402 escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 6
Capítulo 6. Quatro dias


Notas iniciais do capítulo

Deu problema na postagem, vamo q vamo de novo, dessa vez vai.



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Harry encarava o chão brilhante do corredor do quarto andar do hospital St. Mungus com os braços apoiados sobre os joelhos. Sabia que Pansy mantinha um olhar perdido no rosto muito pálido e Zabini continuava ao seu lado, recostado desleixadamente no assento com uma mão sobre os olhos fechados.

Todos eles estavam esperando por algum milagre.

Mais um familiar preocupado passou pelas três figuras congeladas e Harry piscou desorientado, ainda tentando encontrar uma solução para o problema de Eileen. Pena que não era muito bom em encontrar soluções para problemas insolucionáveis .

Fritz havia recebido todos com urgência em sua sala, inclusive Zabini que ainda parecia pálido e um pouco sem rumo, mas Harry se questionava mesmo era o porquê do médico idiota não estar lá cuidando de Eileen, ao invés de ficar aqui encarando a todos com sua cara de babaca.

— Qual o problema e o que podemos fazer para resolver? - Pansy era prática e ainda não havia derramado uma lágrima sequer, mesmo tendo sido impedida de entrar no quarto 402.

Trata-se de um citomegalovírus, senhorita Parkinson, este é um micro-organismo comum tanto em trouxas quanto em bruxos, que só causa problemas em indivíduos com baixa imunidade.

— E isso tem tratamento? -  A mulher ignorava o andar nervoso de Blaise atrás de si, pois precisavam manter o foco.

— O tratamento é bem simples, na verdade, um antiviral durante uma quinzena e pronto. - A expressão do medibruxo não fazia parecer que era algo tão simples, então Harry o incentivou, usando de sua pouca paciência com o homem.

— Mas...

— Mas, no caso de Eileen, precisaríamos suspender o tratamento para a deficiência de Isenbeirgh, já que as poções curadoras não são compatíveis...

Harry suspirou cansado, porque havia um motivo muito forte para se policiar tanto nas doações sanguíneas, embora o caso de Eileen fosse urgente desde o princípio: o que mais chamou a atenção do bruxo em sua breve pesquisa foi a necessidade de um tratamento ininterrupto.

— Devíamos ter optado pelo método húngaro, Eileen já estaria fora do hospital a essa hora. - Harry falou irritado com o médico, que nem sequer oferecera essa opção.

— Que método húngaro? - Zabini perguntou com certa dose de esperança inocente.

—  Não optamos por esse tratamento, porque se tratava de um doador sem vínculo algum com a paciente, nós, eu e a senhorita Parkinson, escolhemos o método que diminuía as chances de recusa.

Harry olhou para Pansy, que abria e fechava as mãos espalmadas na mesa, com um olhar vago para suas unhas curtas. Ela parecia não ter muito mais a acrescentar a conversa, então Harry lhe dirigiu a palavra, tentando não soar acusador.

— Não acreditou que pudéssemos usar esse método? Mesmo depois de saber que era eu o doador? - Pansy soltou um riso seco, sem nenhum humor.

—  Aprisionar o grande  Harry Potter a tubos por uma semana parecia ser querer muito, não acha? Você teria aceitado?

— Teria. - Ela fechou os olhos, porque, agora que o conhecia um pouco melhor, sabia que era verdade.

—  Isso pouco importa agora, temos que focar no presente: interrompemos um tratamento, cuidamos do outro problema e então retornamos para o primeiro, certo, doutor? - Zabini perguntou prático, porque sonserinos são bons em enxergar a linha de chegada, mas infelizmente o médico respondeu transformando os lábios em uma linha fina de pessimismo.

— É o que iremos fazer, mas temo que a deficiência de Isenbeirgh não seja tão educada para esperar sua nova companheira partir.

Harry já estava realmente cansado da postura irritante do homem a sua frente. Quem falava desse jeito sobre doenças letais, por Morgana?

—  E quanto ao tratamento húngaro? Podemos finalizar a doença de Eileen com ele, soube que não se usa muitas poções, é basicamente uma transfusão de sangue direta.

Dr. Fritz estava ficando cada vez mais impaciente com o tom arrogante de Harry Potter. O herói do mundo bruxo realmente devia acreditar que podia salvar o dia independente de qual fosse o problema!

— Senhor Potter, sei que o senhor se informou sobre a patologia de Eileen, mas eu estudei alguns anos de medibruxaria e acho que sei o que estou fazendo aqui.

—  O senhor acha?

