Marinette sentiu o mundo ao seu redor cair sob o olhar sério e ao mesmo tempo calmo de sua prima. Desde... Desde quando ela sabia do seu segredo? Como ela descobrira? Fizera tanto esforço para que ninguém nunca descobrisse o seu segredo e agora a pessoa que menos esperava sabia a verdade sobre si. Então tudo o que aconteceu em Londres era mesmo verdade? Ela estava mesmo em uma missão atrás de Style Queen? Ou melhor... de seu cetro? Como ele havia parado em suas mãos? Sua mente exigia respostas e ela não sabia de onde elas iriam aparecer.

Mas antes que qualquer coisa pudesse ser explicada Tikki voou em disparada para cima de Bridgette e a fazendo sorrir com felicidade. Pareciam que... já se conheciam?

— O-o que... C-como assim? – gaguejou ainda tentando assimilar com o que acabara de ouvir. – Vo-você... Você a conhece Tikki?

— É claro que ela me conhece Marinette. – a garota respondeu dando um pequeno beijo no topo da cabeça da kwami vermelha. – Somos velhas companheiras.

— Velhas o que? – a mestiça perguntou atônita. Sua cabeça estava girando com tantas informações ao ponto da garota se levantar e abrir a pequena janela de seu quarto. Precisava respirar se não quisesse desmaiar ali mesmo. – Isso... I-isso... Quer dizer que... Que...

— Sim Mari. – Tikki afirmou voando até bem próxima da garota com um sorriso fofo. – Ela também pertence a linhagem da Ladybug. E talvez seja coincidência, mas ela foi a última Ladybug antes de Mestre Fu te escolher aqui em Paris.

— Eu sei que pode ser muita informação para a sua cabeça prima. – Bridgette disse se aproximando da morena e lhe tocando o ombro levemente. – Mas eu preciso da sua ajuda. Sei que você e aquele seu grupo de amigos são os heróis dessa cidade, que estão atrás da mesma coisa que eu e que juntos podemos fazer mais coisas...

— Porque nunca me disse nada? – Marinette indagou lhe interrompendo abruptamente. – Achei que você confiasse em mim.

— Mari eu só não disse nada antes porque estava esperando o momento certo. Não queria que você corresse perigo. – explicou virando a garota para si. Sua cabeça estava baixa. – Eu sempre cuidei da minha família em primeiro lugar porque jamais quis que algo acontecesse com eles, assim como você também pensava em proteger seus pais e seus amigos enquanto era Ladybug. – levantando o rosto da prima para encarar seus olhos azuis novamente. – Isso é ser uma super-heroína de verdade Marinette. Proteger as pessoas, se preocupar com o seu bem estar e com a sua segurança, se sacrificar por elas. Você é uma Ladybug que eu jamais fui e jamais vou ser. E eu acredito em você prima. Eu confio em você.

— Tirando o fato que ela derrotou Hawk Moth. – a kwami lembrou pousando no ombro da mesma. – Se não fosse pela sua coragem e pela sua união com seus amigos nós e o resto de todo o mundo ainda estaríamos nas mãos dele.

— Você sabe que não foi bem assim Tikki. – a mestiça discordou envergonhada com as palavras de ambas.

— Mas foi você Mari. – Bridgette disse dando um sorriso amigável para a mesma. – Graças a você todos nós ganhamos. E a missão de salvar o mundo de Style Queen está de novo nas suas mãos. Então, posso contar com a sua ajuda? – perguntou alargando o sorriso juntamente com Tikki.

— Pode sim Bridg. – Marinette respondeu abraçando a prima com força. – Mas antes de tudo me prometa que vai apagar aquela foto que estou usando o meu sutiã vermelho com bolinhas pretas.

