Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 25
Capítulo 25 – Marcas da guerra




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Capítulo 25 – Marcas da guerra

Era para ser uma missão de reconhecimento. Apenas isso. Uma missão simples e relativamente segura e com bons planejamentos de fuga emergencial, num planeta desconhecido, mas aparentemente amistoso e neutro. Análises da Aliança feitas durante várias semanas indicavam que havia população, porém, assim como em Lah’mu, escassa, com seus poucos habitantes vivendo a quilômetros de distância um do outro. A confirmação dessas informações tornara possível para Cassian e Jyn levarem sua filha de doze anos com eles. Desde bem pequena ela recebia treinamento da inteligência, por seus pais e outros rebeldes, e estava se familiarizando cada vez mais com os serviços e missões da Aiança Rebelde. Seus treinadores relatavam que era tão atenta e habilidosa quanto o pai e tão furiosa e esperta quanto a mãe.

— Eu vou pro outro lado, mas os rádios estão ligados, não saia do lado da sua mãe de jeito nenhum! – Cassian falava gentilmente se abaixando para ficar mais próximo do nível de visão da filha – Kay vai ficar na nave, ele vai sair pra ajudar qualquer um de nós que gritar primeiro.

Ela assentiu.

— Eu te amo, Estrelinha.

— Também te amo, papai.

A menina o abraçou, e Cassian a apertou em seus braços, rezando mentalmente para a Força que os protegesse, como ele fazia em todas as missões. O capitão beijou a bochecha da filha, que usava os cabelos castanhos presos numa coroa trançada, algo que Leia havia ensinado a ela, e caminhou até Jyn. Hope viu os dois se beijarem e sorrirem, depois trocarem algumas palavras antes de seu pai se afastar e sumir entre algumas árvores.

— Vamos – Jyn chamou.

As duas caminharam pela grama. O planeta era realmente algo bem diferente de muitos outros. A grama era azul, o que de longe podia ser facilmente confundido com água. Antes de pousarem haviam visualizado uma pequena lagoa em algum lugar, a água era de um azul claro e bonito, mais claro que a grama, como em algumas praias do planeta Terra, onde haviam estado uma vez, ao menos para Hope. Seus pais diziam já ter vivido lá por algum tempo após a batalha de Scarif.

Jyn pegou seu blaster, deixando-o preparado para qualquer emergência.  Hope ainda precisava de dois anos de treinamento para ter a permissão de usar blasters em missões que não eram de alto risco, mas podia carregar uma vibroblade, e também a segurou firme para o caso de algum imprevisto. Por alguns minutos as duas apenas caminharam pelo local, catalogando plantas, cores, temperatura, alguns pássaros coloridos que passaram voando rapidamente... Quando percorreram cerca de quatrocentos metros, avistaram uma casa pequena. Talvez habitada, mas sinistra. A madeira parecia maltratada e velha, e dentro aparentemente não havia nada. Jyn parou com o blaster em posição quando estavam há cinco metros da entrada, e empurrou Hope para trás dela, sentindo os dedos da mãozinha que não segurava a vibroblade se enrolarem em seu colete, não por temor, Hope era tão feroz quanto ela, mas por compreensão.

— Tem alguém aí dentro? – Jyn perguntou.

Nenhuma resposta. Andaram mais alguns passos e adentraram a casa lentamente. Havia apenas um cômodo com duas portas e duas janelas, em lados opostos, estando porta e janela da frente abertas, permitindo que a luz do sol invadisse o lugar. Peças de metal estavam espalhadas no chão, algumas pareciam peças danificadas de naves, droids e outras coisas. Em alguns lugares a madeira do chão estava riscada, mostrando cálculos e desenhos de constelações desconhecidas. Jyn não vonseguiu evitar um suspiro com o aperto no coração ao se lembrar de seu pai. Teria tido a esperança de um milagre o ter salvado se não soubesse que aquela caligrafia não pertencia a ele de jeito nenhum. Mas agora a rebelde integrava a inteligêngia da Aiança e sabia só de olhar que aquelas letras tinham sido feitas por uma pessoa agressiva e cruel, e o que a preocupava é que pareciam recentes.

— Hope... Se algo der errado você vai correr! Vai correr como se a galáxia dependesse disso.

— Mamãe...

