O Aventureiro escrita por roberto145


Capítulo 12
X - Ilusões Perdidas


Notas iniciais do capítulo

Infelizmente, por forças de motivos maiores, essa história acabou ficando na geladeira. Peço perdão aos que acompanhavam.
Esta semana será a conclusão com o capítulo final.



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Deitado na confortável cama que o hotel oferecia, o garoto não conseguia dormir. Nem poderia ainda mais com a corrente de sentimentos que surgiam uma atrás da outra, como se estivesse em um oceano de emoções. Contudo, só poderia senti-las, já que não as entendia e assim se explicava a sua insônia. Em raros momentos em que o cérebro cedia e suspendia suas atividades da realidade para adentrar na imaginação dos sonhos, ele só poderia sonhar com ela, claro. Os fios de cabelo que gentilmente tentavam chamar a atenção ao brincar com seus olhos azuis. Os traços finos de seu rosto, como o nariz que parecia ser o de uma escultura. Porém, à medida que a materializava completamente em seus sonhos por meio da idealização, acordava. E assim, o ciclo se repetia, com horas acordado e minutos dormidos.

As horas demoravam passar, como se cada uma fosse uma eternidade, angustiando ainda mais Johann. Os raios do Sol nascente passando pelas frestas das cortinas ainda eram raros, mas já presentes na rua da agitada cidade. O menino, no auge dos seus quatorze ano, sofria a sua primeira grande noite de coração apertado em sua mão.

Sem mais aguentar, antes mesmo que ouvisse os cantos dos pássaros, levantava-se. Seus pertencentes permaneciam intocáveis, exceto do pijama que usava. Retirava mais algumas peças de roupas, aquelas que usaria para viajar. Eram as que considerava mais confortáveis, uma blusa branca, um casaco preto e calça jeans. Seguia para o banheiro, a fim de tomar um banho e retirar aquela cara de noite mal dormida. Hoje era um dos dias mais importantes de sua vida e por isso não poderia deixar que nada o atrapalhasse.

Aguardando impacientemente a manhã avançar, o garoto não aguentava mais. Deixando sua mala em seu quarto, saía pelas ruas da metrópole. Iria encontrá-la com toda a certeza. Precisava encontrá-la. O tempo corria junto a ele em meio as pessoas que saíam para trabalhar e aproximava com ferocidade e urgência do horário em que o trem partiria para Coumarine. E assim, quando já era próximo das onze horas, Johann a encontrava. Nem poderia esboçar um sorriso de contentamento. Seu coração pesava demais para a sua estatura, fazendo-o apoiar sobre um poste frente à rua em que estavam as cadeiras ao ar livre do bar em que Brunhild tomava café. Seus olhos não lhe enganavam por mais que quisesse ser enganado por eles em uma mísera ilusão. Um aperto súbito dominava seu peito.

Não... Não era um engano nem ilusão. Era a pura e fria realidade ao lhe mostrar que a vida não era regida por vontades e desejos. Ao lado de Brunhild, com o braço esquerdo envolto ao pescoço da treinadora, estava um rapaz de mesma idade. Ambos conversavam e sorriam com extrema intimidade. Até demais...

O menino, atordoado, ainda a olhava um pouco distante. O torpor de uma traição imaginária começava a confundir seus pensamentos. Jamais haviam reagido a sua valquíria como dessa vez, com uma expressão de raiva. E era esta que Brunhild percebia no momento em que seus olhos se entrelaçavam com o olhar irado dele. Porém, tornava-se tarde para ela chamá-lo ou ir até ele. O garoto, regido pelo sentimento de traição, colocava-se em fuga, correndo sem direção, com rastro de ressentimentos apenas. A jovem tentava levantar e segui-lo, fazendo seu companheiro nada entender, mas não conseguia. Johann tomava um bonde elétrico sabe-se para lá onde.

—O que foi? - ainda surpreso, o rapaz segurava levemente no braço da namorada.

—Acho que uma desgraça... - ajeitava o cachecol que se desarrumava pela rápida corrida em um trecho de calçada.

Ela o contava toda a história. Para o rapaz, agora tudo ficava claro, e ele explicava o que os sentimentos ainda confusos de um menino representavam. O choque para ela era tanto devido à imagem de irmão mais novo que criara e uma possibilidade que jamais imaginara. E agora sentia culpada, devendo reparar aquela situação. Nativo de Lumiose, o seu namorado a explicava que o bonde seguia para uma rota turística em direção ao Parfum Palace. Uma viagem de carro deveria ser mais rápido que o outro meio de locomoção. Dessa forma, Brunhild também ia para lá com a ajuda de seu companheiro a fim de curar um erro que não cometera, mas que lhe devorava até o último pedaço de sua paz de espírito.