As risadas preencheram novamente o ambiente entre as parentes e afastavam para longe tudo o que tentava destruir a união de ambas garotas. Mas ao desfazerem o abraço as duas sentiram um grande tremor no chão. Apreensivas, foram até a varanda acima do quarto da garota e olharam para a cidade. Todos encaravam algo acima de suas cabeças e tanto Marinette quanto Bridgette olharam para o mesmo lugar. A terceira estrela já estava posicionada em seu lugar do lado da constelação de Órion. Faltavam apenas mais outras quatro estrelas para a chegada da Rainha do Estilo e até aquele momento só haviam conseguido apenas uma pedra do oráculo.

— Nosso tempo está acabando. – a morena murmurou para a noite que já estava se aproximando de si.

Subitamente sentiu seus brincos brilharem em suas orelhas novamente. Mais um teste estava por vir e no mesmo momento que voltou a encarar a cidade viu ao longe um imenso clarão amarelo ser iluminado pelos últimos raios solares daquela tarde. Era mais um monstro que ela iria encarar e que iria derrotar mesmo que estivesse só. Mesmo que não fosse só mais um akuma.Olhou para aquela que estava do seu lado e a encarou confiante.

— Você disse que iria nos ajudar. – disse em voz alta, tentando parecer calma. – Está na hora de você mostrar como vai fazer isso.

“Tikki, transformar!”

***

A noite havia tomado conta do céu de Paris e toda a cidade começava a se iluminar lentamente. Como boa parte do dia havia sido quente, a brisa que soprava pelo centro e pelos bairros franceses completava o que muitos chamam de “dia perfeito”. Quer dizer... Quase perfeito. Se não fosse mais um teste enviado por Henyt, o guardião da coroa de Órion, e que, daquela vez, era bem diferente do que todos os heróis já haviam enfrentado. Willock, o monstro que Style Queen havia criado para enfrentar Chole e impedi-la de conquistar a pedra da coragem, conseguira derrubar Ladybug e Tortoise com força no chão, deixando-os desacordados no meio da rua. Ambos haviam tentado acerta-lo com suas armas especiais, mas o inimigo fora mais ágil e mais rápido. Continha seis longos braços com garras pontudas que agarravam e destruíam o firmamento por onde passava. No topo de sua cabeça com forma de caranguejo havia um enorme e ameaçador olho amarelo, que, se encarasse qualquer um em alguns segundos poderia mostrar-lhe os seus piores medos, como um verdadeiro castigo. E um pequeno detalhe que ninguém ali havia reparado: um pequeno cristal negro preso no peito do inimigo.  

— Volpina, precisamos de uma distração! Agora! – Chat Noir gritou segurando a parceira no colo antes que a figura daquele monstro mutante de cristal fizesse algo.

Rapidamente a raposa pegou sua flauta e criou várias imitações dos heróis para tentar ganhar algum tempo para seus companheiros. A pequena distração foi o suficiente para que Abelle e Paon atacassem o monstro com cara de frutos do mar enquanto Chat Noir corria para socorrer Ladybug em uma esquina não muito movimentada dali. Durante toda essa confusão Tortoise ainda estava tentando se levantar e voltar a luta mais uma vez.  

— Vocês são ridículos. – Willock disse em voz alta, fazendo com que ambos os heróis o vissem agarrando o garoto trajado de tartaruga com suas garras. – Sempre achei que tartarugas eram mais rápidas do que você querido.

— Deixa ele em paz! – Paon gritou correndo sobre um dos longos braços de um verdadeiro polvo gigante feito de cristal, num falho ataque surpreso. Mas ele foi mais rápido e a lançou para o alto antes que pudesse fazer mais alguma coisa, lhe apanhando com sua outra garra. – Me larga agora seu monstro nojento!

— Olhe só, um bicho insignificante tentando salvar outro ainda menos importante do que ela. – o monstro ironizou lançando o herói para longe de onde estava e encarando a ruiva se remexendo em sua “mão”. – Você que representa a coragem do seu grupo? Onde está a sua coragem agora Paon?

