ASNY - Coup De Foudre escrita por Sabsyoda


Capítulo 2
E termina com um Coup de Foudre...


Notas iniciais do capítulo

Espero que tenham curtido o capítulo anterior ♥



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O dia está lindo como nunca antes e é a primeira coisa que percebo ao sair do meu local de trabalho e ir relaxar no parque perto da minha casa. É um costume que tenho, sempre faço isso, pois acho legal de ver o sol iluminar as árvores, o lago cheio de patos e as crianças brincando com seus pais. Dá um tipo de conforto, como se nada de errado pudesse acontecer ali.

Sento-me no banco de frente para o lago e fecho os olhos, respirando fundo, me sentindo de certa forma mais relaxada.

— Posso me sentar aqui?

Abro os olhos e encaro o dono da voz suave. Minha primeira impressão é que o rapaz é mais novo, não deve ter mais que vinte anos, diferente de mim — tenho vinte e quatro. Outra coisa que me chama atenção são seus olhos castanhos profundos e seus lábios grossos e são neles que minha visão para.

— Claro, fique  à vontade — respondo, indo mais para a ponta do banco.

O rapaz se senta com um leve sorriso nos lábios grossos, os olhos praticamente sorrindo junto, algo lindo de se observar.

— Lindo dia, não acha? — pergunta. Observo rapidamente mais uma vez o lugar. O lago, as árvores, o sol, sinto o ar e ouço as risadas das crianças. Não me parece que algo poderia ser feio aqui. — Digo, o parque é bem bonito e tem uma áurea boa o que torna tudo ainda mais lindo — Fito novamente o garoto e vejo que ele espera por uma resposta.

— Sim, um dia magnífico... — ele concorda e seu sorriso parece aumentar. Sorrio também e me inclino um pouco em sua direção como se fosse lhe contar um segredo — Mas quer saber algo? Sua presença aqui parece deixar tudo ainda melhor.

O rapaz por alguns segundos fica com a face vermelha, os olhos um pouco arregalados, a expressão digna de surpresa. Dou risada e ele pisca algumas vezes, como se tentasse se concentrar em algo.

— Meu... — as palavras morrem e ele suspira. Penso que está nervoso, mas isso é por causa de mim? — Meu nome é Dave.

Um nome diferente, Dave. Combina perfeitamente com ele, um rapaz diferente, um nome diferente.

— Prazer em conhecê-lo, Dave — digo, fitando dentro de seus belos olhos castanhos e me perdendo neles por alguns instantes — Eu me chamo Dalila.

«»

Wendy acorda sobressaltado no banco da frente de seu Gol. Quanto tempo ela havia dormido? Parecia que todo seu corpo estava tenso até algumas horas atrás e agora ela sente aquele tipo de cansaço de dormir, como se tivesse dormido demais.

— Ah, você finalmente acordou — Wendy olhou através de sua janela aberta e viu Sammuel se aproximar do carro. O garoto ignis se apoiou no carro, os dois braços no lugar onde deveria estar a janela, apoiando o rosto neles. Provavelmente estava de joelhos para conseguir fazer isso — Por um momento fiquei preocupado, não sabia que vocês humanus dormiam tanto assim.

— Tanto tempo assim? — a voz de Wendy soou estranha até mesmo para ela — Quando tempo eu dormi?

— A viagem toda — Sammuel a fita, analisando cada detalhe do rosto da morena — Na verdade, até chegamos na casa do James. Veja, Ryan está ali conversando com ele.

Wendy olha para onde Sammuel aponta e vê um rapaz da mesma estatura que o garoto glaciem. No ponto de vista de Wendy, o garoto parecia um garoto normal de longe, talvez fosse mais velho? Não sabe dizer, ele está longe, mas algo no porte dele, na forma como usa alguns gestos para conversar animadamente com Ryan lhe faz pensar isso. Talvez só fosse coisa da sua cabeça.

— Então isso quer dizer que já chegamos em JeollaVille? — Sammuel confirma e Wendy arfa estupefata com a afirmação — Já chegamos em Torny?

— Sim e até descobrimos onde Jesse está escondido — Sammuel sorri e Wendy sente seu coração perder uma batida. É normal se sentir assim, não é? — Eu vim lhe acordar agora mesmo, mas parece que você acordou por conta própria.

— E-Espera... Eu dormi cinco horas? — Wendy fez a conta rapidamente em sua mente. De SunVille até JeollaVille dava quase cinco horas de viagem. Não é possível que ela tenha dormido tanto tempo.

— Seis horas e quarenta e quatro minutos — Sammuel ri da expressão chocada da humanus, a achando extremamente fofa — Tivemos um pouco de transito e eu confesso que acabei me perdendo, mas com ajuda daquele seu aparelho e de Joy conseguimos chegar aqui.

— Uau... — Wendy está incrédula. Até entende o motivo de Sammuel ter ficado preocupado. Ela já tinha dormido antes e ainda dormiu mais seis horas e quarenta e quatro minutos! — Bem, pelo menos deu tudo certo.

— Sim, sim — a morena sentiu a mão enorme do ignis afagar seu cabelo num gesto carinhoso — Acho que você chegou ao seu limite ontem, por isso acabou desmaiando assim que partimos para cá.

Wendy concordou. Isso até fazia um pouco de sentido, ainda mais por ter descoberto tantas coisas ontem com Joy. Se pelo menos soubesse que a plenus aere sabia tanto assim, teria pedido para que os rapazes a soltassem antes daquele pequeno potinho.

A morena começou a se recordar da noite passada, as lembranças vindo num flash. Joy havia dito que os patronus — plenus anciões e que mandavam em tudo no outro lado — estavam querendo dominar os humanus, no caso, ela e o restante do mundo, e que o que tinha acontecido com Dave e Dalila não era um acaso, fora armado. Disse também que eles estavam se reunindo para agir logo, pois não queriam esperar mais tempo, e que um tal de Kris — o líder dos patronus — não estava sabendo de nada disso. Para ele, tudo não passava de uma vingança que ele consentiu. É claro que Wendy achou essa história de vingança muito furada — se eles já não haviam feito algo com Dalila, pra que castigar os humanos também? —, mas Joy disse que era assim mesmo. Os plenus sempre acreditam na desculpa mais tola que existe e teve que concordar com Wendy quando a mesmo disse que isso era muito humano. Após isso, Joy finalmente disse onde encontrariam James e para a irritação da morena — e de Ryan, que só faltou bater em todos e depois os congelar  — o plenus aqua em momento algum estava em SunVille. Jason confundiu os lugares quando questionou Joy uma vez e eles meio que acabaram indo parar em outro lugar — mais especificamente, SunVille. E assim, os cinco partiram rumo ao local certo que era o município de Torny, na província de JeollaVille. No começo, Wendy tentou se manter atenta a conversa de Ryan, Jason e Joy — a morena descobriu que a plenus aere é bem divertida e otimista quando não está completamente nervosa e querendo matar alguém — mas parecia que alguém tinha passado por cima de si. Wendy estava completamente cansada e nem sequer se lembra em qual momento na conversa sobre Coup de Foudre acabou dormindo.

