402 escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 7
Capítulo 7. Página um


Notas iniciais do capítulo

Vestiram o tubinho preto?



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Dormia e acordava apenas para checar a melhora de Eileen e por Merlin, a menina estava melhorando! Pansy olhou para onde os fios escuros que saíam do braço de sua filha e se perdiam em um feitiço refletor. Era como se não houvesse nada na outra ponta, mas ela sabia que havia.

Eileen abriu os olhos sonolentos, demorando alguns segundos até focalizar sua mãe sem os óculos. A menina sorriu travessa, mesmo que sem a mesma energia de antes e isso aqueceu o coração de Pansy de um jeito que só ela podia fazer.

— Oi, sapinha.

— Oi, puguinha. - A menina coçou o olho em dúvida.–  Puguzinha?

—  Eileen... - Não tinha como reclamar de verdade com ela, faltava força de vontade para enfrentar aquela carinha tão linda. Passou os óculos para a filha poder focalizar melhor as coisas.

— Cadê o padrinho? Cadê o papai? - Pansy sorriu, sem querer alardear a menina. Não iria mentir, mas tão pouco contaria toda a verdade.

—  Seu padrinho ainda está dormindo jogado em algum canto da cidade e seu pai...

A menina riu do destino de seu padrinho, mas ainda estava curiosa pelo de seu pai, então não disse nada.

— Seu pai tem estado aqui todo o tempo e queria muito estar aqui quando acordasse. - Levantou da poltrona e fingiu pegar algo na bolsa, só para não ter que encarar o olhar perspicaz de sua filha.–  Onde coloquei o presente que ele me entregou...

— Mãe, ele virá me ver hoje? - Bem, essa era uma pergunta direta, que exigia uma resposta direta. Virou para sua menina, cruzando os braços decidida. Eileen era compreensiva, iria entender.

— Seu pai está doente, querida. - A menina franziu o cenho, como se não conseguisse entender como alguém como seu pai poderia ficar doente. – Ele está sendo cuidado direitinho e se pudesse, estaria aqui com você.

Pansy sorriu para sua fala, porque essa era a mais pura verdade.

Tinha se passado exatamente dez dias desde a primeira vez que havia falado com Potter, mas parecia que era uma eternidade. Não fazia ideia de como ele gostava de seu café, se gostava de salada ou era todo um carnívoro como Blaise, ou se sua cor favorita era mesmo o roxo, mas acabou conhecendo nesses poucos dias coisas que pessoas levam anos para conhecer sobre o outro.

Sabia que ele tinha um senso de humor que pendia para a ironia, dificilmente para o sarcasmo puro e cruel e que gostava de provocar, mas nunca magoar. Ele era bom e se importava até com quem não importava nada, então não foi surpresa alguma ver a comoção pública que houve depois de descobrirem o que aconteceu com ele.

Foi estranho ver seu nome ao lado do de Harry Potter nas notícias, a mídia a havia colocado em uma posição ingrata de quase vilã porque, a pedido seu, ninguém ficou sabendo as circunstâncias reais do nascimento de sua filha.

Provavelmente teria sido pior se soubessem.

A versão oficial era a de que tinham uma filha da qual Harry nunca ficara sabendo e a mulher que o privou dos prazeres da paternidade, voltara anos depois pedindo sua ajuda para salvar a menina.  Novamente Harry Potter era o herói, mesmo que para isso o grande público tivessem que ignorar a indiscrição dele, afinal, ele já era noivo de sua esposa quando a criança foi concebida.

Por falar em esposa, Ginevra Potter era a viva imagem da cônjuge dedicada, que não saia um minuto do hospital, assim como não saia um minuto de sua boa aparência. A ninguém pareceu estranho que ela não tivesse ido ver a sua enteada nenhuma vez sequer.

Pansy preferia assim também.

A senhora Potter dera entrevistas, onde falava que a saúde de seu marido era a prioridade e que realmente foi uma surpresa descobri uma nova criança na família, uma surpresa para os dois, mas crianças eram sempre bênçãos...

