O pátio de granito negro do hall principal do esconderijo da Rainha do Estilo fora onde todos os heróis haviam acabado de lutar antes de serem aprisionados pela vilã, mas também era o lugar mais espaçoso e até mesmo belo que todos já haviam visto. Ou melhor, que teriam notado se não corressem risco de vida ali. Mas nem todos os amigos não obtiveram aquela oportunidade. Depois da luta e considerando a presença de ambos como uma verdadeira recompensa, Style Queen fizera questão de separar Félix e Bridgette do resto da equipe de Ladybug e prendê-los á frente de seu trono, no início da grande escadaria dourada ali presente. Depois de tanto planejar como iria se vingar de ambos a vilã não poderia perder aquela oportunidade jeito nenhum.

Sentada em seu trono com as pernas cruzadas e projetando duas telas á sua frente, a mulher dourada admirava uma das cidades que estavam na sua lista negra: Paris. A situação estava tensa, ela podia sentir as energias negativas circulando por suas entranhas e todas as discussões que havia só naquele lugar, mas que já era o suficiente para que conseguisse fazer um grande estrago quando fosse libertada. Um sorriso delicioso passou pelos lábios da inimiga enquanto a mesma se deleitava com o caos que se espalhava sem a sua presença total.   

— Você jamais vai conseguir conquistar o mundo somente com o que o seu cristal te proporciona Style Queen. – uma voz conhecida pela mulher gritou não muito longe de onde ela estava.

 A vilã apenas arqueou uma sobrancelha e se virou para onde ouvira a voz: o fim da escadaria. Com um pequeno movimento com suas mãos ela dissipou a vigilância que estava sobre a cidade e se levantou de seu trono, caminhando lentamente até a cela de cristal que havia criado.  

— O que te faz pensar que não vou conseguir aquilo que eu quero? – a Rainha do Estilo indagou encarando a figura com um olhar penetrante. – Acha que o seu irmão e os seus amiguinhos vão conseguir me deter? Acha que eles vão derrotar A Rainha do Estilo? – a mesma começou a rir subitamente. – Você é estúpido gato imbecil. Me admira muito que mesmo depois de tudo o que ouvira falar a meu respeito com ele você ainda continue tão ingênuo.

— A sua fraqueza é acreditar que seu poder te torna imponente Style Queen. – a segunda figura presa na cela próxima da vilã se pronunciou.

— E a sua fraqueza é acreditar cegamente na sua prima e nos seus amigos. – a mulher rebateu se aborrecendo com a garota que insistia em lhe chatear. Entretanto não deixou passar despercebida a oportunidade de lhe importunar também. – Mas sabe o que mais me surpreende nesse momento onde estou prestes a dominar o mundo, destruir tudo o que vocês mais amam e esmagar a vida e a esperança de pessoas que não sabem de nada? É que o tempo todo vocês não perceberam que tinham que ser unidos. Vocês dois sempre estiveram um do lado do outro e mesmo assim jamais trabalharam juntos, porque nunca admitiram que precisavam um do outro. Talvez seja por isso que perderam os seus miraculous para essa geração... Bridgette e Félix, os heróis caídos. – Style Queen gesticulou para o ar a sua volta e com um sorriso vitorioso no rosto quando o silêncio predominou o local. – Ninguém poderá me deter.

Abaixando a cabeça enquanto a Rainha do Estilo se afastava lentamente de onde estavam presos, Bridgette abraçou os joelhos e fechou os olhos. Conforme o som do salto alto da vilã diminuíam, a morena desejou que nada daquilo estivesse acontecendo. Algum tempo atrás daria tudo que tinha para ficar presa pelo resto de sua eternidade junto com Félix Agreste, o garoto que amava, o garoto de seus sonhos mais loucos. Mas ali, naquele momento, a prima de Marinette não desejava outra coisa a não ser poder fugir dali o mais rápido possível. Se sentia enganada, magoada e... Triste. Aquele tempo todo que conhecia o loiro, todo o tempo que havia passado o perseguindo por onde quer que fosse. Teve que ser aprisionada numa dimensão mágica do universo para que pudesse enxergar o quanto fora ridícula sendo apaixonada pelo garoto errado. Ou ele era realmente o garoto certo para ela?

