402 escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 9
Capítulo 9. Vinte e quatro horas


Notas iniciais do capítulo

Hello, desculpem um milhão de vezes o atraso, era para tudo ter sido postado até o dia 25, mas não deu. :/



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Eileen parecia um cachorrinho passeando pela primeira vez, parando para checar cada ponto de interesse na Londres trouxa. A menina estava com uma bonita trança lateral no cabelo e um vestido azul, combinando com seus sapatinhos de boneca.

Ela havia torcido o nariz para a roupa e só aumentou a sua expressão de desagrado ao ver todas as calças, saias e até mesmo shorts legais que as garotinhas trouxas usavam. Ela não era uma boneca, achava que isso estava bem claro a essas alturas, mas sua mãe insistia em pensar o contrário.

— Posso ter aquele urso ali?

— Não.

— E aqueles sapatos com rodas?

— Menos ainda.

— Como eu posso não ter coisas menos ou não ter coisas mais? -  Era uma pergunta legítima, mas Pansy só a puxou mais para a frente, satisfeita que já avistava o letreiro que constava na última correspondência recebida.

— Graças a Merlin, chegamos! - Estava realmente aliviada, andar por essas ruelas sem poder aparatar ou pegar uma chave de portal era um suplício.

— Papai mora aqui? - Eileen perguntou deslumbrada, admirando o prédio imponente e moderno, bem ao estilo trouxa.

— Seu pai mora no inferno, mas nem o diabo conseguiu reivindicar a alma dele de volta ainda.

— Não entendi quase nada dessa frase, mamãe. - Pansy respirou satisfeita, porque isso era muito bom. Sua mãe havia dito, quando ela estava grávida, que deveria parar de dizer essas coisas, no que ela prontamente respondeu que a criança não entenderia nada.

No fundo torceu para simplesmente parar de ser assim, mas não aconteceu, então era bom que Eileen soubesse pouco sobre insultos em geral e que ela estivesse certa. Pansy Parkinson amava estar certa.

— Não precisa, querida, porque o que eu quis dizer na verdade era que seu pai ficará aqui apenas temporariamente. - Ambas entraram pela porta giratória, seguindo o comportamento de um trouxa falando zangado com uma caixinha perto da orelha.

Eileen fez menção de continuar girando nas portas de vidro, mas sua mãe a puxou rápido daquela que deveria ser a versão trouxa de um portal. Já ia se encaminhar para os elevadores, porque, apesar da diferença na aparência, esse era um artefato que os dois mundos - trouxa e bruxo - compartilhavam, porém um rapazote atrás de um grande balcão preto e branco chamou sua atenção.

— Bom dia, no que posso ajudá-la, senhora? - Pansy o olhou de cima abaixo e tentou disfarçar sua cara de entojo.

— Pode me ajudar em nada, obrigada. - Iria seguir seu caminho, mas o rapaz continuou.

— Qual hóspede deseja ver, senhora? - Aparentemente era um protocolo trouxa o qual estava quebrando e não uma simples insistência chata, então Pansy retornou até o campo de visão do garoto.

— Harry Potter. - Eileen acabara de descobrir a campainha do balcão e o homem, que não deveria ter saído completamente da puberdade, piscou com um sorriso congelado a cada toque da sineta.

— Um momento, senhora. - Olhou para a menina se divertindo com a campainha. Tim, tim, tim, TIM! Céus, como era irritante e a mãe não fazia nada sobre isso. _ Ah, sim, Harry Potter, quarto 402, ele está no aguardo.

402?

Aquilo não podia ser coincidência, Harry havia escolhido o exato número do quarto de internação de Eileen por mais de um mês, o quarto onde viveu os piores momentos de sua vida, que babaca! Ele ia pagar por essa idiotice.

— Mamãe, posso levar isso? - A mulher olhou para o rapaz espinhento, que esperava que ela finalmente tomasse uma atitude em relação a sua filha malcriada.

— Claro, querida, certifique-se de tocar bem perto do ouvido de seu pai. - O homem fez menção de questionar a atitude, mas Pansy deu o seu melhor sorriso charmoso. _ Ponha na conta do 402, por favor.