Na única vez que Pansy havia se arriscado do lado de fora do hospital nesses dois dias, foi abordada por vários fotógrafos e jornalistas querendo saber detalhes dessa que era a fofoca do ano. Queriam exclusivas, fotos de Eileen pequena e se possível dela agora, mesmo que estivesse claro que seu estado ainda inspirava cuidados e que a menina precisava de repouso.

Pansy não se sentiu nem um pouco arrependida de mandar todos irem caçar verme em inferi, porque nunca gostou de jornalistas e seus narizes anormalmente intrometidos. A única coisa boa que aconteceu nisso tudo foi a associação do nome de seu pai com o de Harry Potter.

Os sócios pararam de acusá-la de segurar a cadeira de vice-presidente para o pai, que logo afundaria o prestígio da companhia com sua fama de ex-presidiário. Certamente que Pansy não estava guardando lugar para ninguém, na verdade ela estava apenas aguardando o decrépito Rowle fazer a passagem para assumir a presidência de uma vez por todas.

Seu pai e tio estavam muito bem, longe de Londres, tentando se camuflar com a vegetação do Norte da Irlanda na casa ancestral da família Parkinson, mas por hora a associação dela com Potter a deixava cada dia menos indesejável na presidência.

— Ele vai ficar bom, mamãe? – Estava tão distraída que levou algum tempo até entender a quem a filha se referia.–  Posso visitá-lo?

— Não, não pode, precisa melhorar antes de sair por aí saracoteando, você não acha? – Eileen torceu o narizinho em desaprovação.

— Acho que você está me enrolando...

Sentou-se na poltrona próxima a cama de sua filha e a abraçou desajeitadamente. A olhou com toda a sinceridade que podia.

—  Não estou te enrolando, tudo que eu disse é verdadeiro. -  Passou a mão pelo rosto de pele macia de sua filha terminando com um toque de ponta de dedo no queixo teimoso.–  Precisa confiar em mim, mocinha.

Ela assentiu com a cabeça, fazendo seu cabelo cair por cima da testa cheio de vontade própria.

— Eu confio.

***

Havia visto em algum lugar que ler para pessoas em coma fazia com que elas continuassem presas de alguma forma a realidade, mas não sabia como isso ajudaria em alguma coisa, já que nem ela estava compreendendo a história que estava lendo para Harry em um tom monocórdio.

Era tudo pela aparência, dizia sua empresária, que já estava ciente que o mais provável era que o casal Potter não seria mais um casal assim que Harry acordasse. Ginny fechou o livro e olhou para o rosto avermelhado e suado do marido.

Ele tinha uma febre alta que não cessava nunca, assim como tinha um baço inchado -  não sabia bem o que era, mas soava como algo importante - que lhe fazia parecer que iria partir a qualquer momento. Os medibruxos no entanto afirmavam uma e outra vez que ele estava indo muito bem.

E era exatamente isso que Ginny dizia para a imprensa.

Suspirou cansada e passou a mão no cabelo bagunçado de seu esposo. Não estava ali por causa somente da aparência, Harry fora seu companheiro por mais de uma década, estava mais do que satisfeita de estar ao seu lado também em um momento como esse, na saúde e na doença, como no juramento trouxa que ele lhe fizera há cinco anos...

A parte que a entristecia de verdade era que, com apenas um dia de separação e reflexão em Brighton, havia percebido que o melhor para ambos era cada um seguir seu caminho mesmo. Doía não poder ter um casamento longo e feliz como o de seus pais, mas Harry estava certo, eles não eram Molly e Arthur Weasley.

Estava segura de sua decisão e a faria virar ação o mais rápido possível, mas isso fora até receber uma coruja do hospital St. Mungus lhe informando a respeito da internação voluntária de Harry em seu setor de terapia intensiva.

Ginny no começo pensou que se tratava de alguma brincadeira, mas lá estava Harry já em estado comatoso ligado por tubos a sua filha que, até uma quinzena atrás, não fazia ideia de que existia.

Isso a fazia ter certeza de que conhecia pouco o homem que amava tanto uma criança que dizia não querer ter de forma alguma com ela. E ao mesmo tempo a fazia reconhecer o espírito altruísta, que sempre se sacrificava pelos outros, misturado com a arrogância nata dele.