Já não sabia mais. Não sabia nem o que pensar.

O rapaz não estava muito diferente de si. Sua mente trabalhava freneticamente dentro de sua cabeça e não lhe permitia pensar direito em tudo o que estava acontecendo. Tudo o que Adrien lhe falara um tempo era real: a opção de Bridgette ser a sua Ladybug era realmente verdadeira. Nunca se sentira tão feliz e tão confuso em toda a sua vida como naquele momento. Olhou para si mesmo e suspirou quando notou que ainda estava usando o seu traje de Chat Noir. Tudo aquilo havia começado quando ainda estava na Inglaterra e se culpava por só naquele momento ter reparado que o que lhe completava era a morena a sua frente.

— Então é assim que termina a história. – a garota murmurou cabisbaixa, sem encarar o loiro nos olhos. – O encontro dos antigos portadores onde ambos são condenados a passar a eternidade juntos na prisão de uma vilã mitológica que é real. – a mesma escondeu o rosto entre as pernas. – Não foi assim que eu imaginei a minha morte.

— Se serve de consolo, a palavra “eternidade” significa para todo o sempre e nós não vamos viver tanto assim. – Félix comentou sentado na frente da mestiça e olhando para fora de sua cela. Observou a mesma murmurar alguma coisa tão baixo que nem mesmo utilizando suas habilidades como Chat Noir lhe permitiram ouvir. – No máximo vamos morrer de fome antes. Ou algo do tipo.

— Ela vai atrás do Mister August e do Mestre Fu. – Bridgette disse se desviando do assunto abruptamente. Levantando a cabeça não pôde deixar uma onda de medo lhe atingir. – Ela vai matar eles Félix. E ninguém vai fazer nada. Ninguém vai poder fazer nada.

— E depois que tiver cumprido a sua vingança, ninguém vai impedi-la de destruir o mundo. – o garoto completou seguindo a linha de raciocínio da mesma. Toda uma geração, famílias, cidades, países inteiros iriam pagar pelos erros que eles haviam cometido. Pelos erros que eles não haviam conseguido reparar no passado e nem no presente. Um peso enorme começou a pesar na consciência do irmão mais velho. –Isso é tudo culpa minha Bridgette.

— O que? – a mestiça perguntou confusa. Félix, o Félix que ela tanto conhecia, assumindo a culpa de alguma coisa assim tão facilmente? – Eu não ouvi direito, o que você disse?

— Sim Bridgette, a culpa é minha. – repetiu mais uma vez olhando na sua direção com os olhos azuis congelantes que somente ele possuía. – Tudo isso começou quando te beijei para quebrar a maldição que o miraculous do Chat Noir possuía. Foi a partir daquele dia que eu perdi. Eu perdi a pessoa que estava do meu lado, a minha parceira e o meu apoio. Mas além de tudo eu estava perdendo uma amiga, uma amiga que aos poucos eu afastava de mim porque não a compreendia, porque eu amava uma máscara e não quem estava atrás dela... Hoje eu vejo que perdi as duas pessoas mais importantes da minha vida. Meu irmão e a garota que eu amava, mas que eu nunca reparei que ela estava bem ali do meu lado. – sua voz fraquejou por um momento, e isso foi o suficiente para fazer a morena de olhos azuis se aproximar mais um pouco de onde o mesmo estava.

— Eu não vejo dessa maneira Félix. – Bridgette discordou tentando esboçar um sorriso para o garoto de seus sonhos, mas falhou ao seus olhares se encontrarem no minuto seguinte. – Tudo acontece por um motivo. Em nenhum momento eu disse que não te amava mais e muito menos te culpei por tudo isso. Nós vamos dar um jeito de escapar daqui e evitar o apocalipse de acontecer. – após hesitar por um segundo, a garota colocou uma de suas mãos sobre os dedos do rapaz. – Juntos.

