Os Olhos do Coração escrita por DiAngelo


Capítulo 1
O Coração Nunca Mente


Notas iniciais do capítulo

Ei, pessoinhas! Feliz Natal! o/ Eu prometi e eu estou cumprindo: trouxe essa fanfic fofinha para comemorar a data com vocês. Faz tempo que quero um plot com o tema que abordei, mas a oportunidade ainda não havia surgido. Aí me apareceu o natal e essa ideia explode no meu cérebro, por isso pensei: É ISSO! *-*
Espero que vocês gostem, porque eu adorei escrever essa fanfic, me trouxe muitos feels. A música da vez, que me inspirou para pôr como título do cap, foi The Heart Never Lies de McFly: https://www.youtube.com/watch?v=6gXh6iR5Ogo
Enfim, nos vemos nas notas finais! :*



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Aquela cena era bem comum na cafeteria da universidade e pelo jeito, nem na véspera de um feriado como o natal, esta mudaria. O loiro, que sempre sentava na mesa mais próxima da porta, digitava pacientemente em uma máquina de escrever enquanto ouvia algo nos fones de ouvidos conectados ao celular. Ele chegava por volta das duas da tarde e sua permanência durava até às seis da tarde, mais ou menos. Geralmente pedia um cappuccino e com o avançar da hora, um croissant ou uma fatia de torta - dependia do humor dele - mas agora, em pleno inverno, seu pedido resumia-se a uma xícara de chocolate quente atrás da outra.

Naruto gostava do inverno, das sensações que a estação trazia junto consigo, mas não de como seus dedos ficavam frios enquanto não usava as luvas. Não que a culpa fosse dele, mas era impossível usar o touch screen do smartphone com luvas e isso era algo que as pessoas que inventaram essa tecnologia deveria ter pensado. Bem, pelo menos era isso que ele pensava sempre que tinha que aquecer os dedos com seu hálito quente.

Os alunos e funcionários da universidade que frequentavam o estabelecimento já estavam acostumados com o barulho da máquina de escrever de Naruto, por isso não se incomodavam mais, na verdade sempre se preocupavam se ele precisava de algum tipo de ajuda, o loiro agradecia, mas no fundo tinha vontade de dizer que aquilo era desnecessário, que ele sabia se virar sozinho. Ino, uma das garçonetes do lugar, percebera isso logo nas primeiras vezes que havia servido o pedido de Naruto, ele era muito independente e sentia-se orgulhoso por isso.

Ela gostou dele de primeira e com o passar do tempo, tornaram-se grandes amigos. Quando o movimento era pouco na cafeteria, ela sentava-se à mesa com ele para colocar o papo em dia, Naruto não se importava com a interrupção, ele adorava conversar e principalmente com Ino, que não o tratava de forma diferente da que tratava as outras pessoas. Ela o tratava da mesma forma que Sasuke o fazia.

Naquela tarde, Naruto parara momentaneamente de trabalhar no audiolivro que estava transcrevendo em braile, “Morte e Vida de Charlie St. Cloud”, para escrever uma carta. Retirou os fones do ouvido e passou um bom tempo com a xícara de chocolate quente na mão e o rosto voltado para o nada, literalmente, antes de pôr-se a voltar a apertar as teclas barulhentas da máquina.

Deve ter passado pouco mais de quinze minutos para que a carta estivesse pronta e Naruto sorrisse, satisfeito. Dobrou o papel grosso, que agora tinha palavras pontilhadas, com cuidado e pôs-se a arrumar suas coisas. O ritual era sempre o mesmo, pois Naruto aprendera que manter uma rotina facilitava muito sua vida. Pegou sua bolsa na cadeira ao lado, colocou todo o material transcrito dentro, junto com os fones de ouvido e chamou Ino para pedir a conta.

Ela se demorou um pouco atendendo outros clientes e logo voltou, para anunciar o valor. Naruto pegou a carteira em sua bolsa e selecionou com cuidado as notas. Ino falava alguma coisa quando o loiro virou o rosto para a porta, por isso ela voltou seus olhos para a mesma direção. É claro, era ele. Com toda certeza Naruto sentira o cheiro do perfume de Sasuke.