Harry sempre tinha certeza de que era sempre o seu sacrifício aquele necessário.

Ele era uma contradição viva e respirante e agora Ginny sentia que ele havia conseguido o grande feito de transformar sua antes boa cabeça em uma massa disforme e cheia de pensamentos desconexos.

Não sabia se ainda queria se divorciar do marido e agora certamente não poderia - abandonar Harry enquanto ele está no hospital seria um suicídio social - mesmo que o homem e ela já tivessem se abandonado mutuamente há tempos, ao menos como marido e mulher.

Ouviu um toque rítmico na porta e soube que não se tratava de uma curandeira, porque elas nunca batiam.

— Entre.

A mulher que entrara sem um pingo de timidez no corpo parecia uma boneca crescida em seu vestido negro com saia em A, escondendo detalhes de bolinhas brancas na fenda da coxa ao joelho, no decote e na barra das mangas. Pansy Parkinson parecia mais meiga do que devia.

—  Percebi que esse era o horário mais tranquilo para vir, a imprensa e os amigos de vocês não são madrugadores como eu. – O tom era neutro, quase como se a mulher estivesse testando o terreno.–  Alguma piora?

— Alguma piora? - Ginny não conseguiu evitar um riso seco com a pergunta. Parkinson se sentou em uma cadeira próxima a porta, sem ser convidada.

—  Sei que, pelo tratamento, Harry não vai ter nenhuma melhora até daqui a dois dias. – Cruzou as pernas habilmente, sem querer provocar a outra, Pansy vinha em paz dessa vez.–  Verá que não perco meu tempo fazendo perguntas que já sei a resposta.

— Creio que se aplique também as respostas que pouco lhe interessa dar. – Pansy arqueou uma sobrancelha para a ruiva bonita a sua frente.–  Assim soube dos jornalistas que tiveram o azar de tentar te entrevistar.

A sonserina estalou a língua nos dentes, desdenhosamente. Jornalistas, aí estava uma raça por quem tinha pouco apreço.

—  E eu achando que fui simpática, que inocência a minha...  – Ginny não acreditou nem por um segundo no tom chateado da sonserina.–  Mas isso pouco importa, vim aqui para saber notícias do seu marido, Eileen tem perguntado por ele...

Ela se esticou um pouco na cadeira para ver melhor o rosto do homem. Harry não parecia nada bem, apesar de estar quieto, como um ouvinte muito atencioso e sensato, coisa que ele não era.

—  Somente ela se importa com o estado dele? – Ainda estava tentando interpretar os diferentes sinais vitais tocando nos feitiços e geringonças médicas ao lado do corpo de Harry, então Pansy realmente deixou transparecer no rosto sua surpresa.

—  O que quer dizer com isso? – A ruiva deu de ombros, mas o olhar em seu rosto não condizia com o gesto displicente. Pansy nunca fora conhecida como uma pessoa sutil, então não fingiu que a acusação no tom da outra havia passado despercebida.–  Me importo como uma mãe que terá a inconveniência de contar a sua filha que o pai morreu, caso o pior aconteça, isso é o quanto me importa seu marido!

—  Está me dizendo que se Harry morresse agora, você não sentiria nada?

—  Sentiria a dor de minha filha e... Sentiria muito pessoalmente, porque ele, apesar de tudo, é um bom homem e salvou a vida de Eileen, algo que eu nunca vou esquecer. – Encarou a mulher bonita que ainda a olhava avaliativa. Ginevra Potter acreditava mesmo que algo poderia acontecer entre ela e Harry?

—  Por que ele estava com você no Ministério no outro dia? – Não só a mulher era desconfiada, como era direta. Pansy não moveu um músculo, a não ser aqueles que deixavam sua sobrancelha esquerda arqueada em desafio.

—  Ele queria tratar das visitas à Eileen, o estúpido escolheu apenas um péssimo local para falar algo tão inocente. – Pansy não sabia bem porque estava se justificando, mas acabou inclinando levemente a cabeça para o lado, agora ela sendo a figura avaliadora.–  Por que tanta desconfiança? O seu marido me odeia! Bem, talvez não odeie mais, mas com certeza estamos falando de um desgosto profundo.

