A Herdeira de Zaatros escrita por GuiHeitor


Capítulo 16
Capítulo 15




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Cena I – Recapitulação.

 

Muitos dias se passaram desde o quadragésimo primeiro do primeiro mês. Nesse período, várias tramas se desenrolaram. Embora não sejam tão cativantes ou interessantes quanto as anteriores, vale a pena mencionar os pontos relevantes desse período que ficou de fora da narrativa:

 

O episódio que contarei primeiro talvez seja o mais importante… ele começa logo após a formação da Salvaguarda Legítima. Como podia-se supor, Danan, o Rei de Ramavel, não ficou nada contente em ser deixado de fora da aliança. Ele, inclusive, escrevera ao Rei Zadell exigindo motivos para o deixarem de fora do bloco. O Rei Elfo listou, entre as muitas razões que poderia ter dado, apenas três: o completo descaso da União Real para com a procura por Darius Quendra; e, diga-se de passagem, esta não é mais uma prioridade dos elfos, ao menos por hora. O desrespeito para com a civilização élfica, a qual era obrigada a seguir princípios contrários de sua natureza durante o tempo em que a União vigorou. O maior poder dentro dela era, justamente, dos gigantes. E, finalmente, o objetivo da Salvaguarda Legítima: não fazer guerra. Zadell explicou a Danan; muito cordialmente, enfatizo, que a parceria era em prol do desarmamento e, já que Ramavel lutaria, sua participação estava fora de cogitação.

A resposta deixou ainda mais enfurecido o Rei Gigante. Por outro lado, quando a notícia de três reinos opositores deixando a guerra chegou a Ruthure, mais precisamente aos ouvidos do Rei Rujavo, ele festejou como no dia em que havia sido coroado Rei dos Anões. Também houvera festa em Kaotheu pelo mesmo motivo. Agora a situação estava desenhada da seguinte forma: Fiéis contando apenas com Ramavel versus Lumes Antigos apostando em Kaotheu e Ruthure… uma bela reviravolta, uma grande perda de vantagem por parte dos Fiéis.

 

Fechando os parênteses abertos anteriormente: a Guarda de Eyrell adotou como nova diretriz principal a ação humanitária nas zonas de combate. Preparavam-se para as missões de resgate e auxílio, abandonando a caça ao Quendra. Até porque todos sabiam que ele estava seguro em Ruthure, longe das investidas da Guarda.

 

Tomando os Guardiões das Chamas como assunto agora: Darius, desde o último encontro com sua finada noiva, nunca mais se separou do caco de diamante com a Runa Azar. Kayena tentara importuná-lo outras vezes, porém o medo que sentia do objeto a mantinha afastada. Darius, como havia dito que faria, continuava a carregar a peça dentro das cuecas.

O processo de clonagem do gelo perpétuo rendeu quarenta e cinco pedras idênticas. A partir delas foram construídos trinta e nove Infernos Congelados, pois seis das gemas acabaram sendo avariadas na confecção da arma.

Garras é quase um animal adulto e está muito mais forte. Absorvera muitos animais, entre eles escorpião gigante, centauro, minotauro, sapo-cachorro, fada, crocodilo e elefante. A tapeçaria na qual Hilda escrevia o novo futuro do clã estava concluída. A imagem no centro do tecido mostrava o busto de Targus com uma mão estendida sobre uma minúscula Kayena fantasma. Dos dedos do necromante pendiam fios que o conectavam à princesa, dando a ela o aspecto de marionete. Na imagem acima dessa cena, estavam todos os membros dos Guardiões das Chamas em suas melhores roupas e poses. Abaixo de tudo, Ezerk, o líder do clã, na frente de todos, segurava uma lança cuja ponta empalava a cabeça decapitada de uma mulher. Era Harkuos na visão de Hilda. Atrás dele, os demais, armados e altivos. Recém-saídos vitoriosos da batalha final, como a própria cigana explicara depois. Flutuando sobre as cabeças de cada um, uma coroa de louros dourada e majestosa. A tapeçaria media dois metros e meio e, ao ser terminada, penduraram-na no salão da fortaleza.