Logo após pagar a conta, Naruto se levantou, pegou sua bolsa e despediu-se de Ino enquanto recebia um beijo na bochecha de Sasuke. Isso também era rotina. O moreno, namorado de Naruto, sempre ia levar e buscá-lo de carro após acabar seu expediente de aulas na universidade, pois a máquina de escrever do loiro não era uma das coisas mais leves para se levar estando à pé. Sasuke chegava, cumprimentava carinhosamente o loiro e falava brevemente com Ino, antes de pegar a máquina e levá-la até o carro estacionado na porta da cafeteria. Naruto seguia-o, guiado pelo cheiro do amante e o som de seu passo calmo, embora firme.

O tempo esfriara mais e pelos arrepios que o loiro sentia em sua nuca, ele tinha certeza que a primeira neve do ano iria cair em breve, no mais tardar, na manhã do dia seguinte e foi isso que ele disse a Sasuke. O moreno acreditou piamente no namorado, mesmo que tivesse escutado pelo rádio que a neve aquele ano demoraria mais que o normal para dar o ar de sua graça, pois Naruto nunca errava suas previsões do tempo. Mais um detalhe que fazia parte da rotina deles.

Mas naquela tarde em específico, algo mais mudara, a carta escrita pelo loiro fora deixada propositalmente na cadeira que estivera sentado durante toda a tarde. Nem Sasuke, e muito menos Ino, deram-se conta do papel abandonado, mas uma garota de pele leitosa, longos cabelos negros e olhos perolados, vestida com um longo vestido branco sem mangas e sentada numa mesa do lado oposto a porta, o percebera. Ela se levantou de onde estava e foi até a mesa onde Naruto estivera. Pegou o papel e sentou-se à mesa para ler, passando os dedos finos e delicados nos pontos em auto relevo.

 

Não vou mentir e dizer que nunca tive vontade de ver as formas e as cores ou que nunca me senti amargurado por saber que nunca as verei, mas essa época já passou. Foi a pior parte de minha vida, embora necessária, porque somente assim pude compreender melhor quem eu sou e do que eu preciso para suportar as dificuldades. Meus pais e Sasuke me ajudaram a passar por essa fase difícil de minha vida e por isso lhes serei eternamente grato. Eles fazem minha vida valer a pena. Bem, a verdade é que Sasuke não é exatamente a pessoa mais paciente do mundo, principalmente para lidar comigo, e eu muito menos, com ele, o que é engraçado, pois conhecemos um ao outro como a nós mesmos e isso facilita muito a convivência. Não precisamos nos preocupar em ultrapassar os limites um do outro, sabemos quando a pressão é demais e por isso retrocedemos imediatamente. Ele me conhece como ninguém e isso é o que mais amo nele. Sasuke não se preocupa em ser delicado comigo, ele não sente pena de mim, ele me ama exatamente do jeito que sou, um morador da escuridão. Quando penso em luz, penso nele, no meu amor, pois é ele que me traz esperança. Alívio. Fascínio. E mesmo que aquela fase sombria tenha passado, eu ainda tenho um desejo. Desejo esse que provavelmente morrerá junto comigo. Eu queria ver seu rosto. Seu sorriso pequeno. Seu nariz empinado. Suas bochechas macias. Seus olhos… Ah, os olhos de Sasuke... Dizem que ele tem os olhos mais bonitos e marcantes que já se teve notícia. Não duvido. Os olhos dele tudo vêem. Eles me vêem. Os olhos de Sasuke são meus olhos. Eu queria tanto ver o rosto do meu amor, ver os seus, os meus olhos. Uma vez apenas, só para acalentar o meu coração apaixonado, confortar a minha alma sedenta, dar vida aos meus olhos vazios. Isso é o que quero de Natal, como todos os anos. Esse é o meu desejo.

 

Uzumaki Naruto

 

A garota sorriu, assim que terminou a leitura, pensando no quanto o desejo daquele jovem homem era simples e bonito. Um verdadeiro coração puro. Há quanto tempo ela não via um desses? Casos assim eram raros, os pedidos eram sempre egoístas, mesquinhos e que não trariam muitos acréscimos as vidas das pessoas, mas esse? Esse era a oportunidade de melhorar uma vida.

Ela pegou a carta e saiu da cafeteria, não se importando com o vento frio que batia em seus braços nus, o clima era algo que não a afetava nem um pouco, na verdade poucas coisas nesse mundo a afetavam. Sem olhar para trás, ela decidiu preparar-se para aquela noite, pois tinha trabalho à fazer.

No carro, Sasuke e Naruto conversavam enquanto encaminhavam-se para a casa dos pais do loiro. Anualmente a comemoração de Natal era revezada entre a casa dos Uchiha e dos Uzumaki, onde as famílias se reuniam num lugar só. No ano anterior a ceia havia sido na casa da família do moreno, de modo que esse ano esta aconteceria na casa da família Uzumaki. Essa tradição existia há muitos anos, desde a época em que Naruto e Sasuke eram adolescentes briguentos, e mantinha-se firme e forte até os dias atuais.

