A Piece of Us escrita por Kokoro Tsuki


Capítulo 11
11 — Convivência


Notas iniciais do capítulo

TW — Transfobia.

Oi gente linda do meu coração ♥ Eu demorei? Poise, demorei sim -p mas eu juro que não foi porque eu passei todos esses dias chorando (foi maioria, só), e preciso mais uma vez agradecer pelo carinho de todos vocês, mais uma vez ♥ Vou agradecer eternamente porque eu eu amo todo mundo e pensei que a fic ia ficar bem floopada e agora ela é minha bb ♥

E hoje chegamos ao décimo primeiro capítulo, e a partir daqui teremos de quatro à nove caps até chegar no fim, e, quem sabe, um spin-off hahaha♥ Enfim, vamos a esse capítulo que, quando eu comecei a escrever, ele se escreveu sozinho ♥

Boa leitura, amores ♥



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Convivência

 

VICTOR estava um pouco nervoso, ainda que não quisesse demonstrar. Não era como se ele estivesse tentando parecer a pessoa mais forte do mundo, que nunca hesitava, mas ele não queria que a criança alegre ali percebesse algo. Na realidade, ele não desejava nem ao menos que Yuuri notasse que não estava nada seguro, pois via que o japonês também não se encontrava nada relaxado, como era comum de si.

Um longo suspiro deixou seus lábios quando Yuuri resolveu que era hora de chamar Yukiteru ali, e Victor agradeceu aos céus por isso. Quanto mais cedo o fizessem, mais cedo aquela tortura acabaria e ele poderia abraçar o filho com força e beijar-lhe as bochechas gordinhas, como vinha querendo fazer desde que assistira aquele vídeo. Também se sentia agradecido pelos outros não estarem ali. Yuri e Otabek estavam no Ice Castle, Phichit tirando algumas selfies pelo litoral de Hasetsu, enquanto Yakov... Bem, ele não fazia a menor ideia de onde aquele velho havia se metido, mas devia estar resolvendo alguma coisa a respeito da final que seria logo.

Ele sentia as mãos molhadas de suor, e respirou fundo para se acalmar enquanto o japonês se aproximava com a criança sorridente, e eles se sentaram na varanda da casa dos Katsuki, Yukiteru entre eles. Nenhum dos dois disse nada, ou mesmo se encarou. Era como se procurassem as palavras certas para explicar a situação ao menino, ao mesmo tempo que esperavam o outro começar. Bem, Yukiteru tinha três anos, não era como se eles não tivessem a chance de fazê-lo entender, mas ainda assim sabiam que talvez não fosse fácil.

"Yuki..." Yuuri começou, e Victor tomou coragem para fitá-lo, enquando o menino pequeno levantava os olhos castanhos para fazer o mesmo. "Lembra do que a gente já conversou? Quando o papai te explicou que existem famílias diferentes no mundo? Você lembra que o papai disse que existem crianças que tem uma mãe e um pai, dois pais, duas mães, e que esse pai e essa mãe podem ser diferentes?" ia dizendo, enquando via o filho assentir e o Nikiforov apenas observar a maneira que conversa com o menor. "E que também existem crianças que tem só uma mamãe ou só um papai, como era o seu caso?"

"Yuki lembra sim, papai." respondeu, sorridente, e Victor sentiu seu coração derreter com aquele sorriso tão sincero e bonito. Ele era tão parecido com Yuuri na maneira de sorrir e de gesticular, a ponto do russo duvidar que, além do traços europeus, Yuki tivesse algo a ver consigo. "Por que, papai?"

O silêncio novamente recaiu sobre eles, e Yuuri se colocou a fitar as mãos cerradas sobre seus joelhos. Quando ele e o ex-noivo haviam conversado no quarto, não imaginou que seria tão difícil, e não conseguia evitar se sentir impotente. Era da vida de seu filho que estavam falando.

"Yuuri." a voz de Victor se fez presente, e levantou o olhar para encará-lo. "Eu posso prosseguir daqui."

O mais novo apenas assentiu, enquanto o garotinho apenas fazia olhar de um para o outro, confuso. O russo limpou a garganta para prosseguir. Não era como se estivesse a sentir-se pronto, mas sabia aque aquela era a hora certa. "O que o Yuuri quer dizer, é que talvez..." falava, enquanto procurava as palavras certas. Explicar aquilo a uma criança, de modo que entendesse, não era uma missão nada fácil. "É que as vezes, menininhos como você que tem só um papai, talvez também tenha outro, sabe?"

