O Aventureiro escrita por roberto145


Capítulo 5
V - A Insustentável Leveza do Ser Pt.II


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, devo me desculpar pelo sumiço de quase quatro meses. Tive um período complicado na faculdade e o pouco tempo que me sobrou não conseguia escrever nada pelo cansaço. Além disso, tive o grande azar de perder o computador em que estava os capítulos de várias histórias que tinha escrito. Isso me desanimou bastante ao ponto de cogitar em deixar para lá a fic. Porém, eu encontrei um pequeno roteiro que fiz em uma agenda e isso me incentivou a rescrever o que perdi.

Novamente peço desculpas a quem acompanhava a postagem dos capítulos.



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 O perfume da carta ainda permanecia no papel no dia seguinte em que ele fora entregue a Johann. O garoto o relia mais uma vez. Muitos poderiam concluir que se trataria de uma vacilação ao encontro naquela data. Embora fosse um evento demasiadamente curioso, o treinador tinha uma resposta bem firme se compareceria ou não à solicitação. A cada palavra que lia, surgia, em sua mente, o sorriso, a voz, o perfume, a presença de Brunhild, como uma luz fantasmagórica que lhe envolvia o espírito. A sua convicção era forte demais para ceder à curiosidade.
                Desse modo, após a última aula, no horário marcado para a sua tocaia, Johann retornava tranquilamente para o seu quarto com uma deliciosa sensação de que um anjo da guarda lhe guiava para o caminho correto. Frustrando muitos, voltava a atenção para os livros e os exercícios que eram passados. Isso lhe rendia algumas horas, terminando apenas já durante a noite. Embora passasse um bom tempo desde a última refeição, estava sem fome, deitando em sua cama. Não era tão confortável, mas depois de algum tempo já se acostumara a ela. Com a cabeça sobre o antebraço, olhava para o teto de cor branca. O foco de luz proveniente da luminária não era tão vasto, promovendo um gradiente de luminosidade no cômodo. Johann estava na região de penumbra, caindo lentamente no sono enquanto as memórias iam e vinham, começando com Brunhild e atingindo a estranha experiência com Yveltal no dia anterior.
            Uma folha se elevava furtivamente ao lado do garoto. O assopro que a sustentava balançava as roupas suavemente. Também agitava em uma dança de ritmo lento alguns poucos fios castanhos. Embora o vento tivesse força para alcançá-los, paradoxalmente não sensibilizava de modo algum o menino parado. Este parecia olhar o grande nada branco em que estava, mas em apenas um breve piscar de sonhos já se encontrava em uma vila cuja arquitetura jamais vira em sua curta vida. Continha traços bem antigos, pouco presentes nos dias atuais em apenas alguns monumentos ou prédios conservados. Ainda assim, parecia não se assustar no local em que fora transportado em poucos milésimos. Assistia, então, tudo passivamente, o vai e vem de pessoas que pareciam ter uma pressa admirável. Possivelmente, era um dia especial para aquele pequeno povoado. E parecia que era centrado em uma figura cujos longos fios de cabelo negro voavam como se fossem mais leves que o próprio ar. Contudo, tudo em sua vista se dava tão velozmente que não conseguia ver o rosto daquela pessoa e logo tudo sumia. A folha continua a se levantar em uma paciência indescritível. O vento ainda a soprava, como também o menino. Porém, assim que a folha atingia a altura dos olhos de sua companhia, o ar se tornava mais denso e frio. Esta sensação finalmente se fazia presente. E com que intensidade. Aquele verde vivo logo sofria mutação, como as épocas da vida de uma pessoa. O tom amarelado, aquele que indicava o fim, desfazia em milhares de pedaços pequenos que se espalhavam frente ao rosto o qual os encarava. E então, como uma mágica, sumiam e logo uma forte onda de vento atingia o único ser ali presente. A pancada parecia materializar alguma vida e, quando o menino abria os olhos do primeiro impacto, olhava para a aquela figura deformada de dor e desespero de aspecto fantasmagórico. Todo o seu calor corporal parecia sumir e suas pupilas dilatavam de tal forma que davam o aspecto de que as íris desapareciam de seus olhos. Salve-me...
       Johann levantava rapidamente da cama. Seu corpo estava gélido, como se tivesse dormido na neve lá fora. Aquelas palavras de suplício lhe doíam os ouvidos, criando um chiado insuportável pelo minuto seguinte. A respiração profunda ainda permanecia por algum tempo, embora o choque do pesadelo se dissipasse. O garoto olhava para o relógio sobre a pequena cabeceira ao lado. Cochilava por um longo tempo e a noite já se adentrava em suas horas.

