402 escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 11
Capítulo 11. Três semanas depois


Notas iniciais do capítulo

Ai, nem acredito que acabou, espero que esse final satisfaça.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719631/chapter/11

 

 

Oh céus, estava arrependida.

Não de ter se vingado de Harry, porque ele bem que merecia aquilo, onde já se viu, transformar a dor dos outros em piada particular? Ele às vezes parecia muito sonserino para o seu próprio bem...

Tão pouco estava arrependida de tê-lo beijado, quer dizer, era exatamente disso que estava arrependida, porque tinha gostado do ato de beijar Harry Potter, mas não das possíveis consequências de beijar o pai da sua filha recém-divorciado de quem não podia simplesmente fugir como fez com todos os outros caras.

Ok, ok, alguns desses outros caras tinham fugido dela, na verdade. Mas eram todos uns babacas que não valiam a sujeira debaixo dos seus saltos, isso sim.

— Então vou passar o final de semana com o papai? – Eileen parecia que tinha ganhado seu presente de Natal antecipado, mesmo que fosse apenas novembro.

— Assim é, querida. - Tomou seu chá com cuidado para não queimar a língua, já tinha feito isso por toda uma vida ontem.

— Oba! Vou levar pra ele toda minha coleção de revistinhas de Calíope, quero ver ele me dizer que o portal Upsidown não existe agora! - Às vezes Eileen soava como uma mini adulta, tão bem articulada, pena que o teor da conversa é tão bobo quanto poderia ser._ Quando a gente vai?

— Seu padrinho vai levar você depois da aula amanhã. – Continuou lendo seu jornal, feliz que ela e Eileen eram as únicas acordadas àquela hora. Tudo como costumava ser.

— Por que amanhã? Amanhã tá tão longe, chega o Natal, mas não chega amanhã... - Essa frase ela tinha copiado de Blaise, tinha certeza._ Por que você mesma não me leva?

Rá! Só iria olhar na cara de Potter agora na formatura de Eileen em Hogwarts!

— Seu padrinho me implorou e você sabe que não consigo dizer não a ele. – Na verdade ele tinha lhe implorado para permanecer em Roma, pois sua mãe finalmente tinha lhe conseguido uma herdeira rica.

Sabia que Blaise não precisava de dinheiro, mas era quase uma tradição em sua família fazer bons casamentos, sua mãe mesmo já tinha feito seis deles... De qualquer forma, ele não podia dizer não a ela. Na verdade ele dizia muito, mas Pansy simplesmente não ouvia.

E depois não sabia de onde Eileen tinha puxado tanta teimosia.

— Não sei se acredito nessa história. - Pansy pousou sua xícara com cuidado de volta no pires, encarando sua filha com uma sobrancelha levantada.

— Se acredita ou não fica a seu critério. – Eileen franziu o cenho._ A mim isso importa um cominho, como diria a ex-namorada espanhola de seu padrinho.

—Você podia me levar hoje.

— Você podia tentar não cabular aula, qual das duas opções você acha que vai acontecer?

Eileen cruzou os braços emburrada. Era quase impossível vencer sua mãe em uma negociação.

***

Harry estava tão otimista quanto Luna a respeito dessa casa de hoje, porque, depois de visitar cinco imóveis igualmente perfeitos na opinião do bruxo, sua amiga afirmara por carta que tinha escolhido a certa.

Devia ser a certa mesmo, porque coincidiu e se encaixou perfeitamente com o plano seu e de Eileen para atrair a senhorita Parkinson de volta a suíte 402. A campainha tocou, mas nem precisava porque o concierge já o havia avisado que ela chegara.

— Em seus lugares, pessoal! -  Harry olhou ao redor, mas continuou vendo apenas a filha na antessala do seu quarto de hotel._ É hora do show!

Ah, sim! A menina estava cheia de maneirismos hollywoodianos, agora que vinha assistindo várias das produções americanas nos últimos três finais de semana com ele. Três finais de semana onde Zabini trazia e buscava Eileen e Pansy apenas lhe enviava missivas curtas e impessoais.

Qualquer outro cara teria levado isso como um sinal para desistir, mas Harry sabia como tinha se sentindo naquela noite no clube mais pervertido que se tinha notícias. Tinha gostado de estar com Pansy, de conversar, refletir, beijar... Sim, tinha gostado muito dessa última parte.

Tinha que ser sincero consigo, deixou que ela se afastasse um pouco porque seu divórcio nem sequer tinha sido noticiado ainda e acabara de sair de um relacionamento que havia durado toda sua vida adulta, então qualquer lado racional que ainda tivesse o incentivou a ter paciência.