— Você deve ter razão — concordou com Sammuel e suspirou — E então, onde Jesse está?

— Hmmmm... — Sammuel mordeu o lábio inferior e Wendy se esqueceu por um instante de prestar atenção na resposta do ignis — Não muito longe daqui. James disse que Jesse se isolou em uma casinha antiga e é conhecido pelas pessoas daqui como Papa Jesse. Aparentemente, ele é meio que um curandeiro, bruxo, conjurador, vidente, um praticante de Hoodoo... Algo assim. Não sei o que exatamente isso significa, pra falar a verdade.

Ah — Wendy perde o ar — E as p-pessoas não tem medo dele?

— Medo? — Sammuel se mostra confuso por um momento, mas sua expressão logo se ilumina — Sim, James disse algo disso. Não consigo entender o porquê, Jesse sempre foi um rapaz muito doce e ligado a natureza. Não sei como alguém poderia ter medo dele.

Bem, eu sei vários motivos, Wendy pensou. Não tinha sabia muito sobre Hoodoo, mas o pouco que conhecia sabia que aquilo poderia ser usado tanto para o bem quanto para o mal, bastava à pessoa acreditar. E droga, nessa altura de sua vida a morena não sabe se existe algo mais que ela não acredite, afinal, tudo se revelou existir. Elfos, bruxos, seres místicos... Apenas com outros nomes.

— Vamos de uma vez encontrar esse tal Jesse.

«»

A casa de madeira é extremamente afastada das outras casas. Não era tão longe da casa de James e daria perfeitamente para irem de carro caso a estrada não fosse estreita demais. Por esse motivo, todos os seis — já que James se juntou ao grupo — foram para lá, andar na estrada de terra com sinistras árvores secas em volta. Quando chegaram em frente a casa de Jesse, Wendy começou a suar frio. A pequena casa de madeira parece gasta, velha e extremamente sombria para a casa de alguém que Sammuel disse ser doce e ligado a natureza.

 — Eu posso segurar sua mão? — Wendy sussurrou tão baixo que ficou um pouco chocada por Sammuel ter lhe escutado. O que foi bom de uma forma e totalmente vergonhoso de outra.

— Claro — felizmente o garoto ignis não pareceu notar a vergonha de Wendy e prontamente segurou sua mão.

James os chamou para entrar na casa — o plenus aqua é tão bonito quanto Jason e muito branco. Tão branco que Wendy até pensou em chamá-lo de Branco de Neve, mas não o fez. James não parecia ser do tipo que gostava de uma brincadeira —, alegando que Jesse estaria ali, mas que era para chamá-lo de Papa Jesse, já que o plenus magice gostava de ser chamado assim.

Assim que entraram Wendy sentiu como se não fosse para eles estarem ali. Por dentro a casa é tão sinistra quanto por fora. Escura com somente velas iluminando o local, com algumas coisas que o moreno não conseguiu — e nem queria — identificar penduradas no teto, potes transparentes no chão e uma criança extremamente branca sentada no meio da casa. Na realidade, a criança é albina. Wendy tem certeza disso quando os olhos claros da assustadora criança de cabelos cumpridos param nela. Na sala de estar — ao menos o que Wendy achava que era a sala de estar — só tinha estantes e uma mesa com duas cadeiras no canto, parecendo mofadas.

— Papa Jesse disse que vocês viriam hoje — a criança abre um sorriso diabólico e Wendy treme.

Sammuel aperta sua mão e a morena agradece mentalmente por ele ter aceitado segurá-la.

— Olá, Francisco. Como tem passado? — James conversa com a criança como se fossem velhos amigos.

— Bem. — a criança ri, um som agudo — Aprendi vários experimentos novos, mas infelizmente não tenho muitas...cobaias... Para experimentar...

Ah droga, pensou. Estamos ferrados.

Francisco, pare de falar nossos segredos para os convidados — a voz fria surgiu do além e Wendy quase desmaiou ali mesmo quando viu o dono.

Como Sammuel descrevera Jesse mesmo? Uma pessoa doce e ligada à natureza? O rapaz a sua frente parecia bem ligado à natureza mesmo, mas de um modo estranho. A roupa marrom e desgastada lhe deixava com um ar medonho, os pés descalços e o sorriso de dentes pretos também não ajudavam. No rosto, pequenos pontos pretos lhe adornavam os olhos tão escuros quanto seu cabelo curto. Pelo menos o cabelo parecia ser lavado. No pescoço estavam vários colares e Wendy tinha quase certeza que um deles era feito com ossos de algo.

— Desculpe, mestre — a criança albina se levantou rapidamente e se curvou para Jesse, correndo para algum lugar da casa rapidamente.

Crianças — Jesse disse como se aquilo explicasse tudo e bufou. Caminhou para uma das cadeiras perto da mesa velha — Se ele não fosse tão bom aprendiz, já o tinha usado em algum experimento.

— Não fale assim, Francisco tem profundo carinho por você, Jesse.

Papa Jesse e eu sei disso, James. — os olhos maléficos de Jesse brilharam — Por que acha que o peguei para ser meu aprendiz?

— Desculpa interromper a conversa... — Ryan cortou James antes que ele pudesse responder Jesse. O moreno admirou o garoto glaciem ainda mais depois daquilo, ele realmente tem coragem — Mas será que dá pra adiantarmos o assunto logo? Acho que você já sabe o porquê de estarmos aqui.

— Ryan Evans — Jesse riu e bateu suas unhas pontudas na mesa — Eu me lembro de você. Sempre esquentadinho e impaciente, não mudou nada, eu vejo — os olhos passaram para Jason — Continua encantador como sempre Jason e...Joy Hunt. Continua linda como sempre, é mesmo uma pena que não tenha aceitado ser minha companheira.

Pela primeira vez Wendy viu Jason perder sua calma. O rosto do plenus sanate se fechou numa careta assim como suas mãos se fecharam em punho e andou na direção de Jesse, mas antes que ele fizesse algo Joy lhe sussurrou no ouvido o fazendo parar.

— Ele é o meu Amo Primo Intuitu, Papa Jesse — Joy disse, totalmente séria — Você sabe disso.

— Ah sim, essa besteira de Amo Primo Intuitu e Coup de Foudre — Jesse revira os olhos — Blá-blá-blá. Se esse tipo de coisa não existisse no mundo, tudo estaria bem melhor. Além do que, eu realmente não sei como vocês se contentam apenas com beijos e ficar perto um do outro. Aqui, no mundo dos humanus existe algo chamado transa, sabiam? É bem melhor do que a forma de amar de vocês, James sabe muito bem disso.