 

Isaac Sereel iniciara seus estudos na Escola da Nobreza no quarto dia do segundo mês. Era puro orgulho para os pais e para a antiga professora, senhora Goatath. Por vezes, perdeu-se nos conteúdos das disciplinas, mas tampouco se deixava abater. Sempre que acontecia, corria para a Biblioteca Real ou para a coleção de livros que a professora Layla mantinha em sua própria casa e estudava por conta própria.

Meline era outra que só estudava. Hoje conhece de cor vários feitiços e runas. Está tão afiada na magia que quase chegou a derrotar Kênia, a gigante e líder das Dragonesas, em um dos treinos.

E o que dizer do Príncipe Franco? Outro aluno fantástico. Após tantos dias de treino, nem se parecia com o Franco do início do treinamento. Ele, aliás, avançara bem mais do que Meline, pois tinha um Mestre para guiá-lo. Havia, inclusive, adquirido uma melhora em sua forma física.

 

Kênia retornou ao seu reino natal, Ramavel, a fim de ajudar nos preparativos e na guerra em si. Kaegro, obviamente, fora convocado, contudo o contrato que assinara para ensinar Príncipe Franco fazia dele um funcionário da Coroa Humana. Ele desejava ir em socorro dos gigantes e zangou-se ao não poder seguir sua vontade.

A liderança das Dragonesas agora estava nas mãos de Rita. A nova comandante do clã se inscreveu, junto com todas as companheiras, como voluntária da Salvaguarda Legítima, a exceção foi Meline. Ela ficou de fora por ainda não ser maior de idade; Catarina entrou por muito pouco, pois completara dezoito anos alguns dias antes das inscrições terminarem por excesso de contingente.

 

Aço Voador optou por proteger a Família Real Gigante e só ir à guerra caso haja a possibilidade dos soldados ramavenos serem derrotados. Ela e sua equipe construíram o nexus que alimentaria a parede protetora no entorno do Monte Nublado e ele está operante desde o sexagésimo primeiro dia do primeiro mês.

Rei Rujavo, muito esperto, pediu mil perdões por ter traído Rei Néfor e por tê-lo exposto na assembleia que culminou no fim da União Real. Néfor, ardiloso como uma naja, jurou que estava tudo perdoado e Rujavo emendou: “No calor do momento, acabei perdendo a cabeça. Houvera-me arrependido assim que deixei o Reino Gigante, mas estava envergonhado e sem jeito de me reparar com meu inestimável aliado kvarbrakoj.” Dissera ele. Néfor tornou a dizer que eram águas passadas e que estava tudo perdoado. Se o Rei dos Anões caiu ou não nessa conversa, são outros quinhentos. O Rei Kvarbrakoj certamente não engoliu uma palavra sequer.

 

Vívian parecia bem. Mesmo depois de ter sido abusada, não restaram sequelas notáveis em sua pessoa. Pelo menos até o momento. Ela estava mais cautelosa acerca dos homens com quem se envolvia, embora esses envolvimentos não tenham mais seguido o ritmo que seguiam antes do trauma. Estavam, aliás, praticamente extintos.

Falando em extinção… Naddor, o tal homem, realmente morreu como previra a Dragonesa. Sua esposa o encontrou dois dias depois em meio a uma nuvem de varejeiras e um chão vermelho de sangue seco. Ele não tinha filhos. No enterro, estavam presentes, além da viúva, muitos amigos e alguns irmãos e parentes. Nunca descobriram quem era o assassino. Vívian não dá ponto sem nó. A mãe, Velma Cann, nunca soube do ocorrido.

 

***

 

Cena II – Aço Voador.

Septuagésimo nono dia do segundo mês, ano 7302.