***

Harry ainda estava se recuperando, então ficar em um lugar onde as coisas simplesmente eram trazidas com um estalar de dedo era muito relaxante. Claro que sentia falta de um "lar", mas sabia que as coisas seriam mais simples desse jeito.

Ginny não estava chateada, na verdade ela estava levando toda essa coisa de separação muito bem, havia apenas pedido para que eles não tornassem o divórcio público até o início da temporada das Harpias, quando a imprensa estaria um pouco mais distraída.

Como se isso fosse ajudar realmente.

Para todos os efeitos, o casal continuava no mesmo endereço de sempre, em sua casa em uma comunidade bruxa extremamente bem protegida, com vizinhos discretos. E assim foi por dois dias, quando Ginny achou que era hora de se darem um tempo e Harry insistiu para que ela ficasse com a casa.

Ela estaria fora para os treinamentos, mas o melhor é que ele já começasse a se organizar, então assim que Ginny foi para Brighton, tendo certificado de que ele estava bem o suficiente para se cuidar sozinho, Harry fez uma mala pequena, cheia de roupas confortáveis e próprias de um convalescente.

Estava nesse exato momento usando um moletom muito bom dos Falcons, que Ginny odiava com todas as forças e só não o queimou porque Harry o havia escondido muito bem em seu escritório, entre os arquivos de casos ultrassecretos.

A campainha tocou e ele soube que não era o serviço de quarto, porque eles tinham acabado de sair. Sabia quem era, por isso voltou correndo para o sofá e se colocou o mais parecido com um doente que conseguia.

— Entre.

A porta não se abriu timidamente como esperava, não, os dias tranquilos já haviam passado, porque agora tinha uma filha de seis anos saudável! Era estranho e despropositado, afinal, nem tinha uma rotina com Eileen ainda, mas aquilo parecia certo e familiar.

— Papai, papai, papai, olha só o que eu encontrei lá embaixo, mamãe disse que eu podia ficar e que era para eu tocar pra você, olha só, acho que tá saindo uma música já, olha! - A menina tinha pulado em eu peito e se ainda estivesse realmente morrendo, teria partido com o impacto. _  O que te parece? Não soa como "Era uma bruxa, que morava num castelo e tinha um pato, com o bico amarelo..."

Você parece bem.

Pansy Parkinson sussurrou ainda na porta, com um sorriso que bem poderia ser... Simpático. Eileen segurou o rosto do pai com uma mão, para que ele prestasse atenção na melodia que fazia com a outra, usando o ombro do homem como apoio para a sineta.

— "Mas esse pato era muito espertalhão e andava sempre à volta do caldeirão..." - Morgana, ele ficaria surdo, mas valia a pena pela visão muito perto do rostinho de Eileen balançando a cabeça de um lado para o outro, enquanto cantava essa música esquisita.

— Me sinto melhor, obrigado, apesar de...

— "E vai um dia, sem a bruxa dar por isso, vai ao caldeirão e rouba-lhe o feitiço..."

— Essa música tem um fim? - Pansy fez um número dois com a mão elegante, de unhas curtas, porém bem cuidadas.

— "A bruxa pega e pega na varinha e transforma o pato, o pato em sardi-NHA!" - A menina gritou a última sílaba e depois caiu na gargalhada, com as cosquinhas que seu pai lhe fez. Graças a Merlin tinha acabado.

Pansy fez o número um com o dedo, agora o sorriso definitivamente era divertido somente. Harry não entendeu o que ela quis dizer.

— "Mas a sardinha tinha um bico amarelo..." - Harry olhou desesperado. Mas o quê? A música continuava?

— "Que coisa estranha aconteceu neste castelo", viva! Agora chega, querida, seu pai ainda precisa dos ouvidos. - Eileen olhou chateada para a mãe, que havia completado a música, mas nem sequer tinha cantado no ritmo certo. Virou com toda sua indignação infantil para o pai.

— Tá vendo o que sou obrigada a aguentar? - Harry prendeu um lábio no outro para não rir, precisou de toda a sua força de vontade para conseguir falar seriamente depois desse desabafo de sua filha.