— Vamos logo com isso, Papa Jesse — James suspirou — Por favor?

Jesse revirou os olhos, mas pareceu concordar. Pegou um copo que estava em cima da mesa e o chacoalhou. Após alguns segundos, jogou o conteúdo em cima da mesa.

— Hmmmmmmm... — a cabeça de Jesse virou para o lado, o plenus magice parecendo pensativo — Interessante.

— Nos diga logo o que temos que fazer! — Sammuel se exaltou e Wendy apertou sua mão numa forma de acalmá-lo — O que podemos fazer? Diga!

Nada.

O silêncio reiunou na pequena casa de madeira. A respiração de todos parou e Wendy observou Jesse dar de ombros, parecendo pouco se importar.

Nada...? — a voz de Sammuel soou ameaçadora — Como assim, nada? Tem que haver um jeito! Diga-me qual é!

Pra quê? — os olhos brilhantes de Jesse se fixaram em Sammuel — Não adianta fazer nada, o único que poderia fazer algo está incapacitado e você sabe de quem eu estou falando.

— Isso é mentira! — Sammuel soltou a mão de Wendy e foi até a mesa de Jesse em poucos passos — Eu posso fazer também. Apenas me diga o que é!

— Você faria...? — a risada escancarada de Jesse fez a morena congelar — Tem certeza, garoto ignis? — os olhos de Jesse pousaram em Wendy — E você, humanus, faria algo? Arcaria com as consequências? Algum de vocês faria realmente algo para reverter essa situação?

— Eu faria qualquer coisa — Sammuel respondeu mesmo sabendo que Jesse falava com todos.

Enfrentaria até mesmo a morte...? Mesmo sabendo o que isso significa?

A pergunta deixou todos tensos e Wendy sentiu seu coração pesar. Algo não está certo.

— Sim.

A resposta de Sammuel deixou a morena agoniada. O que ele queria dizer com aquilo?

Ótimo. Vejamos, então... — Jesse riu mais uma vez, pegando os dados que estavam na mesa e colocando de novo no copo, para chacoalhar e jogar de novo — Acho que agora existe uma chance.

«»

Wendy corria mais do que nunca. Mais do que seu organismo poderia aguentar, mas era o necessário. Era preciso e o único jeito. Desde quando foram ao Jesse, a morena previra que algo daria errado, a sensação pesada em seu coração anunciava isso.

O plano de duas semanas atrás fora feito e não tinha nada para dar errado. Apesar de Jesse ser um plenus magice um tanto quanto diferente, ele realmente os ajudou. Conseguiu fazer algo que Sammuel tentava faz tempo, mas não conseguia: ele encontrou Dalila.

A moça humana igual Wendy não estava nada bem. Vagava por ai, sem conseguir se lembrar de nada, nem do próprio nome. Jesse dissera que o que haviam feito com ela fora uma magia negra — Jesse sabia reconhecer tal magia, apesar de que isso não significava que ele realmente mexia com tal coisa —, magia do esquecimento. Extremamente proibida para os plenus que presavam sua memória tanto quanto prezavam seu Amo Primo Intuitu.

De acordo com Jesse, tudo o que eles precisam fazer é colocar Dalila na frente de Dave. Apesar de a magia negra ser algo forte, o amor é mais forte ainda, principalmente se for um Amo Primo intuitu.

Como todos os portais foram fechados e os plenus magice não poderiam passar para o outro lado, Jesse e Francisco — que era um plenus magice com aqua. Sua pele albina foi a combinação de duas raças — decidiram ajudar mais uma vez. Mas a última. Levariam todos até onde Dave estava com a condição de nunca, em hipótese alguma, contarem que ele os ajudou. Como todos concordaram, Dave cumpriu com o prometido.

Antes de levarem Dalila para reencontrar Dave, a morena passou um tempo com ela. Dalila é uma moça mais nova que si — Wendy possuí vinte e cinco anos — e menor. Os olhos grandes da garota a observavam constantemente, seguindo a morena de um lado para o outro. Foram todos para a casa de James e ficaram por ali até chegar o dia em que agiriam. Wendy lhe deu um banho — aproveitou para também se banhar —, emprestou suas roupas e cuidou de Dalila como se fosse sua amiga. A morena sentia que possuía uma ligação com a outra humana, já que ambas sentiam algo por um plenus. A diferença é que um era um magice e o outro um ignis.

Wendy percebeu durante essas duas semanas algumas coisas: seu coração sempre acelerava quando Sammuell sorria para si e quando conversavam parecia que tudo ao redor sumia, quando o garoto ignis tocava em si para lhe afagar o cabelo ou o braço, a morena sentia algo em seu estômago. Durante o curto tempo em que passaram juntos, Wendy descobriu várias coisas sobre Sammuel. Como o fato que ele só conheceu esse lado há dois meses plenus — no caso, dois anos mortais — e que tudo sempre parecia incrível para si nesse lado, Wendy também descobriu que a primeira interação dele com um humanus foi com uma garota extremamente bonita — quando Sammuel lhe contou isso, a morena ficou um pouco incomodada — que explicou o porquê do mar ser azul e lhe falou sobre os transportes dos humanos. Wendy descobriu que Sammuel é bem carinhoso e realmente ama seus amigos de uma forma linda, que o maior é corajoso e forte quando preciso e que faria qualquer coisa por aqueles que amava. Descobriu também ser uma dessas pessoas.

Fora o ignis que se declarou primeiro, já que a humanus não sabia como o fazer. Tinha até mesmo conversado com Jason sobre isso — ao que o sanate lhe disse que todas aquelas sensações que sentia perto de Sammuel são sensações de alguém apaixonado. Disse também que sentia o mesmo perto de Joy —, mas não conseguiu reunir coragem o suficiente para falar algo. E se o ignis não sentisse o mesmo?

Mas para sua surpresa — e felicidade — Sammuel sentia o mesmo. E ficou bastante feliz em descobrir que  a morena também estava apaixonada por ele. O primeiro beijo dos dois foi após a declaração e para Wendy, o beijo tinha gosto de suco e bolo de laranja. Foi espetacular. Parecia que o coração da humanus ia sair pela boca de tanta emoção. Foi também nessa noite que Dalila entendeu o que Jesse disse sobre o jeito dos plenus de amar.

