Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 20
Capítulo 20 – Por todo o caminho




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Capítulo 20 – Por todo o caminho

Cassian foi atirado para dentro da cela imperial e colidiu com o chão. Ignorando a dor torturante que sentia, levantou-se e correu para as barras da cela.

— PAREM!!! Voltem aqui!!!

Jyn olhou para trás e os olhos verdes encontraram os deles. Ela tentou se debater ainda mais e agredir os dois stormtroopers que a arrastavam, mas em troca ganhou um tapa que Cassian pode ver que produziu um corte abaixo do olho direito, e foi arrastada para longe.

Os dois juraram que estavam mortos, mas acordaram dentro de tanques de bacta sabe-se lá quanto tempo depois da destruição de Scarif. Cassian estava muito mais ferido e tinha certeza de ter ossos quebrados. Eles não deviam ter sido completamente consertados, pois ainda sentia muita dor. Suas roupas haviam sido devolvidas, mas o cristal de Jyn e suas armas não. Sem sequer terem tempo de entender a situação, haviam perdido a consciência de novo e acordado jogados no chão de uma cela imperial. E Cassian rezava para a Força que ao menos estivessem numa base em algum planeta e não em uma nave, dado que ele ainda não tinha conseguido verificar. Jyn audaciosamente perguntara a um oficial porque ainda estavam vivos e ainda tinham sido colocados em bacta. O homem respondeu apenas que eram os únicos sobreviventes de Scarif e que se eles tinham informações sobre o que Orson Krennic relatara ter acontecido na torre de dados antes de morrer, mais cedo ou mais tarde seriam arrancadas deles. A rebelde ainda perguntou quanto tempo tinha se passado e onde estavam, uma tentativa esperançosa, mas que obviamente não obteve resposta alguma além do silêncio.

Cassian se deixou cair de joelhos, sentia muita dor, mas se manteve preso às barras da cela e olhando a direção em que tinham levado Jyn. Não era muito longe, tinham entrado em alguma sala próxima. O silêncio total fazia seu coração bater ainda mais rápido, o que só o deixava mais fraco do que já estava. De repente ele ouviu barulho, parecia uma luta, então homens gritando e um corpo pesado caindo no chão, Jyn devia de alguma forma ter derrubado um stormtrooper. Mais gritos e pancadas, então ele ouviu um disparo de blaster e o silêncio mais uma vez.

— Não se identifica, não fala, e ainda mata um soldado! Você escolheu o caminho mais difícil!

— Vão nos matar de qualquer jeito no final das contas – Cassian a ouviu dizer entre lamentos de dor.

Segundos depois, um dos stormtroopers, com a armadura branca manchada de sangue, de quem, Cassian não sabia, e um oficial, trouxeram Jyn de volta, ela mal conseguia se sustentar nos próprios pés. Abriram a cela, e o oficial chutou Cassian para longe. Ele ergueu-se o mais depressa que pode e viu Jyn ser atirada no chão ao seu lado. Ela gritou e se contorceu. A cela foi fechada e os imperiais foram embora, ficando apenas o oficial que parecia ser o chefe.

— Apenas uma pequena amostra – ele disse a Cassian – Do que vai acontecer com os dois se não abrirem a boca rápido. Não havia civis em Scarif, então só podem ser rebeldes. Torça para não os identificarmos antes que decidam falar – ele disse antes de ir embora.

Cassian ignorou a ameaça, Jyn era a prioridade. Se arrastou para o lado dela e a tomou em seus braços. Os olhos verdes fechados pareciam ficar úmidos e sua respiração estava ofegante.

— Jyn! – Chamou afastando o cabelo de seu rosto – Olhe pra mim!

Ela obedeceu, mas não parecia capaz de falar. O capitão a sentiu segurar sua mão e colocá-la sobre a lateral direita do próprio corpo. O que ele sentiu foi como levar um soco, o local estava úmido e Jyn murmurava de dor quando ele tocava. Cassian olhou. Era sangue! Parecia um ferimento de blaster.

— Jyn – começou, tentando, mas não conseguindo impedir sua voz de tremer – Isso foi um blaster ou uma vibroblade?

— Blaster – ela murmurou a confirmação.

