Tinta e letras escrita por Moonpierre


Capítulo 1
Tinta e letras


Notas iniciais do capítulo

Essa história, algo curto, foi uma surpresa até para mim.
De início não escreveria sobre essa tema, seria só mais um romance, aí tornou-se o que é aqui.
Se leram, deixem-me suas opiniões :)
Beijos ♥



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Sofia e Helena. A primeira das letras, sempre com seu caderno de poesia acomodado na bolsa para escrever quando a inspiração lhe permitisse. A segunda das tintas, constantemente fotografando alguma paisagem para pintar logo após. 

As duas tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão parecidas. A apreciação pelas artes as uniu, apesar de uma preferir a terceira (a pintura), e a outra a sexta (a literatura). 

Se conheceram em uma escola particular, eram ambas professoras. A conexão foi quase imediata, e o amor começou a desabrochar, como as lindas rosas que Helena possuía em sua varanda. 

Alguns anos mais tarde, Sofia escreveu uma carta e colocou dentro desta um anel de casamento. Sua namorada (e futura esposa) ficou em êxtase. 

Planejaram o casamento por meses a fio, querendo que a cerimônia fosse agradável e a mais bonita possível. 

Alguns convidados apareceram, outros não. Era previsível, haviam certos homofóbicos nas famílias das duas. Elas não deixaram isso lhes abalar no tão esperado grande dia. 

Casadas no civil, se mudaram para um pequeno apartamento. Helena o decorou, com carinho e amor, pintando as paredes com cores vivas e as enchendo com quadros de paisagens idílicas. Todas as flores plantadas também foram obra dela. Sofia queria ajudar, só que não achava ter o talento necessário para essa incumbência. O lugar se tornou o porto seguro das duas. 

Anos se passaram e... adotaram uma criança de oito anos cujo nome era Diana. Garota extremamente fofa e educada, que saltitava pela casa. A menina sabia muito bem que possuía duas mães que a amavam muito. 

Tudo estava em paz, e tudo ficou em paz por muito tempo. Só que em todas as histórias reais, há um "até...", e nessa não podia ser diferente. 

A menina se tornou adolescente, com essa mudança começou a sofrer bullying na escola. Os colegas ofendiam seu cabelo de raiz africana, suas mães, e até sua forma física (com alguns quilos a mais). A coisa ficou feia, ela entrou em uma grande depressão, e não saia mais do quarto.

Transferiram-na. Isso ajudou por um tempo, entretanto, parecia que não importava para onde ela fosse, ainda seria o alvo perfeito para todos os tipos de preconceito. 

—Não conseguem aceitar o diferente. Seres humanos são a lástima desse planeta. Até as criança são ruins umas com as outras. Imitam os pais, Helena! — sua mãe Sofia falava, visivelmente revoltada. 

—Na faculdade irá melhorar, filha. O tempo cura tudo, e ajuda tudo a passar — Helena tentava trazer um sorriso (mesmo que fraco) no rostinho de Diana. 

Realmente. Tudo ficou melhor quando ela entrou para a faculdade de cinema (a sétima arte), ali o povo era bem mais mente aberta, não implicava com sua família, seu peso, sua pele, só queriam saber se ela seria criativa ou esforçada (de preferência as duas coisas).

Diana, agora mulher de vinte e dois anos, se provou ótima em direção de fotografia. Começou a trabalhar na área em uma grande produtora, ainda estagiando.  

Agora ela reflete, voltando para a casa das mães,  o desperdício que seria se ela tivesse se suicidado (posto aquele seu plano, guardado a sete chaves, em prática). Esses pensamentos não passaram poucas vezes em sua cabeça. Não foram só uma, ou duas vezes, que ela se imaginou morta, enterrada em algum cemitério. Com todo aquele bullying, em um certo momento ela chegou a se cortar e foi encaminhada a um psicologo. 

A campainha soou naquele mesmo pequeno apartamento. Helena abriu a porta para a filha, suas mãos, seus braços, suas roupas, cheias de tinta. Era comum ela se tornar uma "tinta ambulante" nos finais de semana. 

Sofia sentada no sofá observava a janela com o caderno aberto, a caneta em punho, e diversos livros espalhados pelo chão. Acho que obteve um surto de inspiração repentino enquanto lia obras clássicas. 

Nada disso seria possível sem essas duas incríveis mulheres que a acolheram. Elas lhe ensinaram muita coisa: dizer obrigada,  não atravessar a rua sem olhar para os dois lados, ser cordial, gentil, leal, esforçada, e também lhe mostraram a arte.

Arte é o cerne dessa família, a quem todos recorrem quando passam por algum problema, desabafam com ela, são consolados, e embalados pelas tintas, caneta, e agora, câmera fotográfica.

—Amo vocês duas — Diana sorri.

—Nós também te amamos — suas mães declaram, e se apressam a abraçar e beijar a bochecha de sua cria. 

Diana fotografa um retrato da família, acho que ele vai para as paredes quando for impresso, numa moldura bonita. 

No almoço, essa jovem profissional conta sobre seu projeto de filme. Ele será sobre uma garota que sofria bullying. 

Ela tem o objetivo de iluminar a questão da violência (tanto verbal e/ou física) nas escolas, e contar a perspectiva da vítima.

"Devemos ter empatia pelo diferente. Todos nós somos diversos, e iguais ao mesmo tempo", Diana reflete filosoficamente, enquanto aprecia o gosto da torta holandesa feita por Helena.

 


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