"Yuki não entendeu, Victor." o pequeno resmungou, um pequeno bico a lhe formar em seus lábios. aquela conversa tomava um rumo bastante estranho.

"O que eu estou tentando te dizer, meu amor..." o de cabelos platinados fechou os olhos azuis, um pouco nervoso, enquanto mordeu seu lábio inferior com força. "É que eu sou seu papai, também."

A cena que se seguiu teria sido engraçada, ou mesmo adorável, se não tivesse sido destrutiva aos sentimentos de Victor. Ele observou a forma como o bico que adornava os lábios molhados do filho aumentou, e ele inflou as bochechas, para em seguida abraçar Yuuri com força.

"Esse é meu papai!" Yukiteru disse, emburrado, e o Katsuki mais velho soltou uma exclamação que mesclava entre a surpresa e o descontentamento, enquanto o russo se pôs a fitar o chão. Sabia bem que não seria fácil. De maneira alguma.

"Yuk-"

"Tem razão." Yuuri parou, assim que ouviu a voz de Victor, enquanto este estendia a mão para acariciar os cabelos escuros do menino em seus braços. "Esse é o seu papai."

 

—...—

 

Já era noite quando o treino pesado de Yuri e Otabek no Ice Castle terminou, e após uma calorosa conversa, o casal de patinadores de elite se despediu dos Nishigori, e se colocando a caminhar em direção a Yu-topia, deixando a família a sós. Yuko sorriu as filhas, pedindo para que elas fizessem qualquer coisa por ali, para que pudessem fechar e chamou o marido para ir até o rinque.

Takeshi a seguiu, ainda que tivesse estranhado o tom de voz da esposa. Bem, ele havia assumido que fora o responsável pela postagem do vídeo, e o olhar que a mulher lhe lançara deixava bem claro seu descontentamento com a "novidade".

Adentraram o lugar, e logo em seguida Yuko se encostou na mureta que separava o piso do gelo, para então fitar o de cabelos negros com um sentimento que mesclava entre decepção e talvez, raiva.

"Takeshi Nishigori, que ideia foi essa de postar aquele vídeo?" perguntou e mordeu o lábio para controlar o tom de voz. Não queria que Axel, Lutz e Loop ouvissem-na aos berros com o marido. "Você sabe da ansiedade do Yuuri, por que fez isso mesmo assim? E não venha me dizer que foi para fazer os dois se reencontrarem, porque podia muito bem ter mandado no privado para o Victor, ou até mesmo para o Yurio."

"É, mas eles estão juntos, e com o Yuki." deu de ombros. Yuko e ele não costumavam discutir — ao menos, não muito como a maioria dos casais — mas via nela uma enorme falta de satisfação. "Nada deu errado."

"Ah, não, claro que não!" ela revirou os olhos castanhos avermelhados, para depois fitar o mais alto novamente, ambas as mãos em seus quadris. "Takeshi, por acaso já viu os comentários? Alguns são tão... Horríveis!" disse, em meio a longo suspiro. "Já pensou como vai ser quando o Yuuri ver isso? Seria como matá-lo por dentro."

O homem entreabriu os lábios para dizer algo, os fechando em seguida. Precisava admitir que, querendo ou não, Yuko tinha razão. "Eu fico feliz que eles tenham se reencontrado, Takeshi" ela continou "Mas eu preferia que fossem em outras circustâncias.

Ele assentiu, e sibilou algo como "Você tem razão." antes de senti-la de aproximar e depositar um beijo leve em seus lábios, o chamando para ajudar as trigêmeas. O mundo da patinação estava polvoroso por causa daquele vídeo, e naquele momento Yuko não queria pensar nas consequências negativas que essa agitação toda poderia trazer a Yuuri.

 

—...—

 

Depois de dar banho em seu filho com a ajuda de Victor, Yuuri se viu sendo quase obrigado a deixar que o menino fosse brincar tanto com o russo louco, quanto com Otabek, que há pouco tinham chegado do rinque de patinação, e mesmo que o garoto voltasse todo sujo, aquilo não lhe importava muito no momento. Yuuri tinha um misto de sentimentos confusos em seu peito para se preocupar, em primeiro lugar.

