Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 12
Capítulo 12 – Há muito tempo, em uma galáxia muito distante




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Capítulo 12 – Há muito tempo, em uma galáxia muito distante

— K-2, vá até em casa, ver como Hope está.

— Os humanos ainda mantêm alta preocupação com uma criança de dez anos porque ficou em casa sozinha por alguns minutos. Eu tenho certeza que ela não explodiu a casa nem fez nada perigoso. Parece uma criança sensata, às vezes mais do que vocês dois. A não ser quando ela decide seguir os passos de Jyn.

— Depois de treze anos você continua sendo incrivelmente doce e discreto – Jyn respondeu séria e sarcasticamente.

— Minha programação é assim. E eu não vejo nenhum problema com ela. As chances de eu não ser um droid eficaz caso não fornecesse as reais probabilidades seriam de 99%.

— K-2 – Cassian chamou – Eu sei que ela não explodiu a casa nem fez nada, mas, por favor, vá vê-la.  Nós dois perdemos nossos pais muito cedo, Hope tem a nós e a você, e ela ama nós três. Enquanto pudermos manter nossos olhos nela, vamos fazer isso, mesmo se ela tiver vinte anos.

— Não estou evitando a ordem, só opinando. Se você pediu, eu vou.

O casal observou o droid ir embora, fechando a porta atrás dele e os deixando completamente sozinhos na sala de onde comandavam as missões.

— Não importa o quanto eu o atualize, ele nunca vai mudar...

— Ele não seria o nosso K-2 se perdesse isso – Jyn respondeu – E é divertido encurralá-lo às vezes – ela sorriu.

Cassian riu baixinho e puxou a esposa pela cintura. Ela o enlaçou pelo pescoço e selou seus lábios num beijo doce e demorado. Com o passar dos segundos se abraçaram mais forte e agora as mãos de Cassian estavam em suas costas e atrás de sua cabeça, enquanto as dela repousavam em seu rosto. O beijo se aprofundou e quase esqueciam de que não eram um só. Quando ficavam sem ar se separaram brevemente e logo um dos dois iniciava um novo contato. Mesmo depois de treze anos que por segundos não haviam morrido em Scarif, ainda se amavam da mesma forma, na verdade ainda mais. Terminaram o beijo quando surgiu a necessidade extrema e urgente de oxigênio. Jyn fechou os olhos e repousou a cabeça no peito do capitão, o sentindo beijar o lado direito de sua testa e depois seus cabelos, e abraçá-la enquanto tomavam fôlego juntos.

— Eu te amo – ele sussurrou.

— Eu sei – ela respondeu baixinho com um sorriso.

Alguns minutos se passaram assim até ouvirem o som da porta sendo aberta e se afastaram. Hope entrou correndo e rindo. Os longos cabelos castanho escuros soltos, a alegria brilhando nos olhos verdes e o sorriso deixando o rostinho sardento ainda mais lindo. Ela correu para os dois. Cassian a pegou no meio da corrida, ouvindo a menina rir e a colocou nos braços, lhe dando um beijo na bochecha. Jyn fez o mesmo e trocou um sorriso com a filha.

— O que é tão engraçado? – Cassian perguntou.

Hope apenas olhou para a porta aberta. Jyn e Cassian se entreolharam ao ouvir murmúrios de espanto dos outros rebeldes que caminhavam lá fora. Cassian colocou Hope no chão e pensava em sair para verificar o que se passava quando K-2 apareceu com uma fita cor de rosa amarrada na cabeça, com um laço na lateral, e corações de papel presos em sua armadura. O droid fechou a porta e não disse uma palavra, apenas ficou lá parado como se não houvesse nada de anormal, o que aumentava bastante o tom cômico da situação. Após alguns segundos de silêncio Cassian e Jyn tentaram, mas não conseguiram evitar uma série de gargalhadas. Quando conseguiram se controlar, K-2 tomou a palavra.

— Eu fiz o que você mandou. Não vejo motivos para isso parecer engraçado, mas é melhor descolar esses recortes de mim antes que cause danos ao metal.

Cassian riu outra vez, indo retirar os seis corações de papel colados em K-2 e desamarrar a fita em sua cabeça.

— Agora você pode me explicar como uma criança com menos de um metro e meio alcançou a cabeça de um droid com mais de dois metros?

— Acho que sua preocupação era justificada, e minha opinião também. Ela escalou os móveis de novo e conseguiu me pegar num momento de sorte.

— Hope – Jyn olhou séria para a filha – O que já dissemos sobre correr riscos sem necessidade?