A duração da viagem, contudo, não contava com o trânsito ao sair da metrópole. O tempo perdido era o suficiente para fazer com que Johann chegasse primeiro à parada turística. O garoto sem saber onde estava caminhava alguns minutos da estação de trem. À sua frente, apenas o palácio que encantara a muitos por eras e um mar formado por grupos de turista que iam e vinham, falando em diferentes idiomas, demonstrando as mesmas felicidades. Isso rasgava ainda mais o seu coração machucado e estonteado.

Cabisbaixo, ele se desligava do grupo de turistas, seguindo pelos enormes jardins do palácio. Para qualquer um, era uma vista e um odor formidáveis, porém, naquele estado já triste, o garoto não conseguia perceber a beleza da infinidade de flores que o cercava. Por vezes, a ira retornava como resposta a perguntas de como e por que ela fizera aquilo, em um pensamento que circulava e circulava, girava e dançava, sempre cego a verdade. E nessa divagações, ele chegava em frente de um túmulo, onde uma espada estava fincada no solo. Em um raro momento em que se religava, o menino seguia até lá com sua formidável curiosidade surpreso com a sua descoberta.

—Aqui jaz... - era difícil de ler o epitáfio escrito em uma arte bela, porém de interpretação dificultada pelo desgaste do tempo. - Aqui jaz a honra de minha alma... Que todos consigam sentir sua aura em momentos de desespero. A luz trarei, meus amigos... E a mim a luz virá. Assim eu a espero.

Assim que terminava de ler as inscrições na lápide, a espada parecia se mover. Bastante assustado, Johann caía de bunda no chão, tentando se afastar. A arma continuava a se mover, como dançasse uma música funesta iniciada pelo epitáfio. Mesmo com temor, o menino começava a sentir atração por aquele artefato. O medo se esvaía como se encarnasse outra personalidade dentro de si e sumia por completo quando a bainha já se afastava do solo, demonstrando a lâmina. Levantando-se, estranhamente ele andava até a espada, que agora se aquietava. Colocava, então, sua mão nela, já sem receio. Mais incrível que a mudança de personalidade era a temperatura quente que o objeto estava. Em um só lance, por fim, Johann a puxava. Era um Honedge.

—Juntos, seremos imbatíveis! - soltava o pokémon que flutuava a sua frente com vida. Não percebia que o seu olhar agora era fulminante.

—O que está fazendo aqui?! - uma das guias surpreendia o garoto, aproximando-se do túmulo. - Não me diga que esse Honedge veio dali... - ela apontava com o dedo, muito espantada. Até sua voz decrescia de acordo com as suas intuições. Johann respondia positivamente. - Você leu runas antigas? Acha mesmo que vou acreditar que um menino que nem saiu das fraldas conseguiu ler algo que muitos estudiosos não conseguiram?

Retornando o olhar para a lápide, o treinador percebia que as inscrições mudavam de forma. Eram agora completamente ilegíveis, em uma linguagem que nunca vira na vida. A guia se enfurecia, achando que fora um caso de vandalismo do menino e já se precipitava em segurar seu braço quando a espada voadora se colocava entre os dois com um movimento ameaçador à mulher. Esta recuava e ao mesmo tempo chegavam outras pessoas no local. Entre elas, Brunhild.

—O que houve aqui? - a jovem logo já se metia na situação ao perceber que incriminavam o menino.

—Este marginalzinho! Vandalizou um túmulo que é sagrado! E quem é você?

—Me chamo Brunhild Dietrich, sou uma treinadora – não demonstrava a sua habitual apresentação e animação de outrora, em que se proclamava como a futura campeã de Kalos. Mostrava as suas oito insígnias já conquistadas. - Eu o conheço e ele é incapaz de ter feito algo assim.

Sem entender, a treinadora tentava sugerir outras explicações para o que havia ocorrido, porém falhava quando contra argumentavam ao comentar sobre as runas. Brunhild calava-se momentaneamente, pensando em outra explicação. Pesava sobre ela uma parcela de culpa. Contudo, o menino, mais uma vez em uma personalidade que não aparentava ser a sua habitual, declamava aquelas linhas que lera. Era um espanto, pois apenas poucas pessoas haviam conseguido traduzi-las e, ainda assim, de forma incompleta. Com um olhar mais sereno que o habitual a sua idade, ele voltava-se para a sua amada.

