Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 29
Capítulo 29 - A esperança nasce do amor


Notas iniciais do capítulo

As imagens do capítulo foram feitas por uma leitora chamada Emma, dessa vez direcionadas a Hope, já que esse cap foca muito nela. Muito obrigada. =)



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Capítulo 29 - A esperança nasce do amor

Estavam no medbay. Mon Mothma a encontrara lá por acaso, e estava agora sentada numa cadeira em frente a Jyn, ainda sentada na cama.

— Jyn, você sabe que tem que dizer a ele – Mon Mothma falou gentilmente.

— Ele nem sabe que estou aqui.

— Por que não o trouxe com você?

— Não sei... Queria ter certeza. Ainda não sei como contar a ele. Fiquei com medo. Não sei de que, mas fiquei.

— Você não está pensando em...

— Não!

A mulher observou os olhos da rebelde brilharem em lágrimas somente com o pensamento de interromper a vida de seu filho ainda em formação.

— Nunca – falou mais calma – Eu não sei explicar, mas o amo demais. Apesar de todas as condições que tornam isso perigoso e complicado. Nessa guerra podemos ter tão pouco. Fico feliz por conseguir preservar o cristal de minha mãe até hoje... Por Cassian ter me encontrado... Por agora existir um lugar pra mim... Não quero perder meu filho. Eu já matei até pessoas que nem mereciam realmente, porque não tive escolha, mas se agora eu tiver, não quero matar meu bebê.

— Ninguém mais do que você tem essa escolha nas mãos. E não precisa ter medo de um milagre. Jyn, querida, o Império vem sofrendo baixas. Nossa luta não está nem perto do fim, mas nossas chances estão muito melhores desde Scarif, e graças a vocês. Família e guerra são palavras incompatíveis e eu sei de tudo que você está pensando agora, mas temos esperança. Há anos nenhum de nós vê uma criança sorrir ou chegar aqui sem ter ficado órfã, muito menos uma criança nascendo aqui. Seu bebê é um símbolo de esperança não só para você e Cassian, mas para toda a Rebelião. Eu os conheço e sei que não vão abandonar a Rebelião, nem a luta. Vocês não estarão sozinhos, encontraremos um jeito de consiliar. Tem que dizer a ele. Eu conheço Cassian desde os seis anos. Sempre foi um menino doce, e quando cresceu preservou isso. Eu tenho certeza que ele vai ficar feliz. Vá e conte a ele.

Mon Mothma sorriu para ela até que Jyn fizesse o mesmo. A rebelde assentiu com a cabeça.

******

Cassian estava ao lado da Rogue Two junto com K-2, Chirrut, Baze e Bodhi. Faziam manutenção nas armas da equipe. Jyn apareceu de repente.

— Seja bem vinda, Jyn – Chirrut sorriu.

— Bom dia – ela disse a todos.

— Jyn! – Cassian largou o que fazia e andou até ela – Onde esteve?

O silêncio dela e a insegurança nos olhos o fizeram se calar. Jyn o viu olhá-la com aquele mesmo carinho e preocupação que ele sempre tinha quando sabia que havia algo errado com ela.

— Vamos coversar – ele disse baixinho – Dentro da nave.

Ela assentiu quando Cassian segurou sua mão e a puxou para dentro da Rogue Two. Os demais se entreolharam preocupados.

— Está tudo bem com Jyn? – Bodhi perguntou a K-2.

— Por que eu saberia?

— Você é quem mais fica com eles dois – Baze argumentou.

— Ela esteve doente há alguns dias. Palidez e fraqueza.

— Você não tem nenhuma probabiidade sobre isso? – Bodhi questionou.

— Eu falei sobre isso com Cassian, ele me pediu para não comentar até segunda ordem.

— Jyn está bem – Chirrut garantiu.

— A força está te transformando num médico agora? – Baze brincou.

— Ela nunca esteve melhor.

Dentro da Rogue Two, Cassian a levou até um dos dormitórios, trancando a porta para evitar qualquer possível interferência. Jyn sentou-se em uma das camas e logo Cassian estava ao seu lado.

— Fale comigo, Estrelinha.

Cassian a envolveu pelos ombros e segurou sua mão. A respiração dela estava um pouco ofegante pelo nervosismo.

— Seja o que for que aconteceu, estou com você até o fim, então não tenha medo de me dizer. Nadie te ama como yo, mi amor – falou baixinho antes de beijar sua bochecha.

— Te amo tambíen.

