Redamancy escrita por Akemihime


Capítulo 1
I – Um começo cheio de imprevistos




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A reunião mensal dos representantes da União no País do Ferro acabou por ser adiantada naquele mês de dezembro, devido às festividades que aconteceriam no fim do mês. Shikamaru não foi contra quando Omoi sugeriu aquilo, o que ele mais queria era um descanso, pelo menos durante a época natalina.

Desta forma, poucos dias antes do natal, lá estavam eles, finalizando o que seria a última reunião do ano.

— Bem, então se já não temos mais nenhum tópico para discutir, podemos encerrar? — Perguntou, já sabendo a resposta. Todos assentiram, parecendo felizes com o clima confortável da reunião. — Sendo assim, nos vemos no próximo mês, feliz natal a todos.

Todos repetiram as felicitações natalinas, logo recolhendo pergaminhos e empurrando cadeiras, prontos para irem embora.

— Temari — Shikamaru chamou a loira enquanto ela terminava de guardar suas coisas.

Ela virou-se para o shinobi, parecendo leve e despreocupada.

Ultimamente Shikamaru tinha visto a amiga com essa aura muitas vezes, e só pode pensar o quanto ela parecia de fato mais madura. Claro, ele sabia que no fundo, por trás de uma aparente calmaria, existia sim uma mulher extremamente problemática, esperando apenas por uma só palavra errada para dar as caras.

Mas de qualquer forma, o fim da guerra havia deixado um clima confortável e calmo por toda a Nação Shinobi, Temari era só uma entre todos eles que estava desfrutando dessa paz.

— O que foi? — Ela perguntou, com o rosto levemente enrubescido ao perceber que Shikamaru só encarava sem dizer nada.

Ele pareceu despertar de seus pensamentos, tentando disfarçar o constrangimento.

— Kakashi disse que você iria para Konoha logo depois daqui, vamos então? — Shikamaru nem se surpreendeu quando o Hokage lhe contou sobre a kunoichi, afinal, antes mesmo de fazer parte dos representantes da União, Temari já era praticamente uma embaixadora de Suna, ir e vir de outros países para reuniões ou algo do tipo era normal para ela.

Como antigo guia da representante de Suna, ele sabia muito bem disso, é claro.

— Oh, sim.

Ela concordou, se colocando ao lado dele enquanto ambos saíam do País do Ferro.

O País do Ferro era regido por samurais, e além de ser um país que sempre se mantinha neutro em relação aos outros, sua característica também se dava pelo clima frio, até mesmo no verão era possível ver a neve caindo, e os invernos eram sempre rigorosos. Aquele inverno, portanto, não era exceção.

Temari suspirou quando sentiu a brisa congelante invadir sua face. Apesar de ir e vir sempre para o País do Ferro, se acostumar com o clima era particularmente um desafio, visto que de onde vinha o calor era uma característica marcante.

Era neste momento que ela sentia falta do deserto.

— Eu nunca vou me acostumar com esse frio. — Shikamaru murmurou, sentindo os sapatos ficarem ensopados de neve enquanto andava.

Temari riu.

— Achei que nevava em Konoha nesta época do ano.

— E neva. — Ele concordou, apressando mais o passo na tentativa de se livrar daquele desconforto, enquanto a loira o acompanhava sem dificuldade — Mas não como aqui.

— Bem, imagino que deve estar bem frio por lá.

— Logo verá. — Os dois agora já caminhavam em um ritmo só, e as conversas triviais como sempre soavam naturais entre eles.

— Suponho que sim.

— Planeja passar o natal em Konoha? — Shikamaru não pode deixar de perguntar. Não sabia por que, mas mantinha esse pensamento no fundo de sua mente desde que soube que Temari estaria indo para sua vila logo depois da reunião.

Não entendia por que estava tão curioso a respeito, afinal nunca fora assim antes.

— Oh não. Pretendo voltar assim que resolver meus assuntos por lá. Gaara e Kankuro precisam de mim. — Temari respondeu simplesmente, como se fosse algo óbvio.