Para a surpresa da morena, eles não faziam o ato sexual — na realidade, Sammuel nem ao menos sabia o que era isso e assim que descobriu, ficou um pouco rosado e chocado, causando risadas em Wendy—, o que acontecia era outra coisa. Apesar de ocorrer os beijos, o que eles faziam era basicamente trocar as essências. Isso não mudava em nada, biologicamente falando, neles. Apenas causava uma sensação tão boa quanto um orgasmo — palavras de James, apesar do plenus aqua ainda preferir a boa e humana transa entre casais. E para Wendy, a sensação foi indescritível. Nunca em toda sua vida tinha sentido algo desse gênero, e depois do que ocorreu, sentiu como se uma parte de Sammuel ficasse em si — apesar de saber exatamente que nada mudava nela. Para a surpresa da morena, os humanus também possuíam uma essência, era bem pouca e por isso eles não possuíam os mesmos dons e a aparência dos plenus, mas a essência era a mesma. Sammuel lhe disse que se fosse um plenus, seria um plenus lux pois sua essência irradiava a luz e se fosse para ser chamado de algo no lado humano, seria chamado de estrela. Naquele momento, logo depois das trocas de essências Wendy realmente brilhou ao ouvir aquilo, algo que uma humanus normal não poderia fazer, mas Sammuel lhe disse que ela era especial. E Wendy acreditou nisso, se permitindo ser beijada e amada mais uma vez por Sammuel.

Mas agora, tudo passa rapidamente pela mente de Wendy enquanto corre. Tudo o que eles viveram naquelas duas semanas e o que aconteceu até agora. A morena sentiu as lágrimas caírem por sua face. Ela sabia o porquê de Sammuel ter lhe pedido para correr, mas também sabia que não conseguiria. Wendy é apenas uma humana e não conseguiria fugir do que estava predestinado. Jesse, Dalila, até mesmo Sammuel em seu pedido mudo sabia o que iria acontecer. Quebrava-lhe o coração saber que agora mesmo o ignis estava lutando pelos dois. E Wendy rezava a tudo que era mais sagrado para ele não perder.

Quando o dia chegou Wendy se sentia estranhamento agoniada. Não sabia o porquê daquela sensação, mas não gostava nem um pouco dela. Não melhorou quando Sammuel começou a ficar estranho também, depois de Jesse o chamar para uma conversa. O garoto ignis não contou para Wendy o que Jesse lhe disse, pelo contrário, pela primeira vez disse que a amava em seu quarto provisório.

"Você o que?" Wendy não sabia se estava escutando direito, mas esperava que sim.

"Eu te amo, Wanessa" ele disse mais uma vez e Wendy sorriu "Mais do que qualquer coisa e eu faria tudo por você. Eu nunca deixaria que nada te acontecesse". E simples assim, a beijou.

Wendy nem conseguiu dizer que o amava, pois Ryan os chamou logo depois dizendo que precisavam ir. Sammuel não reclamou, segurou a mão de  Wendy e então foram para a sala de estar.

Viagens entre os dois lados não foi algo que Wendy gostou de fazer, mas era preciso. Quando passaram para o lado plenus, a morena se sentiu maravilhada. A natureza estava em grande evidencia ali e tudo era tão lindo! Até mesmo o ar era melhor. Mesmo tendo que fingir que era uma plenus para passar despercebido, Wendy conseguiu observar os verdadeiros plenus ali. Parecia um lugar que só podia existir em livros de tão mágico que era, a magia extremamente palpável.

Wendy entendeu o que Sammuel havia dito sobre as asas de Joy, pois viu outros plenus aere voando, completamente encantado. De alguma forma encantadora, as plenus aere lhe lembravam fadas. Outra coisa que surpreendeu Wendy foi que nesse lado não existia o preconceito das várias formas de amor que existia em seu lado, para os plenus, amor é amor, independente de raça e sexo. 

Mas a morena não teve muito tempo para se encantar com o mundo dos plenus, pois eles tinham uma missão. De acordo com Joy, Dave estava um pouco melhor e tinha ido para sua casa. Ninguém tinha notado que eles sumiram, pois o tempo passa diferente em cada lado, o que foi ótimo para eles. Chegar na casa de Dave foi mais fácil que o esperado e isso deixou Wendy esperançosa. Ela ainda se lembrava da aparência do garoto magice quando entraram em sua casa.

Dave estava pálido e olheiras enormes estavam embaixo de seus olhos, lhe dando uma aparência de cansado, os cabelos finos e frágeis. Estava bem magro também e Wendy se questionou se ele já era assim antes. Contudo, o que mais gravou na morena foi o olhar que ele deu quando viu Dalila ali.

"D-D-Dalila?" o nome saiu como uma devoção dos lábios pálidos e rachados de Dave. Seus olhos não deixaram a humanus nenhum momento, mesmo quando falou com os outros. "O que ela faz aqui? O que é isso, Sammuel?"

"Ela está aqui para te ver, Dave"

Dave piscou e perdeu a força nas pernas, quase caindo. Felizmente Joy foi mais rápida e o fez sentar em uma cadeira.

"O que você quer dizer com isso?" Dave ainda observava Dalila que o fitava curiosa "Ela não quer me ver. Ela me odeia, disse isso. Não quer me ver nunca mais... V-vocês a estão obrigando a vir aqui? Porque se estão, eu vou..!" tentou levantar da cadeira, as mãos se fechando em punhos fracos.

"Se acalma, Dave" Ryan suspirou "Nos escute antes que decida fazer algo, está bem? Prometa que vai prestar atenção" Dave ainda olhava para Dalila quando Ryan falou "Dave, prometa!"

"E-Eu prometo" seus olhos finalmente deixaram Dalila e se fixaram em Ryan.

E assim minutos se passaram com Dave ouvindo atentamente o que Sammuel, Jason, Joy e Ryan lhe contavam. Quando a explicação finalmente acabou, Dave possuía lágrimas verdes em sua face.

"Dave, precisamos saber o que você descobriu. Para que possamos dar um jeito nisso tudo" Sammuel disse e se aproximou do amigo "Jesse disse que o único que poderia arrumar isso é você, mas que você está fraco demais para fazer algo. Preciso saber para fazer isso no seu lugar"

Naquele instante Wendy já sentira a sensação de que algo estava errado. Aquele pedido de Sammuel a deixou inquieta, mas a morena não disse nada. Antes tivesse dito algo.

O que aconteceu naquele instante quase a faz parar de correr agora, mas Wendy se mantém firme em sua corrida.

Tudo ocorreu muito rápido. Primeiro, Dave queria saber o que fazer para reverter a magia negra usada em Dalila ao que James respondeu que Jesse disse que se reverteria com o amor dos dois. E como se aquela simples frase fizesse o total sentido para Dave, o plenus magice se levantou — e usou o máximo de força que tinha para isso — e andou até Dalila. A morena achou que Dalila estranharia — já que ela não era chegado muito em afetos — mas assim que Dave envolveu seu rosto com as duas mãos, Dalila só ficou lá parada, olhando Dave no fundo dos seus olhos. Todos ficaram tensos quando Dave selou os lábios nos de Dalila, mas o suspiro da humanus fez todos relaxarem. Logo após isso, a áurea na pequena sala de Dave pareceu mudar. Wendy percebeu as coisas antes que alguém lhe falasse o que estava acontecendo. Era tão óbvio.

