Adrien observava  de longe a cena que acontecia de forma silenciosa e triste no cemitério de Paris,em que um pequeno grupo de pessoas vestidas de preto encarava o caixão a sua frente.

Havia uma certa melancolia naquele momento,os olhares cabisbaixos permaneciam fixos em um único ponto enquanto as lágrimas escorriam. Porém o olhar que mais chamava a atenção era o de Marinette,que permanecia sem derrubar uma lágrima sequer... encarando friamente o caixão a sua frente, enquanto sua mãe chorava copiosamente ao seu lado.

Já do seu outro lado estavam Alya,Nino e Nathaniel...todos muito abalados ,Alya consolava a amiga e de hora em hora a abraçava, já Nino e Nathaniel apenas observavam.

O loiro até gostaria de andar até lá para dar os seus pêsames e consolar tanto Marinette quanto Sabine,mas não tinha coragem de se aproximar por conta da enorme culpa que carregava por não ter evitado aquela tragédia.

Já haviam passado alguns dias desde a morte de Tom,e todas as acusações haviam recaído sobre Adrien como uma bigorna em suas costas...Os médicos que estavam naquele mesmo quarto de hospital no dia em que houve aquela fatalidade acusaram o Agreste de ter matado Tom e ainda afirmaram que não lembravam de nada do que havia acontecido.

Por conta desses boatos e notícias mal contadas, Marinette se afastou de Adrien de tal forma que desejou nunca mais vê-lo novamente e começou a nutrir por ele um ódio que jamais pensou que poderia sentir por alguém,proibindo-o de ir ao velório do seu pai.A imprensa começou a perseguir Adrien, todos os jornais falavam sobre o suposto assassinato...dividindo opiniões e chocando os franceses.

Da noite pro dia a vida de Adrien Agreste se tornou o inferno na terra,por mais que ele quisesse explicar o que realmente havia acontecido naquele hospital, ninguém acreditaria nele... principalmente se ele falasse que os médicos poderiam estar sendo “controlados” por algum Akuma ou vilão,com certeza seria taxado de louco pela maioria das pessoas.

Sem a possibilidade de se defender,Adrien havia virado o principal suspeito e alvo da polícia que já estava atrás dele...O rapaz tinha inúmeras opções naquele momento,poderia muito bem escapar para bem longe com todo o dinheiro que tinha ou simplismente negar o que aconteceu,mas optou por ficar em Paris e responder pelos seus atos...ser honesto naquele momento era o mínimo que ele poderia fazer para conseguir provar a sua inocência.(Mesmo tendo certeza que não havia matado Tom,ainda sim tinha sido testemunha e estava ciente que teria de responder judicialmente por isso).

 Enquanto observava silenciosamente o velório,Plagg e Tikki se remexiam no bolso do seu sobretudo preto,tentando ver a cena.

—... Você deveria tentar falar com ela…-Plagg olhou para o dono com expectativa.

—É melhor não Plagg…-Adrien permaneceu sem tirar os olhos daquele ponto do cemitério.

—Ele tem razão,a Marinette não vai recebê-lo muito bem depois de tudo o que aconteceu.-Tikki respondeu com um tom de tristeza em sua voz(a mesma queria muito voltar para os braços de sua dona,mas sabia que não era uma boa hora para revelar a identidade de Ladybug... só pioraria as coisas).

Adrien dera um suspiro e saiu cautelosamente do cemitério,sem ser visto por ninguém daquele grupo(ele teria de “aproveitar” o seu último dia de liberdade, já que no outro seria preso temporariamente até o dia do julgamento).

—O que pretende fazer agora?-Plagg perguntou ainda alimentando as suas expectativas.

—Vou levar a Tikki até o Guardião…-Adrien encarou a pequena Kwami em seu bolso com um olhar de preocupação.-Ela ainda está muito fraca…

—Não precisa não... você tem que descansar Adrien!-Tikki protestou furiosa ao perceber que o seu dono temporário não estava se “ cuidando” o suficiente (Afinal com o passar dos dias em que ficou sob a custódia de Adrien,Tikki se apegou a ele da mesma forma que era apegada a Marinette...assim criando um vínculo com o rapaz).