—Quero uma batalha... Contra você e ele - possuía firmeza em sua voz, sem sentir medo algum da posição dela. - Isso é claro se ele possuir pokémon – havia certa jocosidade em seu tom.

O pedido assustava a treinadora. Jamais esperaria algo assim tão repentino. Além disso, essa ideia em nada lhe agradava, podendo, segundo sua intuição, piorar ainda mais a sua situação com o menino. Já se inclinava em recusar, porém o seu namorado e toda a plateia que se formava faziam-na ceder. Muitos turistas gostariam de ver o espetáculo de uma experiente treinadora e, assim, como se fosse uma competição oficial, formavam uma plateia na arena que o jardim se tornara. Deixavam para lá até o passeio turístico.

Johann observava os dois adversários a sua frente. A batalha iria envolver apenas dois pokémon da dupla, enquanto o menino poderia usar até três. Ela iniciava com Druddigon, de Brunhild, e Tyrantrum, do rapaz. Os dois pareciam estar bem em forma, sendo um deles um velho conhecido do garoto, mas dessa vez não incutia medo nele. Para confrontar tais desafios, o que tinha de melhor, Noivern e Rhydon.

—Você realmente o treinou! - Brunhild animava-se ao ver o pokémon doado por ela evoluído. - Sabia que você seria um ótimo treinador para ele!

Alheio aos elogios, Johann anunciava o seu primeiro ataque. Rhydon avançava com passos tão pesados que tremiam por breves segundos a terra. Seu Horn Attack tinha como alvo Tyrantrum. O treinador deste, porém, permanecia sereno, com uma expressão confiante. Sem nenhum comando, o pré-histórico sabia o que fazer. Ele se esquivava facilmente da investida e já se colocava em posição de contra atacar. Para isto, bastava apenas o anúncio de seu treinador. E assim era ordenado um poderoso Iron Tail. Com sua cauda tomando um brilho metálico, o dinossauro acertava em cheio o outro bípede. Era tão violento o ataque que o pesado alvo era jogado a muitos metros de distância e sua queda causava estragos consideráveis ao jardim onde ocorria a batalha. A guia levava as mãos à cabeça, enquanto os visitantes vibravam com a batalha. O garoto, surpreso com a ferocidade daquele ataque, olhava apreensivo para o seu pokémon. Porém, ele conseguia levantar, ainda que com muita dificuldade.

Agora era a vez de Brunhild mover-se na batalha. Não era nada que saltava aos olhos, um simples Hone Claw. A verdade é que estava temerosa em atacar e, consequentemente, piorar a situação. Os dois outros participantes da batalha percebiam essa atitude, e, em pelo menos Johann, causava mais raiva. Tanto que os próximos ataques eram anunciados com bastante ojeriza. Era uma mistura de Air Slash com Stone Edge. A frente da rajada de vento, Rhydon se arremessava contra Druddigon, com seu corpo recoberto por pedras que se atraiam ao seu corpo. O ar cortante nada fazia ao seu corpo rochoso, mas tornavam os projeteis mais afiados e perigosos. Era uma forte combinação, que surpreendia até mesmo a treinadora. Esta tentava conter o ataque por meio de uma defesa. Como consequencia, Rhydon o acertava, mas era difícil ferir aquela carcaça dura.

—Isso é o máximo de alguém que um dia se disse a futura campeã de Kalos? – Johann dizia mais como modo de expressar sua raiva do que ironizar.

—Eu... – a treinadora vacilava nas palavras. Não conseguia. Era doloroso ainda que fosse sua escolha.

—Talvez você pense que está o poupando e fazendo o melhor... Mas, sinceramente, só está piorando as coisas ao subestimar ele. Veja o rosto dele e você verá a raiva que ele sente... - o namorado falava em tom baixo de voz. O garoto não era capaz de escutá-lo.

Brunhild, então, conseguia perceber toda a situação. Culpava-se um pouco, enquanto o seu pokémon se levantava ainda com boas condições de batalha. Fechava os olhos e apertava a mão enquanto se desculpava mentalmente com o garoto. Desculpava consigo mesma. O ataque seguinte era de uma brutalidade incrível. Druddigon era ordenado a executar Revenge. Sentindo o corpo machucado do golpe anterior, seus músculos tornavam-se mais potentes ao ponto de alcançar uma velocidade incrível. Com um salto, acertava o voador. Seu vigor era enorme, ao ponto de não perder o tônus muscular na queda e avançar violentamente contra Rhydon. Apenas Noivern resistia. Johann, surpreso com aquela força, retornava o seu pokémon. Uma breve sensação calorosa começava a surgir em seu peito, no meio da inundação de ódio e paixão. Ela, então, misturava-se com a aquela coragem que surgira espontaneamente ao retirar Honedge de seu descanso profundo. Sem perceber o sorriso em seu rosto, jogava outra pokéball, surpreendendo os demais. Dessa vez, um mamute há muito tempo considerado extinto surgia em campo. Mamoswine compartilhava da mesma sensação destemida de seu treinador.

