A Herdeira de Zaatros escrita por GuiHeitor


Capítulo 6
Capítulo 5




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Trigésimo sétimo dia do primeiro mês, ano 7302

 

Cena I – Rumo a Feltares.

05 horas e 29 minutos, Reino Gigante – Ramavel. Mansão de Kaegro Gorj, avenida principal do reino, próximo ao Palácio Real.

 

A Astral ainda não havia nascido, estava escuro e a neve caia suavemente em Ramavel. Na rua, as únicas criaturas vivas eram os guardas reais e alguns comerciantes se organizando para mais um dia de trabalho.

Kaegro estava preparado para a viagem; as malas feitas, a mansão protegida e os termos que apresentaria ao rei, prontos. A carruagem que o levaria ao Palácio de Feltares esperava em frente às grades douradas da mansão. O condutor era o próprio mensageiro Júlio.

 

—Parece que Feltares está cortando despesas. -Kaegro provocou enquanto levitava a bagagem para dentro do veículo. -Ninguém para me ajudar com as malas, nenhum guarda para nos escoltar e o mensageiro é também o condutor.

—Bom dia, senhor. -Saudou Júlio, ignorando a grosseria. -Chegaremos ao Palácio de Feltares ao anoitecer de amanhã.

—Tudo isso? Seria mais rápido nos teletransportar até lá.

—O senhor poderia fazer isso?

—Poderia se fosse minha área. -Resmungou ao entrar. -Nunca consegui dominar essa maldita habilidade.

—É uma pena, senhor.

—Sim, é uma pena, ande logo! Quanto mais cedo partirmos, mais cedo chegaremos.

 

***

 

Cena II – Corcunda-de-um-olho-só.

07 horas em ponto, Reino Elfo – Eyrell. Q.G. da Guarda Real.

 

—Como me pediram, estou aqui. -Era uma senhora muito velha e curvada quem falava. Tinha pele completamente enrugada e carregava uma bengala de madeira escura que, na verdade, mais se parecia um cajado para magia. -O que deseja?

—Bom dia, senhora Gynd. -César estava sentado à cabeceira da mesa retangular, e a senhora se acomodou na outra extremidade. -Eu sou o Capitão César Iros e pedi que viesse aqui para nos auxiliar a compreender algumas questões.

—Madame Gynd. Este é o sobrenome do meu pai, nunca fui casada. Pode me chamar de Olga ou madame Gynd. -Ao terminar de falar, a idosa se ajeitou na cadeira e o cabelo branco que cobria parte do rosto se moveu e, por alguns segundos, os olhos ficaram à mostra. Um deles era castanho, normal, enquanto o outro, uma esfera de vidro.

—Certo… -A visão do olho falso atordoou o capitão. -Olga. A madame deve estar ciente da recente perda do reino.

Olga assentiu e ele continuou:

—Suspeitamos que o objeto roubado tenha alguma utilidade mágica e, sendo a madame a feiticeira mais experiente da região, é a mais apta para ajudar nas investigações.

—Compreendo. Fique à vontade, ajudarei como puder.

—Antes, madame, preciso de algumas informações pessoais. Importa-se de respondê-las?

—Como disse: fique à vontade. -Olga parece assustadora a primeira vista. Como se a má aparência e a estranha sensação que causava ao falar fossem algum tipo de aviso, porém não havia o que temer. A velha senhora era bem calma e realmente tinha interesse em auxiliar a Guarda de Eyrell.

César pigarreou e iniciou o interrogatório:

—Espécie?

—Humana. -Respondeu de pronto.

—Quais as suas especialidades mágicas? -César perguntava e tomava nota logo após a resposta.

—Cura e clima, mas domino bem muitos outros ramos da magia.

—Certo… incomoda-se em me dizer sua idade, madame? -A pergunta foi feita com cautela. Nenhuma mulher se sente bem quando questionada sobre a idade e Olga, particularmente, parecia ter passado há muito da hora da morte.

—De maneira nenhuma. -Ela se moveu mais uma vez e, junto a ela, o cabelo revelando o olho falso. -Tenho cento e quarenta e seis anos…

O Capitão da Guarda se espantou; humanos vivem em média oitenta anos. Ele, então, anotou no papiro uma observação:

 

“Olga Gynd excede muito a expectativa de vida da espécie humana. Agendar investigação.”

 

—Há quanto tempo vive em Eyrell?

—Nasci aqui, mas morei por certo tempo em todos os reinos. Resolvi voltar à minha terra trinta anos atrás.