Meio-dia. Reino Gigante – Ramavel. Pátio Sagrado.

 

Fazia alguns dias que Aço Voador estava no cargo de guarda-costas da família real, mas somente agora seria formalmente apresentada ao reino como a Chefe de Segurança de Ramavel.

 

Rei Danan havia feito um breve discurso; sendo o bom político que é, não perderia essa chance. Em suas falas, deu muita ênfase à “superioridade gigante”. Então, finalmente desceu do púlpito para que Aço Voador subisse e se apresentasse aos ramavenos.

 

—Bom dia, Ramavel! -começou ela, com uma voz bonita e forte. -Há muitos dias eu ocupo esse posto. Hoje vim aqui me apresentar formalmente aos senhores. Como alguns aqui devem saber, eu fui amaldiçoada logo ao nascer. Disseram-me, séculos atrás, que fora minha própria avó quem me marcou, eu não sei até hoje como foi de fato. Nem lembro, pra lhes ser sincera. Eu nasci feiticeira e a tal maldição ou deu errado ou, desde o início, foi feita para me fazer forte.

As pessoas se olhavam, tentando entender onde Aço queria chegar com aquela conversa.

—A praga está atrelada ao meu nome. Ninguém além de mim o conhece por essa razão. Na escritura da minha jura está listado todos os meus poderes. Em resumo ela diz a mim o seguinte: terá todos os atributos naturais aumentados, terá a força de uma divindade, terá pele de aço quando a lâmina se aproximar do seu corpo, jamais tocará o chão por ser superior a tudo que o nele toca e, por último, terá imortalidade até que descubram seu verdadeiro nome.

As pessoas se agitaram e começaram a debater umas com as outras. Uma ou outra conhecia a lenda, mas não faziam ideia do teor de verdade existente nela. Aço Voador esperou, pacientemente, as vozes diminuírem antes de continuar:

—Eu nasci há exatos setecentos anos. No trigésimo primeiro dia do primeiro mês, ano 6602. A escritura da maldição marca meus dias de vida desde o nascimento. Resolvi contar minha história para que não me temam. Para confiarem em mim. -Ela fez uma pausa. Tirou o anel que usava e o segurou diante do público. -Esta é uma das minhas armas. Chama-se Anel Bélico e tem o poder de assumir a forma de qualquer arma que eu desejar. -Dito isso, o anel se transformou em uma espada, depois em um machado e, por fim, em uma maça. A feiticeira secular o pôs no dedo e prosseguiu:

—Este colar – Falou, tocando a joia em seu pescoço. – também é uma arma. Chama-se Aura Paralisante. Eu mesma o construí quando exterminei a última górgona do mundo, há cerca de duzentos e quarenta anos atrás. Esta arma simula o poder daquelas criaturas repugnantes: todos que olharem nos meus olhos, quando a Aura Paralisante estiver em uso, transformar-se-ão em pedra no ato. Existe também um efeito colateral: ele, de fato, cria uma aura no meu entorno que vai, pouco a pouco, petrificando, todos ao meu redor num raio de aproximadamente dois metros e meio. -A feiticeira removeu o corselete que usava sobre o vestido. Sentia calor apesar de o frio ser constante em Ramavel. Naquele momento, ventava bastante e caíam alguns flocos de neve. -Já conhecem minha história e meus poderes. Alguém tem perguntas a fazer?

Príncipe Ledrone chamou a atenção de Aço e perguntou:

—Você extinguiu as górgonas mesmo? -Ledrone tinha trinta e nove anos, e era o único filho de Danan e Imelda. Era a cara do pai: pele negra, olhos miúdos e escuros. Da mãe herdara os cabelos muito cacheados e as grandes covinhas que se mostravam sempre que ele falava.

—Sim. Um velho amigo que se foi há muito tempo me disse uma vez que eu precisava ter sempre um objetivo na minha vida. Caçar as górgonas o foi naquela época. Matei todas, Medusa, a Górgona Rainha, por último.