— Estou vendo sim, lamento por isso, querida. - Ela deu um olhar venenoso para a mãe, que a ignorou, sentando elegantemente em uma das poltronas bordô do quarto de hotel caro em que Potter estava hospedado. _ Vou falar sério com ela agora, porque não assiste um desenho na TV?

— O quê? - Ela era ainda mais bonitinha confusa.

— Vem, eu te mostro.

Harry levantou, estava tão informal com aquelas calças jeans trouxas e um moletom de time, que Pansy se pegou sorrindo para a imagem despojada e inesperada do bruxo. Ele havia perdido um pouco de peso, mas a barba por fazer não deixava ver tanto isso, o que a aliviava, Eileen teria ficado preocupada.

Em pensar que há algumas semanas atrás ela não tinha certeza se teria qualquer um dos dois de volta, ver Harry carregando Eileen, ambos ainda em recuperação, mas saudáveis o suficiente para sorrirem sem preocupação, aquecia o peito de Pansy de um jeito diferente.

Harry voltou do quarto ainda com um olhar divertido, como se Eileen tivesse dito algo muito engraçado e ele quisesse compartilhar, mas parou assim que viu o olhar estranhamente doce no rosto da sonserina.

— O quê?

— O quê, o quê? - Ela disfarçou com um ajeitar dos colares de pérola que usava, lembrava a Harry daquele filme antigo que Mione o forçou a assistir uma vez... Qual era o nome? Bonequinha de alguma coisa? Era algo assim...

— Temos que falar sério.

— Assim você deu a entender quando arrastou minha filha para Merlin sabe onde...

Nossa filha. - Pansy olhou cansada. Sim, Eileen era deles, tinha falado apenas por força do hábito. _ Precisamos conversar como serão as coisas daqui pra frente.

— Bem, suponho que sim, se você é esse tipo de pessoa. - Harry franziu o cenho e Pansy suspirou pesado, gesticulando de leve com a mão._ Esse tipo de pessoa que precisa conversar sobre tudo...

— Precisamos definir horários de visita e como eu posso contribuir financeir...

— Não precisamos de dinheiro e quanto aos horários, Eileen tem aulas na escola de Madame Pnina Tornai para jovens damas bruxas a tarde , então...

— Quem?

— Não quem, o quê, trata-se de uma escola de etiquetas que também supre as necessidades de conhecimento básico em magia.

— Me referia a Madame mesmo, ela se chama "Menina"? - Pansy revirou os olhos, mas antes que ela pudesse responder, sua filha voltou como se tivesse um inferius em seu calcanhar.

— Ela se chama Pneumonia Tornado! - Pansy ficou impressionada que a menina tinha feito a correta associação entre as duas palavras com "pn" - o tempo no hospital fez bem para o seu vocabulário - mas a repreendeu mesmo assim.

— O que te disse sobre se envolver em conversa de adultos? – Eileen voltou para o colo do pai e deu seu melhor sorriso angelical, consertando os óculos no rosto.

— Para não se envolver?

— Para não me envolver! - Pansy sinalizou o erro de concordância para a menina, que só a encarou confusa.

— Mas você é adulta, pode se envolver... - Harry sorriu e deu beijo na bochecha da filha.

— Ela é esperta, adoro isso. - Pansy deu um sorriso sem humor para o homem, ele ia ver o quão boa ficaria essa relação perfeita quando começasse a ter que dizer os nãos também. _ Mas precisamos conversar a sós.

— Não vai acontecer. - A sonserina se levantou já ajeitando a bolsa no ombro.

— Calma, será apenas para falar de Eileen, não estou dando em cima de você, nem nada. - Harry ficou na defensiva e Eileen apenas franziu o cenho para mãe, chateada, sem entender o porquê ela já estava se preparando para ir embora.

— Não achei que fosse isso, Potter, apenas não tenho muito tempo disponível, meus momentos com Eileen já são bastante limitados para ainda ficar dividindo com você.

Não era nenhuma mentira, o período que ficara com a filha no hospital tinha dado brecha para Derek Selwyn despontar como o salvador da pátria para os outros sócios e em dois tempos aquela cambada de velhos babões iria achar um motivo para substitui-la por aquele duende de pés equinovaros, caso ela deixasse.