—Muito bem. Agora podemos começar a trabalhar. Exatamente uma semana atrás, o elfo Darius Quendra fugiu com a coroa do Rei Zadell. A princípio, pensamos que ele queria ouro, mas descartamos a hipótese quando lembramos que ele, antes de fugir, foi noivo de nossa princesa, que descanse em paz. -Olga ouvia toda a história do caso novamente, com absoluta atenção. -E confirmamos que não era dinheiro o que ele queria ao encontrarmos a coroa na margem de um rio. Porém a pedra central não estava lá. -O Capitão ergueu os olhos das anotações e encarou a velha. -É neste ponto que precisamos de ajuda.

—O que deseja saber?

—A pedra… não é um diamante, certo? Como disse, descartamos a possibilidade do ladrão querer dinheiro. E, na casa onde o Quendra morava antes de se mudar para o Palácio Real, encontramos evidências de que há pessoas empenhadas em criar um grande ritual contra a Deusa… a questão é a seguinte: se não é um diamante, o que é? E qual seria a serventia da pedra no ritual ou em quaisquer outros usos mágicos?

—Capitão, conte-me… a pedra, antes de ser cravada na nova coroa do rei, estava no museu, correto?

—Correto…

—Não é um diamante. Eu, dez anos atrás, visitei o museu e achei graça quando li “diamante” na placa de exposição. -Ela se divertia com a lembrança e sorria com a boca desdentada. -Não me entenda mal, é um erro comum para quem não conhece magia.

—Então a madame sabe do que se trata?! -César, mais uma vez, estava chocado, esperava mais dificuldade na investigação.

—A pedra é uma gema de muitas propriedades mágicas, só é encontrada aqui, em Eyrell. É engraçado como uma coisa nativa da região é confundida com outra pelos próprios nativos. -Olga explicou e riu com um chiado rouco. -Chama-se “gelo perene”

—E qual utilidade isso teria nas mãos de Darius Quendra ou dos Guardiões das Chamas?

—Muitas. Como já expliquei: são muitas as propriedades do gelo perene.

—Que utilidade teria para o ritual ou para táticas ofensivas?

—Para o ritual eu não sei dizer, isto é coisa que deve perguntar aos mágicos envolvidos com deidades. -A feiticeira falava devagar, deixando o Capitão cada vez mais inquieto. -E, ainda assim, acho difícil de descobrir se, como o senhor mesmo disse, é um ritual inédito que estão construindo.

—E em arsenal? Que uso teria?!

—Queira a Deusa que não planejem usá-lo como arma.

—Por que?! -César ficava cada vez mais tenso.

—Porque, se o roubaram com esse propósito, muitas vidas correm perigo…

 

***

 

Cena III – De Oroada para o Mundo.

08 horas e 13 minutos, Reino Duende – Oroada. Portões da Muralha, Ilha Maior.

 

—Mydorin, por favor, reconsidere. -Suplicava a frágil Rainha Saramã. -Muitos outros, com bem mais preparo, já fazem o que planeja.

—Eu sei, só não posso mais esperar pelo resultado deles, mamãe. Eu mesma quero contribuir. -A princesa não voltaria atrás da decisão. Estavam na entrada do reino, ainda do lado de dentro dos portões, ela pronta para partir.

O disfarce não alterava muito a aparência de Mydorin. Ela trocara as roupas de realeza por outras mais rústicas, como as dos camponeses. Nos cabelos, cacheados como vinhas de parreira, fez duas tranças frouxas com tiras de tecido laranja, a cor de Oroada. A bolsa de viagem não tinha tudo o que precisava, todavia teria de bastar uma vez que sairia sozinha e não poderia carregar peso em excesso. A coroa fora guardada no cofre palácio.

—Deveria levar algum animal para protegê-la melhor, Calu não ajudará em nada. Por que não leva um leão? -Sugeriu o rei.

—Meu pai, eu não estou a caminho da guerra. -A princesa suspirou, cansada de repetir e tornar a repetir o assunto encerrado. -Estou partindo justamente para evitá-la, portanto armas e proteções não serão necessárias.

—Tudo bem. -Rei Henrique falava de forma áspera, meio irritado com a filha. -Assim que os guardas voltarem da ronda no entorno da muralha, poderá partir.

—Obrigado, tenho tudo que preciso. Calu é só um bicho de estimação, por isso vai comigo. -Ela se referia ao gnomo que carregava em uma outra bolsa, própria para transportá-lo quando ele se recusava a caminhar. Era um serzinho muito genioso, aquele gnomo.

—Sobre a conexão com algum animal de nosso palácio, qual escolheu? -Perguntou a rainha.