Cassian ficou ainda mais desesperado. Não havia bacta, nem bandagens, não tinham nem água. Tudo que podia fazer era impedir que o sangue secasse e o tecido da roupa colasse no ferimento. Deitou-a de volta no chão e com todo o cuidado do mundo tentou afastar o tecido da camisa de sua pele e começar a rasgá-lo o suficiente apenas para manter longe do local ferido. Jyn chorou de dor.

— Desculpe! Desculpe! – Pediu beijando sua testa e afagando seus cabelos – Você pode suportar isso, eu sei que pode.

Ela assentiu em silêncio. Cassian finalmente terminou e afastou o tecido da camisa para observar o ferimento. Aquilo precisava ser tratado! Mas não seria, e isso quase trouxe lágrimas de raiva e dor aos olhos do capitão. Jyn ainda demonstrava dor de vez em quando. Ele havia desmaiado com a queda quando fora atingido por Krennic, e isso de alguma forma havia ajudado a afastar a dor, mesmo depois que ele acordou. Mas Jyn se recusava a cair na inconsciência, ainda que isso causasse mais sofrimento.

— Calma... Respire fundo – ele pediu deitando ao lado dela e pondo a cabeça de Jyn em cima de seu braço – Se deixe vencer ao menos dessa vez, por favor. Fique quieta, quanto mais você se mexe, mais vai doer.

Ela o olhou.

— Isso – disse baixinho acariciando seu rosto com a outra mão.

Os olhos claros começaram a se fechar.

— Não, não! Continue olhando pra mim, Estrelinha! Por favor!

Ela estava tentando, ele sabia que ela estava, mas seus olhos reviraram e se fecharam.

— Não, não...!

Cassian ergueu-se se apoiando no cotovelo para verificá-la. Estava respirando, mas o coração acelerado, mais do que devia, e é disso que ele tinha medo. Não havia o que ser feito no entanto, não seriam ajudados. Deitou outra vez junto a ela, segurando novamente a pequena mão na sua.

— Estou aqui, Jyn – falou tão baixo que era impossível alguém do lado de fora ouvir – Até o fim, querida.

******

— Onde ela está?!

A resposta foi mais um soco antes que ele caísse no chão da cela mais uma vez e esta fosse fechada. Tinha acordado sozinho e o único vestígio de Jyn era o sangue no chão.

— Quem é você? Onde é sua base? Quem é ela? Não devem ser parentes, são muito diferentes fisicamente. É sua amiga? Esposa talvez? Quando vai falar? Podem se poupar de tudo isso.

— Vão nos matar.

— É a primeira vez que você fala algo sensato. A diferença é como e com que velocidade os dois encontrarão seu fim. Estão morrendo lentamente aqui.

— Onde estamos?

— No seu túmulo.

— O que fizeram com ela?

O oficial foi embora. Cassian sentou no chão, pois não havia nada ali além de paredes escuras e frias. Recostou-se à parede. Sua cabeça doía, seus pulmões puxavam o oxigênio, mas estava difícil respirar, seu coração batia tão rápido que ele tinha medo de morrer antes de descobrir o que haviam feito com Jyn. Nem sabia há quanto tempo estavam ali, aparentemente havia se passado apenas um dia desde que haviam acordado pela segunda vez, já presos.

— Esteja viva, por favor – ele murmurou para o nada antes de adormecer cansado.

******

Cassian se debateu até não ter mais forças, tentando entender porque estavam entrando na ala médica. Pela primeira vez percebeu que havia janelas e podia ver o lado de fora ali. Não havia estrelas, havia montanhas cheias de neve, estavam em um planeta, ou uma lua.

Um soldado entrou acompanhando de dois snowtroopers, interrompendo os dois homens que carregavam Cassian.

— Senhor, precisamos de auxílio com a programação de algumas droids – ele falou num idioma que pensou que Cassian não poderia compreender.

— O que há com eles? – Um dos que o segurava perguntou na mesma língua,

— Estão parando de operar sem razão. Estão andando e caem do nada ou sentam para trabalhar em algo e ficam lá sem se mexer mais.

— Alguns desses estavam na nave que escapou de Scarif. O sistema pode ter sido corrompido com o impacto que a nave sofreu na decolagem. Todos estão assim?

— Não, alguns parecem funcionar bem.

— Verifique e me traga um relatório. Descubra se isso foi causado naquele momento, ou por algo ou alguém. Essa informação não pode sair desta base.

— Entendido! – Falou antes de se retirar com os snowtroopers.

Cassian voltou a ser arrastado e pararam em frente a uma porta fechada alguns minutos depois, a ala médica do Império era bem mais extensa que a de Yavin IV.