— Qué sucedió? Es mi culpa? – Ele perguntou na voz mais suave e amorosa possível.

— No – ela falou com a voz alterada tentando não chorar.

Queria dizer a ele, mas seu coração se apertava no peito com a dor da dúvida.

— Sólo dime, pequeña Estrella.

Jyn o abraçou, encaixando a cabeça em seu pescoço e Cassian a apertou contra ele, afagando sua cabeça e suas costas.

— Esta todo bien.

— Tengo miedo – Jyn confessou.

— No tenga. Nadie te quiere más que a mí.

Um beijo em seus cabelos. Ela fechou os olhos e por um momento permitiu que seu coração se aquesse com o carinho dele. Era amor demais. Muito mais que outras pessoas. Na medida em que apenas seus pais tinham tido por ela. E Cassian nunca conseguiria imaginar o quanto ela era grata e feliz por isso.

— Cass... – ela respirou fundo – Estou grávida.

As mãos que a acariciavam pararam por um segundo antes de continuar. O silêncio dele a matando por dentro, e tudo que a segurava era o carinho em seu cabelo e suas costas. No que ele estaria pensando? Em como aconteceu? Que não deveria ter acontecido? De quem seria a culpa? Como concliariam a luta na Rebellião com um bebê? Ou que não deveriam ficar com ele? Apesar de agora terem mais funções na base do que em campo... Ela fechou os olhos quando o sentiu pressionar um beijo em sua testa e apertá-la mais contra ele.

— Nós vamos encontrar um caminho, querida.

Jyn o abraçou mais forte também e os próximos segundos de silêncio foram menos angustiantes.

— Como?

— Eu não sei ainda, mas nós sempre fizemos, até quando pensamos que morreríamos naquela praia. Vamos fazer de novo... Nós quase morremos tantas vezes... Em Scarif nosso fim era certo, no entanto estamos aqui agora. Aconteceu... Não é culpa de nenhum de nós, é só o que deveria acontecer naturalmente se não houvesse uma guerra pra ferir as pessoas. Não acha que esse é um grande sinal de que, mesmo através de tudo isso, a vida deveria continuar?

— Você está feliz com isso?

Cassian afrouxou o abraço para beijá-la.

— Más que nunca, mi rebelde – ele disse com um enorme sorriso – Sonreír para mí.

Jyn sorriu. Casian secou os cantos de seus olhos com os polegares, impedindo que as lágrimas que Jyn segurava manchanssem seu rosto. Trocaram um sorriso enorme, talvez o mais lindo de todos até então, e um beijo igualmente apaixonado. “Nuestro bebé”, “nuestro hijo”, ouviu Cassian sussurrar entre os beijos.

Do lado de fora da nave, K-2 se perguntava se deveria interferir, mas temia que Cassian gritasse com ele como em outras vezes que o havia interrompido por acidente em alguns momentos com Jyn.

— Já está tudo bem.

— Não quero nem pensar no que você veria e saberia se enxergasse – Baze falou.

— Está tudo no coração e na força. Não preciso ver dessa forma.

******

— O que ela tem? – Jyn perguntou preocupada.

A médica do medbay trouxe a recém nascida de volta para a mãe, agora banhada e vestida, o que não fez a menina parar de chorar, apenas se acalmar um pouco. A médica sorriu para tranquilizar o casal.

— Ela está apenas com fome, não fique preocupada. Eu vou orientar você sobre isso.

A mulher ensinou Jyn como segurar a bebê adequadamente para alimentá-la, depois examinou Jyn rapidamente. Ela havia desmaiado após o parto, logo que segurou a filha em seus braços.  Quando comprovou que Jyn estava bem, a médica deixou o casal sozinho no quarto, orientando-os a chamar imediatamente se algo parecesse errado, e fechou a porta antes de sair.

Cassian sentou-se ao lado da esposa e da filha, afagando os fios macios de cabelo castanho da pequena enquanto Jyn a amamentava. A rebelde estava notavelmente esgotada depois daquelas longas quase oito horas, e Cassian também após quase ter um ataque quando ela perdeu a consciência. Às vezes os olhos verdes pareciam que iam se fechar. Ela olhou para Cassian, devolvendo o sorriso que ele já tinha para ela, antes de se beijarem.

— Qual é a sessação?

— Estranha... E maravilhosa – Jyn respondeu olhando para Hope outra vez.

