Guerra por Marte escrita por Martins


Capítulo 2
Capítulo 2




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            07 de outubro de 2136

           

            Na capital do Brasil a cidade já despertava com o calor que o sol trazia. Apesar de já ser de manhã, não se via o a luz do sol. Sobre a troposfera, nuvens negras se movimentavam em direção ao sul. Na televisão, vários canais já se pronunciavam sobre o evento que se mantinha nos céus.

            — O que está acontecendo Wesley? –Carlos perguntou.

            — Nuvens negras estão tomando o céu da cidade senhor.

            O presidente acabara de acordar, e ainda estava com roupas de dormir. Seus pés estavam descalços e sobre seu rosto um olhar assustado e penetrante o caracterizava.

            — Qual a origem dessas nuvens? –ele olhava espantado pelas janelas.

            — Um acidente na usina de energia senhor. Parece que houve uma explosão e gases poluentes subiram à atmosfera.

            — Envie uma equipe para lá. –pediu.

            — Já mandei senhor.

            — Emita um sinal de perigo. Peça para que todos se abriguem em locais fechados. –completou.

            — Imediatamente senhor. –o pequeno robô se direcionou ao computador mais próximo e seguiu as ordens de seu superior.

 

            Na fazenda de Teresa, as gêmeas já estavam de pé, prontas para mais um dia de aventuras pelos campos esverdeados e selvagens do lugar. Calçavam botas e roupas compridas para não sofrerem queimaduras solares. De café da manhã comeram maçãs, pães, ovos e tomaram leite de vaca.

            — Pegaram seus casacos de calor? –a senhora gritou para as meninas que balançaram em suas mãos os casacos que repeliam parte do calor do ambiente.

            As meninas corriam pelos vastos pastos. Em meio as grandes macieiras, pulavam e cantavam junto com as pequeninas ovelhas, que haviam nascido há pouco mais de duas semanas. O rebanho todo que as cercavam era calmo e não se incomodavam com a presença das garotas ali, afinal, a natureza reconhece quando alguém possui boas intenções e um coração livre de maldade.

 

            — Por que mesmo eu tenho que falar em público? –perguntou Carlos.

            — O seu povo precisa saber que você se preocupa com eles senhor. E, além disso, o senhor precisa acalmá-los e fazê-los acreditar que tudo ficará bem. –respondeu Wesley.

            Carlos se sentou à mesa de reuniões e do fundo da sala uma luz iluminou seu rosto rugoso e realçava o amarelo de sua gravata fosca. O pronunciamento estava para começar, e o presidente soava frio, pois não tinha muita intimidade com as câmeras, diferente de Catarina que vivia sorrindo e era o melhor alvo para os paparazzi.

            — Meus caros cidadãos de Brasília. A tragédia de mais cedo foi algo inevitável que assustou a todos nós. A fumaça expelida no ar é altamente tóxica, e possivelmente mortífera para pessoas com um fraco sistema imunológico. Se estiverem em casa, não saiam dela. Se estiverem na rua, abriguem-se imediatamente. Aconteça o que acontecer, se protejam, estamos fazendo o possível para livrá-los deste mal.

            A luz se apagou e o presidente se calou. Ele ficou olhando fixamente para o fundo da sala escura por alguns segundos antes de se levantar da cadeira flutuante e ir atrás de seu robô.

            — Senhor, a equipe de segurança tóxica não está conseguindo conter os gases. –avisou o pequeno.

            — Droga!

            — Isso não é tudo. Meteriologistas alegam que o impacto desse desastre resultará numa tempestade tóxica. Ou seja...

            — A água que cair da nuvem será letal para qualquer ser vivo. Precisamos fazer alguma coisa imediatamente. Ligue as cyber nuvens e as envie para coletar toda a chuva que conseguir!

            — Não é aqui que a tempestade desabará senhor.

            — Como assim?

            — Os ventos estão soprando mais fortes hoje do que nunca. A massa de ar quente presente aqui descerá até o sul, onde encontrará ar frio para que tudo se transforme numa terrível tempestade.

            — Em que lugar mais precisamente isso vai acontecer?

            — Na região de Aberlado Luz.

            — Wesley, prepare uma nave. Vamos atrás das minhas filhas.

 

            A boa senhora havia deixado seu aparelho televisivo ligado, e nele o canal de notícias avisava sobre uma possível tempestade tóxica que chegaria à cidade em questão de uma hora. Mas velha do jeito que era, acabou não escutando. Sua concentração estava sobre a receita de um bolo de cenoura, que seria o café da tarde para todos.

            As gêmeas já tinham se distanciado um pouco da fazenda, e agora se encontravam nos limites entre a terra e a água. Correram muito para chegarem até o lago Boca de Fogo. Chamavam-no assim, porque diziam que suas águas eram quentes por viver em seu leito, um dragão que cuspia fogo. As meninas adoravam essa história, mas como tantas outras, não passava de um folclore da região.

            — Paula eu não quero ficar aqui. –resmungava uma.

            — Não chegamos tão longe por nada.

            — Mas o céu está negro. –Fernanda apontou com o indicador o céu escuro e cheio de nuvens.

            — Se está com medo, vá embora. Mas não me atrapalhe.

            Fernanda saiu andando de costas, com receio de ir embora, mas se a irmã não a seguiria ela teria de abandoná-la com por suas próprias consequências. Fernanda começou a correr e adentrou pela mata, deixando Paula sozinha debaixo do escuro céu. Fernanda correu com passos largos e tropeçou algumas vezes. Seu trajeto durou um pouco mais de trinta minutos, e quando saiu do meio das árvores e avistou a casa de sua avó, viu também que seu tio Daniel chegava da faculdade. Ele cumprimentou a mãe de longe, um pouco apreensivo e se achegou na varanda, quando Fernanda o abraçou fortemente.

