— Não! – ouviu uma voz conhecida berrar atrás de si. Congelou.

Sabia de quem era aquela voz. Abriu os olhos rapidamente sentindo seu coração se partir em milhões de pedaços quando viu Chat Noir correndo e se jogando á sua frente no momento em que o tiro de Style Queen iria lhe acertar. E então ele simplesmente desapareceu diante de seus olhos, deixando uma única prova de sua existência diante de seus olhos: o anel prata de seu miraculous. Marinette estava paralisada. Sentiu seus joelhos bambearem e caiu no chão, ajoelhada, totalmente destruída pelas lágrimas quentes que desciam por seu rosto.

As gargalhadas de Style Queen preencheram o vazio que se formara entre todos os presentes dali, tornando o espetáculo que assistia ainda pior do que estava.

— E então? Quem será o próximo? – indagou se virando aos outros com um sorriso maldoso.

Todos estavam chocados demais para sequer fazer alguma coisa e alargando o sorriso ainda mais em seu rosto A Rainha do Estilo bateu com força sua arma no chão. Lentamente, algo que somente Chole já tinha visto começou a envolver a farsa da vilã: areia dourada. A heroína de listras juntou o pouco de forças que tinha e formou um pequeno círculo amarelo envolta de seu punho fechado, pronta para pronunciar um feitiço que poderia atacá-la. Mas já era tarde demais: a vilã já havia sido consumida diante de seus olhos, deixando apenas poucos grãos de areia no chão onde esteve.

A única coisa que cortava o silêncio que se formara eram os soluços sufocados de Marinette do outro lado da rua em que estavam.

— Maldita... Maldita... – era a única coisa que a morena murmurava para si quando sentiu os braços de Bridgette e Kattie lhe envolverem com força.

Não ligou para os gritos de Louis, nem para o choro de suas amigas tentando consolá-la ou para mais uma pedra do oráculo conquistada: não ligava para mais nada ao seu redor. A única coisa que continuava a prestar atenção era para o resto de esperança que continha dentro da palma de sua mão: o anel do Chat Noir. Aquela era a prova que precisava para querer destruir Style Queen de uma vez por todas.

O ódio preencheu a sua dor.

— Eu vou encontrar você Style Queen! – urrou com toda a raiva que continha em seu ser.

Chole acordou com o grito de Marinette ecoando em sua mente. Era inútil tentar dormir: a lembrança da dor da garota martelava sua consciência, mesmo que nada daquilo fosse culpa sua. Sentiu-se horrível e imaginou se a atormentava desse jeito quando não sabia que ela era a Ladybug. Esfregou as mãos no rosto e voltou seu olhar para a varanda de seu quarto. A noite lá fora estava escura e fria, mas de certo modo lhe acalmava um pouco. Várias perguntas se acumulavam dentro de si e a loira não tinha sequer uma resposta para elas. Onde está Adrien? Como sua família reagiu ao suposto “desaparecimento” do Agreste mais novo? Ou pior: o que havia acontecido com ele? Teria só desaparecido mesmo?

Engoliu em seco e afastou a ideia de que Style Queen pudesse ter matado Adrien. Não, aquilo era impossível.

Ele era importante demais para que ela simplesmente o matasse, não era? Não era de fato uma pessoa valiosa para Marinette?

— Quando é que tudo isso vai acabar? – a garota murmurou cruzando os braços sob os joelhos. Estava cansada em todos os sentidos. – Quando é que vou voltar a ter uma vida normal de novo?

— Sem querer parecer pessimista demais, acho que a sua resposta vai ser nunca daqui pra frente. – uma voz disse saindo das sombras da varanda. Já havia se acostumado com ela é claro, mas sempre se surpreendera como a mesma aparecia e desaparecia de seu campo de visão. – Você nunca mais vai ter uma vida considerada normal abelhinha.

 Abelhinha. 