— Já conversamos muito sobre isso, amor. Isso é parte do lado cruel que você tem que aceitar nas missões. Somos todos treinados e vou saber me virar, mas você ainda é muito jovem, querida. Ainda resta muito tempo pra você evoluir, precisamos te preservar.

O coração de Jyn se contorceu em dor em tristeza ao ver a garota assentir e corajosamente transformar a dor nos olhos verdes em determinação. Queria desesperadamente abraçá-la naquele momento e mantê-la segura de toda a crueldade da galáxia, mas ela sabia melhor do que ninguém que não devia desviar o foco em missões. Uma lembrança distante veio a sua mente. Sua mãe a puxando sem nenhuma gentileza pela praia em Lah’mu, e a olhando com sofrimento em seus olhos quando Jyn murmurou de dor, na época ela não entendeu. Agora sabia o que sua mãe estava pensando e sentindo naquele momento e ainda que uma pequena criança de oito anos não tivesse culpa nenhuma, ela se sentiu mal por não ter tentado parecer mais forte naquele dia. Afastou tais pensamentos e continuou inspecionando a casa.

As duas saíram e andaram em volta do minúsculo estabelecimento, não encontrando nada de muito anormal, a não ser pegadas amassando a grama azul e a terra em alguns lugares. Eram de um homem, talvez alguns centímetros mais alto do que Cassian. Algumas deformações nas marcas indicavam que estava ferido, talvez tivesse alguma deficiência ou prótese, ou apenas não fosse humano. Sabiam que havia humanos no planeta, mas se havia outras espécies, ainda não tinham certeza. Jyn estava dividindo sua atenção entre observar o ambiente e ouvir o que se passava, além de vez ou outra verificar Hope. Um som repentino e violento fez o coração da rebelde disparar. Então ela ouviu gritos de um adulto e gritos de Hope, e correu novamente para frente da casa, para onde Hope havia seguido um minuto antes. Viu a menina se contorcer presa por um ser desconhecido cujo rosto estava escondido por uma longa capa preta com capuz. As mãos espostas exibiam queimaduras cicatrizadas há muito tempo.

— Solte ela e vamos conversar!

Ele não obedeceu, mas o que fez Jyn se agitar de pavor, ódio, raiva, desespero, foi reconhecer alguma coisa naquela figura estranha, estava mancando e, pelo som dos passos, a perna esquerda provavelmente era mecânica, mas ela o reconheceu.

— Eu sabia que já tinha visto esses olhos e essa raiva antes! – Uma voz que Jyn odiou por quase todos os seus mais de trinta anos de vida falou.

Os dois pares de olhos verdes se encontraram, misturando pânico e concentração. Jyn conhecia sua filha, sabia que estava buscando algo em sua mente para sair daquilo. Não podiam chamar Cassian ou K-2, o estranho poderia matá-las assim que pegassem o rádio.

— Eu disse a Galen pra não fugir, apesar dele ter feito isso a vida toda depois que você começou a crescer, falar e andar. Porque no fim eu sempre consigo encontrá-lo, mesmo que seja através de seus descendentes.

A cabeça do estranho se ergueu e através do capuz negro Jyn reconheceu os olhos azuis que ela tanto detestava, talvez fossem a úncia coisa ainda intacta no rosto danificado. A rebelde respirou fundo e deu o primeiro passo: aceitar que o homem que matou sua mãe, raptou e escravizou seu pai e provocou sua morte, a cassou durante anos, tentou matar seu marido e poucos minutos depois não a matou por um triz, e agora tinha sua filha como refém, havia sobrevivido à Scarif.

— É ficando muda que você reage ao encontro com um velho conhecido?

Mais alguns segundos perturbadores se passaram em um silêncio mortal. Jyn queria avançar com toda a raiva acumulada desde sua infância em cima daquele homem, uma vez que agora Cassian não estava aqui para impedi-la como em Scarif. Queria agredi-lo, surrá-lo, trucidá-lo, idependente do que idiotas como o general Draven fossem pensar de sua atitude depois! Mas qualquer movimento em falso poderia arriscar sua criança. O ódio queimava nos olhso verdes, enquanto uma diversão debochada brilhava nos azuis. A guerra entre os olhares foi cortada com um grito de Orson Krennic. Ele soltou Hope e Jyn pode ver sangue escorreger da mão esquerda queimada do ex-comandante imperial, próximo ao polegar, e manchar a boca e os dentes de sua filha, ela o havia mordido. Algo que Jyn lhe ensinara para algumas situações em que a falta de armas ou seu pouco tamanho não fossem de muita ajuda. A menina cuspiu a substância vermelha no chão e limpou o rosto com a manga da camisa, mas antes que conseguisse correr o suficiente, o homem avançou em sua direção, caindo no chão, mas conseguindo agarrar um dos pés da criança, arrastando-a com ele e começando a puxá-la em sua direção. Quando Jyn avançava para arrancar sua filha das mãos do imperial, a garota a surpreendeu mais uma vez, cravando sua vibroblade no braço de Krennic, que emitiu um grito ainda mais alto, e outro quando Hope removeu a faca.