— Quer viver por mais tempo? Caso ainda esteja decidido a não falar pode mudar de ideia depois de ver o que aconteceu há alguns minutos. Pense bem, porque já estamos perdendo a paciência com você.

Aquelas palavras o fizeram gelar por dentro quando Jyn veio aos seus pensamentos  e parecia que havia levado outra pancada para se juntar aos hematomas e cortes já espalhados pelo corpo.

— Senhor! – O mesmo homem de antes apareceu falando outra vez em língua desconhecida – Parece que há uma invasão remota no sistema que controla os droids.

— Mas isso é impossível!

— Não temos certeza, mas não fomos nós que fizemos a alteração.

— Reverta tudo o quanto antes.

— Já tentamos. A programação foi corrigida, mas os droids problemáticos continuam em curto circuito, de alguma forma sofreram danos físicos.

— Só volte aqui com uma resposta e uma solução, ou vai morrer como esse aqui e a mulher que estava com ele.

O oficial tentou disfarçar, mas ficou visivelmente nervoso, assentiu e se foi. Mas isso pouco importava a Cassian. O que ouviu fez seus olhos se encherem de lágrimas. Jyn estava morta?! Ele não podia acreditar nisso.

— O que há com você?

Levou uma pancada nas costas, mas não se importou em responder. A porta foi aberta e ele viu uma sala com pouca iluminação onde dois droids médicos imperiais controlavam um tanque de bacta. Jyn estava nele! Por que dizer que ela estava morta? Entraram com ele e a porta se fechou.

— Não crie esperanças – um dos homens que o segurava falou – Nós a colocamos aí porque ainda queríamos as informações dela, mas a perdemos. A diferença com você é que nós mesmos vamos matá-lo se não começar a falar quando voltarmos, seja quem você for.

Cassian observava a atividade das máquinas em volta. O monitor cardíaco estava conectado nela, mas desligado.

— Parece que ele não está acreditando, mostre a ele – um dos homens falou para um droid.

O robô religou o monitor e o que Cassian ouviu foi como se uma vibroblade transpassasse lentamente seu coração. O apito era constante, sem pausas, sem ritmo, um som mortal.

— Pense – o homem falou satisfeito ao ver o olhar de pânico em seu rosto.

Cassian foi atirado ao chão outra vez e escutou a porta sendo trancada quando os dois imperiais saíram. Ele rastejou até o tanque, sem se importar com a presença dos droids, que pareciam ignorá-lo. Levantou-se com as forças que lhe restavam para poder olhá-la melhor. Fitou o rosto da rebelde com a falsa ilusão de que ela abriria os olhos para ele a qualquer segundo. Aquele som continuava torturando-o. Deixou que lágrimas molhassem seu rosto e desejou que os dois tivessem morrido em Scarif nos braços um do outro.

— Me perdoe, Jyn – disse para si mesmo, apoiando-se no vidro do tanque como se assim pudesse tocá-la, e também porque sentia muita dor para ficar de pé sem apoio.

Os droids se aproximaram, porém sem sequer olharem para ele.

— Ela pode ainda ter tempo! Tentem um desfibrilador! Querem informações, dois são melhores que um! – Implorou para os droids perdendo temporariamente a noção de que nada do que estava dizendo seria de alguma ajuda, embora ainda tivesse em mente fugir com Jyn e não revelar nada, caso ela ainda pudesse ser salva.

— Não temos ordens para isso. E de nada adianta usar desfibrilador num corpo sem vida. O ferimento do corpo dela estava infeccionado e a febre muito alta, o bacta foi apenas uma última tentativa de ao menos sabermos quem ela era.

Cassian teria avançado em cima do droid se a porta não tivesse sido aberta de novo. Um droid igual a K-2 entrou. E como Cassian desejava que seu amigo estivesse vivo! Mas afastou aquilo da cabeça, pois provavelmente aquelas lembranças só doeriam quando sofresse a próxima agressão.

— Fui mandado para verificar se o prisioneiro estava apresentando resistência.

— Está apenas inconformado com a morte da companheira. Ele logo vai ser o próximo pelo que os superiores disseram, não devia se importar com isso. Mantenha-o longe enquanto removemos o corpo e esvaziamos o tanque, não queremos interrupções.

— Entendido.