— Literalmente eu diria. – Chole acrescenta olhando fixamente para os pés debaixo do cobertor. Uma risada fez seu corpo inteiro se arrepiar.

Uma fraca luz amarelada emanou de seu pescoço e a garota segurou o pingente de cristal, ainda um pouco distraída com seus pés. Não sabia se podia confiar e contar com as palavras de Alex sobre como estava se sentindo em tudo a sua volta. Afinal, ele tinha mais contato com A Rainha do Estilo do que ela e nunca realmente provou que estava do seu lado. Ou pior... Do lado dela. Bombz nunca realmente disse alguma coisa de sua vida para ela. E também nunca disse que confiava nela.

— E então, pronta para mais uma aula de ataque e defesa com cristal? – o garoto perguntou sentando-se na beirada de sua cama e lhe encarando com sorriso torto. Parecia estar feliz em vê-la novamente. Parecia.

— Porque você faz isso? – a garota responde com outra pergunta, sem encará-lo nos olhos. Sentiu o sorriso em seu rosto desaparecer.

— Isso o que Chole? – o loiro indaga cravando os olhos nela.

Voltando o seu olhar para o mesmo, a loira pôde enxergar alguma coisa por trás do olhar indiferente de Alex. Algo como uma chama de medo coberta com uma máscara de frieza. Uma máscara que escondia muito bem os seus sentimentos dela, a herdeira do cristal. Continuou diminuindo o tom de sua voz:

— Esconde a verdade de mim. – disse o deixando com a cara ainda mais fechada. – Sempre que algo está para acontecer você não diz nada, nunca mostra de que lado dessa luta você está e também nunca me responde nada do que eu te pergunto sobre você mesmo. – a garota fez uma pausa e continuou a observá-lo imóvel. - Se realmente somos parceiros e se realmente ter um pouco do poder da Rainha do Estilo é aquilo que nos une, então porque você não me fala toda a verdade? – acrescentou arqueando uma sobrancelha.

Os longos minutos que Alex permanecera em silêncio pareceram uma eternidade para a filha do prefeito. Podia notar em seus olhos a batalha que travava em silêncio enquanto decidia se dizia alguma coisa ou não. Mas aquilo não era o suficiente. Nem para Chole e nem para ele mesmo. Passando a mão em sua nuca e bufando o garoto enfim lhe respondeu:

— Vem comigo. – pediu, ou melhor, mandou que a loira lhe seguisse indo até o lado de fora do quarto do hotel. A mesma obedeceu, ansiosa demais por uma resposta.

Crystal Illuminatos!

E exatamente como o local em que iam treinar seus poderes era um lugar totalmente diferente do que conheciam em Paris, assim também era o local onde aquele loiro tão misterioso a levara naquele momento. Era simples, porém logo de cara a mesma entendeu o motivo de estarem ali: era o lugar que tanto o Zuberg quanto Bombz se escondiam de tudo e de todos. Se tratava de uma barraca improvisada próxima de uma das colinas da cidade, bem afastada de qualquer tipo de civilização que Chole costumava possuir perto de si. Mas o melhor de tudo foi quando a garota olhou para cima: o céu estava limpo e quase podia ver todas as estrelas que a luminosidade do hotel Le Grand Paris lhe escondia.

Entretanto, logo voltou a sua atenção e seus ouvidos atrás de uma resposta para as suas perguntas se sentando próxima de onde ele estava.

— Sua amiga está arrasada com o sumiço do loiro aguado. – comentou encarando o céu sob sua cabeça.

— E como você ficou sabendo disso? Foi a sua amiguinha Style Queen que te contou? – a loira retrucou, fingindo não ouvir o apelido idiota de Adrien e avançando com outras perguntas acusadoras. – Ou então, quem sabe, ela não pediu para você ter feito alguma coisa pelas minhas costas?