— HOPE!! – Jyn chamou em desespero.

A menina a alcançou e Jyn se dividia entre olhar para ela e para o homem agonizando no chão.

— Chame Kay, alerte-o pra não deixar seu pai fazer nada imprudente!

Ela asseniu positivamente com um aceno de cabeça e se afastou para pegar o rádio preso em seu cinto. Jyn avançou na direção de Orson Krennic quando viu que ele conseguira se levantar. O capuz caiu de sua cabeça, exibindo um rosto marcado por cicatrizes e queimaduras, mas ainda bem reconhecível, os cabelos brancos estavam mais escassos e os olhos azuis continuavam os mesmos, frios e impiedosos. Ele rasgara parte da capa para envolver o braço ferido, confirmando as suspeitas de Jyn de uma perna mecânica, feita com peças velhas de droids como ela havia pensado. Não chegava nem perto de se parecer com as construções perfeitas de seu pai. Jyn se lembrava dele falar uma vez pouco antes de serem atacados me Lah’mu que ele havia estudado ciência enquanto Krennic estudava como controlar as pessoas.

O homem ainda gemeu de dor por alguns minutos antes de encarar Jyn. Ela não podia atacá-lo gratuitamente, e se possível levá-lo como prisioneiro. Não precisou pensar muito sobre isso no entanto. Krennic avançou em sua direção e iniciaram uma luta corpo a corpo. Ele pouco se importou com o sangue encharcando o torniquete improvisado ou que estava desarmado, ele tentava bater e chutar Jyn com toda a raiva de um oficial do Império. Podia estar mais velho e com o corpo muito gasto, mas continuava forte. Apesar de ser consideravelmente menor, Jyn sabia como lidar com isso e estava se saindo bem, mas de Orson Krennic ela esperava absolutamente tudo, e só queria que K-2 aparecesse para tirar Hope dali.

— Você não é imortal, Galen Erso!!! – Ele gritava como se estivesse louco – Eu vou apagar você da galáxia!!!

Após uma série de golpes em que Jyn satisfatoriamente descarregou ao menos 50% de sua raiva daquele homem, ela o derrubou, e ele agonizou no chão por alguns instantes, mas assim que levantou tentou correr na direção de Hope. Jyn puxou seu blaster mais rápido do que já havia feito em toda sua vida e atingiu a perna mecânica, a inutilizando completamente e fazendo o homem cair e quase comer grama com o impacto no chão. A criança se afastou e Jyn continuava a mirar em Krennic. Ele tentou levantar, mas caiu de novo com um tiro disparado de longe que atingiu seu ombro, dessa vez batendo a cabeça na parede da pequena casa e depois no chão, ficando inconsciente. As duas tomaram a precaução de se afastarem antes de checarem o atirador. Cassian ainda olhava o homem caído, com raiva e nervossismo em seus olhos castanhos. Ele estava ofegante como se tivesse corrido milhares de quilômetros em segundos, e mantinha o blaster erguido na direção de Krennic. K-2 estava atrás dele. Os dois adultos guardaram suas armas, se olharam e olharam a filha. Seus olhos claros mesclavam susto, alerta, choque e alívio. Cassian caminhou até a filha e a ergueu em seus braços, permitindo que ela o abraçasse também. Jyn abraçou os dois e sentiu uma das mãos do capitão afagar seu cabelo.

— O que devo fazer com ele? – O droid perguntou.

— Vamos perguntar à Yavin 4 – Jyn respondeu.

Cassain deolveu Hope ao chão e Jyn tocou o ombro da filha, que a encarou.

— Hope... Diga alguma coisa.

Era a primeira vez que ela agredia alguém daquele jeito, embora já tivesse lutado muitas vezes antes e nunca deixasse de seguir os conselhos de usar apenas a violência necessária.