—Quanta coragem!

—É fácil ter coragem quando se é invencível, alteza. É a alma de Medusa aqui dentro. -Disse ela apontando para o Aura Paralisante. A joia era composta por três prismas verdes, sendo o do meio maior do que os das extremidades, pendendo de um fio de prata. -Antes de morrer, ela me deixou essas cicatrizes. -E estendeu o braço direito, aquele onde havia riscos mais claros sobre a pele negra.

Ao ouvir aquilo, um homem no meio da multidão gritou:

—Como ela te deixou cicatrizes se a tua pele vira aço ao pressentir o perigo?

—Ela sabia o meu nome verdadeiro. Porém não conseguiu pronunciá-lo corretamente… eu a havia ferido a língua com uma bola de fogo. Isso evitou minha morte e maiores lacerações. -Respondeu ela, sem saber de onde partiu a voz. -Algo mais? -Ninguém falou. -Acreditam em mim? Confiam sua segurança, a dos seus líderes e a deste reino a mim?

Novamente as vozes se agitaram. Praticamente todos concordavam que Aço Voador deveria ser a Chefe de Segurança de Ramavel.

—Obrigada. Juro pelo meu nome que não se arrependerão.

 

***

Cena III – O Caçador de Recompensas.

Octogésimo dia do segundo mês, ano 7302.

20 horas e 02 minutos. Reino Anão – Ruthure. Taberna e Alambique dos Javalis.

 

Os Javalis são uma família afamada e nobre de Ruthure. Possuem muitas propriedades como esta e todas elas carregam o sobrenome da linhagem. Dentre os ramos onde atuam, destacam-se churrascarias, forjas, minas e, é claro, bares.

Os irmãos responsáveis pelo estabelecimento haviam convidado os Guardiões das Chamas para uma noite de bebedeira por conta da casa. Bem, não todos. Foram convidados apenas os homens do clã. Era um pequeno agradecimento pelo trabalho no qual estavam empenhados, disseram.

Mesmo assim, nem todos eles aceitaram o convite. Targus foi um deles, Ezerk, o outro. O anão achou que poderia ser uma emboscada para atacar a fortaleza menos protegida e resolveu ficar. Barrou a saída de Urak a fim de ter reforço caso estivesse correto. O necromante simplesmente não gostava de multidões nem de álcool. Portanto foram apenas, Cícero, Manu e Darius.

 

—Beba um pouco mais, Manu. -Incentivou Darius. Chamaram-nos aqui pra isso!

—Está bem assim. Já bebi o suficiente, mas esses petiscos estão uma delícia! -Respondeu o híbrido com a boca cheia de queijo e carne.

—Cada um comemora como gosta! -Acrescentou um Cícero bastante grogue, enrolando a língua ao falar.

—Gostaria de saber como Garras está. -Disse Manu.

—Ela está bem, relaxe. -O elfo responde, bebendo metade do caneco de aguardente de uma vez só. -Não é um bebê, é uma cobra superpoderosa! Nossa, como isso pegou mal... -Preciso me aliviar. -Arrematou, levantando-se e indo em direção ao banheiro.

 

Não passaram nem trinta segundos e Darius voltou correndo e saltando por cima das mesas. As pessoas o xingaram e ele gritava:

—EMBOSCADA!

Cícero riu e Manu se assustou mas, não havendo nada no encalço do amigo, acharam graça da vergonha que o companheiro de clã passava.

—Você bebeu demais, Darius! -Provocou Manu.

—É verdade, precisamos voltar agora! Acho que a emboscada que o Ezerk temia foi armada para nós, aqui, e não para a fortaleza. -Explicou ele, agora ao lado dos amigos, entre risadas deles e olhares zangados dos demais clientes.

—A bebida causa alucinações nos elfos? -Perguntou Cícero, assumindo uma postura mais preocupada.