Eles haviam descoberto e agora estavam ali para dar um fim com suas próprias mãos no que estava acontecendo e tudo isso para conquistar e dominar. Os patronus estavam ali.

Ryan se pôs de forma protetora na frente de Dave e Dalila, com James ao seu lado. Sammuel escondeu Wendy atrás de si e Joy fez o mesmo com Jason.

"Jason, vamos precisar de você caso algo aconteça com alguém! Se mantenha preparado" as ordens saiam da boca de Sammuel como se ele já tivesse dito aquilo antes "Joy, vou contar com você para proteger Jason. Ryan e James cuidem de Dave e Dalila! Dave está muito fraco agora e não aguentaria um combate, se for preciso os tire daqui rapidamente".

Antes que mais algo fosse dito, a porta  da casa de Dave foi estourada e eles entraram. Não eram nada do que Wendy esperava. Os patronus usavam a mesma roupa roxa e lilás, os rostos jovens e a morena podia jurar que nenhum deles tinha mais do que dezesseis anos — mesmo que Sammuel lhe garantisse que os plenus são imortais, aquilo era loucura. Eles pareciam crianças inofensivas.

"Tsc, tsc, tsc... Sammuel, Sammuel, Sammuel.. Sempre se metendo no que não é chamado, não é?" o mais novo deles questionou, um sorriso cruel nos lábios "Eu lhe avisei para esquecer essa história e só se concentrar em se vingar, mas não...Tinha que tentar bancar, como é mesmo o nome daquilo?" o rapaz fingiu pensar por um momento "Ah, sim. Heróis. Aqueles tolos da ficção dos humanus que sempre tentam ver o lado certo. A questão aqui, meu caro, é que você está do lado errado"

"Sabe, assim que descobrimos sobre o romance de Dave vimos uma oportunidade" outro garoto, o mais alto deles, disse "E sabe o mais engraçado?" riu, maravilhado "Foi você que nos contou isso, Sammuel. Ou por acaso não se lembra de vir até mim preocupado com o seu amiguinho apaixonado por uma ridícula humanus?"

Sammuel estremeceu e Wendy entrelaçou sua mão na dele. Ele não podia fraquejar.

"Pelo que parece, você também resolveu aderir a ideia" o mais alto voltou a falar "Será extremamente prazeroso o matar, Sammuel"

"Se você encostar um dedo nele, Mattew... Eu mesmo acabo com você" Sammuel disse entredentes. Em volta dele e de Wendy o ar começou a ficar mais quente.

"Isso é o que vamos ver, ignis" o mais alto, Mattew, sibilou. Contudo, antes que algo acontecesse, o mais novo segurou o ombro de Mattew e lhe deu um olhar sério.

"Penso que devemos dizer o porquê de querermos aniquilar os humanus. Não é só pelo poder, claro que isso é uma parte considerável, mas não é só por isso. Eles são bastardos. Asquerosos. Você vê como lutam entre si por nada?"

"E não é o que vamos fazer aqui agora, Jonatas?" Ryan questiona, afiado.

"É diferente, glaciem. Parte-me o coração ter que acabar com vocês, mas é para um propósito maior, por uma boa causa.Agora o que eles fazem é nojento. Matam sua própria espécie como se não fosse nada, matam, torturam, mentem o tempo todo. É repugnante. Sem contar que estão acabando com o lado deles a cada tempo que passa. Quanto tempo você acha que vai demorar para eles descobrirem de vez o nosso lado e virem para cá? Esses humanus aqui são provas do que eu digo." Jonatas se aproxima lentamente, com Mattew em seu encalço "E sabe o que isso significa? Morte. Não podemos deixar que isso aconteça. Temos que lutar para sobreviver"

"Você é doido" Jason deixar escapar e logo se cala.

"Pode pensar isso agora, sanate, mas sabe que é a verdade"

"Não, a verdade é que você é louco. Kris sabe disso?" James questiona.

"Aquele bobinho?" todos os patronus riem "Quando ele souber será tarde demais e não terá nada que possa fazer"

E foi nesse instante que o caos surgiu. Mattew não esperou uma ordem clara de Jonatas e se lançou sobre Sammuel que o repeliu com suas chamas. Jonatas pareceu irritado com a atitude do outro, mas mesmo assim se lançou sobre Ryan enquanto os outros foram todos para James e Joy. A luta entre Ryan e Jonatas era equilibrada, o garoto glaciem era um ótimo lutador assim como Joy e Sammuel. Os outros dois davam seu melhor para lutar.

Wendy parou de correr quando encontrou um portal, assim como Sammuel lhe mostrou antes, durante o caminho até a casa de Dave. A humanus tentou arrumar um jeito para passar para o outro lado, mas não sabia o que fazer. Como ela fugiria?

Antes que pudesse dar mais um passo, sua mente escureceu e ela caiu em cima das folhas macias no chão.

«»

Kris, por favor!

— Você sabe sobre as regras, Sammuel. Sinto muito. — a voz parecia que realmente sentia muito — Mesmo que vocês tenham evitado algo que poderia se tornar outro algo muito pior, vocês descumpriram as regras. Principalmente você, Sammuel.

Wendy suspirou e tentou abrir os olhos. Onde a morena está? A última coisa que se lembrava era de chegar ao portal e desmaiar.

— Kris, não, eu lhe imploro. Se isso acontecer, eu não vou sobreviver e eu sei que você não quer que eu morra. Exile-me, eu prefiro.

Wendy tentou se levantar, mas é como se alguma força superior o deixasse paralisado. A morena está sentada em uma cadeira, os braços amarrados para trás, a cabeça latejando de dor.

Sammuel...? — o nome saiu de seus lábios preocupados. Wendy só pegou a metade da conversa e não entendia muito bem o que acontecia. 

Olhou para frente e viu Sammuel amarrado numa mesma cadeira, do mesmo jeito que estava. Mas diferente de si, Sammuel está com uma aparência terrível. Seu cabelo está todo bagunçado, a camisa rasgada e tem ferimentos por seu rosto. Mas o seu olhar, ah, isso destruiu Wendy. Sammuel a encara em profunda dor, como se alguém o estivesse cortando ao meio.

— Sammuel? O que está acontecendo? — Wendy questiona e Sammuel tenta sorrir para lhe passar segurança, mas falha e lágrimas começam a cair de seus olhos — Por que está chorando?!