— Querida, seja o que você tiver feito, não fez nada de errado, se defendeu de alguém mau – Cassian lhe disse.

— Ela o mordeu e o esfaqueou. Ele a tomou como refém. Não sabemos de onde ele surgiu, mas ela fez tão bem quanto a ensinamos.

Cassian olhou preocupado para a filha, que tipo de trauma aquilo causaria? Ele também tinha doze anos da primeira vez que esfaqueou um inimigo. Ele havia ficado mal com aquilo durante dias, apesar de ter consciência de que fizera o necessário. Tinha o apoio de Draven e Mon Mothma, mas não era a mesma coisa de ter ajuda de seus pais, há muito perdidos, e ele esperava que ele e Jyn estarem ali para Hope fizesse alguma diferença, fizesse algo melhor.

— Estou bem – a criança respondeu.

— Tem certeza? – O capitão insistiu – Vamos conversar depois.

Ela assentiu.

— Do outro lado não tem muita coisa além de grama azul, um riacho de água azul clara e pássaros e répteis de várias cores. Acho que se andarmos mais um pouco vamos encontrar a população amistosa de que nos falaram. O que foi que aconteceu aqui?

— O que você encontrou, Jyn? – K-2 perguntou à rebelde.

— Uma casa velha e minúscula... E Orson Krennic.

A expressão do capitão foi totalmente tomada pelo choque. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, um movimento repentino de K-2 chamou a atenção dos três. O droid também carregava um blaster e havia acabado de dispará-lo na direção de Krennic, que tinha uma grande pedra em uma das mãos, pronto para lançá-la na direção de Jyn.

— Acho que agora ele está definitivamente morto, mas não podemos ter mais informações.

— Não queime seus circuitos se preocupando com isso – Jyn falou – Eu conheço esse monstro, ele não ia falar nada mesmo que o torturássemos.

— Kay, verifique se está mesmo morto, vá armado. Recolha qualquer informação que puder encontrar lá dentro. Eu vou pedir auxílio à base.

O droid seguiu para e execução de sua tarefa e Cassian puxou a esposa e a filha em outro abraço, ainda mais forte.

— Eu amo vocês – ele sussurrou sem sequer pensar.

— Nós também – Jyn falou no mesmo tom.

Ficaram os três juntos por segundos que pareceram séculos. Não tinham muita ideia do que se passava na cabeça de Hope, mas os dois contemplavam novamente o milagre de mais uma sobrevivência e a perspectiva maravilhosa e ao mesmo tempo tenebrosa que os acontecimentos dos últimos minutos traziam.

— Vamos – ele disse baixinho, seguindo para a nave puxando as duas pelas mãos.

Jyn sentou na cadeira do co-piloto, com Hope no colo, e abraçou a filha. Cassian seguiu para o transmissor, soicitando contato com Mon Mothma, dado a gravidade inesperada da situação.

— Tenente Andor e tenente Erso, missão de reconhecimento do planeta azul de nome ainda desconhecido. Não encontramos os habitantes humanos ainda. O lugar não parece perigoso até onde vimos. Mas sofremos um imprevisto com risco possivelmente mortal. A estrutura do planeta não está envolvida.

Ele esperou algum tempo pela resposta.

— Cassian, me forneça seu relatório – a voz gentil da mulher respondeu.

— Eu segui por quatrocentos e cinquenta metros na direção sudeste. Jyn e Hope checaram a área até quatrocentos metros ao leste. K-2SO ficou na nave como suporte. Eu não tive problemas e fiz registros de flora e fauna. Jyn e Hope faziam o mesmo quando encontraram uma cabana vazia de madeira. K-2 está recolhendo material de lá agora.

— O que houve de errado?

— Elas foram atacadas. Hope foi tomada como refém, mas se libertou e Jyn lutou com o agressor.

— Descreva o estado delas e do agressor.

— Jyn tem alguns arranhões e hematomas, Hope arranhou um pouco as mãos, não são ferimentos graves. O agressor está morto.

— Quem o matou?

— K-2SO.  Eu atirei nele quando tentou agredir Hope. Ele acordou e teria atirado uma pedra em Jyn se K-2 não o atingisse com o blaster.

— Há indicações de quem ele seja ou porque atacou?

Silêncio.

— Cassian?