Ter paciência era muito difícil, no entanto e só durava três semanas, fazer o quê?

Já tinha tudo planejado: iria com calma, reconquistaria a confiança de Pansy, mostraria que não estava ali apenas temporariamente ou porque ela era a mãe de sua filha e tiraria de sua cabeça qualquer ideia que ela pudesse ter sobre a má ideia que era um relacionamento com ele.

Até porque era uma ideia perfeita!

Abriu a porta confiante e levou um soco no estômago metafórico ao ver Pansy Parkinson depois de mais de três semanas. Era uma overdose depois de um grande período de abstinência, ela parecia agitada, os cabelos soltando do coque alto e muito profissional com um traje elegante de uma grande executiva.

Talvez as revistas de fofoca tivessem uma ou outra coisa negativa a dizer sobre Pansy, mas isso pouco importava para Harry, porque para ele, ela parecia perfeita.

— E então, Potter, onde é o grande incêndio? - Ela entrou sem ser convidada e um leve aroma de flores silvestres tomou conta do recinto. 

— Incêndio? Eu...

— É uma forma de falar. - Sabia que Harry já havia voltado a trabalhar e que a doença já tinha ficado para trás a um bom tempo, mas mesmo assim Pansy ficou surpresa com a boa aparência do homem. E com sua cara de palerma usual.

— Claro que é, eu já sabia. - Pansy levantou uma sobrancelha para esse comportamento atípico de Harry e ele sorriu amarelo. _ Eileen, sua mãe já chegou, vamos!

— Oh, mãe, você por aqui? - A sonserina pôs as mãos na cintura, olhando de sua filha para o pai dela com suspeita.

— Qual o problema de vocês dois? Vocês me chamaram aqui! - As duas criaturas de olhos verdes se encararam culpados e deram sorrisos idênticos de falsa inocência. _ O que estão aprontando?

— Eu sou um homem adulto de vinte e seis anos, eu não apronto. - Harry pegou a capa em cima do sofá e abriu a porta para que as duas damas passassem. Eileen passou pela porta, não sem antes usar o mesmo tom do pai ao falar com a mãe.

— Eu sou uma garota grande de seis anos, eu não apronto.

— Ah, que palhaçada! -  Pansy falou irritada, tendo certeza que sua filha estava passando tempo demais com Harry. _ Espera, como assim "vamos"? Vamos para onde?

— Você verá, minha cara.

***

Eileen cantava alegremente sua música do pato ladrão de feitiços que virava uma sardinha pela milésima vez e Harry estava satisfeito de ter colocado um fino e fácil de desfazer feitiço anti-som na parte da frente do carro, porque desse jeito ouviria se sua filha mudasse de repertório, ao mesmo tempo que diminuía a vontade de se jogar pela janela.

— Sabe que não precisa ir segurando no cinto de segurança todo o tempo, não é? - Pansy lhe deu um olhar sujo, que infelizmente não era do tipo que ele estava procurando.

— Ainda não entendi porque não podemos simplesmente aparatar no endereço. - Não gostava dessas geringonças, sabia muito bem que se tinha algo que dependia da sagacidade dos trouxas, não podia ser inteiramente seguro.

Eileen parecia não se importar nem um pouco de andar em um automóvel que não era movido nem por magia, muito menos por tração de alguma criatura mágica e isso não falava nada bem sobre seu instinto de autopreservação. 

— Não entendeu porque não tem nenhum motivo, eu só queria ir dirigindo mesmo. - Harry respirou fundo o ar fresco vindo da paisagem bucólica da estrada que os levava cada vez para mais longe do tumulto animado e efervescente que era Londres. _ Sabe a quanto tempo eu não dirijo?

— O quê?

— Relaxa, é só uma forma de falar! Dirigir é como andar de bicicleta, a gente não esquece depois que aprende.

— Potter, falta isso aqui para eu te mandar uma azaração no meio das fuças! - Ela mostrou o quanto faltava com uma das mãos, mas voltou a segurar no cinto assim que ele fez uma curva um pouco mais acentuada à esquerda. _ Babaca, controla esse negócio direito!

— Não se preocupe, já estamos chegando. - Pansy resmungou um "é bom mesmo" e Harry abriu ainda mais o sorriso. _ A propósito, me azarar não vai fazer nenhum bem pelo meu controle.

— Apenas cale a boca, Potter.

Ah, sim, havia sentido falta disso também.

***

Quando finalmente desceram do carro em frente a uma pequena estradinha de terra, Pansy pulou em seus saltos ao ouvir um bipe vindo de lugar nenhum.