— Eu não sou um monstro Bourgeios. Eu ainda tenho um coração. – o loiro retrucou lançando um olhar magoado para a mesma. Com um suspiro amargo prosseguiu: - E ela não é minha amiga coisa nenhuma. Style Queen não é amiga de ninguém Chole, não se iluda com essa história. Ela não está nem ai se você está entre a vida ou a morte, se gosta ou não gosta dela. Só quer usar as outras pessoas para o seu objetivo.

— Se ela só te usa então porque ainda está do lado dela? – a garota indagou desconfiada com tal explicação. – O que você fez para que você fosse um escolhido do cristal como eu?

— Isso é uma longa história. – Alex resmungou virando o rosto.

— Você não tem escolha. – Chole rebateu apoiando o rosto entre ambas as mãos e prestando atenção no rapaz a sua frente. – E eu tenho bastante tempo para uma história de dia das bruxas. 

Pequenas gargalhadas cortaram o clima tenso que ameaçava se preencher entre ambos. O loiro respirou fundo e voltou a encarar as estrelas do céu na tentativa de tornar as lembranças menos dolorosas do que já eram. Agora que estavam sendo prestes a serem divididas com outra pessoa, além de si próprio, suas feridas começavam a sangrar novamente.

— Tudo começou quando eu conheci Jacqueline. – ele começou deixando sua mente voltar no passado. - Ela foi a primeira garota que eu me apaixonei de verdade e que namorei a sério. Na época eu a achava a menina mais bonita de todas das redondezas que eu morava. Era gentil, linda, inteligente e maravilhosa em todos os sentidos. – o sorriso em sua face começou a diminuir rapidamente e logo já tinha desaparecido. – Mas além de tudo isso também era a rainha das mentiras. E foi por uma mentira mal contada que eu descobri que ela havia me traído com outro cara. Pouco tempo depois nós havíamos terminado.

Alex soltou um suspiro irritado e voltou o seu olhar para a cidade do outro lado da colina. Era como se pudesse vê-la bem ali diante dele novamente. Com aquele sorrisinho irônico e cara de coitadinha. A chama que antes era de medo se transformou em pura raiva em seus olhos, fazendo com que nem percebesse a mão da garota em seu ombro.

— Jacqueline não aceitava o fim do nosso relacionamento. – continuou entre dentes. – E foi por isso que ela causou um acidente de carro entre o motorista dela e os meus pais.

— Meu Deus... – Chole balbuciou, sem conseguir evitar o espanto. Mas o loiro não deu muita importância e prosseguiu sua história.

— Aquela psicopata quase matou os meus pais, deixou eles num estado entre a vida e a morte. Eu não sabia mais o que fazer. – Alex revelou deixando a voz falhar por um momento, mas recuperando-a logo em seguida. – Foi então que Style Queen apareceu. Ela disse que tinha o poder de salvar a vida dos dois e que ainda me daria o poder de me vingar daqueles que me aborreciam com uma amostra do poder dela. – apontou para o pingente exatamente igual ao de Chole em suas mãos.

— E em troca você deveria fazer tudo aquilo que ela quisesse e te ordenasse. – a mesma completou encarando os olhos castanhos do garoto. Ele assentiu encarando as mãos.

— Jamais iria imaginar que fosse capaz de dominar um poder tão grandioso como o dela, mas com o tempo me aperfeiçoei mais do que pensei. – comentou orgulhoso. – Logo você também você também vai conseguir. Só precisa de um impulso, de um motivo para ativar a magia do cristal dentro de você. Tenho certeza que você ainda vai me surpreender abelhinha.

As duas loirices se encararam por alguns minutos enquanto a filha do prefeito permitia-se deixar um sorriso pequeno aparecer. Ele poderia ser o que quiser: frio, carrancudo, misterioso e mestre em esconder seus sentimentos de si, mas ele acreditava com sinceridade nela. Naquele momento Chole pôde ver com clareza que além de tudo aquilo existia um rapaz forte, corajoso e... Solitário assim como ela era em relação a quase todas as coisas. Ele ainda possuía um coração, mesmo que rachado pela dor e pela raiva. E ela estava determinada em mudar aquilo.