O droid K-2SO agarrou Cassian pelos ombros, o levantou e o prendeu firmemente. O capitão só podia chorar e ofegar enquanto Jyn era retirada do tanque e deitada numa maca. A máscara de oxigênio e os conectores do monitor cardíaco foram retirados e Cassian observou seu rosto. Estava um pouco pálida e sua expressão não parecia feliz ou relaxada, apenas séria. A culpa o queimou outra vez. Até o fim, por todo o caminho, onde estava essa promessa agora? Se ao menos ele não tivesse adormecido... Poderia ter lutado. E ela não morreria sozinha e infeliz dentro de um tanque de bacta. Os droids médicos a enrolaram numa toalha.

— O que vão fazer com ela? – Cassian conseguiu falar.

— É o que vamos perguntar quando nossos superiores voltarem. Solte-o – disseram ao droid maior.

— Tem certeza? Eu não tenho um bom pressentimento sobre isso. Há uma probabilidade de 97,6 % do prisioneiro reagir mal nos próximos minutos.

— Mas ele está relativamente controlado até agora – o outro droid médico questionou.

Cassian nem prestou atenção ao restante da conversa. Estava perdendo a paciência com aquilo. Ele só queria morrer também. Não falaria, Jyn havia partido sem revelar aparentemente nada, ele partiria com a mesma coragem que ela tivera. Quando começou a achar estranha a falta de resposta do droid que o mantinha preso, a porta da sala explodiu e o droid o empurrou para a direção oposta, isso era a última coisa que Cassian lembrava.

******

Silêncio. Uma cama macia, o peso e o calor acolhedores de um cobertor. Uma mão suave acariciando sua testa com o polegar. Por um instante Cassian nem lembrava de quem era, como se tivesse adormecido por milhões de anos. Outra mão segurava a sua, e parecia haver algo entre elas, algo preso a um cordão. E assim foi por longos minutos até ele começar a tomar consciência de alguma coisa. Ele era Cassian Andor, capitão, oficial da inteligência da Aliança Rebelde, na base de Yavin IV. Ele estava inconsciente. Por quanto tempo? E como aconteceu?

— Ei – uma voz doce chamou baixinho – Você está comigo? Cassian... Está acordado?

Seu corpo estava pesado demais e ainda muito preso na semi consciência para respondê-la. “Ela morreu no tanque de bacta”, uma voz em sua consciência falou. Cassian não lembrava direito, mas por que aquilo causava dor?

— Tudo bem. Eu vou estar aqui por todo o caminho.

— Você está bem? Deveria falar com alguém sobre o que aconteceu.

— Tenho falado com a princesa.

Alguns segundos sem conversa.

— Há uma probabilidade de 80% de que ele acorde confuso. E 20% de que ele sofra de perda de memória temporariamente.

— Não importa.

Passos metálicos se distanciaram e depois apenas silêncio, e aquela mão gentil outra vez. Jyn... Ele estava morto? Ou tudo aquilo tinha sido apenas um sonho longo e perturbador? Não podia ser, ou Jyn faria parte apenas de seus sonhos também. E tinha certeza, e muita, de que ela era real. Minutos se passaram em silêncio e calma. Devia ter adormecido outra vez. Cassian respirou fundo e sentia-se mais consciente e acordado conforme o tempo passava. Estaria em Yavin IV? Ainda na base imperial pronto para ser agredido outra vez quando despertasse? Ou teria de fato morrido? Seus olhos piscaram algumas vezes para se acostumar com a pouca iluminação. Uma janela do outro lado do quarto mostrava estrelas a perder de vista no céu noturno. Estaria no hiperespaço? Não estava num centro médico, o quarto tinha mais cor e as paredes eram de metal. Um ruído chamou sua atenção. Olhou na direção de seus pés, vendo um wookie parado em frente à porta fechada. Ele parecia amigável, mas só deixou Cassian mais confuso. O wookie falou alguma coisa.

— O que...? – Perguntou baixo, há quanto tempo estaria sem usar sua voz?

Ele repetiu o ruído mais duas vezes e Cassian finalmente compreendeu. O nome dele era Chewbacca. Depois o wookie continuou falando, pausada e pacientemente quando se aproximou de Cassian. Ele estava em uma nave, havia sido resgatado de uma base imperial e melhores explicações seriam dadas depois. A porta abriu novamente e um casal jovem entrou. Um garoto louro de olhos azuis e uma garota ruiva de olhos castanhos, muito parecidos um com o outro. Irmãos talvez?