— Mas mamãe... Não vive dizendo que foram todos os riscos que você correu que te mantiveram viva por tanto tempo?

— Torno a dizer que a criança é mais sensata que vocês nesse momento. E a julgar pelo passado acredito que Cassian esteja em melhor posição moral para repreendê-la.

— No dia que você tiver um filho ou que eu te salvar de ser morto de novo nós conversamos sobre isso.

— Meu corpo pode ser danificado, mas eu sou recuperável se meus arquivos de back up forem bem monitorados.

— Treze anos se passaram, há novos meios de gerar compatibilidade de droids do Império com droids da Aliança. Podemos te colocar num droid menor do que Hope da próxima vez.

— Cassian não deixaria você fazer isso. E sou muito mais útil desse tamanho.

— E menor que eu ele não ia poder me levantar no alto. É tão divertido quando ele faz isso!

K-2 se calou quando Hope nitidamente quebrou o clima da discussão quando ele estava vencendo. Cassian tentou se conter, mas emitiu um riso baixo. Ele tinha que admitir que na maioria das vezes era divertido ver Jyn discutir com K-2. Ela era a pessoa que ele mais gostava de contrariar, por alguma razão não totalmente clara. Cassian pensava que a grande lealdade de K-2 podia fazê-lo se sentir traído por Cassian amar tanto Jyn. K-2 não podia compreender sentimentos humanos, mas sua lealdade era imbatível. E apesar de tudo ele sempre estava disposto a cuidar bem de Hope e até aprendera a tratar Jyn bem sem que Cassian o ordenasse a fazer isso.

— Sua mãe tem razão nas duas coisas, querida – Cassian disse à pequena – Todos os riscos que corremos nos mantiveram vivos, mas nós fizemos isso porque não tínhamos escolha. Correr perigo sem que a situação exija pode não ser bom. E nós treinamos você quase todos os dias, você até já sabe usar um blaster pra necessidades extremas, não tem porque se arriscar escalando os móveis.

— Tá bom – a menina falou um pouco chateada.

Não sabiam bem de onde Hope tinha aquele gosto por ficar em lugares altos, mas ambos viam isso como herança de suas próprias vidas. Mesmo com apenas dez anos Hope tinha o espírito nato de uma rebelde, que iria até o fim para lutar pela Rebelião e proteger os mais fracos, e a adrenalina que a tomava quando estava no alto só evidenciava isso. Ambos temiam pelo seu futuro, mas estavam lá para ela como seus pais nunca haviam estado para eles e acreditavam que a Força protegeria Hope, como sempre os protegeu.

— É melhor irmos. Está tudo bem por hoje e vamos andar por algum tempo até chegarmos lá, Jyn.

— Tem razão.

******

K-2 se mantinha à distância da água, apenas observando a família da areia. Cassian segurava a filha nos braços enquanto adentrava o mar, com Jyn os seguindo. A maré estava baixa àquela hora do dia e era o momento perfeito para aproveitar o lugar. Haviam se mudado para aquele planeta para comandar uma nova base da Aliança sete meses antes de Hope nascer e costumavam visitar a praia quando tinham algum tempo livre. Aquilo era sempre uma forma simbólica de se sentirem vivos e lembrarem de tudo que aconteceu até chegarem ali.

Os cabelos longos de Hope estavam presos em duas tranças, e já era incrivelmente parecida com Jyn, estava tão parecida com Jyn quando criança que a rebelde quase podia se ver de novo no dia em que toda a sua história começara quando tinha somente oito anos. Os três se sentaram na areia submersa. A água chegando quase à cintura de Cassian, um pouco mais alta em Jyn e Hope, mas nada arriscado. A água era clara, morna e agradável, como na praia que haviam visitado no planeta Terra no dia em que Jyn havia revelado que estava grávida. Haviam voltado lá mais duas vezes antes de deixarem o planeta.

— Papai, porque toda vez que estamos aqui vocês olham tanto pro horizonte?

O casal se entreolhou. Sabiam que há tempos Hope desconfiava que havia algo que eles não contavam e que algum dia ela faria aquela pergunta. Estava na hora de responder.

— Você lembra de como conheci seu pai?

— Sim.

— E do que lhe contamos sobre a Rogue One?

— Sim. Vocês sempre falam da história da Rogue One, que escaparam por segundos de Scarif, mas o que a praia tem a ver com isso?

— Você vai saber agora, Hope – Cassian lhe disse.