— É só o alarme do carro, Pansy.

— Eu sabia, achei que tinha visto uma cobra. - Harry não iria dizer que a única cobra ali era ela. Uma cobra bonita, elegante e bastante beijável, mas ainda assim uma cobra.

Os três atravessaram o pequeno caminho de cascalho dourado, que brilhava e combinava com as folhas completamente laranjas, amarelas e castanhas típicas do outono. Eileen saiu um pouco do seu caminho para chutar um pequeno monte delas.

— O que estamos fazendo aqui exatamente? - Harry sorriu, dando a mão para Eileen, que se ajeitou para pegar a mão de sua mãe também.

— Minha corretora acha que finalmente encontrou uma casa perfeita para gente. - Pansy parou de caminhar e Harry se corrigiu divertido. _ Para mim e Eileen, no caso. Não se tenha tão em alta conta, mulher.

— É, mulher, não se tenha tão em alta conta. - Parecia um molequinho falando, então a sonserina duvidou um pouco do método usado por madame Tornai para educar sua filha.

— E por que fui chamada aqui então? Vocês podiam ter feito o trabalho de escolher muito bem essa casa sem mim. - Os dois se entreolharam com caras iguais de pouco caso. 

— Pra você dizer que é feia?

— Que parece a casa de um solteirão?

— Que parece que pufosos fizeram cocô dentro? - Harry fez que não com a cabeça discretamente e Eileen ficou confusa. _ Isso não?

— Ok, vocês tem um ponto, então vou começar a falar mal dela antes de vocês comprarem: É longe, essas árvores não podadas podem esconder um sem fim de bichos, esses cascalhos são péssimos para os meus sapatos e...

Era linda.

A casa feita metade em madeira, metade em pedra cinza exatamente como as de Hogwarts se integrava perfeitamente a paisagem verde e cheia de vida, deixando Pansy sem fôlego. Eileen correu os últimos metros do caminho e inclusive quase escorregou no alpendre de madeira escura, mas nem isso a fez parar.

— Luna se superou dessa vez... - Pansy ainda estava sob o encantamento do lugar, mas piscou surpresa ao ouvir o nome da corretora. _ Não fale nada, engula esse veneno.

— Não sei se consigo.

— Tente. - Ela voltou a se equilibrar nas pequenas pedrinhas e Harry ofereceu a mão para ela se firmar. _ Olha como Eileen está animada, a gente pode apenas ser dois adultos razoáveis pelo menos por essa tarde?

— Talvez... - Ela aceitou a mão do homem a seu lado, sorrindo por dentro. _ Mas se Lovegood falar alguma coisa sobre uma criatura que ninguém nunca ouviu falar, eu vou empurrá-la da escada.

— Eu não posso concordar com isso, mas também não vou discordar, porque preciso da sua cooperação.

Pansy sorriu para isso, dessa vez com o rosto inteiro. Nem em um milhão de anos ela imaginou que Harry Potter teria um senso de humor que fosse páreo para o seu e certamente não sabia que gostaria tanto do calor da palma da mão dele na sua.

— Ok, isso é bom o suficiente, vamos ver essa casa que Lovegood encontrou.

***

O que tinha de impactante por fora, tinha de aconchegante por dentro. Para quem tinha crescido em uma mansão fria e elegante como os Parkinson, era estranho se sentir tão impressionada por uma versão maior de uma cabana de caças.

— Como podem ver, a casa tem um belo pé direito alto e abusa do conceito aberto. – Lovegood pelo visto sabia o que estava fazendo, porque não falou em nenhum momento sobre animais fantásticos e onde habitam, falou apenas das habitações confortáveis da casa.

— Tem instalação para eletrônicos? Eu e Eileen não abrimos mão disso. – Luna sorriu, percebendo que a menina que escorregava pelo tapete, se equilibrando precariamente sob os pés, não parecia que se importava com nada.

— Estão vendo esse móvel? – Era um bonito armário com aspecto de antigo e familiar, mas assim que a corvinal o abriu, uma televisão de última geração surgiu. _ É uma casa meio a meio, a família anterior gostava de viver no limiar dos dois mundos.

— Por que uma família se mudaria de um lugar como esse? – Pansy questionou com suspeita.  Harry parecia estar muito convencido e crédulo, satisfeito também por ainda estar de mãos dadas com a mulher. Suas mãos se encaixavam perfeitamente._ Estou achando que há alguma maldição por aqui...

