O Aventureiro escrita por roberto145


Capítulo 13
XI - O Adeus


Notas iniciais do capítulo

Como o título explica, por enquanto nos despedimos de Johann. Agradeço a cada visualização e a cada comentário com elogios ou críticas. Certamente todos eles me ajudaram a terminar a história.



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A nova esperança durava pouco. Johann assistia ao símbolo de sua fantasia invencível cair após uma súbita investida de Honedge, mas facilmente detida por um Dragonbreath de Druddigon. Era como se tivesse perdido mais do que uma batalha, havia perdido a expectativa de que ser forte iria realizar os seus desejos. Uma ideia tão fraca que não demorava para desabar feito um prédio mal planejado. E agora, ali, olhando para a espada fantasmagórica derrotada a sua frente, completamente sem reação, sabia de que o amor das lendas que lera jamais se tornariam realidade para ele. Levantava, então, os olhos marejados.

Ao mesmo tempo, parte da coragem de outrora desvanecia e outra restava ao encará-la com as lágrimas restringidas. Brunhild sorria ao vê-las, retornando Druddigon. Começava a andar até o garoto, pois começava a entender o que se passava com ele. Surgiam, desse modo, duas estranhas sensações. A primeira era a de um carinho, já intensificado por aquele já construído, devido ao que ele sentia por ela. A segunda, uma dor no peito. A dor daqueles que sabem que irão decepcionar as expectativas de alguém próximo. E essa sensação era desagradável por natureza.

—Johann, espere...

A voz, assim como sua mente, misturava tristeza e afeição. Era mais do que suficiente para impedi-lo de fugir novamente por possuir uma atração incrível sobre ele. O garoto, assim, cessava logo o impulso de sair correndo de lá. Uma força que ele mesmo criava para se manter fixo aquele local, ainda que sua vontade fosse a de sumir. Brunhild, então, com um sorriso gentil, caminhava a passos lentos até ele. Essa lentidão era acompanhada por cada batimento forte do coração infantil. Ao se aproximar, levava suas mãos ao rosto dele. A diferença de altura fazia com que a treinadora abaixasse um pouco a cabeça.

—Pode chorar. Não há mal algum em chorar... - encostava seus lábios na testa dele, beijando-a. Em seguida, abraçava-o. - Eu sei que dói, mas, por favor, entenda. Para mim, você é como um irmãozinho. É tão especial quanto o que você sente.

As lágrimas, intensas, caíam pelo rosto do menino, alcançando a roupa da jovem. Não conseguia entender o que era tão especial quanto o que ele sentia por ela, mas o que importava naquele momento? Apenas queria colocar para fora a tristeza que sentia ao ter finalmente consciência sobre a impossibilidade de que não a teria. Não como fantasiara. E então essa ideia de aceitar parecia menos dolorosa que a aquela a qual despertava raiva e melancolia. Estes dois sentimentos eram limpos aos poucos de sua mente por cada lágrima que caia de seus olhos.

—Johann, desculpe-me por todo esse sofrimento que te causei ao não perceber nada que crescia em você. Eu...

Brunhild vacilava por alguns segundos sua respiração. O garoto percebia e se afastava o suficiente para voltar a encará-la. Doía olhá-la, ainda mais com algumas lágrimas que eram teimosas em parar de descer por seu rosto. A treinadora, então, sorria, misturando sofrimento, reconforto, arrependimento.

—Eu sei que dói abrir mão de algo que tanto desejamos e sonhamos – sua voz estava mais baixo do que o normal. Johann apenas a observava. – Essa dor, por mais intensa que seja, ela te fará crescer. Acredite! Não sei se posso me comparar, mas também senti uma dor semelhante... – algumas lágrimas também desciam por seu rosto, interrompendo sua fala. Sem secá-las, conseguia forças para prosseguir. – Johann, há algo que eu gostaria de te falar ontem, mas não consegui. De algum modo, ao ver você, senti como se estivesse presa novamente ao meu passado, quando também tinha a inocência de me declarar como a futura campeã de Kalos – sorria. – Continuar assim não é justo com você... – respirava fundo em busca de alguma coragem. - Lucien é um amigo de longa data,, antes mesmo que minha jornada começasse. Ao reencontrá-lo pouco tempo depois de te conhecer naquela caverna, finalmente encontrei os sentimentos que achei não possuir, mas estavam lá no fundo escondidos. Johann, eu escolhi ele para acompanhar a minha vida e para isso abri mão daquele sonho inocente daquela garota que você conheceu naquele dia.