A criança encarou o pai, instantaneamente descobrindo que aquela história não era muito feliz, mas ela estava disposta a ouvir. Ela lembrava de terem lhe falado sobre Bodhi, era o piloto da Rogue One, ele tinha deixado o Império e se aliado à Aliança poucos dias antes. Chirrut e Baze eram os melhores amigos do mundo e Chirrut acreditava na Força mais do que qualquer Jedi. E junto com eles estavam seus pais. K-2 fora recuperado através de cópias de arquivos meses depois.

— Antes de conseguirmos sair de Scarif, nós estávamos numa praia, parecida com essa – Cassian falou – Eu tinha sido atingido por um blaster, levado uma queda grande e até quebrado alguns ossos. Se não fosse sua mãe me ajudando a andar eu teria ficado na torre de onde transmitimos os dados.

— Ele não aguentou mais ficar de pé quando chegamos na praia, e caiu. Eu também não aguentava mais andar e sentei na areia ao lado dele. Muitos soldados estavam caídos pra onde olhávamos, nossos e do Império, quase todos já sem vida. Não tinha nenhum jeito de sair dali. A Estrela da Morte apareceu no horizonte e uma onda gigante junto com ela, cheia de destroços. Quando o raio da Estrela da Morte se misturou com isso parecia que estávamos dentro de um forno quanto mais a onda se aproximava. Nós ficamos olhando porque não tinha mais nada a ser feito. O sol estava se pondo e deixava o mar dourado. Era lindo. Estávamos em paz, mas ver aquilo também foi muito triste. Nós nos abraçamos e esperamos tudo acabar. Mas quando faltava poucos metros pra onda chegar na praia uma nave abandonada foi arrastada pra perto de nós por algum milagre, talvez a Força. Eu morria de dor, mas me levantei com seu pai e conseguimos ir até ela. Nós entramos e conseguimos decolar no exato instante em que a água engoliu o lugar onde estávamos sentados.

— Foi uma das visões mais lindas que tivemos, mas também foi a mais triste. Nós quase morremos mesmo assim. Eu desmaiei muitas vezes até chegarmos em Yavin 4 e ficamos semanas no hospital.

— E porque continuam visitando a praia se é uma lembrança ruim?

— Não é ruim, amor – Jyn lhe disse – Porque nos faz lembrar que ainda estamos vivos, e nos faz lembrar de nossos amigos.

— Então é por isso que a primeira vez que foram numa praia foi num dia muito triste?

— Sim. Um dia você vai saber o que realmente significa pra nós.

Hope ficou em silêncio, seu olhar distante denunciando que refletia a respeito do que acabara de ouvir.

— Mas a primeira vez que você foi numa praia foi o dia mais feliz das nossas vidas – Cassian lhe disse querendo afastar os pensamentos da filha de qualquer possível tristeza.

— Nem me lembro quando foi.

— Não mesmo, porque foi no dia que sua mãe me disse que estávamos esperando você – o capitão falou com um sorriso.

— Foi aqui?

— Não – Jyn falou – Foi há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante. Em um planeta lindo chamado Terra. Foi lá que nos escondemos por um tempo antes de virmos pra cá.

— Queria conhecer esse planeta.

— Quem sabe um dia? Você ainda vai crescer e viver muito – Cassian respondeu – Foi engraçado quando K-2 foi reativado e viu sua mãe grávida de cinco meses – parou sua narrativa por alguns segundos para rir – Ele me deu os parabéns sem emoção alguma como sempre, e uma das coisas que disse é que só esperava que mesmo que fosse menina não puxasse o temperamento de Jyn – concluiu entre gargalhadas, fazendo as duas rirem com ele – Mas a Força não atendeu ao desejo dele.

Riram outra vez e olharam brevemente para K-2, que continuava parado olhando os arredores da areia da praia, quase vazia, a não ser por eles e uma ou outra pessoa distante na água ou na faixa de areia. Levantaram-se e caminharam mais um pouco pela água. Minutos depois podiam quase se sentir naquele dia na Terra de novo, pois estavam correndo e rindo como se todos fossem crianças, jogando água uns nos outros.

— Nunca vou entender porque os humanos gostam tanto de brincar na água. Se molham sem finalidade alguma, precisam tomar banho pra remover o sal da pele e trocar de roupa. Tanto trabalho pra se comportarem como droids mal programados dentro da água. Por mais que Cassian me explique, eu nunca vou entender – K-2 comentava para ele mesmo enquanto observava a família se divertir no mar.

 


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