Ao passo que os minutos se sucediam, o estado fisiológico de susto passava. Os batimentos cardíacos, assim como a frequência respiratória, diminuíam substancialmente. Apesar do impacto, a memória daquele pesadelo ficava mais fraca e distante. O restante da noite, Johann passava junto com a insônia e uma estranha dor no peito embora não tivesse mais assombrado.
         O dia seguinte marcava o início de uma época em que progressivamente uma névoa surgia desde a primeira hora do dia, prolongando-se até o entardecer. Por ainda estar em seu estado inicial, ela pouco influenciava na visibilidade. Acostumados com essa variação climática, os moradores pouco se surpreendiam e tocavam suas vidas novamente. Desse modo, os estabelecimentos funcionavam como sempre.
        A primeira aula para Johann era apenas uma teórica em que o próprio tutor aplicava aos seus alunos. Geralmente, essas aulas eram de caráter geral, variando desde Geografia a Biologia Pokémon. Aquela tratava-se justamente de História, em particular a de Unova. Esta região, em um continente diverso de Kalos, causava uma certa admiração ao professor. Embora se achasse um especialista nesse assunto, nem todas as suas informações eram corretas. Além disso, passava o maior tempo falando de uma viagem de visitação para região do que ensinava. E nessa aula, não seria diferente. Muitos ficavam escutando por quase duas horas as peripécias do idoso de 64 anos na Dragonspiral Tower, esperando que acabasse logo para o treinamento prático do dia. Assim, que o alarme de término tocava, os alunos não esperavam nenhuma palavra para serem liberados. Logo levantavam e sem cerimônia saíam da sala com um falatório considerável. Johann aproximava-se com cautela da mesa do tutor. Este colocava algumas folhas em uma pasta de couro. Ainda não percebia a aproximação do jovem.

—Aqui está o trabalho que pediu, professor... – as palavras eram difíceis de serem pronunciadas devido ao constrangimento.

—Você... Johann – ao levantar alguns centímetros a cabeça, a expressão enrugada tornava-se ainda mais enrugada. Seu tom de voz tinha um tanto de nojo embutido. Pegava os papéis como se fossem nada. – Espero que tenha feito corretamente dessa vez. Já é a segunda vez que o refaz. Espero que não haja uma terceira – dava um pequeno sorriso com bastante sarcasmo. – Vá agora.  

Ao ver o trabalho ser posto de qualquer jeito na pasta, Johann se dirigia até a saída. Andava pelos corredores pensativo, pois torcia para que a terceira vez não ocorresse. Afinal, mesmo que consultasse os livros passados pelo professor, tinha a certeza de que o seu ponto de vista estava correto. Das punições quase gratuitas, a violência de mudar o pensamento a força estava entre as piores. Talvez não devesse ter corrigido o professor ainda nos primeiros meses. Mas já havia acontecido. Se houver uma próxima vez, será como estiver nos livros errados.

Enquanto flutuava nessas reflexões, o garoto passava por uns colegas sem notar os seus olhares de escárnio. Eles cochichavam algo ao passo que soltavam risadinhas sarcásticas. Johann somente perceberia o que se passava ao seu redor quando uma figura parava a sua frente, rompendo seus pensamentos e chamando sua atenção para a realidade.

—Laíza? – surpreendido, olhava para a bela garota a sua frente com um rosto bem raivoso.

—O que diabos você fez para espalharem merda por ai? – o tom de voz assustava até aqueles que sabiam da armação que envolvia os dois, mas passado o susto soltavam suas risadinhas.

—Do que você está falando? – o garoto mantinha uma expressão séria após o susto inicial. – Não fiz nada a você...

