Lá no meio do campus, o vento passava deixando os raios de sol misturados à grama verde e macia, junto das flores dos canteiros. Num banco da universidade, o rapaz loiro esperava por Maya, logo depois de ele se separar dela na sala. Ela vinha andando distraída como sempre. Lucy logo arrumou o que fazer pra não acompanhar a amiga, esse momento era só dela.
— Olá! - disse ela ao se sentar do lado dele. - Queria falar comigo né?!
— Sim. Meu nome é Van. Aquele dia eu te disse mas pelo visto você esqueceu. - ele começou sério.
— Me desculpe, não é nada pessoal, é que eu sou meio avoada. - disse ela sorrindo.
— Isso já deu pra notar! - ele mexeu nos óculos. - Devo ir direto ao assunto?
— Acho que sim, me chamou aqui pra me dizer algo né?! Então diga! - ela falou tranquilamente.
— Ok. Desde aquele dia eu fiquei pensando em você. Claro que eu não imaginei lhe encontrar outra vez. Você usava uma saia rosa clara e uma blusa de malha branca com um desenho de uma flor. Seu cabelo estava cacheado aquele dia, diferente de agora. Sei que você estava mesmo preocupada com celular. Quando achei e te entreguei, você me deu um beijo na bochecha e eu fiquei com a sensação de ter sido uma borboleta que ganhou vida. - ele olhava fixamente seu rosto surpreso. - Meio estranho! - ele desviou o olhar e encarou o nada.
— Nossa! Você se lembra de tudo isso? - perguntou ela surpresa.
— Não poderia esquecer! - ele respondeu ainda encarando o nada.
— Eu me lembro agora, acho que seu cabelo não era dessa cor, né? - ela sorria gentilmente.
— Não! - ele disse com um meio sorriso. - Ele era castanho ainda! - ele olhava pra ela sorrindo um pouco.
— Que bom que você me ajudou! - ela deu um sorriso com os olhos fechados.
— Que bom que eu ajudei! - ele respondeu. - Sabe, como eu disse, não imaginava que te encontraria de novo. Eu gostei de você e queria te ver outra vez, agora estamos aqui! - ele falou, agora sério.
— É tudo tão repentino. Aposto que as outras garotas também queriam estar aqui com você. - ela disse se encolhendo de timidez.
— Não me interessa nenhuma delas! - ele respondeu rispidamente. - Se foi você que eu chamei, nenhuma delas deveria estar aqui. - ele deu uma pausa e fechou os olhos. - Eu queria te conhecer mais. Saia comigo! - era quase uma ordem.
— Eu não sei, não conheço você. - ela disse meio preocupada.
— É pra isso que vamos sair. - ele, agora de pé, estendeu a mão para ela. Ela fitou a mão dele por dois segundos e repousou a mão dela na dele.
— É que eu não saio muito. - disse ela de pé na frente dele, com uma expressão descontente.
— Não se preocupe, eu cuido de você direitinho! - ele incrivelmente não falava isso com maldade no tom da voz.
Nesse instante, ele levantou a mão dela e deu um beijo delicado um pouco acima dos dedos. O olhar dele era fixo e focado. O dela meio inocente e gentil. Os dois se encararam por um breve segundo e ele, de alguma forma, perdeu a compostura.
— O que foi? - ela perguntou.
— É que... Você é tão linda! - seu rosto era sério, mas sua voz era doce.

Nada podia ser melhor não?! Eles se separaram logo depois. Maya ficou pensativa. Finalmente se deu conta de que não sabia lidar com isso. Van, por outro lado, era firme. Estava decidido a ir em frente e conhecer a menina avoada da saia rosa. Essa história promete!
No dia seguinte, foi quase o mesmo. Mas ele já estava na sala quando Maya chegou. Ele olhou pra ela durante todo percurso da porta para a cadeira e quando ela se sentou, ele fez um som semelhante a um suspiro. Ela virou para trás e sorriu pra ele. A aula foi chata e básica. Mas algo nele parecia que o deixava ansioso. Ele levantou-se logo depois do professor deixar a sala. Em pé ao lao da mesa dela, com todas as meninas o fitando, ele passou a mão na cabeça dela como um carinho. Claro que as meninas se escandalizaram, como ele tinha tanta intimidade com ela no terceiro dia e com as outras ele nem falava? Essa questão não incomodava ele de jeito nenhum.