— Não é nada, Wendy — o garoto ignis piscou em meio as lágrimas — Nada com o que se preocupar.

— Ela precisa saber, Sammuel — pela primeira vez Wendy viu o rapaz parado um pouco ao lado de Sammuel. Este deve ser Kris — Afinal, é a morte dela que estamos falando.

Wendy congelou. Aquele rapaz realmente disse algo sobre sua morte? O que isso queria dizer?

— Wanessa Duncan, você está aqui como punição ao jovem plenus ignis — a voz de Kris é autoritária — Sammuel quebrou uma das regras mais importantes: não lutar com outro plenus.

O que raios você está falando?! — o tom de voz de Wendy subiu e a morena sabe que está perdendo o controle — Que droga, todos lutaram lá, eu vi! Posso testemunhar isso!

— Você não me deixou terminar — Kris diz calmamente, como se conversasse com uma criança — Testemunhos de uma humanus não conta, Wendy. Eu sei que os outros lutaram, mas Sammuel também cometeu a regra mais importante de todas. Ele passou sua essência para você. Entenda, os humanus podiam ter relações com os plenus, desde que eles não fizessem o que nós plenus fazemos. Dave e Dalila nunca chegaram a trocar as essências porque Dave se controlou. É estreitamente proibido  um plenus realizar isso com um humanus.

Wendy ficou sem fala. Encarou Sammuel que olhava para baixo, envergonhado.

— Os outros tiveram suas devidas punições assim que cheguei ao local da briga — Kris parece irritado ao falar tais coisas — Ryan e James vão ficar exilados de qualquer contato plenus por uma semana, YJason e Joy vão ficar sem se ver por duas semanas, enquanto os ex-patronus vão ficar exilados para sempre.

— E Dalila e Dave? — Wendy indagou. Não suportaria saber que Dalila teria o mesmo final que ela.

— Dalila e Kai vão ser curados pelos plenus sanate até ficarem bem. Nenhum dos dois quebrou regra alguma.

Wedny sente o coração se apertar no peito. Por que isso está acontecendo desse jeito?

— E Sammuel vai perder aquilo que mais ama — Kris soou melancólico, como se já tivesse passado por algo igual — O que no caso, é você. Ele vai ficar acabado, é claro, mas depois vai se recuperar. Você nem ao menos é o Amo Primo Intuitu dele.

— Kris, por favor — Sammuel implora, derrotado — Eu prefiro ser exilado para sempre a ver Wendy morrer. Isso não pode acontecer. Eu não vou suportar.

— É o que precisa ser feito, Sammuel. Nós aceitamos muita coisa aqui, mas também somos regidos a regras.

Wendy sente seu rosto molhar e percebe que está chorando. Nunca imaginaria que morreria por esse motivo, mas não é como se só pudesse ficar triste. Uma grande parte da morena está aliviada por saber que ela será a única a morrer, Sammuel ainda teria muito o que viver.

— Eu posso ter um minuto com Sammuel? Antes de morrer, sabe.

— Você não vai morrer! — Sammuel grunhiu e tentou se soltar da cadeira, mas não conseguiu.

— Claro, eu lhe darei privacidade — Kris ignorou o comentário deSammuel e saiu da sala, deixando os dois sozinhos.

Wendy...

Hey, hey, não chore — Wendy tentou esticar sua mão até Sammuel e ficou surpresa quando conseguiu. As cordas que o amarravam são mágicas, pensa. Talvez Kris a tenha soltado para ter seu último momento de vida em paz — Eu não estou triste, Sammuel.

— Você está sentenciado à morte, droga! — o garoto ignis fechou os olhos e respirou fundo — Como pode esperar que eu fique bem sabendo disso?

— Você vai ficar bem porque eu estou bem — a voz de Wendy nunca soou tão calma em toda sua vida. O que a garota fala é realmente a verdade, ela aceitou seu destino mesmo que isso significasse sua morte — Escute, eu te amo. E não me arrependo em nenhum momento de ter aceitado participar de tudo o que ocorreu. Você foi a melhor coisa que me aconteceu.

— Wanessa, pare com isso.

Sammuel também se soltou. O plenus ignis caiu de joelhos, as lágrimas atrapalhando sua visão. Wendy abriu um sorriso triste e andou até o amado, ficando igualmente de joelhos e segurando de forma delicada  seu rosto.

— Eu não posso te perder — o sussurro de Sammuel adentrou na alma da morena — Não era pra ser assim, Wendy. O Jesse disse que duas coisas poderiam ocorrer... — as lágrimas começaram a saírem brancas e vermelhas dos olhos penetrantes do ignis — Ou nós sobreviveríamos ou eu morreria. Eu não ligaria de morrer se fosse pra te proteger, Wendy, mas o único jeito de me ferir é...

— Me matando — Wendy termina a frase por Sammuel. A humanus funga e seca as lágrimas do ignis de uma forma carinhosa — Eu percebi isso quando Kris falou da sua punição. Eu ainda me lembro do que me disse... Só existe uma única forma de deixá-los fraco o suficiente para a imortalidade, não é?

— O que mais fere um plenus é a perda do seu amor — Sammuel não aguentou e se deixou ser envolvido pelos braços finos da morena — Eu fui um idiota! Esqueci a regra mais importante e agora você vai morrer por minha causa. Me desculpa, Wendy, me desculpa...

— Hey, não há nada para desculpar, tá? — a morena começou a fazer um carinho no cabelo e no rosto do garoto ignis — Eu te amo e só isso importa. A experiência que passamos foi maravilhosa, eu não me arrependo de nada, faria tudo novamente se pudesse.

Ninguém mais disse nada e a única coisa que é possível de se ouvir é o choro incessável de Sammuel. Após alguns minutos, Wendy murmura palavras de conforto.

— Shhhhh...Você vai ficar bem — Wendy sussurra no ouvido de Sammuel e dá um breve selar em seu rosto.

Sammuel tentou controlar os soluços que ameaçavam sair, limpando o rosto com a costa das mãos para tentar ver melhor o rosto de Wendy. A morena lhe observa ternamente, um pequeno sorriso nos lábios, os olhos se tornando apenas dois riscos no rosto alvo.

— Não há nada que eu possa fazer para reverter isso, não é?

— Não.

Wendy continuou seus carinhos em Sammuel, afagando seu rosto e cabelo, beijando suas mãos e bochechas, lhe dizendo palavras reconfortantes de como ele conseguiria superar a sua morte e tudo daria bem. Ele ficaria bem. Acharia seu Amo Primo Intuitu e seria finalmente feliz.

— O tempo acabou  — Kris num segundo já está ao lado dos dois — Quero que saiba que realmente me dói fazer isso, Sammuel. Espero que um dia possa me perdoar.