O garoto afastava daquela imagem que um dia julgara perfeita em um vértice de emoções que lhe deixava confuso. Os pilares de todos os seus sonhos insustentáveis finalmente cediam, caindo por terra todas as ilusões. Uma breve sensação tola de vazio parecia abrir dentro de si e engolia o modelo de perfeição que até então o norteava em um movimento centrípeto. Em silêncio, preocupava Brunhild. A antiga treinadora não imaginava as revoluções de sentimentos que ocorriam naquele jovem garoto, mas já com complexidades que iam além de seu entendimento.

—Então é assim que deve ser, certo?

Johann finalmente conseguia secar as últimas teimosas lágrimas. Seu coração ainda sentia o peso da dor, mas uma calorosa sensação o invadia e espantava toda a ira que lhe acometera. Não sabia explicar, apenas sentia que devia seguir.

—Sim. Assim deve ser – a jovem sorria para ele ainda com lágrimas. – Johann, você deve seguir em frente. Eu sinto... Não, eu sei que o seu futuro é grandioso. Eu sentia isso quando te conheci, mas hoje, durante essa batalha, após ver toda a evolução que teve, sim, eu tenho certeza, você será um dos melhores treinadores. Não sabe a honra que sinto ao ter te conhecido – colocava a mão na lateral de seu rosto. – Siga em frente.

Com um gesto assertivo e afirmativo de cabeça, Johann a consolava de todo o ressentimento que a jovem sentia. O calor que tomava o coração do garoto se intensificava mais. Era mais intenso de quando adentrara no ninho de Druddigon, da ligação ominosa com Yvelta, do encontro macabro do espírito que agora se materializava como Froslass e, por fim, do impulso que o fazia dirigir até Honedge.

—Você tem que me prometer algo também - o garoto a olhava com muita convicção. Ela assentia com atenção. – Também quero que você continue de onde parou... Mesmo que isso leve o tempo que for – antes mesmo de ela protestar, Johann continuava. – Ao menos quero que tente, para quando eu finalmente conseguir atingir o potencial que você acha que eu tenho, tenhamos outra batalha com o máximo de nossas forças, em uma batalha como a de hoje. Eu e vocês dois.

—Se for essa forma que eu consiga manter você também na minha vida, eu aceito a sua exigência – Brunhild sorria. Ao ver Johann estendendo a mão para finalizar a promessa, ela o abraçava novamente, um abraço tão intenso que jamais lhe dera. – Você é muito importante para mim. Jamais permitirei tê-lo longe da minha vida.

—Agora temos que ir... Há algo importante que você não pode perder em sua vida, não é? – Lucien apenas os observava em silêncio, conformado com a sua posição mediante toda aquela situação, porém quebrava seu silêncio após checar as horas.

Ao fim do abraço de Brunhild e Johann, este se dirigia ao rapaz. Era um homem alto e consideravelmente forte, de traços firmes em seu rosto, mas harmoniosos com as proporções da face. Possuía cabelos negros curtos e bem encaracolados. O tom de sua pele ebânea não contrastava com a jaqueta azul escura que vestia sobre uma camisa marrom de gola alta. O garoto, após essa breve análise, esticava a sua mão em um cumprimento, surpreendendo Lucièn. Havia o aceitado como seu rival.

Brunhild, ao observar a cena dos dois apertando as mãos, sorria com uma genuína felicidade. Todo o temor que sentia se esvaía para dar espaço a um contentamento de ter duas pessoas tão queridas em seu coração.

— O mais importante, Johann, é a construção que fazemos de nos mesmos. E, para isso, você deve seguir seu sonho, pegando aquele navio. Por isso, levante a cabeça e siga em frente. Tenho certeza que a maior das felicidades ainda te espera na sua aventura – Brunhild dava o último beijo em sua testa.

Dessa forma, o garoto era levado a Coumarine de carro pelos outros dois treinadores mais experientes. Durante essa breve viagem, todos pareciam apreciar o silêncio, de forma a analisar da melhor forma seus pensamentos. A despedida no porto também era breve e um pouco tímida, mas, sem dúvidas, significante. Johann, ao ver a costa se distanciando enquanto adentrava na imensidão do mar, distanciava cada vez mais de sua terra natal, de seus parentes, de sua pessoa querida e, principalmente, de sua imaturidade.


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