tudo que ela podia fazer no momento. Jyn arrumou novamente a camisa rasgada sobre ele. Usou um pouco do bacta restante nos próprios ferimentos, mas a exaustão a tomou e conseguiu apenas cuidar dos arranhões e hematomas que conseguia ver. Fechou o kit médico, o deixando de lado, levantando uma última vez para verificar os controles da nave, e caindo sem forças ao lado de Cassian. Pensou que ele estivesse dormindo, mas a puxou para ele, a acomodando no ombro que não estava tão machucado.

                - Eu também não estou acostumado a ter pessoas por perto quando as coisas não vão bem – ele sussurrou de olhos fechados – Mas eu fico feliz por ter você aqui, Jyn.

                - Eu também...

                Jyn sorriu com a maneira doce como ele falou seu nome, cada vez que ele o repetia parecia ser mais gentil. Com esse pensamento, também perdeu a consciência. E a partir daí não lembrava de mais nada claramente, só de acordar mais uma vez pouco antes da nave pousar e de falar com alguém no transmissor, de várias pessoas em volta dela repetindo que ela ficaria bem enquanto tudo que ela conseguia emitir era um pedido insistente para que cuidassem de Cassian primeiro e não o levassem para longe dela.

                {Fim do flash Back}

                — Me lembro mais ou menos.

                - Depois que os dois estavam estáveis os colocamos aqui.

                - Quando ele vai acordar?

                - Está sob efeito de sedativos por hora, ele pode acordar agitado e confuso e entrar em choque. Vamos tirá-lo do bacta quando todos os ossos estiverem bem e quando a queimadura sumir, isso deve acontecer em algumas horas. Ele já não tem mais febre.

                - Ele não acordou nenhuma vez?

                - Não. Aconselho que não tente se sentar sozinha, vai ficar tonta depois de quatro dias deitada. Vou ajustar a cama para que se acostume, depois um médico virá vê-la e traremos uma refeição.

                - É bom não esquecer do que conversamos quando chegou.

                - Sem sedativo – o droid resmungou enquanto apertava um botão para o colchão de Jyn se erguer e deixá-la sentada, deixando o quarto em seguida.

                Jyn olhou novamente para Cassian no tanque de bacta, preocupada em como ele acordaria. E se não acordasse mesmo sem estar sedado? Não! Ele iria acordar. Seus ferimentos estavam visivelmente melhores. Minutos depois o som da porta se abrindo lhe chamou a atenção e Jyn viu uma médica da Aliança entrar. Após confirmar que Jyn estava bem, ela removeu o monitor cardíaco e trocou o soro que estava quase no fim.

                - Você está bem, não acho que será necessário colocá-la no tanque novamente. As queimaduras em suas pernas e o ferimento em seu ombro estão apresentando excelente cicatrização e logo vão sumir. Eu vou pedir que um droid traga alimento para você. E apesar de eu não ter muita ideia do que aconteceu em Scarif... Todos nós ouvimos histórias do que houve de Mon Mothma. Estamos gratos pelo que vocês fizeram e eu sinto muito por seus amigos. E não fique preocupada com o capitão Cassian Andor, eu garanto que os dois sairão bem daqui em poucos dias.

                Jyn assentiu com um pequeno sorriso antes da médica sair. Pouco tempo depois o mesmo droid chato trouxe comida e se recusou a deixar o quarto até Jyn comer e beber água.

                - Você me lembra de um dos amigos que perdi.

                - Eu não sei se isso é bom ou ruim.

                - Ele era chato como você.

                - Nós droids médicos temos noção das emoções humanas para lidarmos melhor com os pacientes, mas não podemos senti-las. No entanto agora parece que acabei de ser ofendido. Como podia ser seu amigo se era algo ruim pra você?

                - Não era ruim. Chato não quer dizer ruim, só irritante. Todo mundo é irritante de vez em quando. Ele também fez parte disso, ele também se foi pra nós conseguirmos. Teríamos morrido sem dar um passo se não fosse por ele.  Eu vou sentir falta dele, e acho que Cassian vai sentir muito mais.

                - Eu sinto muito por vocês. Aconselho que afaste as preocupações e tente dormir por si mesma. Quando acordar talvez ele já não esteja no bacta.

                - Eu vou pensar nisso.

                O droid foi embora e Jyn não precisou pensar muito. Ainda estava cansada e fraca, e a refeição, apesar de leve, fizera seu corpo pesar. Apertou o mesmo botão que o droid usara para baixar o colchão novamente e adormeceu olhando Cassian.