A garota não conseguia responder tal pergunta. As garras de Willlock se tornavam cada vez mais apertadas em sua volta e o grande olho que lhe encarava fazia sua cabeça girar de dor. Já não conseguia desviar sua atenção daqula imensidão amarela em sua frente. Ele estava rindo de sua cara. Estava lhe desafiando descaradamente. Se era aquilo que ele queria então é o que iria alcançar. Voltou toda a sua atenção para frente e o fuzilou com raiva em seu olhar. Coisa que apenas que só os O’Green possuíam.

— Paon, portadora do miraculous do pavão. – o mesmo disse fazendo sua voz ecoar por toda sua mente. – Eu realmente pensei que você não seria uma ameaça para mim desde o momento em que te vi. Imagine só, uma garota comum como você me derrotar e conquistar a pedra da coragem para aquela sua amiguinha insignificante.

— Você irá se arrepender do que está falando seu monstrengo feioso. – a ruiva respondeu, batendo com as duas mãos nas garras do caranguejo mutante e o fazendo soltá-la no mesmo instante. – Ao contrário do que você pensa, eu posso sim ser uma ameaça.

Avançando para cima, Paon usou seus leques e conseguiu cortar um dos braços de Willock com um movimento rápido e preciso. Um grito de dor foi o suficiente para a garota pular sobre sua cabeça e transferir outro golpe no cristal de seu olho. Logo em seguida a heroína foi pega por outro braço do monstro e lançada na direção de uma casa daquela rua.

— Ei, seu bicho feio! Porque não pega alguém do seu tamanho? – Ladybug gritou, lançando em seguida seu ioiô envolta de seus braços para tentar derrubá-lo no chão.

— Ora, ora, ora. Veja quem apareceu. – debochou virando-se e indo atrás da joaninha que logo tratou de ir para longe dali. – Não consegue correr de mim seu inseto idiota. – garantiu se distanciando de Kattie. 

— Você está bem Paon? – Abelle perguntou correndo para levantar a mesma da queda que havia ganhado.

— Eu acabei de ser lançada de mais de cinco metros no chão por um monstro metade caranguejo e metade polvo. – respondeu com um sorriso torto. – Estou ótima abelhinha.

— Isso é inútil. – a loira ouviu alguém dizer não muito longe de onde estava. Olhou para trás e avistou Volpina se apoiando em um muro com a ajuda de sua própria flauta. Correu ao encontro de sua companheira e a levantou. – Quanto mais o atacamos mais forte ele fica. É um teste de coragem, não de força.

— Nesse ponto eu preciso concordar com você. – a filha do prefeito disse encarando Ladybug ser jogada longe assim como ambas heroínas. – Tem que ter um jeito de passar nesse teste. Algo que ainda não pensamos.

Chole olhou atentamente para o desafio que toda a sua equipe estava enfrentando e algo chamou a sua atenção quando Willock a encarou iluminado pelas luzes da cidade. Algo que brilhava na escuridão e que lhe trouxe uma idéia. Ou talvez a resposta da charada que Style Queen havia lhes enviado.

Era um pequeno cristal negro.

— Eu tenho uma ideia. – anunciou segurando firmemente suas lanças em suas mãos. As encarou e não se surpreendeu quando elas brilharam para si. – Mas para conseguir isso vou precisar da ajuda de vocês. Todos vocês.

***

A Torre de Paris havia se tornado o cenário de mais uma batalha entre o bem e o mal. E como sempre, havia uma pessoa que precisava encarar aquilo de perto. Bridgette conseguira seguir o adversário de sua prima pelo outro lado da cidade e se esgueirado próxima onde a cena da luta final acontecia. Bem perto de onde estava escondida, Willock se aproximava para destruir o maior ponto turístico da cidade. O monstro caranguejo misturado com um tipo de estranho de polvo já estava pronto para arrancar uma de suas pernas de sustentação quando algo lhe impediu de continuar. Um ioiô vermelho com bolinhas.

— Pronto para o segundo round? – Ladybug perguntou quando o monstro se voltou para ela. Com um simples puxão o mesmo a apanhou em suas garras.

— A pergunta que você deveria fazer na verdade é: você está pronta para virar petisco? – Willock perguntou encarando a joaninha com seu único olho e abrindo sua boca para comê-la.