—  Potter, por favor, você não está ajudando! - Blaise disse estafado, não acreditava que estava aqui nesse escritório novamente, ouvindo que sua afilhada estava ficando com a corda no pescoço e sem perspectiva de sair dessa situação.

—  Por que não podemos fazer o que Harry falou, Fritz? - Ninguém pareceu notar o uso do primeiro nome do auror feito pela bruxa aflita, nem mesmo Harry.–  Se houver qualquer chance...

—  O tratamento que Potter falou tanto é possível quanto é o mais indicado... Para Eileen e somente para ela. - O medibruxo olhou diretamente nos olhos de Harry, porque precisava que o homem entendesse o que ele estava dizendo de uma vez por todas.–  Não seria ético nem sequer estar discutindo isso com vocês.

—  E isso por quê? - Harry perguntou, realmente intrigado e sem nenhum vestígio da raiva anterior. O médico se arrumou melhor na cadeira, antes de responder a pergunta.

—  Porque o tratamento de que tanto fala exigiria que mantivéssemos em seu sangue apenas o que Eileen pode suportar, então teríamos que eliminar toda e qualquer defesa natural do seu sistema. - Nenhum dos três não médicos parecia ter entendido as implicações disso.–  Eu teria que destruir seus anticorpos, senhor Potter.

— É só isso? Tenho certeza que posso aguentar ficar vulnerável por alguns dias, vocês podem me colocar em uma sala toda branca, tipo uma sala de cirurgia ou algo assim...

Fritz passou a mão na testa, realmente cansado. Queria que as coisas fossem assim tão simples.

— Poderíamos fazer isso, mas pouco importaria, estando você ligado a um hospedeiro de um Citomegalovírus. - Blaise fez uma careta para isso, essa merda de medibruxoria era mesmo um negócio complicado.–  Entende que estaríamos pegando um sujeito saudável, deixando-o vulnerável e então o colocando exposto a uma doença oportunista?

— De quanto tempo Eileen precisa? Talvez dê para...

—  Senhor Potter, o senhor estaria sem anticorpos, completamente conectado a uma criança doente por quatro dias e sem poder receber o tratamento devido para não fabricar mais defesas! -  Doutor Fritz se debruçou sobre a mesa, para que o homem insistente não perdesse nenhuma de suas próximas palavras.–  Em resumo, nós iríamos te enfraquecer, te expor a uma doença grave e então recusar o tratamento adequado, percebe agora o problema ético?

Fritz não sabia como ser mais claro do que isso e Blaise sabia que qualquer coisa que Potter ainda pensasse nesse sentido seria devido ao seu enorme ego e complexo de herói. Infelizmente, essa era uma ponte queimada por completo.

—  E se fosse volunt...

—  Harry, apenas pare. - Pansy encarou o médico, cansada de estar a tanto tempo parada no mesmo lugar, tanto física quanto metafisicamente. Parecia que sua vida se resumiria para sempre às paredes pálidas daquele hospital.–  Vamos interromper o tratamento e fazer o que tínhamos discutido antes.

O grifinorio recostou na cadeira, vencido. Não havia muito o que pudesse fazer, Pansy era a única responsável por Eileen e se ela não quisesse o tratamento húngaro, nada aconteceria, porque ele ainda não tinha tomado nenhuma providência burocrática no processo de paternidade legal.

E talvez nunca tivesse a chance de fazê-lo.

Harry se levantou e deixou a sala. Não tinha mais nada a fazer ali e certamente não era obrigado a ver os três bruxos caçarem vaga-lumes em um dia ensolarado.

Os três bruxos - dessa vez Harry, Pansy e Blaise - ficaram subitamente alertas quando a mesma curandeira que havia lhes dado a má notícia, saiu do quarto de Eileen.

—  Vocês podem vê-la agora.

Não era alívio que se via naquele corredor do quarto andar, porque a paciente do quarto 402 não tinha um prognóstico nem de longe positivo e nenhum de seus acompanhantes podia ser considerado uma pessoa otimista.

***

Eileen ainda estava com as mesmas tranças passando um pouco do ombro que a mãe havia lhe feito há um par de horas. Não estava consciente e ao que tudo indicava, permaneceria assim por um bom tempo.

Pansy pegou a mão fria da filha, beijando onde não havia nenhuma intravenosa irritante. Havia se sentado na poltrona em que sempre ficava quando Eileen estava particularmente abatida e precisava de muito consolo e da companhia constante da mãe.

—  Não é a primeira vez que ela fica assim. Precisava tê-la visto quando chegamos da Irlanda. - Tirou uns fiozinhos rebeldes que nem mesmo seu bem executado feitiço fora capaz de prender no penteado.–  Naquele dia realmente achei que ia perdê-la.