—Estabeleci a ponte empática com Tânya e Leônidas. -Tratava-se de um casal, a sereia e o tritão do córrego artificial que cruza grande parte do palácio. E será através deles e do elo empático que mensagens simples poderão ser trocadas entre a princesa e os pais.

—Aqui estão seus registros. A partir do momento que deixar o reino seu nome será Nyra Anthe. -O pai entregou a ela um pequeno rolo de pergaminho com as informações da nova identidade de Mydorin. -Poucos em Oroada sabem de sua partida. Aos súditos direi que está com a saúde abalada, sob observação e tratamento ministrados por curandeiros e clérigos dentro do Palácio Real.

—Eu agradeço, mandarei notícias todos os dias. -Mydorin abraçou os pais uma última vez.

—Meu rei, minha rainha. -Saudou um dos poucos guardas do reino, batendo em continência e curvando-se diante dos monarcas. Em Oroada, trabalhar como soldado é um trabalho fácil. Um reino pacífico e com a taxa de criminalidade praticamente inexistente torna o serviço monótono. -A área acaba de ser patrulhada e está em absoluta segurança, como de costume.

—Bom trabalho, dispensado. -Rei Henrique olhou para a Princesa Mydorin e a segurou pelos ombros. -Tenha cuidado, minha filha.

Ela assentiu sem dizer nada e cruzou os portões. De lá, iniciou a caminhada, junto de Calu, até o porto onde esperaria o navio para levá-la até Eyrell, seu primeiro destino.

 

—Calu, acha que os elfos nos receberão bem? -Perguntou ela ao gnomo após alguns minutos de caminhada silenciosa. Obviamente ele não responderia nada compreensivo, mas Mydorin tem o hábito de fingir entender o que gnomo fala ou, de fato, entendia boa parte por causa da habilidade duende de se relacionar com animais.

O bichinho voltou os olhos para cima, na direção de Mydorin... agora Nyra, e disse:

—Aru aru.

—Calu, você está coberto de razão… -Concordou, Nyra, fazendo um cafuné na cabeça do gnomo. -É isso mesmo, aru aru.

Calu riu mostrando os dentes finos e tortos, e continuou a arrancar flores e capim das moitas ao passar por elas.

—Teremos um dia e meio de viagem até Eyrell. Eu estou tão animada, nunca viajei de navio! Na verdade nunca viajei de maneira nenhuma. Novos ares nos farão bem!

 

***

 

Cena IV – Recado Divino.

11 horas e 59 minutos, Reino Gigante – Ramavel. Pátio Sagrado, próximo ao Palácio Real.

 

Novamente havia uma multidão ao redor do ícone da Deusa Harkuos. Desde o nascer da Astral a estátua reluzia de forma nunca antes vista por ninguém.

E, no momento que Rei Danan e Rainha Imelda cruzaram a aglomeração e ficaram diante da réplica de Harkuos, exatamente ao meio-dia, aconteceu…

Os olhos se abriram brilhando cheios de poder e, pela primeira vez na história, a estátua falou. Não por telepatia como de costume, e sim movendo os lábios e usando a própria voz.

 

—Tempos penosos aguardam na aurora. -A voz era como um sonho. Uma melodia lírica que nem o Bardo dos Bardos seria capaz de reproduzir usando o melhor dos alaúdes. -Não devo interferir no destino dos homens, contudo não devo deixar os inocentes perecerem. -Enquanto a Deusa falava, não se ouvia um único som. Todos continham a respiração. Alguns se ajoelharam em prece, outros desmaiaram com o impacto da cena. -Três informes lhes darei. -A rainha apertava o braço do rei com as unhas e ele se sentia uma criança diante da soberania da Herdeira dos Deuses Ancestrais. -Protejam-se e armem-se contra o fogo… -Uma pausa. -Atentem para as aparências e tenham cuidado. Nem tudo é o que demonstra ser… -Outra pausa. -Tenham prudência acerca de vossos aliados.

Rei Danan não havia compreendido praticamente nada das mensagens e, em um ato de desespero antes que a estátua voltasse a adormecer, atirou-se de joelhos diante do jade e tocou-lhe as mãos dizendo:

—Minha Deusa, ajude-me a compreender o que desejas!

O ícone deu novamente as instruções, desta vez de maneira diferente:

—Primeiro: o inferno é frágil como vidro. Segundo: cautela com lobos em peles de cordeiro. E terceiro: a Marcada se diz vossa aliada.

Então, a escultura fechou os olhos, voltou à sua pose natural e o silêncio se fez ouvir.