Até o moreno, que não era dado à socializações, gostava do feriado, pois ambas as famílias se davam muito bem e o Natal era recheado de muita conversa, brincadeiras, afeto, presentes e comida, claro. Naruto adorava essas reuniões de família, gostava de ouvir as risadas, as histórias, imaginando como seriam os rostos das pessoas que lhe causavam tantas sensações. Enfim, era um dos feriados mais aguardados pelas famílias, pois todos se reuniam e matavam as saudades uns dos outros.

Chegando na casa da família Uzumaki, Naruto e Sasuke foram recebidos pelo irmão mais velho do moreno, Itachi, que foi olhado com estranheza pelo Uchiha mais novo, pois uma marca de batom vermelho maculava a pele pálida de uma de suas bochechas. Aparentemente Itachi entendeu a confusão do irmão, porque passou a mão na mancha e apenas explicou-se dizendo que havia sido Kushina, a mãe de Naruto.

Minato, o pai do loiro, que estava na cozinha junto com os outros integrantes de ambas as famílias, perguntou em alto e bom som se fora seu filho e Sasuke que chegara, Naruto, identificando que o som da voz do pai viera da cozinha, fingira horror, perguntando quem havia deixado Minato ajudar na cozinha, enquanto entrava na casa junto com o namorado. Todos riram, pois era fato que dos patriarcas, o cozinheiro era Fugaku.

Seguiu-se os cumprimentos e abraços enquanto as risadas davam lugar a sorrisos carinhosos. A noite de natal acontecera exatamente como o planejado, terminaram de fazer a ceia, com a ajuda de todos - inclusive de Minato - e foram para a sala de estar, se aquecer perto de lareira enquanto conversavam e riam. Trocaram os presentes do amigo secreto, entre reclamações e agradecimentos sinceros e logo em seguida, por volta das dez da noite, a ceia foi servida.

A troca dos presentes de Natal acontecera exatamente à meia noite, afinal, não era mais véspera, mas sim Natal. De fato, como o planejado, mas algo chamou a atenção de Sasuke ao olhar pela janela. Estava nevando, como Naruto dissera mais cedo que ia acontecer. Era a primeira neve do ano.

O moreno aproximou-se mais do namorado e beijou sua têmpora antes de dar a notícia. Naruto sorriu, animado e estendeu a mão para Sasuke, que pegou-a, sabendo o que o loiro queria. O Uzumaki adorava sentir os flocos de neve tocar delicadamente seu rosto antes de derreter, ele tinha sua própria forma de ver o mundo, já que seus belos olhos azuis nunca exerceram sua principal função desde o seu nascimento. Para ele, estes não passavam de adornos.

Pediram licença e foram para o lado de fora da casa, percebendo que a temperatura diminuira mais. Sasuke ajeitou o cachecol de Naruto, que agradeceu enquanto virava o rosto para cima, fechando os olhos inúteis por um momento. A pele delicada de sua testa e bochechas esfriaram gradualmente, assim como a ponta de seu nariz e orelhas. Ele riu, devido as cócegas causadas pelos flocos de neve em seu rosto e Sasuke observou-o de perto, sorrindo. Naruto era lindo e não só fisicamente, ele tinha um coração e uma alma linda. Não podia ter encontrado ninguém melhor para compartilhar a vida do que o seu melhor amigo. Eles literalmente se complementavam.

Naruto passou um bom tempo aproveitando a sensação da neve em seu rosto, até que Sasuke pegou suas mãos nuas e assoprou seus dedos gelados, tentando aquecê-los com o hálito quente. O moreno sabia o quanto o namorado odiava quando eles ficavam gelados, pois a frieza fazia seus dedos ficarem menos sensíveis ao toque, o que dificultava o reconhecimento de algumas coisas. O Uzumaki sorriu, agradecido, voltando seu rosto para o moreno e esticou os dedos para tocar os lábios macios de Sasuke, curioso para saber se ele também estava sorrindo. Constatou que sim, antes que seus dedos fossem beijados carinhosamente.