— É que... Ainda nos custa acreditar. Ele era Orson Krennic. Mais velho, com queimaduras na pele, e uma perna mecânica, mas era ele. Não sabemos porque está aqui ou como sobreviveu à Scarif.

Silêncio novamente.

— Deixe-me falar com Jyn.

Cassian levou Hope para sentar-se com ele enquanto Jyn dava detalhes a Mon Mothma do ocorrido.

— Ele falou alguma coisa sobre como chegou aí?

— Não. Só cuspiu ódio e nos atacou. Mas acredite em mim. Provavelmente eu conheço esse homem desde antes do meu nascimento, e eu tenho certeza que ele não diria uma palavra mesmo sob tortura.

— Você está mesmo bem? E Hope? Depois do que me contou... Minha certeza sobre o grande potencial das habilidades dela cresceram, mas cuidem dela, Jyn. Sei que não preciso lhe dizer isso porque você sabe. Mas nenhum de nós deveria passar por isso mesmo com cem anos de idade. Não deixem a inocência e a esperança que vemos todos os dias naqueles olhos se perderem. Como a sua nunca se perdeu, mesmo depois de todo esse tempo.

— Sempre.

— Jyn... Eu cuidarei pessoalmente de registrar os dados da missão quando chegarem.

— Isso é bom.

Jyn sabia que ela queria dizer que Draven não seria o principal encarregado. Um homem competente em seu trabalho, mas que não se importava em ferir os outros para seguir as regras, o que certamente não seria saudável para uma criança que acabara de cometer seu primeiro ato de agressão em legítima defesa, por mais que ela recebesse treinamento constante.

— Voltem à base. K-2SO acabou de enviar um relatório, Orson Krennic está morto. Haverá uma nave de auxílio pousando perto de vocês em pouco tempo para cuidar do corpo e buscar informações com moradores locais. Tragam apenas o material coletado.

— Copiado.

As duas não disseram mais nada por algum tempo e Mon Mothma sabia que a rebelde estava pensando no que fariam com o corpo, e pensando que o corpo de seu pai nunca fora devidamento sepultado, apesar de haver uma lápide simbólica para ele em Yavin 4, e agora estarem de fato vingados. Mas isso não mudava o passado.

— Eu sinto muito, Jyn.

— Tudo bem.

Quando a comunicação se encerrou, o som de outra nave foi ouvido do lado de fora, e ela viu Cassian correr para fora da nave. Hope o seguiu e Jyn fez o mesmo. K-2 e Cassian falavam com o piloto, e o restante da tripulação se encaminhou para o corpo de Krennic e para dentro da casa de madeira. Eles não esperaram o fim do trabalho para voltarem à Yavin. K-2 pilotou a nave enquanto os três se recompunham. Jyn abriu a porta do dormitório devagar. Hope dormia, agora com os cabelos soltos e os arranhões nas mãos já quase curados pelo bacta. Sentou-se ao lado dela e acariciou o rostinho delicado. Havia conversado muito com ela enquanto tomavam banho. Era uma criança forte. Estava confusa e assustada, mas feliz por estarem bem. Ela ainda não sabia tudo sobre Krennic, e Jyn e Cassian haviam deicidido não contar tudo por enquanto. Ela descobriria conforme crescesse.

— Como ela está?

— Abalada, mas um pouco mais tranquila.

Cassian entrou no quarto e sentou do outro lado da cama.

— Ainda temos um dia e meio até chegarmos em casa, acho que é tempo suficiente pra ela se acalmar sem despejarem um monte de perguntas em cima de nós – ele disse.

— Vamos contar alguma coisa boa a ela quando acordar. No meio de tudo isso, também temos lembranças boas. Algo que a lembre do quanto a vida ainda pode ser maravilhosa, apesar da guerra contra o Império.

— Ela gosta de subir nos andares mais altos pra observar a base, como você. Vamos levá-la lá quando chegarmos.

— Vamos.

Ruídos baixinhos e amigáveis vieram do corredor, e o droid BB, com detalhes em azul, assim como a U-Wing, entrou no quarto, emitindo alguns ruídos enquanto falava com Jyn.

— Ela está bem.

Ele falou mais alguma coisa, dessa vez para os dois.

— Obrigado por ser amigo dela – Cassian sorriu para o droid, recebendo um ruído amistoso em resposta.