Shikamaru se permitiu esboçar um pequeno sorriso de lado, de modo discreto, sem que ela percebesse. Apesar da resposta o ter deixado um pouco desapontado, era notável a dedicação da loira para com seus irmãos e sua vila. Ele não podia deixar de admirar isso.

— Entendo. — respondeu — Bem, não é como se você fosse perder alguma festividade especial ou algo do tipo, terá apenas pessoas trocando presentes, sendo bem barulhentas e a neve congelando os ossos...

— Bem problemático. — Temari sorriu ao dizer a palavra que Shikamaru conhecia bem. — Pelo visto não terá paz para dormir então.

— Não é como se eu estivesse tendo muito tempo para dormir ultimamente de qualquer forma — Ele reclamou, dando um longo bocejo em seguida, provando o quanto sentia saudade de horas e horas de descanso.

— Estou orgulhosa de você, Shikamaru. — Temari disse de repente, deixando-o ligeiramente surpreso por suas palavras. Ele conhecia bem a loira, sabia que ela não costumava elogiar as pessoas com frequência, e apesar de as vezes possuir um ar debochado, era visível que falava sério dessa vez, olhando-o com intensidade.

Shikamaru sentiu as bochechas esquentarem e rapidamente desviou os olhos dela, desconcertado.

— Problemática. — Foi o que respondeu, sem saber ao certo o que dizer.

Temari esboçou aquele enorme sorriso que só ela sabia dar, deixando o Nara ainda mais sem palavras. Ele odiava quando ela fazia isso. Odiava quando ela sorria daquele jeito, pois sempre que acontecia, tinha o poder de hipnotizá-lo, deixando-o sem reação.

 

— Ei velho, por que você se casou com uma mulher tão rígida assim? — O pequeno Shikamaru reclamava com o pai, enquanto sua mãe gritava pela casa, sendo a perfeita definição de problemática.

Shikaku deu de ombros.

— Mesmo ela sendo assim, tem momentos em que ela sorri carinhosamente. Deve ser por isso.

 


Shikamaru não entendia por que diabos aquela cena de sua infância passou por sua cabeça naquele momento.

Ele balançou a cabeça, suspirando profundamente, tentando voltar sua atenção para a estrada à frente.

— E como está indo a “Clínica de Saúde Mental das Crianças”? Soube por Sakura que vocês implantaram o sistema em Sunagakure... — O que Shikamaru mais gostava sobre Temari é que, apesar de serem de vilas diferentes, eles não se importavam em compartilhar informações daquele tipo. Eram amigos e a aliança entre Konoha e Suna era a melhor que já tiveram em anos, devido a isso eles não tinham segredos a esconder mais, especialmente depois do episódio do País do Silêncio.

— Terminou de ser instalada há pouco tempo, mas creio que teremos resultados bem positivos em breve — Temari esboçou um sorriso — a ideia de sua amiga foi muito bem recebida por Gaara.

A partir dali o rumo da conversa se direcionou a assuntos como aquele. Eles discutiram o andamento das vilas e até mesmo revisaram tudo o que foi falado durante a reunião da qual haviam saído.

Temari admirava o fato de que, mesmo ambos estando focados em conversas sobre trabalho, o clima entre eles permanecia pacífico e amigável, não algo pesado e estressante, como costumava ser quando se tratava de assuntos sérios assim.

Shikamaru era diferente. Aliás, ele estava diferente.

Quando Temari disse que estava orgulhosa dele, era verdade.

Ela se lembrava claramente daquele pequeno garoto de anos atrás, em pé no corredor do hospital de Konoha, em prantos por ter falhado em sua primeira missão e ter posto seus amigos em perigo.

Ela teve o privilégio de ser uma das pessoas a vê-lo mudar, a vê-lo crescer não só como ninja, mas como homem. Assumindo mais responsabilidades e tendo maturidade o suficiente para lidar com todas elas.

Depois de tudo isso, Temari chegava a conclusão de que não poderia chamá-lo mais de bebê chorão.