******

                Quando Jyn acordou outra vez estava sem soro e nenhuma outra coisa ligada a ela. Pela escuridão no quarto devia ser noite, a única luz vinha de uma lamparina em cima de uma mesa que não estava ali antes. Só então percebeu que estava em outro quarto e havia outra cama ao seu lado. Olhou para a esquerda e viu Cassian dormindo com uma máscara de oxigênio, soro e um monitor cardíaco ligados a ele. Dessa vez quase não se lembrou que ficaria tonta caso levantasse de repente e caiu de volta para a cama no meio da tentativa. Sentiu o ferimento do ombro arder. Os médicos deviam ter aplicado bacta enquanto ela dormia. Sentiu que não havia mais bandagens em suas pernas, apenas o pé estava enfaixado. Empurrou o lençol de cima de si, vendo apenas manchas vermelhas que mais pareciam uma simples alergia como se nunca tivesse existido queimadura alguma ali. Os arranhões em seus braços também pareciam bem melhores e alguns já quase não existiam mais. Jyn também se sentia mais forte e sentia que poderia ficar acordada por horas agora. Tentou sentar-se novamente, agora devagar. Em alguns segundos conseguiu ficar sentada com as pernas para fora da cama sem sentir tontura. A cama de Cassian estava tão perto que pode tranquilamente estender a mão e segurar a dele.

                - Que bom que você está vivo - disse para si mesma.

                Apesar da tristeza de toda a tragédia que presenciaram ainda estar presente, sentiu mais uma vez algo que raramente ou nunca sentia desde que perdera seus pais e que ao lado de Cassian começara a se tornar frequente, felicidade. Ansiava para que ele abrisse os olhos e pudesse falar com ele. Soltou sua mão e arriscou se pôr de pé. Soltou a cama quando conseguiu se firmar no chão frio e andou com cuidado até a ficha médica presa na cama de Cassian. Não havia mais ossos quebrados e as queimaduras estavam quase cicatrizadas. Jyn sorriu. Não tinha muito a fazer e não estava a fim de discutir caso algum médico ou droid entrasse no quarto. Beijou a testa de Cassian e se deitou novamente, adormecendo outra vez enquanto o olhava.

                - Jyn...

                A voz fraca pelos dias sem uso levou algum tempo para despertar a garota.

                - Jyn?

                - Cassian... - ela murmurou ainda dormindo e ele sorriu.

                Jyn abriu os olhos minutos mais tarde.

                - Jyn.

— Cassian!

Finalmente acordada, notando a ausência de dor e das bandagens no ombro ao se mexer, Jyn sentou-se e saiu da cama, abraçando Cassian imediatamente. Ele a apertou de volta e não queriam se soltar nunca mais. Aquele momento selava o fato dos dois terem sobrevivido. Afastaram-se e uniram suas mãos. Jyn sentou na beirada da cama dele. Não havia mais nenhuma máquina ligada ao capitão.

— O que aconteceu?

— Você ficou cinco dias desacordado. Eu acordei ontem. Você esteve num tanque de bacta por dois dias. Eu só fiquei por algumas horas e estamos muito melhores hoje do que ontem. Eu não tenho muita ideia de como chegamos aqui. Lembro de ter acordado antes de pousarmos e ter falado com alguém pelo transmissor... Eu me lembro de muitas pessoas entrando na nave pra nos ajudar. Nos colocaram em macas e eu desmaiei depois de uma hora não muito lúcida.

— Me disseram que você implorou pra cuidarem de mim primeiro e pra não nos afastarem.

Jyn sorriu timidamente, inevitavelmente sentindo o rosto esquentar um pouco.

— Você ia morrer se ficasse mais um segundo sem cuidados. Eu acordei com alguém chamando no transmissor e não pensei que estivesse morto por causa da febre terrível que tinha – ela disse começando a se lembrar com mais clareza.

— Jyn... Só nós estamos aqui?

O olhar triste dela foi uma resposta suficiente. O olhar de Cassian mostrou que ele já sabia disso, os dois haviam deixado Scarif com essa certeza, mas bem lá no fundo ele escondera um resquício de esperança. Ficou em silêncio por bastante tempo olhando para o nada, e Jyn sabia que ele estava pensando em cada um que da tripulação que haviam juntado para ir a Scarif, como ela já fizera quando acordou no dia anterior. Cassian suspirou, não queria chorar mais, não naquele momento. Já tinha chorado tantas tristezas em sua vida, mas muito poucas por pessoas que realmente amava. Sorriu ao pensar em K-2SO, solidão se tornara um conceito quase esquecido quando o robô passou a acompanhá-lo. Sentiria muita falta dele.