A bebê tinha fechado os olhinhos. Cassian queria vê-los mais uma vez, eram iguais aos de Jyn. Tudo nela se parecia muito com Jyn, apesar de ter sua cor de cabelo e logicamente também ter traços seus. Era um bebê pequeno, embora não dos menores segundo os médicos e droids, quando crescesse ela deveria ficar do mesmo tamanho da mãe ou um pouco maior.

Cassian adorava isso em Jyn. Ela era linda! E o pouco tamanho a deixava ainda mais graciosa, especialmente quando estava brava. Em um segundo ela estava irritada com ele por alguma coisa, no próximo ele estaria rindo por achar fofo ver alguém tão pequena parecendo um trooper furioso, deixando-a mais zangada ainda, então ele a prenderia em seus braços, ou entre ele e a parede, para beijar seus cabelos ou seu rosto, e ela se rendia alguns beijos depois, esquecendo-se totalmente do motivo de estar com raiva e colando seus lábios nos dele. E fora provavelmente depois de um desses momentos em que eles haviam chegado ao momento de agora, com uma linda, pequena e fofa recompensa descançando nos braços de Jyn.

— Ela dormiu?

— Não, ainda está sugando. Acho que ficou cansada. Um dos droids disse que o parto também cansa o bebê.

Ela repousou a cabeça no ombro do marido, que a envolveu com um braço e beijou sua testa.

— Você está bem?

— Sim... Só exausta.

Jyn respirou fundo e fechou os olhos. Cassian a observou preocupado, mas ficou quieto, deixando-a descansar. Ela abriu os olhos novamente depois de algum tempo, quando Hope se sentiu satisfeita. Cassian segurou a filha enquanto Jyn fechava sua roupa hospitalar. Hope finalmente abriu os olhos de novo e o tenente vislumbrou o mesmo verde bonito dos olhos de Jyn.

— Ela é tão linda quanto você – falou olhando encantado para a filha.

Jyn sorriu ao ver o sorriso enorme no rosto de seu amado capitão. Ambos eram tenentes agora, mas para ela, ele sempre seria seu capitão, como ela seria sempre sua rebelde.

— Ter o pai mais lindo da galáxia também ajudou.

Trocaram mais um beijo e chamaram alguém pelo comunicador. A mesma médica voltou e os ensinou como cuidar da criança após sua alimentação para que não engasgasse. Quando Hope dormiu, a mulher a acomodou no bercinho ao lado da cama.

— Você precisa tomar soro – ela disse à Jyn, que assentiu.

Não demorou para ela conectar um tubo de soro à mão esquerda de Jyn, que estava com tanto sono, que quase não reagiu quando a agulha perfurou sua pele. A médica prendeu uma placa a sua mão para mantê-la imóvel e avisou que o soro iria hidratá-la e ajudar a recuperar as forças.

— Alguma pergunta? – Ela questionou gentilmente.

Antes que qualquer um dos dois respondesse, Jyn, que estava olhando na direção da médica, fechou os olhos de repente e sua cabeça pendeu para o lado. A tensão voltou a se instalar nas feições de Cassian, que sentiu seu coração começar a acelerar e atordoá-lo.

— Jyn!

Sem resposta.

— O que aconteceu?!

A médica tomou algum tempo verificando as funções vitais da tenente e baixou o colchão par Jyn ficar deitada, sendo ajudada por Cassian para deixá-la numa posição mais confortável.

— Ela está bem, apenas dormiu. Ficou cansada demais e o corpo apagou ao chegar no limite de sua energia. Estará bem quando acordar daqui algumas horas.

— Acha que ela pode precisa de bacta?

— Não. Deixarei um tanque preparado por precaução caso algo se complique. Mas as chances dela acordar em poucas horas e bem, são altíssimas, apenas está dormindo. Deixe-a descansar. Um droid virá aqui de minutos em minutos.

Cassian assentiu e após a mulher verificar Hope uma ultima vez, ele foi deixado sozinho com as duas. Hope dormia tranquilamente, totalmente alheia a qualquer uma das preocupações que nublavam os pensamentos de seu pai. Jyn parecia tranquila e até feliz, sua respiração estava calma e ele mesmo se certificou que seus batimentos estavam normais, só então ficando realmente menos nervoso. Também devia estar visivelmente cansado. Ele não tinha dormido desde que Jyn entrara em trabalho de parto durante a madrugada, apenas cochilado enquanto esperavam trazerem Hope de volta da medição e pesagem. E se recusava a fechar os olhos até que Jyn acordasse. Segurou a mão livre dela, acariciando-a com o polegar e beijou o canto de sua testa.