Sammuel pensou em responder, em tentar avançar e brigar com Kris, em fugir dali com Wendy... Se ele tivesse mais tempo, talvez conseguisse, poderia contar com seus amigos para fugir para o outro lado e viver por lá até que Wendy morresse naturalmente, como deveria ser.

Contudo, antes que tentasse algo os lábios suaves de Wendy se encontraram com os seus. Sammuel sentiu como se todo o amor, a dor e o medo estivessem reunidos naquele único beijo.

— Eu te amo, Sammuel e sempre amarei — Wendy riu baixinho e selou mais uma vez os lábios dos dois — Se existir outra vida após essa, eu vou querer ser sua de novo mesmo que for por um curto período de tempo, como agora.

— Wendy, eu...

A morena arregalou os olhos e arfou. Fita o maior que a segura o mais firme que consegue quando sente a humanus perder a força no sustento do próprio corpo.

— Não, não, não, Wendy! Por favor, fique comigo, não morra. Não me deixe, por favor...

Os olhos castanhos da morena observam Sammuel. Wendy consegue sentir sua vida sendo tomada de si e tenta gravar cada traço do seu garoto ignis. E em seu último suspiro de vida Wanessa sorri da maneira mais linda que já sorriu em sua vida.

 

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O grito agudo foi escutado por todos. A tristeza, a desolação, a agonia e a dor foram sentidas por todos os plenus como se fosse a própria dor deles. O grito foi tão intenso que os plenus aere que voavam caíram dos céus, os plenus aqua saíram das águas, pois estavam quase se afogando, os plenus lux perderam seu brilho e os plenus glaciem começaram a arder de febre. Todos sentiram a perda de Wendy por Sammuel e souberam o que aquilo significava na hora em que escutaram a dor do plenus ignis que parecia ecoar por todos os lugares.

— Ah, não... — Dave sussurra, agoniado.

O garoto magice está com Dalila na casa de um plenus sanate que estava ajudando a cuidar deles. A humanus ao seu lado possuí o rosto banhado em lágrimas, a face retorcida em dor.

— D-Dave, o que é essa dor que estou sentindo? — Dalila segurou na mão do plenus magice — Eu não consigo parar de chorar, é horrível. Eu quero morrer, Dave.

— Shhh, calma. Vai passar, Lila, vai passar...

Mas não passou. Por aquele dia inteiro, todos foram capazes de sentir a dor de Sammuel e sofrerem com ele. Nunca antes uma perda havia sido tão dolorosa como essa.

E isso tinha uma explicação.

— N-Não era o Dave que tinha tido um Coup de Foudre — Kris sussurrou para si mesmo, se distanciando do garoto ignis que ainda gritava com o corpo da humanus nos braços — Foi você, Sammuel. Você teve um Coup de Foudre pela Wanessa. Vocês dois foram amaldiçoados antes mesmo de se conhecerem.

Mas Sammuel não escutava nada. O garoto ignis só sabia gritar e juntar o corpo da humanus ainda mais no seu, dizendo para a humanus não morrer quando se está claro que ela já morreu. Naquele dia, devido a sua perda tão grande Sammuel se tornou fogo. Um fogo azul brilhante que ficou queimando por anos e anos.

 

 

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Depois de três semanas no lado dos plenus, Dalila se recordou de tudo. É claro que no momento em que viu Dave a humanus se lembrou dos dois juntos e do amor que sentia pelo plenus magice, mas a memória da sua vida humana parecia ter virado fumaça. Com o passar dos dias e ajuda de Dave, a humanus começou a se lembrar de tudo. Da sua família, seus amigos, seu trabalho, sua praça favorita, o seu jeito e suas maneiras, seus filmes preferidos e os que odiava, seu primeiro beijo, sua primeira vez e a primeira vez que viu Dave. Entretanto, por mais que essas lembranças fossem preciosas, a recordação que mais aparecia na mente de Dalila era Wendy.

Dalila lembrou-se perfeitamente do momento em que conheceu a outra humanus e como ela fora carinhosa consigo, como conversava com ela mesmo que ela não estivesse em perfeito juízo para responder e como ela foi crucial para ajudar os outros a achá-la. A humanus não chegou a conhecer a outra direito, mas sentia que se tivesse a chance elas seriam grandes amigas.

Desde a morte de Wendy onde todos os plenus existentes presenciaram pela terceira vez um Coup de Foudre, algumas regras foram mudadas. Aparentemente, não é fácil descobrir quando um Coup de Foudre ocorre — diferente do Amo Primo Intuitu — e tal coisa era mais comum no mundo dos humanus, por isso os plenus não tinham tanto conhecimento quanto tem agora. Nas outras duas vezes em que ocorreu o Coup de Foudre, os casais em questão não estavam no lado plenus o que acabou causando a falta de relatos. Mas depois da morte de Wendy, muita coisa mudou. Uma delas foi a permissão de troca de essência entre plenus e humanus desde que o humanus fosse Amo Primo Intuitu ou Coup de Foudre do plenus, caso contrário ainda era proibido. Os portais para o outro lado foram abertos, mas sempre que alguém quisesse ir para o outro lado devia relatar ao conselho. O conselho foi outra mudança, decidida por Kris depois da abolição dos patronus. Apesar dos patronus serem os plenus mais velhos existentes, isso não significava que eles eram os mais aptos a comandar o outro lado, então, os patronus que não traíram Kris serviam mais como ensinadores dos plenus mais novos. Enquanto o conselho foi decidido por lealdade e sabedoria, escolhidos a dedo por Kris. Ryan fazia parte do conselho, no total eram cinco — contando com Kris. Apesar de muitas coisas terem mudado, existe algo em especial que continuou a mesma coisa mesmo tendo se passado dois anos no lado dos plenus e vinte no lado dos humanus.

Sammuel entrou em combustão naquele fatídico dia, tornando-se o fogo e desde então não retornara a sua verdadeira forma. O corpo de Wendy ainda estava lá, imaculado mesmo com o fogo ardendo em volta dele.

Toda segunda semana de cada mês todos os plenus iam até o fogo azul e o corpo da humanus prestar suas condolências, levando-lhes flores de todos os tipos. Foram tantos plenus e tantas vezes que o local onde os dois estavam virou um jardim de flores. E de algum modo estranho, nenhuma das flores era queimada pelo enorme fogo. Há boatos de que se você for até lá, ainda consegue ouvir o grito agoniado de Sammuel e suas suplicas para que Wendy continuasse viva apesar dela já estar morta. 

E assim passaram-se vinte anos mortais e dois anos plenus.

Como Dalila estava vivendo no lado dos plenus o garoto nem sentiu assim tanta diferença. O tempo ainda era uma coisa confusa para ela. Mas de uma forma ou de outra, Dalila está feliz: está com o seu amor, com amigos que lhe ajudam em qualquer situação e não podia pedir lugar melhor para passar o resto de sua vida.