Não, aquele apelido ficara no passado.

[...]

O tempo passou rapidamente durante a viagem, apesar de ambos não estarem com tanta pressa assim. Eles conversavam e caminhavam, fazendo algumas pausas quando sentiam necessidade, andando em um ritmo próprio.

Estavam tão envolvidos em suas conversas que mal notaram quando cruzaram a fronteira do País do Fogo, deixando o inverno mais rigoroso para trás.

E depois disso, não demorou nada para logo passarem pelos longos portões de Konoha.

— Suponho que você vai direto até o Hokage agora — Shikamaru disse, bocejando. Era cedo de manhã quando chegaram, de modo que o moreno ainda sonhava em poder deitar um pouco em sua macia cama (apesar de saber que seria difícil isso acontecer por enquanto).

— Sim, quero resolver tudo de uma vez.

— Certo, vamos.

— Não precisa me acompanhar, você sabe — Temari disse, sabendo como Shikamaru estava cansado, e, além disso, ele não era mais seu guia afinal.

— Tsc... pare de reclamar e vamos logo. — Ele disse, se pondo a andar, com uma Temari um pouco vermelha ao seu encalço.

— Hm, certo.

Eles atravessaram metade da vila, que estava aos poucos ganhando vida, com seus habitantes despertando e começando a encher as ruas.

— Oh, Shikamaru, Temari, entrem, entrem! — Kakashi os chamou amigavelmente quando abriram a porta do escritório do Hokage ao chegarem.

Ele estava sentado, olhando de forma confusa para o computador em sua mesa.

— Chegou em boa hora, Shikamaru, acho que precisarei de um pouco de ajuda nisso aqui. — Sorriu por debaixo da máscara. — Ainda estou tendo dificuldade para acessar meu email.

Computador era algo novo no mundo shinobi, mas apesar de parecer difícil de utilizar, acabava sendo extremamente útil para se comunicar a distância, especialmente tendo em vista que antes utilizavam aves e pessoas, mensagens que demoravam dias para serem entregues, agora eram recebidas apenas em questão de minutos.

Shikamaru se moveu em direção ao aparelho eletrônico, apertando algumas teclas rapidamente e de modo eficiente.

— Então, creio que tem algo para mim? — Kakashi se dirigiu à Temari, enquanto o outro lhe ajudava.

— Sim — Ela imediatamente pegou o pergaminho que estava guardado desde que saíra de Suna — Aqui está o relatório sobre a Clínica de Saúde Mental das Crianças. Gaara achou melhor eu vir lhe enviar pessoalmente, ele ainda está um pouco relutante em relação à internet. — Sorriu, enquanto entregava o documento.

— Bem, não posso tirar a razão dele. — Kakashi respondeu bem humorado, enquanto pegava o relatório e abria. — Tenho certeza que Sakura ficará radiante com isso, provavelmente irá querer conferir pessoalmente o andamento da Clínica em breve.

— Claro.

— Então acho que isso é tudo, está liberada. Ah, e claro, será muito bem vinda a ficar conosco durante as festas, o que acha?

— Agradeço o convite, mas prefiro voltar para a minha vila, já passei tempo demais fora.

— Entendo.

— Temari, eu acho que você terá que ficar. — Shikamaru disse de repente, com os olhos fixos na tela do computador.

— Por que? Algum problema? — Ela perguntou, imediatamente preocupada.

— Recebemos um email da Vila da Areia e...

Kakashi se inclinou sobre Shikamaru, lendo.

— É o Kazekage. Aparentemente há uma tempestade de areia acontecendo pelo deserto no momento. E a previsão é de que irá durar alguns dias.

— Como é?! — Temari não pode conter a surpresa, se aproximando mais da mesa do Hokage.

Kakashi continuou relatando o que lia:

— Diz ele que correm boatos que esta é a maior tempestade que já aconteceu, por isso pede para que fique por aqui até tudo se acalmar.

— Mas...

— Ah, e ele diz que Kankuro-san deseja um feliz natal.

— Só pode ser brincadeira.

