O Aventureiro escrita por roberto145


Capítulo 11
IX - Ilusões da Cidade




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A multidão saía com rapidez do confortável veículo. A pressa fazia com que as pessoas logo desembarcassem do trem de alta velocidade para concluírem as tarefas que a motivavam tal deslocamento pendular. Johann, sem aquela pressa toda, saltava com calma embora estivesse bastante ansioso e animado com a nova vida que o esperava. Por isso, era quase levado ao chão pelas malas que pareciam manadas de Tauros enfurecidos, batendo suas cabeças uns nos outros. Decidia, então, sair da magnífica estação, que se assemelhava a um shopping pelo tanto de lojas que possuía em seu interior. Os produtos variavam de celulares a perfumes e roupas. O garoto já era acostumado com todo aquele luxo, mas ainda assim se surpreendia com o que uma metrópole podia oferecer.

Saindo da estação, espantava-se ainda mais. Era a primeira vez que via toda aquela agitação de uma capital, com todo o movimento de carros e pessoas formando um único ser. A iluminação, muito mais forte que as emitidas pelas peças de ouro e cristal no castelo de sua família, ofuscavam lhe os olhos, como se estivesse saindo de uma caverna escura para olhar o Sol. Porém, como se algo divino lhe chamava a atenção, olhava para cima, para a Prism Tower. Que monumento! Era quase uma escada para os céus, tocando-os gentilmente com a estrela iluminante que era a sua ponta. Ela surgia acima de todas as construções da cidade, guiando a todos como o edifício mãe.

Passado esses minutos de espanto e admiração, que certamente duraram bastante, Johann finalmente se tocava de que devia se retirar para o hotel em que ficava a sua reserva. Porém, o mapa que possuía não era nem um tanto claro como a cidade. A sua leitura era bem difícil, de forma que o garoto acabava se perdendo na gigante metrópole. Entrava em ruas que não devia entrar, ignorava outras que não deveria ignorar, e assim, acabava em uma área um tanto afastada. E perigosa. Tratava-se de um bairro em que muitos artistas, treinadores boêmios, dentre outras personalidades a fim de gozar a vida, juntavam-se com a população que fora afastada para a periferia. Assim, mesmo que fosse uma pequena parcela, haviam alguns marginais a espera de dar o bote a qualquer desavisado que passasse por lá. A presa da vez era justamente Johann.

Estranhando todo aquele ar boêmio, do cheiro alcoólico e festeiro que impregnava qualquer passo que desse, o menino adentrava em uma rua, que o levaria de volta ao centro da cidade segundo seu julgamento. Errado. Apenas o colocava ainda mais dentro daquele local. Cada vez mais nas entranhas, mais se surpreendia com a pobreza, que também aumentava. Os bares que antes possuíam algum conforto agora se tornavam bem pé rapados. Os bêbados alegres cantando rua afora com seus amigos agora se tornavam mendigos ou mau encarados, que assistiam os passos rápidos e amedrontados. O odor de bebida agora se tornava de esgoto.

—Garotinho... - a voz, surgindo do nada, fazia Johann quase saltar. Seu coração disparava e ele não olhava para trás. - O que um garotinho faz aqui com tanta mala? Por que não vem comigo? Vou te levar um lugar em que pode se hospedar.

De um beco lateral daquela rua imunda, surgia um homem bem carrancudo, porém com um certo ar de ironia e maldade na voz e no sorriso. Essas características, entretanto, não eram notadas pelo treinador, nem os maltrapilhos que vestia, pois permanecia com o olhar para frente, bem assustado. À pergunta, respondia negativamente com a cabeça, o que desagrava o malandro. Este, então, com passos descompromissados, como ele também era, andava até o menino. Colocava-se à frente dele, mostrando a sua face ameaçadora. Percebia, em seguida, as pokéball que a sua presa portava. Alargava ainda mais o sorriso.

—Vamos, me dá essas pokéball ai...

Colocava o seu braço fedorento sobre o ombro de Johann. Seu tom mudava, tornando ainda mais hostil. O garoto resistia, movendo novamente a cabeça negativamente. Então, um soco bem no estômago o fazia cair no chão sem ar algum. Algumas lágrimas projetavam de seus olhos caindo na calçada imundo, que também chorava suas águas sujas no rosto dele. Porém, a recusa em entregar seus pokémon fazia com que recebesse um chute nas costelas. Por sua sorte, não fora dos mais fortes nem dos mais certeiros, evitando uma contusão mais grave. O seguinte, no entanto, iria cumprir com as ameaças que o bandido fazia.

—Afaste dele! - com os sentidos embargados pela dor e pelo medo, o garoto escutava uma voz. - Se acha que é certo fazer isso com um garoto, então você merece isso! Goodra, saía!