— Bridgette olhe em volta. Não temos como vencer Style Queen. – o loiro respondeu balançando a cabeça para a cela ao redor de ambos. – Sair daqui já é quase impossível. E você nem tem o miraculous da Ladybug para fazer alguma...

— Não estou falando dos miraculous. – a ex-heroína o cortou após revirar os olhos brevemente. – Estou falando de caráter. De esperança. De usarmos as nossas habilidades juntos para encontrarmos uma maneira de sair daqui.

— E como vamos fazer isso? – Félix indagou quando o anel em seu dedo deu o primeiro aviso que sua transformação acabaria. A mesma deu um sorriso fraco ao olhar novamente para o garoto.

— Eu não faço a mínima ideia. – respondeu dando de ombros.

***

— Quanto tempo? – Adrien gritou para alguém do resto de sua equipe.

— Cinco minutos! – Kattie gritou checando o comunicador em um de seus leques.

Todos os heróis estavam reunidos novamente em busca dos últimos dois remanescentes: a Dupain-Cheng e o Agreste mais velho da família. A equipe seguia por um longo corredor há mais de dez minutos e ninguém mais sabia o que fazer. Os comunicadores estavam sem sinal e Ladybug acabara de concluir que tinha que encontrar mais algum jeito de encontrar Style Queen. O tempo estava passando e se não corressem o mundo logo estaria num caos completo. Parando quase no final de um corredor, a joaninha se sentiu ofegante. Não conseguia raciocinar alguma estratégia lógica e por um momento sentiu sua cabeça girar.

— Isso não vai adiantar. – concluiu esfregando as têmporas com as mãos e olhando firmemente para o chão. – Estamos perdidos e sem tempo. Por favor, alguém me diga que temos um plano B.

— Isso parece um labirinto. – Tortoise disse olhando para trás onde outros vários corredores se mostravam imponentes. Balançou a cabeça quando sua mente clareou subitamente. Olhando para Abelle, continuou: - E se alguém pudesse dar uma olhada de cima da situação?

— Como assim Louis? – a loira indagou sem entender. Atrás do moreno, Volpina entendeu a ideia que o companheiro havia pensado.

— Ele quis dizer que para sabermos onde estamos e para onde devemos ir é preciso olhar do alto, ou seja, precisamos usar as asas para voar um pouquinho. – a raposa explicou com um sorriso torto no rosto.

— Mas, por favor, vamos ser mais rápidos. – Kattie pediu gesticulando com as mãos para a filha do prefeito. – Gente o mundo tá acabando lá fora, é quase um apocalipse! Precisa de mais motivação que essa?

Revirando os olhos, Chloe conjurou o seu poder especial o mais baixo que conseguiu:

— Magic Wing’s!

Antes que a ruiva da equipe acabasse criando uma discussão com sua preocupação, a abelha voou até o final da parede vertical do corredor e então conseguiu encontrar o caminho que precisavam seguir. Ao longe conseguira reconhecer o piso escuro de granito polido onde se encontrara com sua mãe pela última vez. Stella já não existia mais. Ela fora consumida por Style Queen e pela vingança que sua carne tanto queria contra André Bourgeios e o resto do mundo. Talvez a única coisa humana que ainda existia na vilã eram os olhos idênticos aos seus, azuis como o céu limpo de Paris.

Paris. O primeiro lugar que logo seria o palco do fim da história da humanidade se não ajudasse seus amigos a saírem dali.

— Me sigam, logo ali na frente vamos encontrar o pátio onde eles estão! – gritou começando a se mover na direção dos outros corredores que saíam daquela confusão em que estavam perdidos.

— Desistir nunca. – Adrien começou segurando a mão de sua namorada e olhando para os outros á espera de uma resposta.

— Render-se jamais. – a equipe disse em uníssono, tratando de correr atrás de Chloe antes que a perdessem de vista.