— Então você escolhe o quando e onde... - Ele sorriu charmoso, se encostando melhor no sofá com Eileen em seu colo. _ Não importa muito para mim.

— Que seja, Potter, vamos Eileen, temos que te arrumar para a escola ainda. - Ela estava intimidada, Harry podia ver. Era divertido e estranho, porque se tinha um homem que não era ameaçador nesse sentido "romântico", esse homem era ele.

— Voltamos aos sobrenomes?

— Tenho mesmo que ir? - Os tons foram completamente diferentes, um irônico e outro manhoso, mas os olhos verdes bonitos eram os mesmos.

— Sim para os dois. - Eileen fez biquinho e Harry viu e a imitou, fazendo Pansy sorrir sem querer para aquela dupla adoravelmente manipuladora. _ Vamos, mocinha, se despeça de seu pai.

— Temos um público difícil, hein? - A menina acenou em afirmação, emburrada. _ Nos vemos com mais calma ainda essa semana, ok? Vou combinar algo com sua mãe.

—Ok. Tchau, pai, foi bom ver que não está mais morrendo. - Então ela não era tão ingênua assim, não é? Harry pensara que a menina ainda era muito nova e não tinha percebido seu estado nos últimos dias.

Pansy abraçou a filha de lado e se despediu de Harry com um leve menear de cabeça. Iriam para a escola e sua menina aprenderia a ser uma jovem dama a tarde e pelas manhãs, se Harry Potter assim desejasse, ele poderia deseducá-la com seus aparatos trouxas o quanto quisesse, estava cansada de seguir estritamente os padrões de sua família.

Eileen seria meio a meio, metade dama e metade seja lá o que Morgana quiser!

***

Chegou em casa, colocou um lindo vestido verde em Eileen - para ressaltar seus olhos incríveis por trás dos óculos - levou a menina para a escola e agora finalmente estava voltando para casa para repassar os últimos números que seu contador lhe havia entregado.

— Querida, já chegou? - Oh, céus! Pretendia passar direto para o escritório, mas seu tio a avistou pela porta entreaberta da biblioteca.

— Aparentemente...

— Rá! Adoro seu senso de humor, minha jovem, nunca teve muita beleza, mas humor...

— Tio Anfion, tem algo para me dizer ou está apenas entediado? Porque eu não sou uma ex-presidiária desocupada sem noção de ridículo, eu tenho o que fazer. - O homem estava sentado em uma poltrona de encosto alto e patas de leão, com um roupão cor verde sapo cozido e os cabelos negros com rajadas grisalhas todos jogados no ombro direito.

— Venha aqui, menina, quero saber tudo do reencontro do grande Harry Potter com nossa amada Aylen. - Era uma cópia malfeita de algum vilão teatral, Pansy tinha certeza, mas era família e só por isso se sentou ao seu lado.

— Foi tudo bem, Harry melhorou bastante e pretende assumir horários com Eileen assim que estiver melhor. - Anfion sorriu para isso, era uma verdadeira delícia que Potter estivesse tão envolvido com a criança.

— E quando vão se ver de novo?

— Eu não sei, tio, fiquei de enviar uma data e local para ele, mas não sei se vou...

— Ah querida, se o problema for falta de tempo, conheço um lugar 24 horas adorável na Baker Street, em Londres, se chama...

— É um restaurante trouxa?

— Oh, Pansy, por favor, é algo intimista, apenas a nata da nata bruxa se reúne lá, anote o nome para enviar a Harry Potter: - Pansy o olhou  sem humor, porque ela não era uma velha de 50 anos que precisava anotar um simples nome, sabia muito bem onde era Baker Street. _ Fratello.

O homem falou de um jeito estranho, então a sonserina se viu obrigada a perguntar o que significava.

— Não sei ao certo, querida, algo sobre fraternidade... Não é perfeito? Tenho certeza que é tudo que você e Potter precisam.

— Tá, que seja, tio, preciso ir trabalhar agora. - Se levantou sem esperar que o homem lhe dissesse mais nada, mas ele realmente não tinha mais nada a dizer.

Mas se ela tivesse o olhado, teria visto o sorriso malicioso em seu rosto.

 


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Notas finais do capítulo

Viu? Sapo cozido!



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