— Descanse, querida – sussurrou para ela.

A porta foi aberta suavemente e K-2 entrou, fechando-a em seguida.

— Me disseram que não devem receber visitas até ela acordar, mas me permitiram ficar aqui e auxiliar. Fui informado de que você não dormiu de verdade nenhuma vez desde que tudo começou. E se me permite dizer, sua aparência não está realmente das melhores, começando pelos cabelos desalinhados. Durma um pouco, eu vou vigiar Hope e Jyn.

Cassian sorriu, sentindo-se grato ao amigo mecânico. K-2 pouco se importava com as emoções humanas, mas sabia cuidar bem daqueles que lhe eram importantes. E Cassian fizera questão de treiná-lo durante a gravidez de Jyn para que fosse totalmente capaz de julgar se havia algo errado com ela ou o bebê, mesmo depois que Hope nascesse. Os médicos e droids do centro médico não negaram oferecer informações para tornar isso possível.

— Obrigado, Kay – ele disse apenas, antes de se endireitar na cadeira, repousar a cabeça ao lado da de Jyn e adormecer quase instantaneamente.

******

Os Rogue One observavam Jyn rir segurando Hope no colo. A bebê estava com pouco mais de um ano e tinham encontrado Jyn e Cassian sentados com ela do lado de fora da base. Cassian também ria abraçando a esposa e a filha. O riso era algo um pouco estranho até para a própria Jyn. Haviam sobrevivido à Scarif e o Império vinha sofrendo cada vez mais baixas após a destruição da Estrela da Morte, uma vitória da Rebelião podia acontecer a qualquer momento. Mas depois de tantos anos em guerra e sofrimento, todos eles precisavam reaprender o que era felicidade.

— O que aconteceu com vocês? – Baze perguntou se divertindo com a situação, tinha chegado ali de repente acompanhado de Chirrut, Bodhi, e K-2.

— Ela disse mamãe – Cassian respondeu com um sorriso ainda maior.

Os olhos de Jyn brilhavam de alegria quando ela beijou a bochecha da filha, que emitiu uma risada.

******

Estavam sentados no hangar conversando com Han, Leia e Chewie sobre as pequenas vitórias que vinham sendo conseguidas aqui e ali pela rebelião. Chewbacca estava sentado no chão brincando com Hope e seu K-2SO de brinquedo que Cassian e Jyn tinham feito para ela. O boneco ficara realmente similar ao droid, que não raramente comentava sobre não ver muito sentido em cloná-lo para ser um brinquedo para divertir uma criança, e Jyn sempre rebatia que ela tinha um stormie quando era pequena, e o K-2 de brinquedo não podia ser o mais esquisito. Mas já tinham visto mais de uma vez o droid usando sua própria miniatura para entreter Hope quando ela chorava, e ela sempre se divertia.

— Ela está perto? – Han perguntou quando viu a pequena tentar ficar de pé e cair de volta ao chão.

— Quase – Jyn respondeu – Ela consegue ficar de pé um tempo sozinha, mas cai quando tenta andar. Ontem achamos que ela daria o primeiro passo, mas caiu tentando.

— Mas ela parece feroz como você, não deve demorar – Leia comentou.

A criança já havia caído três vezes e tentado levantar de novo em todas elas. Chewie se levantou segurando o brinquedo nas mãos. A pequena exibiu um olhar irritado para o wookie, mais por não poder alcançar a altura dele do que por ele estar com seu mini K-2.

— Cheiie – ela murmurou o nome do wookie desajeitadamente, ainda se enrolava com algumas palavras.

Chewie emitiu um ruído em resposta. Hope agarrou a calça de Cassian e se puxou para cima. O tenente riu.

— Um acesso de raiva vai fazer você andar? – Ele perguntou sorridente para a filha.

— Vá pegá-lo, Estrelinha! – Jyn sussurrou encarando a menina com um sorriso.

A pequena pôs a outra mão no joelho da mãe e passou um longo tempo parada fitando o wookie. Não era possível definir o que se passava naqueles jovens olhinhos verdes. Mas sendo um velho amigo de Jyn, Han podia dizer com segurança que já vira aquele olhar muitas vezes antes, o mesmo olhar de Jyn quando decidia que ia fazer alguma coisa e ninguém conseguia fazê-la voltar atrás. Mais alguns segundos correram até ela soltar a calça de Cassian e se impulsionar para frente ainda com a outra mão no joelho de Jyn. Conseguiu se manter de pé quando a soltou e encarou Chewie, que a incentivou com outro ruído.