Sentou-se uma vez mais na varando junto a Victor, enquanto os pares de olhos azuis e castanhos observavam a maneira com que os outros dois brincavam com o pequeno fruto de seu passado. Parte de Yuuri se sentia feliz por ter dito a verdade a Yukiteru — ainda que não conseguissem ter explicado toda ela —, e por pouco tempo antes ter ganho de Yakov um presente para o menino, mas a outra parte estava receosa. Victor se mantinha quieto desde que Yukiteru se negara a aceitar que tinha "um outro pai". Sabia que o russo compreenderia ser uma criança, mas não podia evitar se perguntar que, caso a situação fosse contrária, se não estaria destruído por dentro.

"Victor." chamou, e o olhar do outro se voltou para si, quase que em uma interrogação. "Sobre a reação do Yuki, eu..."

"Está tudo bem, Yuuri." sorriu, mas ainda assim o Katsuki não sentiu que tudo estava tão bem assim. "Ele é uma criança e teve apenas você como referência paterna até agora. Sinto que ele goste de mim, mas não como se fosse entender de uma hora pra outra. É pequenino, ainda."

"Do jeito que você fala, até parece que não liga, mas eu sei que sim." murmurou, apoiando o queixo em uma de suas mãos. Viu Phichit se aproximar do portão de sua casa e cumprimentar os outros dois patinadores antes de entrar. Não sabia onde o amigo havia se metido, mas se entrasse no Instagram — coisa que não fazia há anos — descobriria. "Faz tempo que não vejo a Yu-topia ficar tão cheia assim, digo, com pessoas queridas pra mim."

"Bem, eu já não poddo opinar já que faziam quatro anos desde a minha última estadia aqui." Victor deu de ombros, ainda que sentisse o coração aquecer com o pessoas queridas. Ele se encaixaria nesse grupo? "Mas, Yuuri..."

"Sim?"

"Tem algo que eu quero saber..." o Nikiforov fez uma pausa, olhando no fundo dos olhos escuros do ex-noivo, como se hesitasse, ainda que tivesse certeza. "Como o Yuki foi, quando era bebê? Ele dava trabalho ou era quieto? Teve muitas cólicas?"

Foi de forma incosciênte que um sorriso se desenhou nos lábios de Yuuri, e Victor sentiu como se seu coração fosse sair pela boca. O sorriso do outro era simplesmente tão puro, tão terno, tão cheio de sentimentos.

"Eu poderia passar a noite inteira te contando sobre isso." disse, dando levemente de ombros, as bochechas tomadas por um leve rubor. "Gostaria de ver as fotos do Yuki?"

Victor arqueou uma sobrancelha, ainda que não pudesse controlar o sorriso que agora vinha se desenhando em sua face. "Nem precisa perguntar, é claro que sim, Yuuri!"

Os dois se levantaram, e Yuuri apenas avisou aos que brincavam com o filho que entraria junto a Victor, mas logo estaria de volta, então pôs-se a seguir com o de cabelos platinados para o interior de sua casa. O álbum de fotografias de Yukiteru era um de seus maiores tesouros, e não podia negar que gostaria de compartiha-lo com Victor. Aquilo talvez fosse bom ao ex-patinador, pois mesmo que o outro não dissesse, sabia que ele ficara decepionado com a reação um tanto quanto negativa do pequeno Katsuki.

Atravessaram cozinha, e encontraram com Hiroko e Minako na sala de jantar. Ambas pareciam um tanto quanto preocupadas, mas disfarçaram assim que viram Yuuri. Ele não perguntou, mas imaginava que talvez fosse algo que o deixaria para baixo — não que fosse algo difícil de se fazer. A professora de balé os cumprimentou, animada, enquanto Hiroko lhes ofereceu um prato de katsudon, que Victor aceitou de prontidão. Jamais se esqueceria do gosto da comida caseira dela.

"Mãe, a senhora sabe onde estão guardadas as fotos do Yuki?" Yuuri pediu, e um largo sorriso se desenhou nos lábios da mulher mais velha.

"Ora, ora, quer mostrar as fotos do nosso bebê? Você não costuma fazer isso." Hiroko riu, para em seguida sair para pegar os álbuns. Como uma boa avó coruja, sabia melhor do que ninguém onde aquelas fotografias se encontraram.

Minako encarou o ex-casal assim que a amiga saiu de cena, risonha. Não podia negar que no início não gostara nenhum pouco da aproximação do Nikiforov, mas agora... Era como se tivesse voltado quatro anos no passado. "Você deveria ver também as fotos do Yuuri durante a gestção Victor, ele ficou com uma barriga tão linda."

"Professora Minako!" o japonês resmungou, envergonhado. Mesmo depois de muito tempo não perdera a mania de chamá-la de professora. "Eu fiquei parecendo uma bola."