Os dois beijaram o rosto da filha e saíram do quarto, deixando o pequeno droid astromecânico a observando. Uma das funções da unidade BB era ajudar a cuidar de Hope, algo que os havia transformado rapidamente nos melhores amigos. Os dois se acomodaram no dormitório ao lado e sentaram-se em uma das camas.

— Jyn... Até eu ainda me sinto chocado.

— Ele devia ter morrido naquela torre.

— Nós também. Por que acha que estava aqui?

— Não sei... Não tenho a mínima ideia de como se salvou, mas se estava largado aqui enquanto o Império continua em atividade, significa que o descartaram. Não acredito que ele não conseguiria se comunicar com eles. Claramente ficaram irritados com o que houve em Scarif, ele era o comandante.

— Acha que sabem que estamos vivos?

— Não. Já teriam acabado com todos nós. Devem ter assumido que morremos. Krennic parecia... Não louco, mas insano, de raiva, que acumulou por anos. Deve nos culpar por ter sido abandonado e nutrido em seus pesadelos se vingar, mesmo assumindo que não estávamos vivos. E hoje ele quase teve essa oportunidade. Cass... Por que não me deixou atacá-lo em Scarif?

— Jyn... Ele já estava caído no chão. Nós íamos morrer e se tínhamos alguma chance de sair vivos, tínhamos que abandonar a torre rápido. E se íamos morrer, eu queria que estivemos bem, sem nenhum peso em nossos ombros, e não carregando a marca de uma vingança.

Ela sempre soube. Mas era confortante ouvir dele.

— Ele matou minha mãe, raptou e escravizou, e causou a morte do meu pai, passou a vida me caçando, quase matou você, matou vários dos nossos amigos, e poderia ter matado nossa filha hoje. Graças à Força isso finalmente acabou... E você está certo. Se eu tivesse morrido naquele dia, teria morrido em paz com você. Mas que bom que estamos vivos.

Mais nenhuma palavra foi trocada. Jyn podia ver nos olhos castanhos a dor de quase perdê-la mais uma vez, além do risco que Hope correra. A rebelde levou uma mão a sua nuca e o puxou para ela, beijando-o demoradamente.

— Está tudo bem. Pare de ficar pensando no que poderia ter acontecido. O que realmente aconteceu teve um bom final. E é tudo que precisamos saber agora.

Ele assentiu em silêncio, sem quebrar o contato visual, e a beijou de volta. Ela estava viva, mas o capitão levaria algum tempo para processar que qualquer fator que poderia ter mudado essa condição já havia passado. Por isso precisava dela, queria senti-la, tocá-la, abraçá-la e ver ela e sua filha sorrindo para ele quando acordassem mais tarde. E saberia que apesar das marcas deixadas, o pesadelo havia passado, e eles poderiam seguir em frente mais uma vez.

Jyn acordou deitada no peito nu do marido e puxou o lençol mais para cima dos dois. Sorriu e beijou o rosto adormecido. Ruídos do BB8 foram ouvidos do lado de fora. Jyn não desejava abrir a porta e revelar as peças de roupa espalhadas no chão e em cima da cama ao lado, havia até mesmo trancado a porta ao se lembrar que K-2 não sabia respeitar alguns limites.

— Ela ainda está dormindo? – Perguntou baixinho para não acordar Cassian.

O droid respondeu, haviam se passado duas horas e Hope continuava dormindo, e parecia mais relaxada. O BB informou que continuaria com ela até acordar e que estava tudo sob controle com a nave, e K-2 não precisava de assistência no momento, o que Jyn agradeceu imensamente em seus pensamentos. Quando o pequeno droid se foi, ela deitou sobre Cassian novamente. As mãos fortes a abraçaram e ele abriu os olhos.

— Como você está? – Ela perguntou.

— Eu devia perguntar isso.

— Estamos juntos até o fim, nossa dor é a mesma.

Ele se virou para que ficassem frente a frente, mas sem desfazer o abraço. Uma de suas mãos acariciava o rosto dela. Jyn beijou sua mandíbula, depois seu pescoço, fazendo-o rir baixinho antes de seus lábios se encontrarem novamente .

— Nossa Estrelinha está bem, ainda dormindo.

— Vamos trazê-la pra dormir com a gente da próxima vez.

— Vamos – Jyn murmurou baixinho – Eu te amo.

— Eu também, Estrelinha.


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Notas finais do capítulo

Me perdoem se encontraram erros. Os três últimos capítulos serão revisados novamente em breve.



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