— As probabilidades dessa ser a primeira tentativa com sucesso são de 55% – K-2 falou.

— Se Hope quer, então ela vai fazer – Chirrut falou.

— Vamos, Hope! – Bodhi chamou-a indo para o lado de Chewie.

— Queremos ver você correr, irmãzinha! – Baze a incentivou.

— Recupere seu droid, querida – Leia lhe disse.

Mais algum tempo depois Jyn e Cassian já podiam se considerar felizes por ela ainda estar de pé e um olhar de surpresa tomou o rosto de ambos quando a criança deu dois passos sem cair na direção de Chewie, embora cambaleando um pouco, e parando antes de continuar andando. Passos um pouco vacilantes, mas passos ainda assim. Chewie a esperou chegar até ele e falou algo em sua língua que Hope ainda não entendia, mas ela identificou a alegria do wookie e riu quando ele a pegou no colo e lhe devolveu o droid de brinquedo, junto a exclamações de alegria e satisfação dos demais. Chewie devolveu a menina ao chão e ela olhou na direção dos pais, que a chamavam.

— Volte, querida – Cassian lhe disse.

— Venha pra mamãe e pro papai – Jyn chamava ainda mais feliz.

Mais alguns passinhos inseguros e ela logo chegou até eles, apoiando-se nos joelhos de ambos. Jyn a puxou para cima, sentando-se mais perto de Cassian para Hope poder compartilhar o colo dos dois, e beijaram o rosto da filha.

— Parece que cheguei num bom momento – uma sorridente Mon Mothma apareceu.

Ela os observava de longe e conseguira ver o que tinha acabado de se passar.

— É bom ver algo assim aqui. Depois de todos esses anos vendo crianças tristes.

******

— Papai – a pequena de três anos puxou a calça de Cassian com a mão livre, para lhe chamar atenção.

A outra mãozinha segurava a do pai.

— Você já vai comer, querida – o tenente sorriu para a filha, erguendo-a e sentando-se com ela no colo.

A tripulação da Rogue Two sempre fazia suas refeições junta no grande refeitório de Yavin. Mesmo K-2 ficava por perto quase sempre. Baze e Chirrut já comiam. Bodhi fora ajudar Jyn a trazer algumas coisas para a mesa. Logo os dois chegaram deixando duas bandejas ali.

Jyn beijou a bochecha de Cassian e depois fez o mesmo com Hope antes de se sentar.

— Kay já está vindo, meu amor – disse para a pequena.

Logo o droid apareceu carregando outra bandeja com uma tigela de mingau, deixando-a na frente de Cassian.

— Nunca pensei que algum dia eu desempenharia função de babá... Não estou reclamando, apenas dizendo – se defendeu quando Cassian o olhou.

Todos riram um pouco com a cena. Cassian pegou a colher na tigela e começou a alimentar a filha.

— Vamos, querida.

Hope normalmente não dava trabalho para comer e abriu a boca rapidamente para receber o alimento. Todos observavam aquele momento com orgulho e felicidade, especialmente Jyn, que não pode deixar de pensar em como seus pais, e até Saw, ficariam felizes em ver aquilo, e provavelmente os pais de Cassian também. Ele parecia transbordar em felicidade, seus olhos castanhos brilhavam e não conseguia tirar o sorriso do rosto.

******

Hope corria e ria atrás do BB8 azul que agora era o mais novo membro da tripulação e da família. Uma das funções do pequeno droid era ajudar a cuidar da menina de cinco anos. Quando a pequena se cansou, sentou no chão e voltou a rir quando o droid arredondado começou a dar voltas e mais voltas em torno dela.

— Quién es, mamá?

— Es una unidad de BB. Um BB8. Un nuevo amigo, Hope – Jyn respondeu.

— Ele vai morar com a gente também?

— Sim – Cassian sentou-se no chão ao lado da filha – Ele vai nos ajudar com algumas coisas na nave, nas missões, na base... Agora com ele e Kay juntos, podemos fazer mais coisas ao mesmo tempo.

— E uma das coisas mais importantes que ele vai fazer é nos ajudar a cuidar de você – Jyn falou, já sentada no chão do quarto de Hope junto com os dois.