—  Harry não desgosta de ninguém, se ele não te odeia, com certeza gosta. – Ginny olhou para o marido em dúvida, não sabia se ainda era assim ou se já havia mudado e ela que não notou.–  Ele nunca foi muito tolerante com seus desafetos...

—  Me lembro bem disso, não posso dizer que discorde de sua forma de pensar... – Pansy esboçou um sorriso pequeno, mas depois voltou a assumir sua expressão séria.–  Ele ter interesse em Eileen não deveria mudar nada na relação de vocês. Sei que não sou a melhor pessoa para dizer algo sobre isto, mas... Tenha paciência, não jogue fora o que quer que tenha construído com ele por uma situação que vai se resolver e se assentar por si só.

—  Então ele te falou de nossa possível separação... – Pansy poderia dizê-la que o homem havia dito como algo certo e não uma possibilidade, mas percebeu uma nuance diferente na pergunta, ou melhor, constatação.

Não sabia como responder sem colocar Harry em maus lençóis, porque nem sequer sabia aonde a ruiva queria ir com isso. E o que lhe importava de todo modo? Desde quando era uma casamenteira, que fica dando conselhos não solicitados a torto e a direito? Odiava que se metessem em sua vida e agora estava aí dizendo a uma mulher adulta o que fazer!

Claro que teria gostado que Eileen tivesse um casamento sólido como referência, queria que a menina soubesse que há muitas outras maneiras de se viver a vida: solteira e sem impedimentos, como seu padrinho, solteira e com filhos, como ela mesma e por que não? Bem casada, como seu pai.

Teria gostado de saber disso quando mais nova, talvez assim não tivesse se frustrado tanto...

Olhou mais uma vez para o pai de sua filha, o homem que havia bagunçado tudo, e suspirou cansada. Desde quando Harry Potter havia se tornado uma certeza na sua vida e na de Eileen? Há uma semana atrás estava muito certa que depois do tratamento, Harry Potter nunca mais iria querer nada com nenhuma das duas.

A senhora Potter ainda a olhava, mas agora era apenas um olhar tranquilo, como se estivesse tentando ler o que se passava em sua mente, sem, no entanto, ter nenhum julgamento negativo acerca das milhares de possibilidades. Só por isso Pansy respondeu o mais simpático que pôde.

—  Seu marido é um tagarela, fala e pergunta coisas que não interessam a ninguém mais além dele. – Sorriu para a mulher e deu um último olhar para o homem que estava literalmente lhe salvando a vida. Levantou e espanou o vestido impecavelmente limpo e esticado.–  Nunca gostei disso nas pessoas, mas estranhamente é uma das coisas que mais gosto em Eileen.

Assim que a porta se fechou, deixando o casal sozinho novamente, Ginny tocou no rosto de seu marido e sussurrou algo para ele, mas que na verdade era mais para ela mesma testar o pensamento que grudou na sua mente no último par de minutos.

—  Você nunca foi muito tagarela... Parece que há pessoas que não precisam se esforçar muito para ter o seu melhor, não é?

Levantou da poltrona se sentindo mais leve, pegou o livro esquecido e o abriu novamente na página um. Pigarreou um pouco, mesmo não tendo nada de errado com sua garganta, estava apenas sendo um pouquinho teatral, por que não? Era só seu melhor amigo Harry naquele quarto mesmo...

—  Vamos voltar para a página um, Harry, se não se importa. – Lambeu os lábios e sorriu de leve para a folha preenchida com centenas de palavras que não lhe estavam claras antes.–  Acho que agora podemos recomeçar da maneira certa, querido.

E sabia que seria assim. Ginny tinha certeza que Harry acordaria e ambos continuariam amigos como sempre, mas agora cada um escrevendo sua própria história, sem sacrifícios e sem discussões, seguiriam suas vidas com apenas...  Bem, com apenas o que queriam de verdade.


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Notas finais do capítulo

Q pessoa madura... Tomara q ela ache alguém pra ela, rsrsrs



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