De repente algo cortou mais um de seus braços, lançando a heroína na direção do chão. Fora o escudo de Tortoise que voltou para o seu dono assim que a morena pousou ao seu lado. Mas antes que o monstro pudesse reagir o mesmo sentiu o bastão de Chat Noir acertar seu olho e não segurou um berro ensurdecedor de perfurar os ouvidos de todos ali presentes. Aproveitando a brecha que o gatuno havia criado, sua parceira lançou o ioiô e prendeu os outros quatro braços que sobraram do monstro. Com a ajuda de Volpina e um forte chute de Paon ambas conseguiram derrubá-lo de costas no chão.

— Rápido Abelle, isso não vai aguentar por muito tempo! – Ladybug gritou fazendo força para não se soltar das cordas de seu ioiô. Suas mãos já começavam a suar.

— Magic Wings! – a loira gritou utilizando seu poder especial e indo na direção onde estava o cristal negro: no peito do monstro. – Agora acabou Style Queen.

— Não! – Willock gritou, segundos antes da filha do prefeito apanhar a pequenina pedra de seu lugar.

O pior que Chole não queria que acontecesse aconteceu: Marinette não conseguira aguentar o inimigo e o mesmo se safar novamente de seu plano, deixando uma joaninha com as mãos machucadas para trás. Pelo menos ele achou que iria se safar. Já pronto para esmagar a heroína de listras e seus companheiros presentes, o monstro avançou para cima dos heróis. Aquele seria o fim dos defensores de Paris. Seria o começo do fim.

— Spirit of the Eagle!

Uma voz. Um círculo amarelo gigante. Willock atingido na direção de seu peito. O cristal negro havia sido partido ao meio e o grande monstro desaparecido logo em seguida. Aquilo foi o suficiente para Bridgette ficar com uma pulga atrás da orelha com a figura misteriosa que aparecera entre a equipe de sua prima. Arqueou uma sobrancelha e tirou uma foto do mais perto que pôde quando o desconhecido se virou para encarar os outros ao seu redor. Trajava um uniforme preto com vários detalhes dourados, algo bem distinto da roupa dos outros portadores dos miraculous. Em seu peito havia o desenho de uma águia e a letra “B” desenhada com capricho dentro. Mas o que mais chamou a atenção de todos foi um pingente exatamente igual ao que Chole carregava em seu pescoço.

— Antes que digam qualquer coisa, obrigado. – o loiro desconhecido disse ajudando a levantar Ladybug do chão.

— Obrigado? – Volpina indagou confusa.

— De nada. – o mesmo respondeu com um sorriso torto para a raposa. – Aquele monstro não foi nada mesmo. Já enfrentei coisas piores.

— O que te faz pensar que somos gratos por você? – Chat Noir perguntou secamente. – Afinal, quem é você?

— O meu nome é Bombz. Eu estou aqui para ajudar vocês a derrotarem Style Queen antes que ela dê as caras por aqui. – o garoto se apresentou formando mais uma vez o círculo mágico amarelo abaixo de si, como uma plataforma e levitando na frente da loira que adorava perturbar. – Aliás, o que seria da coroa de Órion se não fosse a minha ajuda para conseguir a pedra da coragem?

— Como sabe tudo isso? – Paon indagou desconfiada. – Porque só apareceu agora?

— Ah, vocês são muito questionadores. – Bombz resmungou olhando para a ruiva do grupo. – Na hora certa vocês vão descobrir o porque. Agora eu já vou indo. Tenho alguns assuntos para resolver. – disse lançando uma piscadela para Abelle e fazendo o grande círculo dourado abaixo de si desaparecer na direção oposta da cidade. – Au Revoir.

Logo após a saída daquele estranho os miraculous brilharam mais uma vez. A pedra azul da coragem tomara seu lugar na coroa sob a cabeça de Chole antes que o tempo de cada miraculous soasse no ar e cada um voltasse para sua casa com um único ponto de interrogação no rosto.

Quem realmente era Bombz?