***

Style Queen estava do lado de fora de seu esconderijo, onde uma varanda recém-criada pela vilã se formara e permitia que a mesma observasse as sete estrelas no céu se alinharem em poucos metros de distância de onde estava parada. Era chegada a hora de finalmente sair dali e se vingar do mundo. Se vingar da pessoa que lhe aprisionara naquele lugar pelo resto de sua vida. Mal podia contar os minutos que restavam para cumprir um juramento de vingança proferido há mais de quinze anos atrás. Apertou com mais força o bastão em suas mãos e estreitou os olhos sem a máscara para admirar por uma última vez a paisagem que deixaria para trás em sua liberdade.

— Finalmente eu irei me vingar de você August. – murmurou em voz alta admirando os pilares que fizera para sustentar a varanda de sua fuga. – E então eu mostrarei a André e o mundo o poder que uma mulher traída pode conseguir, com ou sem magia.

Um tilintar acima de sua cabeça fez Style Queen voltar a olhar na direção do céu.

Era chegada a hora.

A vilã segura seu bastão com determinação e o ergue para o alto exatamente no momento em que a constelação no céu faz com que todas as estrelas emitam um brilho ao mesmo tempo. Uma a uma, as sete estrelas se interligam, tornando o seu brilho individual em um conjunto luminoso que poderia ser visto há milhões de quilômetros, inclusive na Terra. Logo, um raio esbranquiçado e completamente feito de energia foi lançado na direção do bastão da Rainha do Estilo. Imediatamente a mesma sentiu o poder invadir as suas veias e toda a energia que se acumulava em seu cetro lhe passava a sensação de poderosa. Indestrutível.

Uma espiral formada por fragmentos de cristais dourados saíram do cetro da inimiga, formando um círculo por onde uma escada era criada e abria um portal para o primeiro destino de Style Queen: Paris.

Atravessando o mesmo de cabeça erguida, a mulher fez questão de surgir no meio da Torre Eiffel com um estrondo assustador. Uma tempestade começava a cobrir todo o céu da cidade e raios e trovões anunciavam a chegada da vilã. Mas não queria apenas assustar pessoas inúteis ou chamar a atenção dos que passavam nas ruas da Champs Élyssés e causar alguns acidentes.

Não. Ela queria mais.

Dando duas batidas no chão metálico da grande estrutura e ponto turístico do mundo e fazendo um movimento com as mãos, a arqui-inimiga criou o que mais conseguia fazer de ruim: monstros.

Dois seres do tamanho de um prédio de treze andares se ergueram do chão.

Ambos tinham a mesma aparência: eram negros em tons escuros de roxo; olhos que pareciam com vidros amarelados e com ambas as pupilas em vertical e o principal, ambos se assemelhavam com animais. O primeiro se parecia com um morcego gigante, mas seus gritos eram capazes de destruir tudo o que estava a sua frente sendo totalmente contra as leis da física e da gravidade. Já o segundo se parecia mais com uma réplica gigantesca de um dos ursinhos carinhosos misturado com um daqueles alienígenas caolhos que lançam raios pelos olhos, ou melhor, pelo único olho no meio de seu rosto fofinho e ao mesmo tempo aterrorizante.  

— Povo de Paris e do mundo! – Style Queen anunciou quando teve certeza que chamara a atenção de todos e já haviam câmeras da televisão voltadas para si. – Eu sou Style Queen, a Rainha do Estilo. Eu venho em paz, apenas para fazer um acerto de contas com duas pessoas. – a mulher fez uma pausa dramática quando os jornalistas soltaram um suspiro de alívio. Abrindo um sorriso maldoso a mesma continuou: - Contudo, exijo que vocês me idolatrem como a sua líder e nova governante mundial a partir de agora, fazendo com que seu atual prefeito e presidente desta nação renunciem suas posições.

— Ou o que? – um jornalista aleatório gritou do meio da multidão que se acumulara na base da Torre Eiffel.

A vilã alargou o seu sorriso e agarrou o bastão com sua outra mão.

— Ou o caos começa neste exato momento.

E então um raio disparado por um dos monstros da mulher fez com que todas as comunicações televisivas fossem interrompidas.