Quando Hope começou a crescer, o quarto ao lado, que estava vazio, foi conectado ao de Jyn e Cassian para que Hope pudesse ter seu espaço nele. Era um cômodo praticamente idêntico ao outro, apenas com uma nova porta para ligar os dois. Era uma criança obediente e jamais abria a porta para o lado de fora quando estava sozinha, mas os dois conheciam sua filha o suficiente para saber que ela herdara a ânsia por aventura de Jyn, e o BB8 havia chegado em bom tempo para ajudar com a segurança dela. O droid estava parado em frente aos três os olhando. Ele emitiu alguns ruídos e a expressão no rosto de Hope revelou que ela não tinha entendido.

— Ele disse que você é uma criança adorável – Jyn falou – Você está começando a entender o R2-D2, vai entender ele também.

Passos metálicos e pesados foram ouvidos atrás deles e o BB8 ergeu a cabeça para olhar K-2, que apenas ficou lá parado.

— Não vá me dizer que está com ciúmes – Cassian brincou com um sorriso.

— Ciúmes é uma emoção humana, não sinto tal coisa.

— Você tinha ciúmes de Jyn quando a conheci, e bastante, embora nunca tenha aceitado isso. Você não sabe Kay, mas tem uma lealdade tão grande a quem você gosta... Eu ainda acho que isso é uma sequela da sua programação imperial, mas convertida em proteção e posse ao invés de dominação e opressão. O BB8 é um novo membro da tripulação e da família. Ele vai ser uma ajuda extra, até pra você.

— Você está imaginando coisas. E é claro que fico satisfeito em ter mais auxílio. Você tem ideia do que eu precisei dar conta sozinho quando todos vocês estavam fora da nave em apuros ao mesmo tempo?

— Vocês parecem se complementar perfeitamente – Jyn falou – O BB8 é um docinho, você continua falando a primeira coisa que vem em seu cérebro metálico.

— A propósito... Vão transformá-lo em um mini protótipo de pelúcia também?

Cassian e Jyn riram.

******

— Assim... Respire fundo e não se desconcentre do seu alvo – Cassian dizia abaixado ao lado da filha, que segurava o blaster 1A80 de Jyn nas mãos erguidas apontando para um alvo.

— Você ajudar você no primeiro tiro, pra que sinta a força do blaster. Você não vai poder usar esse ainda, é muito potente, você pode se machucar quando atirar – Jyn lhe disse.

A menina assentiu. Aos oito anos, parecia nascida para lutar, pois nem menos os dois droids e toda a tripulação da Rogue Two a observando tiraram sua concentração.

Jyn pôs as mãos sobre as mãos enluvadas da filha, ajudando-a a manter a posição correta e suportar a força na arma no momento do disparo, e esperou que ela se preparasse para puxar o gatilho. Não esperava que ela acertasse perfeitamente o alvo no primeiro tiro de sua vida e com uma arma daquele calibre, mas ela puxou o gatilho e foi exatamente o que fez. Ninguém emitiu uma palavra, havia apenas olhos arregalados e a fumaça que se erguia do centro do alvo na área de treinamento. A criança devolveu o blaster a sua mãe e olhou dela para seu pai com expectativa. Jyn guardou a arma no coldre e olhou para a filha, ainda surpresa.

— Você foi perfeita! – Falou sorridente, sendo imediatamente correspondida.

— Hope... Como...? – Cassian procurava palavras.

— O que você achou?

— Querida, eu precisei atirar muitas vezes pra fazer isso.

******

Hope levara a sério as palavras de um dos treinadores rebeldes que dissera no dia anterior “surpreenda-me”. Faltando apenas um minuto para o treinamento de luta corpo a corpo ela ainda não estava visível. O grupo era formado em maioria por adolescentes e adultos jovens, de vários lugares distantes, que recentemente haviam se unido à Aliança. Hope era considerada a única criança. Talentosa e hábil, feroz como Jyn e furtiva como Cassian. Mas sempre fora ensinada e nunca utilizar mais violência do que a necessária, e seguia isso mesmo nos treinamentos. O soldado rebelde responsável pelos treinos orientou o grupo a treinar em duplas e olhou em volta.

— Hope! Se está aí é bom que não se atrase ma...