—Mamoswine, Earth Power! - o garoto logo anunciava seu golpe poucos segundos depois de libertá-lo. Brunhild e seu namorado ainda não se refaziam da surpresa.

O corpo maciço e peludo do pokémon parecia absorver uma estranha força natural que provinha da terra. Ela criava um manto ao redor de seu corpo, de coloração esverdeada. E então, com um impulso dos músculos fortes de sua perna, o mamute forçava o campo para baixo, descarregando toda a energia que conseguira acumular em um impulso forte. Este se propagava como um terremoto, mas logo ao se aproximar dos alvos, aquela energia se transformava novamente em luz, porém extremamente danosa e capaz de levantar alguns pedregulhos espalhados por Rhydon. Os dois oponentes apenas observavam cautelosamente toda a ação de Mamoswine, esperando pelos comandos de seus treinadores. Contudo, eles não vinham e restava aos dois esquivarem daquele golpe de forma autônoma. Tyrantrum e Druddigon tentavam saltar para os lados, com o dragão atingindo maior; contudo, ambas as ações eram inúteis. Eram acertados pelo golpe, sendo o pokémon pré-histórico mais ferido.

—Ótimo... - Johann fechava a mão, comemorando. Entretanto, não daria descanso a eles. - Noivern ataque Druddigon com Dragon Claw!

No momento em que estava melhor no combate, o garoto continuava a atacar. Era só o que ele conseguia pensar. As garras do morcego tornavam se turquesas, e ele, em um rasante, ia de encontro contra o outro dragão também no ar. Este ainda se refazia do forte ataque de terra e parecia que era um alvo fácil ao ataque. Brunhild olhava para seu namorado, que retribuía o olhar com um sorriso. Ambos pensavam a mesma coisa. Johann, ainda que não percebesse, não sentia mais a mesma raiva de antes e sim uma vontade de querer lutar.

O que se seguiria a partir de então fazia a todos ficarem sem reação. Ao golpe de Noivern, Druddigon equiparava com outro Dragon Claw. O dragão azulado era capaz de reagir ao impacto que desestabilizava o seu salto em poucos segundos e, logo ao escutar o comando de sua treinadora, institivamente, conseguia adivinhar o ângulo de ataque do morcego. Os dois, então, mediam forças no ar, porém o escamoso era muito mais forte que o pokémon do menino. Ele vencia essa disputa, mas não soltava o oponente.

Era a vez do outro rapaz anunciar seu comando. Tyrantrum saltava novamente, mas com sucesso dessa vez. Demonstrava, assim, toda a força em suas pernas ao atingir a altura dos outros dois. As garras afiadas e longas de seus pequenos braços tomavam o mesmo brilho do ataque de Noivern, indicando outro Dragon Claw. Preso, Noivern não conseguia esquivar e era acertado brutalmente nas costas. O golpe era fortíssimo e o grito de dor ecoado representava isso. Porém, impiedosamente, Druddigon não o largava. A combinação de golpes não acabaria assim. Brunhild, sem o peso de antes, ordenava Superpower. Imediatamente, então, o corpo do dragão parecia se enrijecer mais do que o normal, aumentando e muito o volume muscular. Com isso, arremessava o morcego violentamente contra Mamoswine ao tocar o solo. Por fim, aproveitando o embalo de adrenalina que seu pokémon sentia, a treinadora anunciava Dragonbreath. O escamoso, à frente dos dois oponentes ainda atordoados pelo último golpe, despejava uma violenta baforada que parecia ser feita de um fogo violeta.

A velocidade com que esses ataques aconteciam era altíssima, de forma que todos ficavam de queixo caído ao assistirem a eles. Apenas a guia que possuía uma reação diferente, com o desespero de ver o jardim ainda mais destruído com os impactos. Johann encarava dois de seus pokémon mais fortes serem derrotados em um instante. Sem palavras e demorando um pouco para retorná-los, dava indícios que a batalha já havia acabado. Porém, Honedge avançava para o campo de batalha. A espada flutuava a sua frente, e ele olhava destemidamente para os dois treinadores e seus fortes pokémon com uma vontade de vencer monstruosa.


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