— O droid que vem aqui às vezes me lembra do K-2, é tão chato quanto ele.

Os dois compartilharam uma risada.

— O que vamos fazer agora?

— Não sei... Acredito que a Aliança vai querer nos esconder por um tempo, o que acho muito aconselhável. Qualquer um do império que não morreu em Scarif vai querer nossas cabeças se nos identificarem.

— E pra onde vamos?

— Algum planeta com aliados da Aliança, não dá pra saber ao certo qual ou onde fica. Mas estou com você até o fim.

— Acho que estou me acostumando a ter alguém por perto quando as coisas vão mal.

— Eu também.

O dia correu não muito diferente do anterior. Vez ou outra um médico ou o droid chato vinha vê-los, e receberam uma visita de Mon Mothma e outros aliados da Rebelião que Jyn não lembrava exatamente os nomes, embora Cassian conhecesse todos há tempos. Mon Mothma agradeceu imensamente pela missão que realizaram, deixando suas condolências por seus amigos perdidos e discutindo os possíveis próximos passos a serem dados. Cassian estava certo, não era seguro para os dois ficarem em qualquer lugar por algum tempo, se esconderiam em algum planeta distante, qual ainda não sabiam. Mon Mothma os deixou mais de uma hora depois anunciando que os buscaria pessoalmente quando fossem liberados. À noite Jyn empurrou discretamente sua cama para junto da de Cassian. Não era pesada e por sorte não fazia barulho. Aquela hora nenhum droid ou médico viria mais até o amanhecer. Mesmo depois de quatro e cinco dias dormindo não podiam negar que ainda estavam cansados e a incerteza que era suas vidas agora não os ajudava em nada a se sentirem mais dispostos. Cassian ainda sentia dor, mas convencera o droid chato a lhe dar apenas analgésicos ao invés de sedá-lo outra vez. Se acomodaram sob as cobertas de suas camas virados na direção um do outro e deram as mãos antes de adormecerem.

******

Jyn despertou de manhã bem cedo, mas não queria sair dali. Perdera a conta de quantos anos dormira sem alguém para abraçá-la, esquentá-la e até acalmá-la com um abraço quando acordava assustada com pesadelos sobre o passado no meio da madrugada. Aos poucos ela se acostumara a não estar mais sozinha de novo. E apesar de desejar voltar a lutar com a Aliança um dia, ela estava feliz. E Cassian poderia dizer exatamente a mesma coisa.

— Bom dia, estrelinha – um ainda sonolento Cassian falou baixinho e beijou seus cabelos.

— Bom dia, Cass.

Se virou em seus braços para ficar de frente para ele e o beijou, sendo demoradamente retribuída.

— Vamos caminhar um pouco – ele convidou.

Como não aceitar? Aquele planeta era lindo, apesar de estranho para eles. Um céu encantadoramente azul, grama verde, pássaros se aglomeravam e cantavam de manhã cedo, pequenos lagartos rastejavam pelo chão, além de outros animais pequenos, mas de aparência encantadora e raramente perigosos, além de um pequeno lago que havia nas proximidades. Caminhar pela manhã em volta da casa em que viviam, antes do sol nascer completamente, era maravilhoso. Estavam morando, por escolha deles mesmos, um pouco afastados da cidade que ficava a pouco menos de uma hora dali. A casa modesta, mas confortável, fora cedida por uma aliada da Aliança Rebelde que vivia naquele planeta. Jyn e Cassian haviam construído uma pequena cerca de madeira em volta pouco tempo depois de chegarem, cerca de um ano atrás.

— Espero que um dia possamos voltar. Essa luta também é nossa.

— Eu sei, Jyn... Também não consigo imaginar ficar parado pra sempre depois de todos que perdemos. Nós vamos voltar, vamos espalhar a esperança que você fez todos acreditarem com nossas próprias mãos, mas não ainda. Acho que é bom pra nós ficar aqui alguns anos, aproveitando o que conseguimos recriar da vida que arrancaram de nós quando ainda éramos crianças.

— Tem razão – ela sorriu enquanto andavam pelo campo – Eu quero que fiquemos juntos por tanto tempo quanto pudermos.

— Até o fim.

Trocaram mais um sorriso antes de Cassian beijá-la e continuarem a caminhada abraçados.


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