Cortando o espaço que tinha entre ambos com um abraço, a abelha conseguiu deixa-lo sem reação. Nunca ninguém tinha o abraçado daquele jeito. Ou melhor, ninguém tinha lhe abraçado por livre e espontânea vontade.

— Obrigada Alex. – agradeceu quase num sussurro, segurando uma risada quando sentiu o mesmo estremecer com tamanho contato. – Eu acredito em você, não importa o que os outros digam. Eu sei o que você é por dentro e estou disposta a ser sua amiga. Você aceita a minha amizade?

Alex se separou da garota, ainda mais incrédulo. Seu coração batia com rapidez dentro de seu peito enquanto a mão estendida da loira aguardava uma resposta diante de seus olhos. Teve vontade de gritar um milhão de coisas, mas as palavras não chegavam a sua garganta.

— Você quer ser minha amiga mesmo depois de tudo o que eu fiz com você, com a sua equipe? – indagou forçando as palavras a saírem. – Mesmo depois de tudo o que eu sou?

— Eu aprendi que uma amizade pode vir de onde nós menos esperamos. – Chole respondeu com um sorriso. – Vai responder a minha pergunta ou não?

Quando lágrimas começaram a ameaçar cair de seus olhos o loiro rapidamente se colocou de pé e ajudou a sua parceira a levantar também. Já era tarde e o mesmo percebeu o cansaço nos olhos azuis de sua abelhinha. Formou novamente o círculo abaixo de ambos e rapidamente as colinas deram lugar para o quarto de Chole, onde tudo continuava do mesmo jeito que haviam deixado. Alex fez sua máscara aparecer novamente sobre seus olhos castanhos e fez um círculo maior flutuar no ar.

Mas antes de partir fez uma breve reverência dramática para a garota e respondeu para que somente ela pudesse ouvir.

— Será uma honra minha abelhinha. – disse com um sorriso torto na boca.

— Eu não sou sua Bombz. – a mesma rebateu com uma careta provocadora. Foi a vez do outro dar um sorriso malicioso.

— Ainda não. – retrucou com um aceno de cabeça.

 Logo havia desaparecido na escuridão da noite. 

***

 Corria, mas não tinha onde se esconder. Gritava por socorro, mas nenhum de seus amigos estava ali para ajudá-la. Estava sozinha e Style Queen estava logo atrás de si.

— Não pode se esconder de mim Chole. – a mesma dizia, fazendo com que sua voz ecoasse pelo chão polido de granizo negro. – É o seu destino.

O cenário agora era diferente de seus primeiros sonhos com a inimiga: parecia a sala principal da Catedral de NotreDame, cheia de pilares e colunas que sustentavam o teto e a garota se aproveitou desse recurso e se escondeu atrás de um. Seu coração batia freneticamente em seu peito e a mesma agarrou o pingente de cristal em seu pescoço com força. Porque ela estava ali de novo? Style Queen acabaria com ela e ninguém poderia fazer exatamente nada! O barulho do salto da inimiga batendo no chão ia aumentando. Ela estava chegando perto. Perto demais.

— O que você quer de mim Style Queen? – indagou procurando outro lugar para se esconder da mesma. – Porque me trouxe aqui?

Avistou uma nova coluna a poucos metros de distância de si. Correndo o máximo que pôde, Chole estava quase tocando em seu novo esconderijo quando foi cercada pelo poder da vilã. O mesmo truque do muro de pontos cintilantes que já havia usado com a mesma e que fora o suficiente para derrubá-la uma segunda vez. Ainda segurava o pingente em suas mãos quando encarou a Rainha do Estilo com raiva. Se ela queria luta era o que iria ter.