Era uma voz sussurrada que combinava com os bipes e sons lúgubres do quarto. Harry nunca teve uma natureza muito dramática, então aquela era a sua versão particular de uma cela de Azkaban.

Caminhou até onde Pansy estava, se abaixando até ficar na altura dos olhos da mulher sentada. Ela o encarou e parecia implorar para que não falasse o que queria dizer. Harry ignorou o pedido e colocou a mão no ombro da mulher, a tocando pela primeira vez.

Era um toque leve, quase com a intenção de que ela não desaparecesse na sua frente, dentro de sua própria dor. Pansy nada fez quanto a esse atrevimento, apenas fechou os olhos e deixou que ele falasse.

— Precisa me deixar fazer isso. - Ela sorriu para o nada, Harry Potter era tão previsível.–  Não há nem o que se pensar, eu tenho que fazer isso.

Lembra a quase dez anos atrás quando eu tentei te entregar ao Lorde das Trevas? - Ela não esperava resposta, sabia que ele lembrava.–  Eu te odiava tanto naquela época quanto uma garota de 17 anos poderia odiar.

— O que é muito. - Ela sorriu, ainda acariciando a mão de Eileen com cuidado.

— Sim, é muito, mas não era o suficiente para desejar uma morte dolorosa nas mãos do maior bruxo das trevas de todos os tempos. - Harry encostou o braço e a cabeça na beirada da cama de Eileen para que pudesse ver melhor o rosto da mulher.–  Eu tinha muito medo dele...

Ela sussurrou o final, como se fosse uma confissão inimaginável. Pansy ainda não o encarava, então Harry desceu sua mão para o braço descoberto da mulher.

— Todos tínhamos, eu mais do que qualquer um. Tinha medo que, além do meu passado e presente, aquele homem ainda dominasse o meu futuro, que eu não tivesse nenhuma escolha...

— E é por isso que não tenho o direito de te pedir para que vá de novo para a morte, mesmo que a outra opção seja perder tudo que eu... - Ela ofegou sem conseguir completar a frase.–  Não posso...

— Não me lembro de te ver me pedindo nada. - Ele falou em um tom leve, combinado com o pequeno aperto em seu braço. O toque era bom e quente, algo singelo que Pansy só experimentava quando estava com Eileen. E agora com ele.–  Sempre acham que sou o típico herói altruísta, quando na verdade sou o mais egoísta de todos.

Ela o olhou surpresa, porque apesar de ainda leve, seu tom demonstrava uma verdade que não podia ser contestada, sendo ela verdadeira para mais alguém além de Potter ou não.

Pansy viu os mesmos olhos verdes que a encararam pela primeira vez naquele dia 20 de fevereiro chuvoso, na época eles ainda eram acinzentados, mas tinham a mesma... Ela não saberia dizer o quê, mas os olhos de Eileen sempre foram iguaizinhos aos do pai.

— Por que acha que é egoísta? -  Ela perguntou tão baixinho, que ele só escutou porque estava olhando muito atento para os lábios com quase nenhum vestígio do batom rosa com o qual ela iniciara o dia.

Pansy sabia muito bem o que era ser egoísta e por isso mesmo estava se forçando a não impor um sacrifício a um homem que mal conhecia sua filha, ela não poderia mais ser essa pessoa. Queria poder pedir isso por seu bebê, mas Eileen era toda sua, era sua responsabilidade, inclusive seria mesmo que não estivesse mais aqui.

—  Sou egoísta porque tudo que eu consigo pensar quando vou para a morte, é que eu não tenho outra opção. Pode haver um mundo sem mim, mas não pode haver um mundo com Voldemort, pode haver um mundo sem mim, mas não pode haver um mundo sem Eileen. Eu não conseguiria viver em um mundo assim.

Pansy desviou o olhar, apertando os lábios. Não queria chorar, porque não ficava nada atraente, diria sua mãe, porque não mudaria coisa alguma, diria seu pai, porque era o que os fracos faziam, diria seu avô.

Não queria chorar na frente de Harry Potter porque ela era egoísta e agora tinha certeza que precisava que ele fizesse o que tinha que ser feito, mesmo que isso significasse que de novo ele teria que se sacrificar pelo bem maior.

Deu um aceno breve com a cabeça e mal notou quando o homem se levantou e beijou a testa de sua filha ou o aperto consolador em seu ombro novamente. Pansy estava muito ocupada tentando não dar a Harry Potter uma última imagem sua perdida em lágrimas.

Porque ela tinha certeza que eles nunca mais se veriam de novo.