— Ouvi dizer que elas são realmente perigosas. — Kakashi se jogou preguiçosamente contra o encosto da cadeira. — Bem, não se preocupe com isso por hora, fique e aproveite as festividades de fim de ano.

— Bem... — Temari suspirou — suponho que não terei escolha, pelo visto.

É claro que ela poderia se arriscar e viajar assim mesmo, mas se a tempestade continuasse quando chegasse na fronteira do País do Vento, Temari seria impedida de continuar até que acabasse, tendo que esperar na estrada ou até mesmo voltar para Konoha.

Ela conhecia bem os perigos de se aventurar por dentro de uma tempestade de areia, conhecia bem o suficiente para ser obrigada a concordar com as palavras de Gaara sobre continuar em Konoha por mais alguns dias.

— Excelente! Shikamaru, que tal levar Temari para se hospedar em algum hotel? Tenho certeza que ela deve estar cansada da viagem.

— Certo, vamos lá. — Shikamaru se endireitou, alongando o pescoço.

Ele não mencionou isso, mas naquela época Konoha recebia inúmeros turistas para as festividades de natal e ano novo. Só podia torcer mentalmente para que ainda houvesse algum hotel com um quarto vago, caso contrário haveria problemas.

É, dito e feito.

Eles não souberam quanto tempo haviam rodado por toda a vila, e sinceramente, Temari já estava cansada de andar. Já Shikamaru ao seu lado parecia bastante perdido, sem saber aonde mais poderia levá-la.

Passaram por todos os hotéis que ele conhecia e todos continham a mesma e temida mensagem na fachada: “lotado”.

— Acho que esse foi o último... — O Nara suspirou, já sentindo a aura nada agradável que emanava de Temari a seu lado.

Merda, ele sabia que isso iria acontecer.

— Tsc... Eu preciso de um lugar para ficar, não espera que eu durma bem aqui no meio da rua, não é?

— Mas como eu posso...

— Não me interessa como, Shikamaru, eu preciso de um lugar para ficar já que é impossível voltar para minha vila agora.

— Fique na minha casa! — Aquela voz era fina demais para ter saído de Shikamaru, vindo de alguém por trás dele. O Nara já se virou, sabendo bem de quem se tratava.

Yamanaka Ino.

A loira de olhos azuis os encarava com um sorriso estranho rosto, como se soubesse de alguma piada que os dois desconheciam.

Temari controlou o impulso de fazer uma careta.

— Não precisa, de verdade, eu posso ficar na casa da Saku-

— Ah, deixe de besteira, Temari-san! Sakura anda muito ocupada ultimamente com planos para o novo hospital infantil, não ia querer atrapalhá-la, não é mesmo? — Temari lançou um olhar para Shikamaru, um pedido de ajuda silencioso, mas ele não poderia fazer nada.

Quando o assunto era Ino, o shinobi sabia bem que nada a faria mudar de ideia uma vez que colocasse algo na cabeça.

— Mas então neste caso eu... — Mas a loira de Suna ainda estava relutante.

— Vamos lá, qual o problema? A não ser que Shikamaru a queira em sua casa... — A Yamanaka ia dizendo agora de forma maliciosa — Imagino que não tenha quartos o suficiente para vocês dois dormirem... você sabe... separados.

— Dormir... o que? — Shikamaru gaguejou, imediatamente nervoso com a situação. Temari ao seu lado adquiriu uma forte coloração avermelhada em suas bochechas.

— Foi o que pensei — Ino riu com vontade ao ver a reação que causara neles.

— Tudo bem. Pelo visto vai ser impossível arrumar qualquer hotel com vaga livre por esses dias mesmo... — Finalmente Temari se viu sem escolhas, desistindo. Ela precisava de um lugar para ficar, afinal. Estava relutante em relação à Ino, pois mal a conhecia, e não sabia se teria tanta paciência assim para lidar com a garota.

Bem, não sabia como, mas agora teria que aguentar.


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Notas finais do capítulo

O trecho em itálico é do episódio 110 de Naruto clássico.