—Mentira! - interrompia, quase gritando. Seu rosto claro ficava vermelho. – Acha que vai espalhar boatos de que eu mandei uma carta para encontrar um esquisito como você? E ainda me esnobou? Quem pensa que você é, seu retardado?

—Mas eu não fiz isso! E de fato recebi uma carta alegando ser sua, mas não espalhei nada...

—Ora seu! – agarrava e torcia a camisa de lã dele. Ela quase bufava.

—O que se passa aqui? Alguém pode me responder? – a iminente vias de fato de toda aquela situação era interrompida pelo tutor.

—Nada mais que uma briga de casal, professor... – bem ao fundo, Phill respondia ironicamente. Muitos riam, enquanto Laíza soltava a roupa de Johann e olhava de canto para o lado em que surgia a resposta.

—Que besteira! Vocês deveriam estar em suas aulas. Quero imediatamente que vocês se dissipem ou haverá repressão para todos – o idoso passava pelos alunos com uma expressão nada agradável. Parava perto dos dois protagonistas do evento. - É melhor não testarem minha paciência, principalmente, você, Johann – em seguida, voltava realizar o seu trajeto em meio ao silêncio.

—Não pense que isso acabou – rangendo os dentes, Laíza olhava ameaçadoramente e em seguida saía.

Johann sem ainda entender bem o que estava ocorrendo apenas a olhava ir. Após ela estar distante, então, é que escutava as pessoas ao seu redor. Olha só a bichinha... Não é que o viadinho deu fora naquela gostosa mesmo? Os deboches surgiam um em sequência de outro, sem possuir qualquer limite. A massa ficava cada vez maior e mais inconsequente, enquanto os responsáveis por fomentá-la assistiam de fundo ao espetáculo de abominações que um grupo é capaz de cometer contra um alvo. O garoto sem saber o que fazer ou falar apenas conseguia mover os olhos de um lado para o outro. Era como se houvesse uma mordaça e uma corda o limitando, sendo incapaz até mesmo de reagir a alguns excessos, como um chute na perna e um soco nas costas. Porém, após este, despertava e começava a andar entre a chuva de ignorância naquele corredor. Seguia em silêncio para a sua aula.

Sem conseguir raciocinar, passava o início das explicações do professor sem atenção alguma. Afundava-se em meio a questionamentos de por que aquilo estava acontecendo. Tinha feito tanto mal assim? Logo surgia a lembrança de Brunhild e Johann despertava. Todos os colegas olhavam-no, muitos deles presentes naquele corredor infernal e ainda com um sorrisinho de escárnio.

—E então? Quem você escolhe? Ou não prestou a atenção no que eu disse? – ao fazer a última pergunta, o professor parecia se exaltar. O garoto nada podia fazer além de responder afirmativamente.

—Professor, permita-me batalhar com ele! – prontamente, Laíza se destacava naqueles segundos de silêncio constrangedor. Ainda podia perceber a raiva em sua voz, mas não como antes.

Desse modo, a disputa entre os dois treinadores estava prestes a se iniciar. Era uma forma excelente para iniciar a vingança da loira. Enquanto isso, o garoto sentia uma estranha sensação no peito, como se sua valquíria estivesse ali o abraçando. Dava-lhe a força necessária para batalhar contra a situação absurda em que fora posto. Com um sorrisinho de canto da boca, Laíza arremessava sua pokéball. Surgia uma figura quase do mesmo tamanho da garota. Era uma árvore animada, com o tronco descontínuo, em que pontas bem afiadas de madeira se prolongavam para um espaço escuro. Um raro Trevenant de coloração atípica, isto é, possuía folhas avermelhadas e casca branca, demonstrado já ter bastante idade e, consequentemente, experiência de batalha. As garras, formadas por galhos bem pontiagudos, assustavam pelo tamanho.

—Por que não fazemos uma aposta? Quem vencer saí daqui – ela dizia confiante à frente de seu poderoso pokémon. – Seria um prazer te ver longe daqui.

Sem uma resposta, Johann retirava uma pokéball de seu bolso e arremessava. A escolha parecia ser a esmo, mas a fazia inconscientemente. À sua frente, voava Noibat. Laíza sorria com a escolha do oponente, já se sentindo vitoriosa daquele combate.