— Eu não quero lutar com você Chole. – a mesma afirmou novamente como se lesse o pensamento da garota. – Quero apenas que me escute.

— Escutar o que de você Style Queen? Discórdia? Intriga? Mais uma mentira? – a mesma rebateu recuando lentamente para trás. – Eu admiro a sua audácia, mas rejeito a sua conversa.

A vilã dourada deu uma gargalhada cínica e deu alguns passos ao redor da garota. Aquele era o momento que a mesma sempre sonhara em ter.

— Vejo que você não é como o seu pai, o prefeito Bourgeios. – comentou vendo o ponto de interrogação surgir no rosto da loira. – Ah sim, é claro... Desde que você se tornou Abelle e prometeu mudar está escrevendo o seu próprio destino. Espero que não volte atrás em sua promessa e se torne corrupta como ele está sendo agora.

— Você não sabe nada do meu pai! – Chole exclamou fuzilando a inimiga com seu olhar.

— Pelo contrário minha querida abelhinha. – Style Queen negou tocando seu bastão com a mão livre. Por trás de sua máscara de olhos cobertos pôde se notar o sorriso triste que se formara quando continuou a falar: - Eu sei tudo sobre André Bourgeios. Eu sei exatamente como ele gosta do dinheiro, como é ambicioso, como sempre lhe deu tudo o que você queria só para te fazer pensar que podia ter o mundo inteiro em suas mãos. Sei que ele não lhe dá tempo e nem atenção suficiente. Que sempre está ocupado com o cargo de prefeito e que nem sequer liga para o que acontece com você. – voltou a encarar a garota que a olhava duvidosa e com medo de onde aquela conversa iria chegar. – Eu sei que o primeiro amigo que você teve de verdade naquele hotel onde mora foi o seu mordomo James. Ele era o único que realmente se importava e conhecia você do jeito que você é.

— D-Do que você está falando? – a loira perguntou com a voz trêmula.

Um pequeno silêncio se formou entre ambas. Como se estivesse mesmo decidida do que faria a seguir, Style Queen levou uma das mãos até a máscara que utilizava e a retirou devagar. Longos cabelos loiros saltaram de sua cabeça revelando uma mulher de aproximadamente uns quarenta anos de idade, muito bem conservada pelo tempo. Tinha lindos e vivos olhos azuis que foram reconhecidos pela garota a sua frente. Chole estava paralisada. Não... Não podia ser...

— Eu sou a sua mãe Chole. – disse por fim.

— Não! – a garota berrara abrindo os olhos assustada com o barulho do despertador.

Não podia acreditar. Só podia ser mais uma mentira para causar confusões entre ela e seus amigos. Depois da última conversa que tivera com Alex. Não conseguia digerir o que acabara de ouvir de Style Queen. Não podia acreditar que ela... Que ela realmente fosse o que dissera. Seu coração galopava de desespero e fez com que seus olhos começassem a marejar.

— Não... não pode ser... – repetia incessantemente para si mesma abraçando os joelhos em sua cama. Lágrimas escorriam de seus olhos com a suposta verdade que fora dita. – Não ela só pode estar mentindo... Minha mãe se separou de meu pai há anos, não pode simplesmente ter se tornado... Tornado...

Respirou fundo três vezes seguidas e levantou a cabeça. Lily ainda estava dormindo rodeada de chocolates e fez Chole dar uma risadinha. Ela fora um dos principais motivos de sua mudança de comportamento. Olhou em volta e viu tudo o que tinha em seu quarto: todos os mimos, todas as coisas que seu pai lhe dera para dizer que estava perto de si. Era realmente verdade? Ele não se importava mais com ela? Só dizia estar perto quando nunca estava realmente? Todas as vezes que ela precisara de alguém ali para ajudá-la, para conversar e até mesmo repreendê-la por coisas ruins que fizera a algumas pessoas... Não havia ninguém. Sentia falta de seu pai. Sentia a falta de ter realmente uma família como todos a sua volta tinham. Sentia falta de uma mãe ao seu lado.