— Ele está acordado – ela falou – Obrigada, Chewie – ela sorriu para o wookie, que sorriu de volta e respondeu, antes de sair para falar com o capitão.

— Tem ideia de onde está? – O garoto perguntou.

Cassian negou com a cabeça. Os dois se aproximaram da cama e a garota sentou ao seu lado.

— Você parece bem melhor do que nos últimos dias. Sente dor?

— Não.

— Só pode ter sido um milagre da Força você estar vivo – o garoto lhe disse.

Cassian os observou com mais atenção, ele reconheceu a jovem!

— Princesa...

— Apenas Leia – ela falou gentilmente – Esse é Luke Skywalker.

— Apenas Luke – ele sorriu.

— O que aconteceu?

— Muita coisa – Luke falou – Antes de te contar qualquer uma delas, acho que vai gostar de saber que a Estrela da Morte foi destruída. E você está dormindo há quase três dias.

Cassian sorriu, eles tinham feito! A morte de Galen Erso e todas as outras, nenhuma havia sido em vão. “Seu pai estaria orgulhoso de você, Jyn”, a cena da praia voltou a sua cabeça, as mãos entrelaçadas, os olhares conectados, o sorrido triste dela... Como ele queria poder olhá-la agora, repetir aquelas palavras e lhe dizer o quanto ele também estava orgulhoso dela. Ficou sério de novo. A missão havia sido completada, a Estrela da Morte fora destruída, e os Rogue One tinham obtido sucesso. No entanto tudo que Cassian desejava agora era ter morrido com eles.

— Como me encontraram?

— É uma longa história, mesmo nós ainda estamos tentando processar – Leia disse – Han ouviu conversas suspeitas sobre prisioneiros peculiares em uma base imperial e depois que ele e Luke me resgataram, recebemos uma mensagem de uma base rebelde.

— Resgate?

— Eu recebi os planos que vocês enviaram pouco antes dos imperiais me raptarem. Mas não se preocupe, eu os deixei com um dos nossos droids e eles estão seguros. Como já sabe, a Estrela da Morte não existe mais. A falha implantada no projeto funcionou perfeitamente.

— Está tudo bem?

— Sim, eu estou bem. Agradeço sua gentileza – ela sorriu – Voltando ao que eu lhe explicava, um droid forneceu algumas informações. Você deve lembrar que as bases rebeldes podem rastrear os rádios transmissores portáteis de seus soldados. Eles rastrearam o seu antes de quebrar o contato pra evitar que o Império fizesse o mesmo. Han não viu problemas em desviarmos nossa rota antes de seguir o destino planejado. Recebemos alguns dados de back up de um droid da base de Yavin IV, sequestramos um droid imperial, Han o reprogramou, e inseriu os dados. Disseram que ele seria de ajuda vital.

— K-2...?

— Acho que sim – Luke falou – Sua amiga o chama do mesmo jeito.

Cassian ficou em silêncio.

— Você está bem? – Luke perguntou.

— Eu a vi morta – falou nitidamente angustiado – O que fizeram com ela?

O casal se entreolhou e Leia encarou Cassian. O droid os havia advertido que Cassian presenciara Jyn ser retirada sem vida do tanque de bacta, embora não soubesse do que realmente estava se passando no momento.

— Não... – a princesa falou – Você viu o que queriam que você visse. Iam fazer a mesma coisa com ela depois, até um dos dois falar ou até os matarem. Jyn Erso, não é?

— Jyn está aqui?! K-2... Está aqui também?

— Se acalme, você continua ferido. Seus ossos quebrados não foram consertados totalmente, um dos meios deles de te causar dor. Vai vê-los em breve. Fique tranquilo – a princesa sorriu e saiu do quarto.

Luke sorriu. Tinha notado a forte ligação entre os dois resgatados.

— Onde estou?

— Na Millennium Falcon, capitão Han Solo. Chewie é o co piloto.

Silêncio mais uma vez.

— Ela estava aqui algumas horas atrás. Você vai vê-la logo. Tente descansar.

Luke também se foi, deixando Cassian sozinho e não menos ansioso e confuso. Então ele se atentou a algo em sua mão debaixo do cobertor e a puxou para fora para ver o cristal kyber de Jyn entre seus dedos, com o cordão enrolado em seu pulso.