"Uma bola maravilhosa, se quer saber." ela de deu de ombros, ouvindo a risada gostosa de Victor, e no mesmo momento Hiroko retornou, trazendo junto a si três ou quatro álbuns e os entregando ao filho mais novo. Yuuri fazia questão de registrar cada momento de Yukiteru, por mais singelo que fosse, afinal, o menino era a pessoa mais importante de sua vida.

Yuuri agradeceu sua mão, e pegou o primeiro álbum. Nele, Victor conseguiu observar duas datas escritas a tinta dourada na capa, e para ele, significava a data da primeira, e da última foto contida ali. O Katsuki o abriu, se aproximando um pouco mais do russo para lhe mostrar a primeira foto.

Nela, os olhos azuis de Victor observaram Yuuri na cama de um hospital, uma maternidade, vestido de branco e com o sorriso mais bonito que já havia visto no rosto, os olhos castanhos vertendo lágrimas, enquanto segurava um pequeno embrulho amarelado. Seus olhos seguiram para as feições delicadas da criança de olhos fechados, os cabelos escuros ralos.

"Tão pequeno..." sibilou, e viu Yuuri assentir.

"Essa foto foi logo depois dele nascer. Acho que nunca chorei tanto na minha vida como nesse dia." deu de ombros, era como se recordasse cada momento daquele dia. "De felicidade, claro. Chegava a ser engraçado o medo que eu tinha de pegar ele no colo e machucar."

"Eu imagino." respondeu, e viu quando Yuuri virou mais uma página, desta vez, para uma foto em que apenas podia ver Yukiteru quando recém-nascido, o rosto ainda um pouco enrugado e sujo de sangue. E então, Victor soube que poderia ficar ali pelo resto do dia, que nunca se cansaria.

 

—...—

 

Passava das onze da noite quando Victor e Yuuri conseguiram fazer o filho dormir. Naquele dia em especial, Yukiteru parecia bastante agitado e queria continuar a brincar a qualquer custo. Talvez fosse por conta do tempo no hospital, em que mal podia sair da cama. O Katsuki agradeceu pela ajuda, e disse que iria tomar um banho, enquanto o russo resolveu se recolher. Yuuri e ele estavam dando um passo de cada vez em relação a tudo, sem forçar nada e sentia que era bem melhor assim.

Adentrou o quarto, e deitou em sua cama com Maccachin sobre seu colo, enquanto observava o novo papel de parede, uma foto de Yukiteru aos seis meses de idade com um lindo sorriso ainda desdentado e não pôde evitar também sorrir. No entanto, haviam mais coisas chamando também sua atenção, como as notificações de mensagens de amigos e comentários de fãs que não havia se preocupado em responder desde sua chegada a Hasetsu.

Começou a abri-las, e não se surpreendeu nem um pouco quando viu que a maioria eram questões sobre o vídeo de Yuuri patinando o antigo programa livre ao lado da criança. Deu de ombros levemente, sem se importar muito até começarem a surgir os comentários maldosos, e em sua opinião, nada agradáveis.

É filho dele, será? Mas saiu por onde?

Ué, não era ele quem se dizia homem? Colocou uma criança no mundo como?

É incrível como esse mundo virou do avesso, né? Deus dá a uma mulher a dádiva de ser mãe e de carregar um filho e essa aí simplesmente decide virar homem.

Gente, é claro que não é filho. "Homens" (entre aspas, porque homem nasce homem) como esse aí sequer dão respeito as próprias genitais, quem dirá a uma criança.

Essa aí ainda patina? Ela e essa cria já deviam ter morrido há muito tempo.

Victor fechou o aplicativo do celular, controlando sua vontade de jogá-lo longe de ler tanta besteira. Em seu íntimo, torcia para que Yuuri não lesse nada daquilo, e também decidia que, caso ele acabasse lendo, estaria ao lado dele, para secar suas lágrimas.


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Notas finais do capítulo

Oi, gostaram? ♥ A reação do Yuki foi baseada numa priminha minha que tem a mesma idade que ele, e minha bb, quando alguém diz que é mãe dela, começa a chorar e falar "não é minha mãe" (gente, ela é muito fofaaaaaaaaaa ♥)

Enfim, eu espero que tenha gostado desse capítulo, e como vocês perceberam, o Victor ainda tem que ralar um pouquinho pra conquistar o coração do filhinho, né? Hahah

Beijos meus amores, e até o próximo cap ♥



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