Sem poder assistir a cena, Johann apenas escutava perifericamente alguns comandos. O que se passara era uma batalha. Goodra contra um Raticate mau nutrido. A vitória, obviamente, era do dragão, que lançava ainda um Dragon Pulse bem fraco contra o bandido que se colocava a fugir. Em seguida, a pessoa que havia afugentado o mau caráter se dirigia até o menino. Novamente estava lá o seu anjo! Talvez tão bela quanto a primeira vez que a vira. E isso o deixava ainda mais grogue do que já estava pela dor, ficando assim por alguns minutos. Brunhild, obviamente, preocupava-se com aquele estado de confusão, achando que fosse algo grave. Porém, logo se tranquilizava ao vê-lo levantando.

—Johann? Você está bem? Quantos dedos tem aqui?

Apesar de ainda ter os sentidos, cada um mais confuso que o outro, como uma roda de bêbados girando, cantando e farreando, o pensamento ainda se comportava frente àquela que sempre o bagunçara. A imagem da musa do garoto, alguns anos mais velhas, ainda era a impactante como no primeiro encontro e talvez sempre seria assim. Contudo, a realidade era diferente. Os anos sim mudaram a jovem. Os cabelos curtos se alongavam, enquanto a franja se intensificava na fronte branca. A maturidade do tempo mudava um pouco sua expressão. Até mesmo o brilho de seus olhos azuis, que sempre encantaram, mudara.

—Sim, estou melhor – Johann respondia apesar da dor de cabeça que sentia. - Brunhild! – a emoção finalmente vencia a timidez do garoto, que se jogava em um abraço. A jovem, surpresa, recebia o carinho, sorrindo em seguida.

A conversa que se seguia era simples. Brunhild estava de passagem àquela cidade e decidia ir comemorar com alguns amigos no bairro que Johann fugira rapidamente. Entretanto, avistara o menino entrando em duas ruas antes e decidira segui-lo, sem alcançá-lo, com o pressentimento de que ocorreria algo ruim. Mas não sabia que ia encontrar o amigo depois de tanto tempo em um lugar como aquele. Após essas breves explicações, a jovem seguia com o rapaz ao Hotel Richissime, em um endereço muito, mas muito distante de onde estavam. Fosse pela localização, fosse pelo luxo. Até ela, que nunca desfrutara de algo assim na vida, parecia ter alguma fraqueza frente àquela riqueza.

Após de deixar suas coisas no quarto e ter se limpado da sujeira mundana, o menino convidava-a a comer algo no famoso restaurante do hotel. Mesmo que fosse extremamente tentador, ela recusava alegando o tão caro era aquele estabelecimento. Contudo, ele insistia até conseguir a sua aprovação. Logo ficaria claro a origem da família de Johann para Brunhild e que aqueles prazeres para ele não custava muita coisa. O salão onde estavam era fabuloso, com uma iluminação clara, porém levemente amarelada, assemelhando-se a cor de creme. Tocava-se alguma sinfonia de um respeitável compositor antigo. Enquanto isso, a treinadora se segurava para não pedir mais de um prato.

—Nunca imaginaria que havia achado um herdeiro de um império em uma caverna – brincava enquanto cortava um pedaço de carne de ave. - Que sorte a minha! - sorria, subvertendo os contos de fadas.

—E eu nunca imaginaria que a princesa que encontrei fosse ainda mais bonita do que imaginei! - não ficando para trás, o garoto também comentava de forma a ficar vermelho.

—Ora! Mas que bonitinho! - ela adorava o elogio, abrindo um sorriso. - Acho que foi o meu novo corte de cabelo! Mas você está mais bonito assim, depois de crescer! Aposto que tem muitas meninas querendo ser sua namoradinha!

Novamente, Johann se ruborizava e negava veemente as namoradinhas. A jovem sorria encantadoramente a todas essas reações dele, não sabendo, contudo daquilo que fora alvo e de que abriu mão para estar ali, sentado à sua frente. Johann não revelava tal passado. Para ele, era mais importante, ou melhor, mais acalentador saber que o futuro de incertezas lhe dera um momento deste. Alcançar a certeza de que fizera o correto era mais fácil naquele instante. À sua musa, revelava apenas que a estadia em Lumiose era para pegar o trem até Coumarine, de onde começaria a sua aventura até outro continente.

Assim que ambos terminavam de comer, os sinos da Catedral de Saint Pierre anunciavam as horas. Já era onze da noite, e Brunhild havia esquecido completamente de seu encontro. Contra vontade de Johann, ela acabava indo, argumentando de que teria de pelo menos dar as caras à festa de seus amigos. Além disso, também dizia, como uma irmã mais velha, que o garoto deveria ir descansar, pois sua viagem seria longa no dia seguinte. Dessa forma, a treinadora se despedia, talvez da última vez, do treinador, enquanto este subia os andares com a cara fechada e uma estranha sensação que os mais experientes poderiam chamar de ciúmes.

 


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