— Há apenas a maldição do tempo, senhorita Parkinson. Os filhos cresceram e a dona da casa enviuvou... Muitas lembranças boas  foram construídas aqui. – Luna olhou misteriosamente para o casal e depois continuou. _ Quando peguei essa mocinha para cuidar,  sabia que não deveria ser uma casa de veraneio, não, ela foi feita para pertencer a uma família.

— Sabe que só serei eu e Eileen por algum tempo, não é, Luna? – A sonserina ignorou o tom de indireta que Harry usou. _ Não acha que é muito grande?

— Casas são muito grandes, mas isso aqui é um lar! – Pansy olhou cética para mulher, mas ela não deu muita bola. _ Venham, deixe-me mostra-los meu lugar favorito aqui!

— Ela é louca como eu me lembrava... -  Harry sorriu, sabia que não havia maldade no comentário. 

Pansy já havia notado que a luz que entrava nas grandes janelas da sala vinham de uma bosque atrás da casa, mas não imaginava que a vista seria tão impressionante. 

— Não havia notado o barulho da água... – Harry a arrastara para o deque em madeira nobre, que dava para uma paisagem com uma pequena cachoeira e um riacho que seguia seu caminho em uma curva acentuada para longe da casa.

— Há um feitiço antirruído na soleira das portas, a dona da casa é uma senhora idosa, dizia que o barulho do riacho aumentava o número de vezes que ela tinha que ir no banheiro a noite.

—Tá aí um bom jeito de se estragar uma bela vista. – Pansy soltou a mão de Harry e foi se debruçar na sacada pra ver exatamente por onde era o acesso àquela parte do terreno pela casa.

— O que acha no geral? – Luna se afastou um pouco do casal, porque, nos seus anos de prática, sabia que chegava um momento da compra que os clientes precisavam de um tempo para pensarem sem sua interferência.

Harry estava ansioso pela resposta, embora soubesse que Pansy não iria se mudar junto com ele e Eileen imediatamente, fazia bem a ele pensar que ela gostava daquela casa tanto quanto ele, queria que ela sentisse que, de certa forma, ela também a havia escolhido.

— Vai precisar ter muito cuidado com esse riacho, Eileen já passou da fase da vigília 24 horas por dia, mas ela gosta de explorar, então...

— Ok, atenção com o riacho, acho que dou conta... Mas e a casa? Você gostou?

— Não entendi porque tem tão poucas paredes... – Ela se virou para encarar o ambiente interno emoldurado pelas belas portas francesas e Harry a acompanhou._ Dá pra ver tudo da cozinha até a sala de estar... É muito estranho.

— Algumas famílias não tem necessidade de barreiras, algumas pessoas gostam de estar perto de quem amam... -  Pansy se abraçou, mesmo que o fim de tarde não tivesse frio o suficiente para ultrapassar a proteção que sua capa fazia ao redor do corpo. Ela crescera em uma casa de muitas paredes e portas fechadas, aquele conceito ainda não fazia muito sentido pra ela._ O que acha disso pra gente?

— Pra você e Eileen? Acho que pode dar certo... – Sentiu o toque dele em seu braço, era através das roupas, mas a aquecia melhor do que qualquer capa ou feitiço.

— Me referia a todos nós. Acha que pode dar certo? – Harry levantou o rosto da sonserina pelo queixo e ela sorriu um sorriso tímido, quase como se tivesse medo de desejar algo como isso pra si._ Vê a nossa família nesse lugar?

Ela não sabia o que responder, então Harry demandou sua resposta no beijo que depositou em seus lábios cerrados naquele sorriso ainda tímido. Ela o puxou para perto, esperando que aquele gesto fosse resposta o suficiente também.

Sabiam que não seria fácil ou rápido e nem sequer tranquilo, mas tinham uma chance muito boa de fazer dar certo aquela família.

Pansy, naquele momento, pensava que era bom ser querida e desejada, sem ter que fazer absolutamente nada demais, sem ter que pôr em prática todas as técnicas que levaram anos para serem desenvolvidas por muitas mulheres frustradas antes dela.

Harry pensava que não se importava de discutir, participar, se sujar, sentir insegurança e incertezas... Na verdade, se sentia cada vez mais impelido a sentir coisas que achara e associara apenas a guerra.

Era bom exercitar a coragem todo dia e a criatividade e a paciência e um sem fim de sentimentos, sensações e habilidades que tinha deixado adormecido dentro de si durante tanto tempo.

Ambos pensaram que era bom simplesmente estar vivo.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Um Epílogo bonitinho para carimbar o selo Disney nessa bagaça, vamos lá!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "402" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.