De repente, Naruto ouviu uma risada melódica, que nunca ouvira antes, vir da sua esquerda e algo muito estranho aconteceu. Algo surgira em sua frente. Surgira enquanto ele ainda tocava os lábios de Sasuke. O loiro prendeu a respiração, assustado, mas o medo tornou-se espanto quando percebeu que uma… Imagem? Ele não tinha certeza, já que era cego de nascença, mas acreditava que pudesse ser uma imagem. De algum modo, a imagem ia se formando de acordo com o movimento de seus dedos e assim que ele terminou de contornar os lábios do namorado, o formato de uma boca - se ele não estivesse enganado - completara-se.

Naruto arfou, encantado. Ele não sabia como isso era possível, mas estava adorando o que quer que fosse aquilo e afoito, continuou o seu mapeamento. Sasuke, achando estranho as reações do namorado, perguntou o que estava acontecendo, o outro riu, maravilhado, quando “viu” os lábios do moreno se movimentarem quando ele falou. O Uzumaki pediu para ele ficar quieto e o Uchiha deu de ombros, fazendo o que o loiro queria.

Os dedos curiosos de Naruto moveram-se, passeando pelas bochechas do namorado e por onde estes passavam, a imagem ia formando-se. Sasuke esperou, paciente. Para ele, aquela era somente mais uma vez que o loiro tateava seu rosto, não era como se essa fosse a primeira vez, muito menos a última, mas para o Uzumaki, aquela era uma experiência totalmente nova. Naruto não “sabia” como uma pintura era feita, porém acreditava que o processo era parecido, os formatos do que estava sendo retratado surgiam aos poucos, ganhavam vida lentamente, como um acordar.

Em alguns minutos, o loiro tinha um rosto a sua frente e este foi completado quando seus dedos tatearam os cabelos, as orelhas e o pescoço de Sasuke. Finalizado o mapeamento, Naruto deixou suas mãos na nuca do namorado, observando o conjunto completo. Ele não sabia se o que via era real, muito menos se aquilo era o rosto de Sasuke - apesar que algo dentro de si dizia que sim para ambas as dúvidas - mas se fosse, ele só podia descrevê-lo como lindo, não que o loiro fosse um conhecedor dos padrões de beleza, mas ele conhecia bem quem era o namorado, uma das pessoas mais lindas, mesmo com todos os seus defeitos, que ele conhecera na vida.

As feições delicadas e suaves lhe transmitiam uma sensação de paz e fazia seu coração sambar em seu peito, por esse motivo Naruto deu um passo para frente e beijou longamente os lábios de Sasuke. O moreno correspondeu, apertando seus braços envolta da cintura do namorado, tentando os aquecer com o calor dos corpos juntos. Terminado o beijo, o Uchiha distribuiu selinhos no rosto gelado do loiro, que novamente ouviu a mesma risada de antes.

Dessa vez Naruto virou o rosto na direção que ouvira o som, Sasuke voltou os seus olhos para o mesmo lugar, o alto de uma árvore sem folhas à esquerda deles. Não viu nada, pois os olhos humanos não veriam a mesma garota de longos cabelos negros da cafeteria sentada em um dos galhos da árvore, balançando as pernas enquanto observava o casal apaixonado embaixo de si. Sasuke voltou-se novamente para Naruto e perguntou o que acontecera, o loiro respondeu que ouvira uma risada vinda daquela direção. O moreno olhou novamente, só para confirmar e arqueou uma sobrancelha enquanto afirmava que não tinha ninguém ali. A garota riu de novo, achando graça na situação e Naruto preferiu não comentar que acabara de escutar o som novamente.

O vento esfriou mais e o volume da neve aumentou, coincidindo com o desaparecimento lento da imagem que se formara na mente do Uzumaki. Ele suspirou, mesmo que soubesse que aquilo não ia durar por muito tempo, mas não reclamou, pois nunca achou que seria possível que o seu desejo fosse se realizar. Sasuke entrelaçou uma mão sua em uma do namorado e o puxou delicadamente para dentro de casa, entretanto antes de entrar, Naruto sussurrou um obrigado quase inaudível para a direção que ouvira a risada. Ele não sabia quem era, mas tinha certeza que fora aquela pessoa que realizara seu desejo e bem, ele não podia estar mais do que certo.


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Notas finais do capítulo

Não sei se vocês entenderam, mas o Naruto não estava vendo de verdade, aquilo era só uma imagem mental, como se ele estivesse imaginando o rosto de Sasuke, certo? Enfim, qualquer dúvidas perguntem nos reviews!
Ah, q fofo, gente! Vocês gostaram, ñ gostaram? Me digam que sim, por favor! :3 Quero ver vocês nos comentários!
Até! :*



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