— Se importa de eu falar com você em particular um instante? - ele quase perguntou isso pra Lucy, de tanto ele olha pra ela.
— Eu vou ao banheiro, até depois! - Lucy saiu sincronizadamente com a quase ordem de Van.
— Pode falar agora! - ela disse sorrindo. Ele se sentou na cadeira da frente, com a pose de um modelo.
— Você tem tempo na sexta? - perguntou.
— Tenho sim, porque? - a tonta não sabia mesmo?
— Pra sair comigo! - ele respondeu.
— Ah então acho que pode ser! - ela sorriu de satisfação.
— A gente se encontra na praça 17. Me permite indicar um lugar pra a gente ir? - ele levantou a sobrancelha direita.
— Qual lugar? - ela parecia interessada.
— Um restaurante pouco depois da praça, lá tem um aquário lindo e enorme no meio. Eu posso fazer uma reserva hoje. Depois a gente podia ir numa das cabines de lá e conversar um pouco. Eles servem um coquitel de frutas muito gostoso. Não se preocupe, não tem álcool. - ele disse focando os olhos de Maya.
— Nossa, isso é tão formal! - ela disse meio sem graça.
— Não gostou? Quer indicar algum lugar? - pela primeira vez ele ficou confuso.
— É que me sinto como se estivesse noiva. - ela parece jogar água fria nele com tanta naturalidade...
— Então que tal o parque? Lá é mais descontraído e à noite tem mais gente da nossa idade. - dessa vez a ideia dele era irrecusável.
— Parece bom! - ela deu aquele sorriso que se fecha os olhos de novo.
De alguma maneira, aquele sorriso desarmava o durão. Ele ficava com uma expessão desconcertada. Os dias seguintes passaram tão rápidos que Maya nem percebeu. Ele passou ao lado dela na hora da saída e deixou um papel na mesa dela, deu um tchauzinho sem quase olhar para trás. Ela abriu e viu um recado "Não se esqueça de hoje à noite. Sete horas. Aqui está meu telefone, qualquer coisa ligue." O número logo abaixo foi gravado no celular de Maya. Lucy olhou pra amiga cheia de orgulho e ansiedade. Claro que ela queria ajudar a amiga.
Na casa dela, as meninas conversavam tanto. Um banho de beleza, com direito a banho quente de banheira. Lucy ajudou Maya a escolher a roupa. Parques combinam com rosa, e essa era cor dela. Lucy puxou do armário uma saia rosa florida, com um semi babado nas pontas, um pouco abaixo do meio da coxa. A blusa era de uma cor gelo discreto com um corte moderno e que caia muito bem em Maya. O cabelo devia ser uma trança de lado, com alguns poucos adereços brilhantes. Uma pulseira e um cordão prateados combinando com os detalhes da sapatilha preta. Uma maquiagem leve, um pouco de pó, blush, uma sombra rosa bebê, lápis de olho branco e gloss na cor rosa quatzo. A bolsa com correntes prateadas combinava com os adereços. Ela estava tão fofa!
Lucy a acompanhou até o ponto de ônibus e pegou na mão da amiga lhe desejando sorte. Logo o ônibus chegou e Maya sentou-se perto da porta. Ela mandou uma mensagem dizendo que já estava a caminho. Isso era 19:12. Ela se atrasou um pouquinho. Chegando lá, Van a esperava com mais um look maravilhoso. Uma blusa em azul petróleo com um colete preto por cima, a calça bege discreto combinava tanto com o conjunto de cima quanto com o sapatênis cinza. Os óculos davam um charme intelectual, junto ao cabelo jogado para trás. Quando ambos finalmente se viram, ficaram olhando fixamente um para o outro. Parecia que esse encontro não ia ser o único, mas sim o primeiro de vários.

De quantos mais eles precisavam pra se apaixonarem?