—Ande logo e responda a minha pergunta, seu covarde! – embora fosse usado um tom ameaçador, ele não era respondido como ela queria. -Que seja! Trevenant, use Shadow Claw!

De modo desengonçado, a árvore corria em direção ao pequeno morcego. Como possuíam velocidades similares, não se podia prever o que ocorreria. A ordem de Johann era clara, usar Whirlwind. Desse modo, o pequeno voador batia suas asas de modo a criar correntes de ar turbulentas que tornavam a aproximação de seu oponente cada vez mais lenta. A disputa de perseverança entre os dois combatentes era admirável, porém ela tendia para o mais experiente. Trevenant conseguia se aproximar o suficiente para que pelo menos a prolongação fantasmagórica que envolvia o seu galho direito arranhasse o alvo, causando lhe uma dor considerável. O voo do morcego se desestabilizava, embora não houvesse uma ferida física em seu corpo.

Logo viria a reação. Dessa vez, criando uma corrente que favorecia a aproximação ao fantasma, um Tailwind era produzido com um outro bater de asas. Quando o fluxo se intensificava de tal modo, Noibat se jogava nele, em assalto contra o oponente. Parecia claramente um ataque físico, porém quando o movimento de acerto com as asas seria esperado, a segunda ordem como um agora de Johann surpreendia o contra ataque de Laíza. Jogando os membros para a frente, o pequeno dragão criava uma segunda rajada, dessa vez muito mais concentrada. Era um Air Cutter e, devido a distância, acertava imediatamente o alvo. Embora não fosse tão forte, a efetividade do golpe e a combinação com a técnica anterior provocavam um afastamento da árvore macabra, fazendo com que suas raízes criassem uma trilha de muitos centímetros na camada de neve.

Tanto Trevenant quanto sua treinadora olhavam com raiva. Entretanto, as seguintes palavras utilize aquilo não trariam nenhuma grande reação como muitos imaginavam e esperavam. Os olhos negros do pokémon assumiam uma coloração roxa. O tempo dado a Johann era rapidamente utilizado ao perceber a imobilidade do oponente. Talvez por confusão mental, talvez por inexperiência e vontade de demonstrar força, o garoto assombrava a todos mais que a fantasmagórica árvore. O nome Outrage levava a muitos abrir a boca enquanto olhavam para o pequeno morcego novamente se jogar em assalto contra o alvo com o apoio das correntes de ar que ele mesmo produzia. Dessa vez, contudo, não interrompia o voo, indo até as últimas consequências com um manto de energia avermelhada que lhe recobria à medida que ganha velocidade. O choque não era tão forte como o nome do golpe evocava, mas, ainda assim, causava considerável dano. Ao fim da primeira investida, Noibat já se preparava para a segunda, dessa vez visando as costas do alvo.

—Agora você se arrependerá profundamente – Laíza falava baixo e com um sorriso malicioso no rosto. – Trevenant, agora! Phantom Force!

Uma estranha energia, do mesmo tom dos olhos do pokémon, repentinamente cobria toda a extensão da árvore. Ela parecia se propagar por alguns centímetros da superfície da casca e logo tornava invisível novamente. Ainda de costas, como se todo aquele manto energético também funcionasse como um radar, Trevenant condensava toda a força em um movimento de rotação sobre a parte descontínua de seu corpo. Como uma catraca, o galho direito acertava em cheio a pequena bola vermelha que vinha em sua direção. Com o forte golpe, Noibat interrompia o seu ataque. Porém, o impulso com que o choque deveria dar ao morcego parecia se dissipar em milésimos pela energia fantasmagórica, de tal modo que a segunda rotação levava o galho esquerdo em direção ao oponente dessa vez. Com bastante brutalidade, segurava o pequeno dragão, jogando-o em seguida à neve bem abaixo de uma de suas raízes. Então, encerrava a batalha com uma poderosa pisada que machucava consideravelmente o oponente. Laíza levava a melhor e muitos começavam a gargalhar. A Johann, restava apenas retornar seu pokémon e correr rapidamente em busca de cuidados médicos.


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