***

Sempre soube que tinha certas manias e hábitos, apesar de nunca ter parado para saber quais eram. Antes de Hogwarts nem sequer tivera uma pessoa que o quisesse e o observasse o suficiente para saber de que lado gostava de dormir, como olhava o relógio e depois o sacudia para que a pulseira voltasse para o lugar ou ainda o jeito estranho como sempre acabava apoiando os óculos ao contrário em qualquer superfície.

Era estranho que estivesse sendo tão meticuloso agora, notando a maneira como desabotoava os pulsos de sua camisa de linho ou como dobrava ao meio o seu colete roxo berinjela favorito. Tinha recebido uma roupa de internação - uma simples calça e camisa leve, de um azul sem vida - e era suposto que colocasse todos os seus pertences em uma caixa de plástico, para que pegasse após a internação.

Sorriu para isso, afinal, quantos pacientes podiam dizer com certeza que não teriam seus pertences de volta?

Usou a varinha para se despir e vestir seu mais novo traje e depois se despediu da velha companheira, a colocando em cima do monte organizado de roupas. Havia cogitado deixar sua varinha para Eileen, mas se lembrara da emoção que foi escolhe-la no velho Olivaras... Não, deixaria que tivesse o mesmo destino que o resto de suas coisas.

A curandeira que o havia conduzido para o quarto o perguntara se desejava avisar a alguém de sua internação e ele se sentiu subitamente ridículo. Havia uma possibilidade que sobrevivesse a isso também - um vírus não podia ser mais mortal que Voldemort - então qual seria o propósito de ter todo um cortejo fúnebre atrás da porta de seu quarto?

Confiava que Zabini ou algum dos medibruxos tivessem o bom senso de avisar a Ginny em Brighton, caso ele não resistisse ao Citomegalovírus. Era um tiro no escuro, mas preferia isso a ter que forçar a si mesmo a escrever uma missiva explicando tudo a sua possivelmente não mais esposa.

Como se conjurado por magia, Blaise Zabini apareceu na porta sem bater e entrou sem ser convidado. Estava começando a se acostumar com a inconveniência do homem.

—  Veio tentar me demover dessa ideia absurda? - Sorriu para a expressão taciturna do sonserino.–  Tenho certeza que vai me esquecer mais rápido do que esquece o nome de suas garotas...

— Nunca esqueço o nome de minhas garotas. – Blaise sorriu simpaticamente.–  Mas você tenho certeza que esquecerei antes de encostar a cabeça no travesseiro essa noite.

— Minha possível morte não está prevista para acontecer tão logo, temo que irei te decepcionar.

—  Sei disso, mas soube que iriam te colocar em um coma induzido, para diminuir os riscos, então apenas quis que tivesse uma bela imagem final, o que te parece?

—  Muito gentil da sua parte, não poderia pedir nada melhor... - Harry disse irônico, mas depois assumiu um tom sério.–  Mas pedirei algo mesmo assim. Por favor, explique a Eileen que nada disso é culpa dela.

Blaise desviou o olhar, mas acenou afirmativamente. Harry Potter sabia mesmo transformar as coisas em algo deprimente.

— Quer que eu diga algo mais a mais alguém? – Harry fez que não com a cabeça, mas percebeu tardiamente que o homem ainda não o encarava.

— Não, apenas me faça parecer bacana ao olhos de Eileen. - Blaise sorriu sem querer.–  Principalmente na adolescência.

—  Farei o meu melhor, mas não prometo nada.

Harry riu com o tom jocoso do homem, já se ajeitando na cama desconfortável de hospital. Sabia que daqui para frente outros cuidariam de si e era estranho pensar que talvez, simplesmente, não acordasse novamente.

— Você sendo irritante do jeito que é, duvido que ela tenha dificuldades de achar que o pai era genial em comparação. - A curandeira chegou e começou a colocar o cateter, a intravenosa, tudo sem nem sequer lhe olhar no rosto. Um silêncio incômodo tomara o quarto.–  Blaise?

— Sim? -  O homem atendeu, bastante desconfortável por ser o único rosto conhecido no leito de morte do grande Harry Potter.

— Obrigado por ter ficado.

Malditos grifinórios sentimentais, que transformavam tudo em um grande drama! Quando Potter finalmente adormeceu, Blaise ignorou o chamado da curandeira - ela parecia ter algo importante a dizer - porque ele não ligava a mínima.

Tudo que ele precisava agora era da companhia de uma boa garrafa de Whisky Ogden e de uma boa dose de uma bela mulher qualquer.


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Notas finais do capítulo

Nem lembro o q eu tinha escrito aqui da primeira vez... Mas tinha algo a ver com a cena do primeiro toque deles e Jane Austen, blá blá blá

Bjuxxx



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