 

***

 

Cena V – Briga de Bar.

18 horas e 08 minutos, Reino Humano – Feltares. Taberna Ganso Alvejado.

 

A Ganso Alvejado é uma das tabernas mais antigas e populares da região e, nesta noite, encontrava-se apinhada de homens bebendo, jogando dados, cartas ou se esmurrando em lutas. Fora as garçonetes, as únicas mulheres presentes eram as Dragonesas mais velhas, sentadas em ordem crescente de idade da esquerda para a direita: Vívian, Ruth, Rita, Laura e Kênia.

 

—Que lugar caído! -Queixou-se Vívian, jogando para trás a longa trança de seu cabelo preto. -Teria sido melhor sair pra “explorar”.

—Deixa disso. -Disse Ruth, a irmã de Catarina, empurrando os pés da assassina de cima da mesa para o chão. Ela e Catarina são muito parecidas, a maior diferença entre as duas irmãs é o cabelo. Catarina com as tranças rastafari e Ruth com seu cabelo armado, em um penteado afro e adornado por uma faixa. -Você, na certa, está procurando um pescoço… ou para deixar marcas de lâmina ou para deixar marcas de batom...

As cinco riram e Vívian respondeu:

—Você me conhece tão bem, Ruth!

—Sabe o cara ali no bar, o do bumerangue… -Rita indicou com um gesto discreto um homem de musculoso que mirava no alvo preso a uma das pilastras da taberna. -Ele não tira os olhos de você. Entre um lançamento e outro te espia… o que acha do pescoço dele, Vívian?

—Eu vou até lá! -Disse ela, bateu na mesa e se levantou bruscamente. Acabou virando o próprio caneco de vinho na saída apressada.

—Rita, não é bom pôr lenha na fogueira, ainda mais depois da quantidade de vinho que ela mandou goela a baixo. -Advertiu, Kênia. -Mas aposto que ela vai agarrar o barbudo. -Kênia jogou na mesa dez moedas de ouro.

—Eu aposto que ele é quem vai agarrá-la. -Rita, mais dez.

—Vívian não é tão oferecida assim… -Laura intercedeu a favor da amiga, lançando mais dez moedas no montante. -Aposto que vão discutir.

—Ha! Aposto que ela vai discutir e fazer uma cena, depois vão brigar e, por fim, vão se agarrar. -Ruth finalizou as apostas atirando vinte e cinco moedas sobre a mesa.

 

E não deu outra. Como Ruth previu, Vívian partiu sobre o brutamonte, muito mais alto que ela e, no mínimo, três vezes mais pesado.

 

—Por acaso me pareço com sua mãe? -Todos voltaram os olhos para ela. -Estou falando com você, não me ignore! Estava me encarando por quê?

—Porque tive vontade.

—E se eu tiver vontade de te dar uma surra e tirar seu couro fora? -Ameaçou a assassina, sacando uma faca de dois fios do cinto.

Na mesa, Kênia e Rita xingavam por saber que haviam perdido a aposta.

O homem pareceu dar atenção, encarou Vívian aproximou os lábios do ouvido da assassina e disse sua voz arrastada:

—Você pode tentar, garota.

Era um homem bonito, e o gesto fez a Dragonesa quase embriagada se arrepiar. Só que ela não deixaria ele saber que a seduziu com quatro meras palavras.

—Certo! -Ela respondeu, ficando na ponta dos pés para alcançar a orelha dele. O que fez em seguida deixou a taberna em chamas, como as melhores lutas sempre deixavam. A assassina lhe deu uma dentada na orelha e saiu com a boca suja de sangue. Não chegou a arrancar um pedaço, mas faltou pouco. Ele, por reflexo, afastou-se com a mão sobre a pele sangrando com o corte e Vívian se aproveitou da vantagem.

Entre urros e gritos dos presentes, a garota usou a faca para fazer um talho o rosto do homem.

—Parece que eu consegui… -Debochou ela, apontando para ele a faca e cuspindo o sangue que arrancou com a mordida sobre o balcão das bebidas. Os clientes comemoravam e faziam apostas.

—Vagabunda! Sabe trapacear? -O barbudo estava curvado costas para ela a uma distância segura, ainda pressionando a orelha com uma das mãos. -Eu também sou bom nisso. -Ele, então, virou-se de súbito na direção da moça e ela só sentiu o impacto na testa antes de tombar para trás.

—Isso é o mínimo que merece, cadela! -Os amigos riram junto com ele.