            — Mãe, está vindo uma tempestade e daquelas.

            — Verdade. Até os animais se recolheram. –falou a senhora olhando para o céu.

            — Não mãe, é uma chuva tóxica. Ela queima como fogo. –o semblante de Teresa mudou drasticamente.

            — Onde está sua irmã? –ela perguntou a garota.

            — Ela não quis vir. –respondeu.

            Daniel entrou dentro da casa, pegou duas capas de chuva, colocando uma sobre seu corpo e a outra pendurada na mão direita.

            — Eu vou atrás dela. Fiquem aqui. –ele partiu em meio aos campos e bosques em busca da outra gêmea.

            O céu já estava num completo breu. Na fazenda as luzes foram acesas pela falta de claridade. O meio-dia estava quase chegando e a temperatura começava a aumentar. A voz de Daniel ecoava por todas as partes em busca de Paula. Ele gritava e gritava, e conforme o tempo passava e não achava a garota, seu desespero aumentava. E quando a primeira gota caiu, por um instante seu coração parou, talvez ele estivesse pensando que o que acontecesse a menina seria sua culpa. Mas foi este também o propulsor que lhe deu mais força e esperança para continuar a procurar pela garota. No chão molhado perto do lago, a garota tremia de dor, e sua pele branca já estava toda avermelhada. Rapidamente a enrolou na outra capa de chuva, segurou-a em seus fortes braços e correu sabendo que a vida da garota estava por um fio. A garota murmurava de dor e a cena era de partir o coração. Daniel corria o mais rápido que podia e quando enfim chegou em casa, no gramado ao lado uma pequena nave estava estacionada. Seu prateado já não tinha o mesmo brilho. Talvez pela falta de luz, ou talvez pela enorme tristeza de quem saía de dentro dela.

            — Paula! –gritou Carlos desesperadamente.

            Suas vestes eram completamente à prova daquela maldita chuva tóxica. Arrancou Paula desesperadamente dos braços do tio e a levou para dentro da nave que esperava de porta aberta. Colocou-a na maca e começou a acariciá-la com as mãos, deixando-as um pouco irritadas. Um enfermeiro especializado ordenou que a levassem imediatamente para o hospital de Brasília, onde ela poderia ser examinada por médicos do assunto. Pediu também para que ignorasse as regras de trânsito, e que se preciso fosse ultrapassasse o limite de velocidade permitido para naves daquele porte. A nave levantou voo levando consigo o presidente e suas filhas, deixando Teresa olhando abismada pela janela, e Daniel com os braços e rosto irritados num tom vermelho vibrante.

 

            Paula foi levada apressadamente para ser examinada pelos médicos mais renomeados do país e que pudessem, de algum jeito, encontrar uma solução para que a pequena não sofresse com alguma sequela da toxidade da chuva. Para aquele pai desesperado, os minutos que se passaram se tornaram horas sentado naquele sofá branco de hospital. Quando o doutor João saiu da sala seguido de outros de mesmo nível e alguns enfermeiros, Carlos colocou-se de pé rapidamente querendo saber o que aconteceria com sua amada filha.

            — Fizemos uma limpeza completa. Retiramos o máximo dos resíduos que encontramos na pele dela e demos alguns comprimidos que combatem as toxinas. Porém o exame de sangue confirmou um nível avançado de nicocerina.

            — O que isso significa?

            — Significa que ela pode ter várias dificuldades para viver na atmosfera terrestre, já que aqui o nível de gases que não possuem tanta afinidade com a nicocerina é enorme.

            — E-Eu não compreendo.

            — A nicocerina não vai sair do corpo da sua filha. Talvez saia, mas não completamente. Esta toxina se junta ao organismo poluindo-o completamente. Isso não a afetaria tanto se estivéssemos no ano 2050, mas a poluição e a atmosfera cheia de gases não afiliados com a nicocerina podem causar a ela lesões em órgãos por todo o corpo. O jeito seria se ela vivesse...

            — Em outro planeta.

 

            Depois de ter levado Paula de volta para o salão presidencial, a sala do doutor João já estava vazia. Sem pacientes ou enfermeiros, apenas ele. Das sombras uma mulher surgiu trazendo consigo um envelope. Ela se aproximou e ele a encarou.

            — Não entendo por que me fez mentir para ele. –falou o médico.

            — Em breve você saberá. –o sotaque francês era completamente familiar.

            Ela jogou sobre a mesa o envelope, que continha várias notas de dinheiro de vários cantos da Terra. Na saída, cruzou o braço com sua comparsa, que usava um vestido vermelho queimado e deixava seus cabelos compridos caírem até suas costas. A francesa se vestia num terno azul marinho com um pequeno coque no cabelo.

            — Por que fez isso Louise? Pensei que apenas a sabotagem na fábrica seria suficiente. –perguntou Elena.

            — Não pude deixar esta oportunidade passar despercebida. Com a população num estado de choque, perigos cada vez mais eminentes, e a filhinha precisando de um novo lar, é mais do que certo que Carlos vai ceder e nos emprestar a corporação MUV. –a francesa sorriu e caminhou lentamente ao lado da mexicana, com passos curtos que ecoavam por todos os corredores do hospital.


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Notas finais do capítulo

o/



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