Ele nunca terminou a frase. Um peso colidiu com suas costas, provavelmente vindo da X-Wing parada atrás dele, e pernas pequenas se prenderam a ele enquanto duas mãozinhas vedavam sua visão. Passado o momento de surpresa, o treinador levou as mãos para trás para reagir, mas, como preço por poder enxergar de novo, teve suas mãos fortemente presas nas costas. Não entendia como uma criança de onze anos conseguia ser tão forte. Nesses momentos ele quase conseguia acreditar na força também, porque era a explicação mais próxima de “possível”. Quanto mais tentava tomar o controle, mas a criança o puxava e empurrava para forçá-lo em outra direção, quando não usava uma das pernas para impedir um movimento das dele. A essa altura o grupo tinha parado o treinamento e todos observavam sem dizer uma palavra. Após mais alguns minutos o treinador conseguiu retomar o controle e prendeu a pequena rebelde no chão, tendo o cuidado de segurar as mãozinhas longe da cabeça, pois uma vez ela o havia mordido, apenas o suficiente para fazê-lo soltá-la, apenas sentiu dor, nem havia se machucado, mas sabia que ela podia fazer muito pior se quisesse.

— Você tem talento criança, como eu já disse muitas vezes, mas aqui vamos nós com mais uma chance de consertar as brechas no seu método. Um segundo pode custar sua vid...

Um chute na perna e uma joelhada no estômago. A menina o empurrou de cima dela e se levantou. O treinador caiu para o chão com um pequeno murmúrio de dor, inconscientemente tentando não demonstrar que fora vencido por alguém tão menor e mais jovem. Hope o olhava com a mesma expressão séria e ameaçadora de Jyn Erso. Ninguém que estava há muito tempo em Yavin 4 se esqueceria daquele olhar. Mas em dois segundos os olhos verdes se suavizaram e ela estendeu a mão para ele, um ato de nobreza sempre alimentado entre os aliados da Aliança nos últimos tempos, apesar da guerra sempre endurecer um pouco o coração de todos. O homem sorriu e aceitou, embora tivesse se levantado mais por si mesmo do que com Hope o puxando.

— Isso foi brilhante! Mesmo – falou para ela com um pequeno sorriso – Mas sabe que temos ordens, um protocolo de treinamento.

— Ordens? Quando sabe que estão erradas?

— Você é mesmo filha de sua mãe – ele disse baixinho.

******

— Han!

— Jyn!

Os dois amigos se abraçaram. Fazia um bom tempo que a Millennium Falcon não pousava em Yavin. Perto da entrada da nave, BB8 conversava animadamente com C-3PO, R2-D2 e um BB8 vermelho alaranjado que pertencia a um novo e jovem piloto da Aliança, chamado Poe Dameron.

— Onde estão todos?

— Leia os encontrou lá dentro. Estão conversando. Hope saiu correndo pra ver Chewie.

— Estão dentro da Falcon.

— Por que?

— Equipamento com problemas... Você tem que ver isso!

Jyn o acompanhou até um lugar da nave onde duas caixas de circuitos estavam abertas. Chewie tentava consertar alguma coisa em uma, e Hope fazia o mesmo com a outra, manipulando fios e conexões como se fizesse aquilo há anos. Embora desde pequena tivesse aprendido a consertar e reprogramar droids e alguns pequenos problemas em naves, nunca havia feito nada numa nave com o porte e quantidade de alterações da Falcon. Hope Lyra Erso Andor agora tinha treze anos. Chewie emitiu um ruído de satisfação e fechou a caixa que estava manipulando.

— Consertado – Hope falou, também fechando a caixa de circuitos.

Jyn apenas olhava surpresa e feliz enquanto Han sorria.

— No dia que ela nasceu e nós viemos aqui visitá-la, sendo filha de vocês dois, eu sabia que ia muito longe, mas não deixo de ficar surpreso mesmo assim.

******

— Corra e encontre um esconderijo.

— Mamãe...

Ela se lembrava de seu treinamento quando criança, e dos motivos, e de como sua mãe descobrira o que realmente significava a brincadeira de se esconder quando ela mesma era criança. “Vá e se esconda” nunca era um bom sinal.

— Querida – Jyn a chamou – Precisamos de cobertura. Enquanto estivermos aqui, você não vai ser a escala pros maiores riscos, já decidimos isso. Nós chamamos a atenção, você atira sem que possam ver de onde, e o caminho até a nave fica livre.

— Eu contatei Kay e BB8. BB fica na nave. Kay vai vir da direção oposta pra atirar junto com você. Nós vamos rastejar enquanto isso.