******

Jyn estremeceu com o frio e sentiu um cobertor quente ser gentilmente puxado sobre seus ombros. Ela virou para o lado esperando ser agredida ou descobrir que ainda estava no centro médico da base imperial.

— Shhh – ela ouviu quando uma mão suave acariciou seus cabelos, soltos – Está tudo bem – a mulher disse baixinho – Jyn...?

Jyn abriu os olhos. Estava em um quarto, que nitadamente ficava em uma nave. Paredes de metal, uma janela exibindo milhões de estrelas. Se virou para cima novamente, ficando surpresa ao ver a princesa Leia sentada ao seu lado, com um sorriso no rosto.

— Princesa...

— Apenas Leia.

Jyn a olhou interrogativamente.

— Acho que vai gostar de saber que a Estrela da Morte foi destruída – a princesa sorria.

Jyn sorriu involuntariamente. Tinham feito! Tudo que seu pai sofrera e todas as perdas... Nada havia sido em vão e agora havia um novo raio de esperança. “Seu pai estaria orgulhoso de você, Jyn”, as palavras voltaram a sua mente, junto às mãos fortemente entrelaçadas e os olhos presos um no outro naquela paisagem tão linda e mortal ao mesmo tempo. Cassian... Por que não estava com ele?

— Cassian...

— Cassian Andor? – Leia perguntou e Jyn assentiu – Ele está bem – Leia falou pacientemente – Deixe-me lhe contar o que aconteceu. Resgatamos você de uma base imperial. Foi fortemente sedada, e resgatada assim que tiraram você do bacta. Lembra de algo?

Suas lembranças eram borrões. Dor, Cassian a abraçando e murmurando palavras para mantê-la calma e com a mente longe da dor do ferimento, silêncio, febre, barulho, um imperial a pegando no colo sem delicadeza alguma e a arrancando dos braços de Cassian, uma sala médica, droids, uma seringa de sedativo, e depois nada.

— Eu nem sabia que estava num tanque.

A princesa lhe contou sobre o contato com Yavin IV e a reprogramação de K-2, e como tudo se desenrolara. Estavam na Millennium Falcon, e ela estava dormindo há quase um dia inteiro. Os imperiais a queriam viva, apesar de que também a queriam sofrendo, mas ainda poderia lhes fornecer informações caso desistisse de resistir, por isso o bacta.

— O droid invadiu a base, localizou vocês, e ainda roubou suas armas e seu cristal de volta de um dos outros droids que ele danificou. Depois invandimos e trouxemos os três pra nave.

— Cassian – ela insistiu.

— Ele está bem. Pode vê-lo quando se sentir melhor. Eu cuidei de você aqui e Luke cuidou dele no outro quarto.

— Luke?

— Luke Skywalker, vai conhecê-lo em breve. Mas, Jyn... Deve ir com calma. O capitão Andor deve acordar confuso.

— Disse que ele estava bem. O que fizeram com ele lá?!

— Ele está, querida. Mas pelo que o droid nos relatou ele pensa que perdeu você.

Jyn ficou quieta, mil emoções e pensamentos se misturavam dentro dela. Agora a sedação forte começava a fazer sentido, era recomendável sedar pacientes que iam para um tanque, mas não daquele jeito. Com o coração batendo mais lento e a respiração também desacelerada seria muito mais fácil simular um óbito. Não a queriam apenas viva para arrancar informações dos rebeldes, queriam usá-la para torturar Cassian.

— Preciso vê-lo.

— Deixe-me te ajudar. Vou começar devolvendo isso.

 A rebelde sentiu o coração se aquecer e respirou fundo com o alívio de ter seu cristal de volta.

******

O capitão brincava com o cristal kyber em seus dedos, tentando não ficar ansioso por já estar sozinho há quase uma hora. Queria ver Jyn e K-2 depressa, precisava ver com seus próprios olhos que estavam vivos, principalmente Jyn. Não que sua alegria fosse menor por ter seu melhor amigo de volta, mas desde que acordara na base imperial, tinha planos de como recuperar o droid caso escapassem, era totalmente possível. A porta foi aberta e K-2 entrou, a fechando em seguida.

— Cassian?

— K-2!

                - Por que as lágrimas? – O droid questionou ao ver os olhos do capitão brilharem – Você está vivo e vai ficar bem depois de uma ou duas rodadas de bacta em Yavin IV, e ainda vamos receber medalhas pela missão, embora uma coisa brilhante de metal não tenha significado nenhum pra mim.