—Eu não vou descansar enquanto você estiver nessas condições... não estou afim de causar outra tragédia.

—Você não é o culpado do que aconteceu e sabe disso.

Adrien nada respondeu,apenas curvando a cabeça e seguindo o trajeto até a casa do Guardião pelas ruas pouco movimentadas de Paris. Já os kwamis desistiram de tentar convencer o dono da sua inocência,Adrien não mudaria de ideia tão rápido e nada poderia tirar aquilo da sua cabeça.

Minutos depois-Casa do Guardião----

 O piso de madeira rangia a medida em que Adrien subia as escadarias daquele prédio antigo,a cada passo um toque de ansiedade era acrescentado na mente do rapaz...que não parava de pensar no velório e em tudo o que estaria prestes a enfrentar.

O loiro procurava as palavras certas para poder informar o guardião sobre aquela notícia,mas talvez não seria necessário (já que todos os veículos de comunicação já falavam a respeito disso).De qualquer forma ele tentaria contar a sua versão da história,caso o mestre perguntasse a respeito.

Após poucos minutos e muitos degraus,Adrien finalmente chegou ao apartamento,se deparando com a porta entre aberta e fechadura aparentemente arrombada.Aquela cena obviamente lhe causou calafrios,mas não impediu que o mesmo verificasse o que estava acontecendo.

—...Mestre?...-Adrien adentrou cautelosamente no local, observando a sala do apartamento totalmente revirada,com os móveis quebrados,gavetas e armários abertos e cortinas rasgadas(Parecia que tinha passado um furacão por lá). Enquanto isso os Kwamis fizeram questão de ajudar na “ investigação”, procurando o guardião ou qualquer pista que levasse a ele,dentro do apartamento.

—Tome cuidado Adrien!-Tikki advertiu antes de ir para os outros cômodos da moradia.

—Pode deixar…-O loiro respondeu sem tirar os olhos daquela sala de estar.

Algum tempo depois ,Tikki e Plagg voltaram esbaforidos de um dos cômodos do apartamento,os Kwamis mal conseguiam falar de tão assustados que estavam:

—...N-nós encontramos ele!!-Plagg e Tikki falaram em coro para Adrien, enquanto conduziam-o para o banheiro da moradia.

Assim que chegou lá,o rapaz se deparou com uma cena aterradora...O guardião estava encolhido em um canto do cômodo,segurando fortemente uma caixa de madeira em seus braços,as feridas em suas mãos e os arranhões em seu corpo eram a evidência de que havia tido algum tipo de luta ou confronto a pouco naquele lugar.

—Chat…-Aquele senhor franzino ergueu os olhos rapidamente para Adrien,alertando-o com a voz trêmula-Ele mandou alguém aqui,ele está atrás dos outros miraculous...e não vai descansar enquanto não tê-los.

—Ele quem?!-Adrien já poderia imaginar qual seria a resposta,mas resolveu se fazer de ingênuo para ter certeza absoluta de quem o guardião estava acusando.

—Hawk Moth…-Pela primeira vez aquele mestre cujo a sabedoria era milenar,se encontrava derrotado diante da crueldade de um vilão.-Tome cuidado...ele não vai medir esforços para conseguir o que quer,me escute com atenção rapaz... diferente do seu pai,este homem é sádico e cruel, não tem piedade e muito menos compaixão.Seu pai poderia ter sido um vilão terrível,mas optou por seguir esse caminho para encontrar a sua mãe e para te manter seguro... Já este homem não tem nenhum objetivo a não ser se vingar e alimentar sua ambição inesgotável.

Adrien ainda queria se recusar a acreditar que seu pai poderia ter sido o vilão do qual ele batalhava desde seus 15 anos de idade,mas aquelas palavras que saiam da boca daquele senhor pareciam ser mais que verídicas.