Vívian, no chão e sem ar, não viu nem de onde veio o golpe. Estava longe do homem, fazendo pose de vitoriosa e, no segundo seguinte, estirada sobre o piso de madeira da taberna. Aos poucos, a visão voltou ao foco e a Dragonesa viu a seu lado o bumerangue de metal.

—Desgraçado! -Gritou, e, ao tocar ao ponto dolorido da testa, sujou os dedos com o próprio sangue. Havia um inchaço do tamanho de uma avelã com um pequeno corte, bem acima da sobrancelha.

O homem gargalhava. Ela, irritada, levantou-se rapidamente e avançou sobre ele desarmada. A faca havia escorregado da mão para longe na hora da queda.

As pessoas instantaneamente se afastaram dos dois, formando um círculo ao redor da briga. Estavam acostumados a presenciar cenas como aquela. Ninguém tentou apartar, nem se incomodou com o fato de um homem e uma mulher trocarem murros.

Ele ainda sangrava, não tanto, mas ainda sangrava. Levantou a guarda, pronto para derrubar Vívian outra vez. A maioria das pessoas torcia contra a Dragonesa e gritavam “Naddor”, nome do homem dos bumerangues.

Naddor armou um grande soco que atingiria a assassina em cheio no rosto caso ela não fosse tão ágil quanto é. O golpe passou no vazio quando Vívian inclinou o tronco para a direita, fechando a guarda para proteger o rosto e o estômago, caso o ataque fosse uma finta. Em seguida, contra-atacou com uma cotovelada no nariz usando o braço que antes lhe cobria o rosto.

—Força não serve para nada quando não se sabe usar. -A Dragonesa murmurou baixo e só Naddor pôde ouvi-la no meio da algazarra da Ganso Alvejado. Então finalizou o serviço passando uma rasteira no homem.

—Não vou cair sozinho, garota. -Naddor usou as pernas para derrubar Vívian, que caiu sobre seu peito.

 

Ele se aproveitou da situação…

 

—Até que foi um bom exercício, caipira. -Antes que Naddor respondesse ela o agarrou pela gola da camisa e juntou seus lábios aos dele ali mesmo, no chão. O povo aplaudiu, gritou e assobiou alto comemorando o desfecho da cena.

 

…E ela também.

 

E Ruth venceu a aposta.

 

***

 

Cena VI – O Convite.

19 horas e 04 minutos, Reino Gigante – Ramavel. Sala de reuniões, Palácio Real.

 

O cômodo não possuía nada diferente do padrão das outras dependências do palácio. Apenas mais uma sala com uma mesa comprida de madeira nobre, rodeada de cadeiras do mesmo material, teto abobadado e paredes azuis.

Ali estavam um escrivão, o diplomata oficial de Ramavel e a família real: Rei Danan, Rainha Imelda e, o único herdeiro da coroa, Príncipe Ledrone.

 

—A mensagem da Deusa precisa chegar a todos os reinos. Quero que seja marcada uma assembleia com todos os membros da União Real com a máxima urgência que a ocasião pede. -Rei Danan falava com sua voz retumbante.

Danan é imenso, até mesmo comparado aos outros gigantes. Na pele negra percebia-se pequenas gotas de suor se formando, efeito da pressão a qual estava submetido. Possui olhos escuros e cabelos raspados bem rentes ao couro adornados pela imponente coroa de ouro e safiras.

—Creio que agendar para o trigésimo nono dia deste mês é o bastante, majestade. -Disse o diplomata.

—Ainda me parece muito, mas que assim seja. -Só o rei e o diplomata falavam. A presença da família real inteira era mera formalidade e o escrivão estava presente apenas para redigir o convite/convocação para a assembleia.

—Escrivão, leia o texto.

—Sim, senhor, meu rei. -Disse o homem engolindo em seco.

 

“-Ramavel, em nome de Rei Danan Pujo, convoca todos os membros de autoridade da União Real, assim como seus auxiliares de menor patente, a comparecer ao Reino Gigante, no trigésimo nono dia do primeiro mês, deste ano.

O motivo: transmitir o informe da Deusa Harkuos, entregue a todos os que se encontravam no Pátio Sagrado no momento do fato. A comunicação com a Deusa se deu através do Monumento de Jade de Harkuos, exatamente ao meio-dia do trigésimo sétimo dia do primeiro mês, ano 7302.

O Rei que não puder comparecer e não nomear um representante à assembleia terá a participação vetada das decisões posteriores acerca do assunto.”

 

—Bom trabalho. Envie o texto por transmissão telepática e correio, tanto aéreo quanto terrestre. -Decretou o Rei. -Não admitirei desculpas esfarrapadas sobre falhas no envio da mensagem!


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