                - Você nunca vai deixar de estragar o clima de alguns momentos – Cassian falou, mas estava rindo.

                - Vocês humanos se emocionam com qualquer coisa, isso não faz sentido pra mim, afinal não tenho emoções. Por isso é muito estranho falar, mas... Estou feliz por você estar vivo.

                - Eu também, meu amigo – falou com um sorriso enorme quando o droid se aproximou de sua cama.

                - Não se mexa muito. Caso ainda não tenha percebido está enfaixado do peito até perto da cintura, os ossos com conserto inacabado precisam ficar bem presos. Eu apliquei analgésico em você, por isso não sente dor, e ainda tem alguns hematomas, apesar do bacta estar dando conta deles. As roupas que esta usando lhes foram dadas pelo capitão.

                - E Jyn?

                - Ela quase não sai daqui desde que acordou. Está na cabine do piloto conversando com o wookie e o capitão, parece que são velhos amigos. O casal está estudando mapas. Minha análise anatômica indica que há uma chance de 90 % de serem irmãos e 70% de que sejam gêmeos, mas me parece que eles não sabem disso, ou pela primeira vez estou muito enganado, por isso me abstive de comentar.

                - K-2, preciso vê-la.

                - Há uma chance de 95% de que você esteja no estado em que os humanos chamam de apaixonado. Devo lhe advertir das probabilidades de isso se tornar um relacionamento sério e do quanto isso pode ser perigoso?

                - K-2... – o capitão começou sem jeito, tentando ignorar o comentário, mas foi interrompido.

— São altas, muito altas. Diga-me... Se você gerar um descendente, prefere que ele tenha maiores chances de ser disciplinado e calmo como você? Ou pretende arriscar as chances dele ser feroz e impulsivo?

— K-2, Jyn não é assim! Não de uma forma ruim pelo menos – parou de falar ao perceber que havia confirmado as probabilidades fornecidas pelo droid.

K-2 agarrou seu pulso e tornou a falar.

— Há uma chance de 98% de que o que você acabou de falar seja uma confirmação aos meus comentários. E é melhor se acalmar, no seu estado a pulsação acelerada pode não fazer bem pra sua saúde – disse antes de começar a se retirar – Se ver Jyn vai fazê-lo se sentir melhor, eu posso chamá-la.

— K-2... Quais as probabilidades de Jyn...

— Não entendo sentimentos humanos, meus dados são tomados com base em cálculos e evidências físicas e visuais, mas eu sei aonde você quer chegar. A julgar pelos últimos três dias, 99%. Ela não sai daqui nem pra dormir.

                - Por favor, não conte a ela sobre nossa conversa.

                - Você é meu capitão, você dá as ordens e eu sigo. E se tem algo a dizer, diga você mesmo. Apesar de eu não gostar nem um pouco das previsões que posso fazer disso. Devemos chegar em Yavin IV em até um dia, recomendo que não se esforce demais até lá. Haverá uma equipe médica pronta quando chegarmos.

                O droid saiu, o deixando sozinho para enfrentar a turbulência dos próprios pensamentos. K-2 estava certo e ele não tinha motivos para negar, ele amava Jyn Erso. E acreditava pela intensidade e sinceridade daquele beijo trocado no elevador de Scarif que ela o amava de volta. Todos lhe diziam que ela estava viva, aquele momento horrível fora uma ilusão armada pelos imperiais, mas precisava vê-la, tocá-la, sentir por si mesmo que seu pesadelo não era real. A porta abriu outra vez, dessa vez com urgência, e ele já estava ficando irritado com o fato de ser visitado tantas vezes e em nenhuma delas ser por Jyn. Mas ela estava lá. O olhar de Cassian ficou preso no dela. Os olhos verdes, as sardas, o cabelo castanho claro, e o mesmo sorriso doce que ela havia lhe dado na praia, mas dessa vez não havia tristeza em seus olhos. A rebelde fechou a porta e correu para se sentar ao seu lado. Cassian ergueu a mão que não segurava o cristal para acariciar seu rosto e no próximo instante eles estavam abraçados.

                - Você está viva – disse em seu ouvido.

                - Não ousaria te deixar.

                Ela se afastou para que pudessem se olhar. O mesmo olhar trocado no elevador.

                - Seu pai estaria orgulhoso de você, Jyn.