—...Ele é tão cruel ao ponto de matar para conseguir o que quer,antes eu não lhe disse nada porque eu não tinha certeza...mas hoje minhas suspeitas foram confirmadas...A morte do seu pai não foi um suicídio,foi este homem que o matou para roubar seu Miraculous...foi assim que ele conseguiu obter o poder e se tornar o novo Hawk Moth.

Naquele instante o mundo havia parado de girar para Adrien,que voltava em suas memórias mais obscuras para relembrar aquele trágico dia em que se deparou com seu pai estirado sobre a mesa na sala de jantar,segurando em uma das suas mãos um copo com algum tipo de veneno e na outra uma carta pedindo perdão ao filho.

Aquela imagem nunca fora deletada da cabeça de Adrien e agora era como se ela tivesse sido totalmente alterada com a tal revelação.Tudo que ele sempre teve certeza foi praticamente destruído pela substituição da palavra “suicídio” para “assassinato”.

—... Você precisa encontrar a Ladybug o mais rápido possível e ir para longe daqui!-O Guardião implorava ao rapaz a sua frente.
          -Porque ir embora?
   -Vocês estão sob ameaça dele,se continuarem em Paris podem sofrer qualquer ataque vindo dele...a melhor escolha é ir embora daqui o quanto antes.

—Desculpe...Mas eu não vou embora daqui enquanto não acabar com ele, não vou deixar a cidade para que ele se "divirta"por medo de me machucar ou de ser ameaçado,eu e a Ladybug sempre derrotamos todos os vilões por mais poderosos que eles fossem...e com esse tal Hawk Moth não vai ser diferente.

—Por favor... Você tem a opção de me devolver o miraculous e parar de correr esse risco,viver a vida que você sempre quis!-O senhor pronunciava aquelas palavras totalmente amendrontado.

—Porque está tão assustado?Eu nunca achei que o veria assim antes... Não foi você que nos escolheu?Porque está voltando atrás com a sua palavra?

—Estou assutado porque em tantos séculos em que esses miraculous foram utilizados,os portadores nunca correram tanto risco quanto vocês dois estão correndo agora...eu preciso mantê-los vivos e se para que isso aconteça eu tenha que pedir os miraculous de volta,eu o farei.-O guardião respondeu seriamente,com a plena certeza do que estava dizendo.-É para o bem de vocês...

—Não sei o que a Ladybug vai achar disso,mas eu não vou desistir tão fácil assim... principalmente agora que eu soube sobre o que ele fez com o meu pai,com ou sem o meu miraculous eu vou atrás desse cara independente de quem ele seja e vou fazer ele pagar por tudo o que fez.-Adrien pôde sentir o ódio sair junto a cada palavra que pronunciava,seus olhos pareciam queimar enquanto fazia o seu "juramento".

Já o Guardião ao mesmo tempo que encarava aquele rapaz com uma certa admiração por sua coragem, também temia pelo o que ele seria capaz de fazer a seguir...sabendo que não poderia convencê-lo a esquecer aquela ideia,o mesmo o alertou novamente:

—Independente do que for fazer garoto,lembre-se que para derrotar um inimigo você nunca e em hipótese alguma deve se igualar a ele e sim estar acima dele.

—Não se preocupe,eu não irei esquecer.-Adrien respondeu seriamente enquanto erguia o mestre do chão e o ajudava a se locomover para fora do banheiro.

—Pode ir embora...eu vou ficar bem.-O senhor se apoiou na parede,sem tirar as mãos da caixa.

—Tem certeza? Não acha melhor ir para um hospital?-O loiro perguntou visívelmente preocupado.

—Não será necessário,tenho meus métodos para tratar esse tipo de machucado... só preciso que deixe a Kwami aqui,eu irei devolvê-la para a sua dona.

No mesmo instante Tikki saiu voando do bolso de Adrien até o Guardião.

—Muito obrigada por cuidar de mim!-A pequena dera um sorriso para o loiro e em seguida pousou na mão do Mestre.

Adrien apenas sorriu e saiu do local com a certeza de que encontraria aquele homem e o puniria,por mais que isso custasse a sua vida...O rapaz estaria disposto a correr qualquer risco para realizar tal feito.