Passou a mão nos cabelos, a procura de uma resposta para aquilo, mas não adiantava: nem o seu cérebro estava funcionando direito. Já era a segunda vez que acordava na madrugada só naquele dia e quando viu as horas notou que não adiantava mais tentar descansar. O relógio já batia às sete horas da manhã e mesmo que quisesse não tinha mais como pegar no sono. Iria tirar aquela história a limpo naquele mesmo instante quando James bateu a porta com outras empregadas do hotel de seu pai.

— Bom dia senhorita Chole. – cumprimentou entrando com a cara indiferente de sempre, mas levemente preocupado com o estado que a garota se encontrava. – Deseja alguma coisa?

— Sim James. – a mesma disse se levantando rapidamente da cama e indo para o banheiro. – Diga para todos que perguntarem de mim que vou sair e só volto mais tarde.

— E aonde a senhorita vai? – o mordomo perguntou quando saiu do banheiro, já vestida como de costume. Dessa vez deixara o cabelo solto.  

— Vou ver um velho amigo. – respondeu com um pequeno sorriso.

***

O prédio de ioga de Niakamo-Fu estava lotado naquele dia, mas se esvaziou tão rápido como encheu assim que a filha do prefeito adentrou o local. O velho chinês fez questão de atender ao pedido da heroína e remarcou todas as consultas com seus clientes para outro dia. Logo, os dois estavam sentados de frente um para o outro com uma xícara de chá quente nas mãos observando o kwami de Louis e a kwami da garota sumirem dentro da sala do homem.

— A que devo a sua atenção senhorita Abelle? – Mestre Fu perguntou enquanto bebia um pouco do conteúdo de sua xícara. A mesma abaixou os olhos sobre tal questionamento. – Se refere ao último ataque da farsa de Style Queen e ao sumiço de Chat Noir?

— Também. – a garota concordou tomando seu chá, hesitante. – Mas não é só sobre isso mestre. Preciso de uma resposta que só o senhor pode me dar.

Como se já soubesse o que seria indagado pela mesma o chinês se levantou e voltou o seu olhar para a janela, prestando atenção no que acontecia no centro da cidade. Com aceno com a mão, pediu que continuasse. A mesma respirou fundo, olhando na direção de onde ele estava parado. O silêncio reinou entre ambos.

— Mestre Fu... – Chole chamou com medo da pergunta que faria a seguir. Engoliu em seco. – S... Style Queen é a minha mãe?

— Ora, quem disse isto para a jovem Bourgeios? – o chinês indagou ainda de costas para a garota. A mesma abaixou a cabeça. – Deixe-me adivinhar... Foi a própria Style Queen.

— Há algum tempo venho tendo sonhos estranhos com ela. – contou mexendo os dedos nervosamente. – Mestre, eu preciso saber da verdade.

O silêncio tomou conta da sala de ioga mais uma vez. Chole pôde ouvir um suspiro sair do velho chinês a sua frente e levantou a cabeça rapidamente.

Ela queria saber.

Ela precisava saber.

— Sua mãe ela é. – revelou fazendo a loira arregalar os olhos com a surpresa. – Não havia previsto isso acontecer... Imprevisível e lamentável se tornou esse acontecimento.

— Lamentável que eu saiba a verdade? – indagou ainda incrédula com que ouvira. O mesmo se virou para ela com a expressão séria.

— É lamentável que você precise lutar contra ela... Sem ainda estar totalmente preparada. – Mestre Fu respondeu fazendo o silêncio voltar ao local. – Isso é lamentável.

Então era mesmo verdade.

O que antes era um assunto difícil, agora havia se tornado impossível. Sentia como se tudo tivesse fugido de seu controle.

Pior: como se tudo de repente fizesse todo o sentido