Ela assentiu e se afastou. Seu pouco tamanho a ajudou a se esconder perfeitamente entre as rochas e a grama alta. Com quinze anos, era ainda mais parecida com sua mãe, e pequena como ela. Seu coração acelorou quando os stormtroopers detectaram Jyn e Cassian, mas forçou-se a ficar concentrada e certificou-se de não errar nenhum tiro depois que os dois se abaixaram. Viu os soldados imperiais que ela não conseguia alcançar também caírem mortos, e Kay apareceu ao longe carregando um blaster. Saiu de seu esconderijo e os quatro correram para a nave. Logo Chirrut e Baze também entraram, vindo de outra área de combate. Bodhi já preparava a nave para a decolagem e em segundos estavam fora daquele planeta com mais uma missão completa e sem perder ninguém. Sempre um milagre para qualquer grupo rebelde. Viu sua mãe segurar o cristal kyber que nunca saía de seu pescoço, e as palavras que ela ouvira a vida toda, até mesmo de seu pai, ecoaram em seus pensamentos, “Confie na força”.

******

— Tudo bem em nos desviarmos antes de encontrar Maz? – Hope perguntou.

Agora com vinte e quatro anos, às vezes ele tomava o controle da nave junto com Bodhi ou K-2.

— Sim, eu falei com Mon Mothma sobre isso – Cassian respondeu.

— Faz muito tempo que não paramos pra realmente admirar uma praia, não acha? – Jyn perguntou.

— Sim... Estamos sempre correndo – Hope respondeu.

— Quando vou poder pilotar, mamãe? – Galen perguntou.

A rebelde riu e abraçou o filho de oito anos, beijando sua bochecha.

— Quando você crescer mais um pouco.

Hope havia pilotado a Rogue Two junto com Bodhi e K-2 por quase todo o trajeto até ali. O Império finalmente havia caído, e uma nova era de esperança se erguia para todos. Estavam no planeta para receber algumas informações de Maz. Tinham se desviado para a praia por algum tempo antes disso. O grupo podia dizer que há anos não tinham realmente um momento para descansar da guerra constante. E como a própria Mon Mothma havia dito antes de partirem, tal vitória jamais teria sido alcançada sem eles. O trabalho continuaria sempre, mas podiam repôr as forças por enquanto. Baze e Bodhi corriam pela água rindo como dois tontos e se divertindo como só deviam ter feito quando crianças. Jyn, Cassian e Chirrut riam observando.

— Vamos também! – Cassian levantou-se de repente, puxando Jyn e Galen com um braço e Hope com o outro.

Os quatro riram juntos, sem exatamente ter um motivo. A derrota recente o Império era suficiente por enquanto. O BB8 entrou na água, sendo perseguido por Galen e Hope. Chirrut permaneceu sentado na areia com K-2.

— Você também não gosta de água? – O droid perguntou.

— A água faz parte da perfeita harmonia da natureza. Mas no momento estou em paz aqui.

Cassian ergueu Jyn em seus braços e a rebelde ria enquanto ele corria para dentro da água com ela. Após alguns minutos, quando já estavam completamente encharcados, e cansados de correr, sentaram-se juntos na areia submersa e a mão de Jyn acariciou o rosto do marido, afastando o cabelo molhado de sua testa e o beijando nos lábios.

— Finalmente – ela falou baixinho antes de beijá-lo outra vez.

— Vinte e cinco anos... Finalmente, Jyn – Cassian também disse, como se repetisse um mantra.

Uma grande comemoração já havia sido feita na base, e em todas as bases rebeldes espalhadas pela galáxia, mas aquela era a comemoração deles. Lah’mu, Fest, Wobani, Scarif, Eadu... Todas as mortes, todos os amigos perdidos. Agora tinham a maior prova de que nada daquilo fora em vão.

— Obrigada por me encontrar e sempre voltar pra mim, meu capitão.

— Obrigado por ficar comigo e por sempre cuidar de mim, minha rebelde.

Os dois olharam seus amigos e seus filhos brincando na água azul clara. A luz do sol e as árvores espalhadas na areia branca tornavam o momento ainda mais lindo. Se olharam sorridentes e uniram suas testas, fechando os olhos e entrelaçando suas mãos por um instante, como se agradecessem à força. Talvez inconscientemente estivessem fazendo isso. Era um milagre ainda estarem todos vivos após a derrota do Império. Cassian beijou a bochecha da esposa suavemente e ela virou o rosto para procurar seus lábios. Se prenderam em um abraço, as mãos de um acariciando os ombros e os cabelos do outro, o beijo se aprofundando intensamente como se fossem morrer naquele instante, como havia acontecido naquele elevador em Scarif vinte e cinco anos atrás, mas a sensação que carregavam era totalmente diferente. Sem morte, medo, tristeza ou dor. Eles viveriam. E mais do que em qualquer outro momento, havia esperança.


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