 

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Foi num dia qualquer, de um mês qualquer e ano qualquer que o fogo virou cinzas, assim como o corpo. Ryan e Jason resolveram visitar Sammuel e Wendy para lhes oferecer mais flores e conversar com os dois — Ryan fazia muito isso, sentia como se o amigo pudesse lhe ouvir apesar de não ser mais que um fogo. No primeiro momento, os dois plenus paralisaram ao não ver mais o enorme fogo azul.

Correram até onde costumava ficar o corpo de Wendy e o fogo e tudo que encontraram lá foi duas pilhas de cinzas. Contudo, cada pilha possuía uma cor: a primeira e maior era de um vermelho vivo e majestoso, enquanto a menor, era de um belo branco leite.

Os dois plenus chamaram os outros. Joy, James, Dave, Dalila, Kris...E logo todos os plenus foram ver o que tinha acontecido. Kris — em um possível gesto de desculpas — espalhou as cinzas no local da morte dos amantes, em cima das flores.

Quando a noite chegou, todos brindaram ao casal e fizeram suas preces para onde quer que eles estivessem, que estivessem juntos.

— Sabe, Lila, as vezes eu me sinto culpado pela morte de Sammuel e Wendy — Dave segredou à humanus, durante a ceia de celebração ao casal.

Os dois estavam juntos, Dave encostado em uma árvore com Dalila deitada em seu peito, fazendo carinho nos cabelos castanho escuros da humanus.

— Por que diz isso, Dave? Não foi sua culpa... — Dalila diz, dedilhando a blusa aberta do plenus — O que aconteceu foi uma tragédia.

— Uma tragédia que poderia ser evitada... — Dave suspirou e afastou Dalila de si, obrigando-a sentar-se direito ao seu lado. A humanus o encarou confusa, mas deixou que o plenus a afastasse — Eu vou te contar algo que nunca disse a ninguém. — respirou fundo — Quando eu conheci você, fiquei completamente apaixonado. Foi instantâneo. Sammuel ficou me zoando por alguns dias, mas logo depois ficou preocupado porque não existia relatos de relações desse tipo de plenus e humanus.

— Onde você quer chegar, Dave?

— Algumas semanas depois que conheci você tive minha primeira visão do futuro — Dave respondeu, sentindo as bochechas corarem.

Você o que?! — Dalila ficou encantada. O dom de ver o futuro está correndo no sangue de todos os plenus magice, contudo, só alguns conseguem desenvolver realmente o poder.

— Não fique animado desse jeito, hoje eu penso que se não tivesse tido aquela visão Sammuel e Wendy poderiam estar vivos — Dave gemeu, escondendo o rosto com as duas mãos.

Dalila ficou em silêncio por um momento. Seja lá o que Dave tenha visto, parece ter afetado e muito na vida de todos.

— Dave, hey, olha para mim... — Dalila pegou as mãos do amado e tirou de seu rosto. Dave suspirou e fitou Dalila — O que foi que você viu?

— No começo eu não tinha entendido a visão, mas quando a tive de novo no dia seguinte consegui compreender tudo. Eu vi o Sammuel com a Wendy, Lila. E a forma como eles se olhavam me fez lembrar a forma que Jason olha para Joy ou até mesmo a forma que eu te olho.

— Eu não entendo como isso pode ter afetado o destino dos dois, Dave.

Eles se conheceram por minha causa — Dave sentia que liberava um peso de suas costas contando aquilo a sua amada. Precisava desabafar com alguém ou enlouqueceria — Eu que disse o nome do Wendy, onde encontrá-la e que ela seria o amor da vida dele. Eu disse isso tudo a ele e nem pensei nas consequências!

— Espera, então você está dizendo que...

— Sammuel conheceu Wendy dois meses plenus antes de... — Dave gaguejou nas palavras, sem saber como dizê-las — Antes de acontecer aquilo conosco. O primeiro contato de Sammuel com um humanus foi com a Wendy.

Dalila soltou uma exclamação e se apoiou na árvore para tentar entender tudo aquilo. Então foi por isso que Sammuel foi procurar justamente Wendy para ajudá-lo?

— Entende o que eu digo agora? — o sussurro de Dave tirou Dalila de seu transe — Eu sou o culpado de tudo.

— Dave, não fale bobagens, por favor! — Dave olhou incrédulo para a humanus — Eles tiveram um Coup de Foudre. Não existia nada que você pudesse fazer para modificar isso. Sammuel sabia disso, você ouviu de Ryan que Jesse contou isso para ele. Pare de se mortificar por isso. Ele só tinha uma verdadeira opção porque não se pode lutar contra um Coup de Foudre.

— Mas...

— Mas nada! Eles se amavam e ainda se amam! — Dalila entrelaçou suas mãos nas de Dave e as apertou — Aquelas cinzas são prova disso! Que droga, eu não sei se existe outra vida além dessa ou se eles se foram para sempre mas eu quero acreditar que onde quer que estejam, eles estão juntos. Não fique assim por causa disso, Sammuel jamais te culparia pela morte dele e você sabe disso. Ele era seu melhor amigo, Davei.

— Ele é o meu melhor amigo, Dalila. — Dave respirou fundo e piscou os olhos, tentando não chorar na frente da humanus — Mas eu entendo o que você quis dizer. Às vezes eu sinto como se eles nunca tivessem partido, como se ainda estivessem aqui comigo.

— Eu quero crer que eles estão, Dave — Dalila abre um sorriso para o garoto magice e limpa as lágrimas que escorrem de seus profundos olhos castanhos — E sabe de uma coisa incrível? Acho que finalmente depois de tanto tempo eles encontraram a paz.

Dave sorri de volta para a humanus e a puxa para um beijo apaixonado.

 

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Há quem diz que mesmo que eles tenham virado cinza, ainda é possível escutar os dois conversando entre as flores. Outros dizem que eles morreram juntos e tudo acabou. Dalila não sabe o que realmente chegou a acontecer com os dois e talvez jamais vá saber, contudo, a única coisa que a humanus sabe é que o amor é maior que qualquer coisa, morte ou destino. 

E talvez, só talvez, Sammuel e Wendy também soubessem disso.

 


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Notas finais do capítulo

Aaaaaaaaaah triste, não é? TT de apertar o coração djsufhusdfh.
Espero que minha amiga secreta tenha gostado apesar de eu não ter a certeza se era isso mesmo que ela queria (tentei fazer algo diferente com fantasia/aventura e um romance legal). Não vou dizer o nome da minha amiga secreta hoje (sexta-feira), mas na segunda eu volto para contar quem foi haha!
Amei esse ASNY ♥
Bjsbjs



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