                A sargento sorriu e o beijou, acariciando seu rosto. Os lábios do capitão reagiram contra os seus, tão necessitados do contato quanto os dela. Jyn sentiu a mão dele ir de seu rosto para afagar seus cabelos. A outra mão da rebelde insconscientemete repousou sobre o peito do capitão, onde podia sentir as bandagens por baixo da camisa, como se desejasse curá-lo com seu toque, o que ela realmente ficaria feliz em fazer se pudesse. Separam-se e a rebelde beijou sua testa, o olhando de novo em seguida.

                - Isso é seu – ele pôs o cristal em suas mãos, mas ela novamente entrelaçou seus dedos e seguraram o cristal juntos.

                - Nós fizemos isso – ela falou sorridente.

                - Sim, fizemos, Estrelinha – respondeu também sorrindo – Seu pai, nossos amigos, e todos que se foram podem descansar agora.

                Algum tempo se passou apenas com os dois se olhando e Jyn afagando sua testa. Fazia tanto tempo que ninguém cuidava dele daquele jeito, a sensação era confortante e fazia seu coração se aquecer.

                - Me contaram. O que fizeram você pensar.

                - Me desculpe, Jyn... Se eu não tivesse dormido...

                - Não, você também estava ferido e exausto, ainda está – falou deslizando o polegar com cuidado por um hematoma embaixo do olho esquerdo – E nós dois estamos vivos, qualquer coisa que aconteceu lá, nós devíamos esquecer por enquanto. Nem tivemos tempo de processar o que aconteceu em Scarif.

                - Tudo parece tão confuso agora... Como se tivéssemos acordado em outra realidade.

                - Sinto o mesmo. Mas podemos pensar nisso mais tarde. Descanse.

                Jyn o sentiu apertar com mais força sua mão, ele queria falar alguma coisa.

                - Jyn... O que vai fazer agora?

                - Não sei.

                - Lhe prometemos liberdade, você pode tê-la. Ou pode ficar. A Aliança vai recebê-la de braços abertos. Tenho certeza que Mon Mothma vai gostar da ideia. E se Draven tentar algo contra você, vai ter me algemar junto.

                - Leia me ofereceu o mesmo.

                - E o que você quer?

                Ela o encarou.

                - A última vez que eu tive uma casa foi quando eu tinha oito anos.

                - Você será bem vinda para ter outra.

                Os olhares permaneceram presos um no outro como se conversassem. Jyn foi para o outro lado da cama e se juntou a ele debaixo das cobertas. Cassian a abraçou, tentando seguir o conselho de K-2 de não fazer movimentos além do necessário.

                - Jyn...

                - É real, Cass... Eu não me esqueço de quem eu sou mesmo quando estou morrendo. Ainda há muito que não dissemos e que não sabemos... Mas depois de tudo isso... Acho que não há nada de errado em admitir que já demos o primeiro passo. Agora é só continuar, um de cada vez – falou lhe dando um selinho como que para enfatizar suas palavras.

                - Quanto tempo faz desde a última vez que alguém disse que te amava?

                - Bastante. E você?

— Também. Ao menos das pessoas que eu mais queria ouvir, quando estavam aqui pra isso. Mas ainda lembro que era o único consolo que eu precisava quando eram palavras sinceras.

                - Amo você, Cassian – Jyn falou de repente.

                Pensou nas palavras de K-2, mas bem antes ele sabia, não tinha como descrever o olhar que ela lhe dera no elevador antes de se beijarem, mas devia ser a primeira vez em anos que alguém o via como ele realmente era. E estava feliz em saber que era retribuído.

                - Eu te amo, Jyn. Você estar viva, é tudo que eu precisava.

                Ela sorriu e beijou sua bochecha. Depois seus lábios.

                - Dorme. Vamos chegar logo e você vai ficar bem. Mais tarde vou te contar como conheci Han e Chewie.

                E foi assim que o capitão da nave os encontrou quando entreabriu a porta para checar o passageiro machucado. Estavam dormindo, abraçados e tranquilos. As mãos unidas segurando o cristal kyber de Jyn entre elas. Um sorriso surgiu no canto de seus lábios, se sentiu feliz por eles, embora seus pensamentos ao ver o amor do casal se voltassem para outra jovem. Ele ia anunciar que chegariam em Yavin IV dentro de poucas horas, mas poderia esperar um pouco mais. Fechou a porta e os deixou descansar.

 


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