Darius só então notou o sai, uma espécie de tridente pequeno usado em pares, fincado em sua coxa.

—Argh! -Grunhiu o elfo, deixando-se cair na cadeira.

—Pelos Deuses! -Exclamou Manu. Cícero, faça alguma coisa!

—E o que você quer que eu faça?!

—Alguém arranque esta droga da minha perna! -Pediu Darius entre caretas de dor.

O lugar estava vazio. As pessoas debandaram assim que notaram a trilha de sangue deixada por Darius durante a corrida.

Cícero pressionou o ferimento com uma das mãos e, com um movimento rápido, puxou o sai de uma só vez. O elfo mordia o lábio para não gritar.

—Manu, rápido, enfaixe e ferimento e tente estancar o sangue. Vou erguer uma prot… -O feiticeiro fora interrompido. Parecia que estava sendo esganado ou algo parecido, mas ninguém o tocava.

Manu, por reflexo, disparou três jatos vermelhos de energia com seu anel nas costas de Cícero. Por alguns segundos, o corpo de um homem, do mesmo tamanho que o duende-humano, fez-se visível. O homem aplicava uma gravata em seu amigo.

Não era possível ver seu rosto, ele vestia uma máscara de pano preto para cobrir o nariz e a boca e havia também um capuz azul-marinho encobrindo o restante da cabeça.

—Largue-o! -Brandou o duende-humano com uma coragem raramente vista em seu comportamento.

O ataque não cessou. Então ele descarregou um feixe contínuo da mesma energia vermelha. Infelizmente o atacante foi mais veloz e se aproveitou da oportunidade para ferir Cícero, girando-o e usando-o como escudo. O feiticeiro caiu desacordado. Já estava cambaleando de bêbado, além de sufocado pelo aperto em sua garganta; logo, bastava um empurrão para nocauteá-lo.

—Saia. -Ordenou o homem, propositalmente oscilando a invisibilidade ao caminhar na direção de Manu. O capuz não estava mais sobre a cabeça, era possível, agora, ver parte do rosto do ninja: olhos muito pretos, como os cabelos lisos e desarrumados depois do solavanco do último ataque. -Eu não quero feri-lo. E tirou o véu, revelando um nariz bem desenhado e uma boca de lábios cheios e muito vermelhos. Meus problemas são com esse aí. -Disse, quase completamente visível, indicando Darius com a cabeça.

—Então você tem um problema comigo também! -Mais um raio. -Não vou deixar que faça mal a ele!

O agressor, completamente visível, desviou-se do tiro com maestria. Era claramente um híbrido: orelhas de elfo, estatura e fisionomia de duende. Ele, então, atirou dois sais para contra-atacar dizendo:

—Você não pode comigo!

Manu projetou um campo de força com o anel mágico, parando o ataque.

—Você está desarmado, acabaram-se os sais, renda-se! -Manu estava esgotado. Os cabelos castanho-claros colavam na testa suada e seu punho tremia ao mirar a cabeça do inimigo.

—Olhe de novo. -Linhas espiraladas brilharam prateadas nos antebraços do elfo-duende e mais dois sais surgiram em suas mãos. -Repito: você não pode comigo. Seu lado duende é descontrolado, você sente medo de ferir. Enquanto eu… -Lançou um sai e depois o outro, com extrema violência e força.

Manu os bloqueou com o campo de força. Enquanto isso, Darius, semiconsciente, perdia sangue, largado sobre o banco.

E então houve outro brilho prateado e um novo lançamento de sai. E outro depois desse e outros em sequência, repetidamente, infinitamente. A proteção que guardava não só Manu, mas também Darius, começou a trincar. As rachaduras aumentavam a cada golpe até que tudo veio a baixo, jogando Manu ao chão com a explosão.

O pequeno homem saltou sobre ele e segurou um sai com a ponta central entre os dedos anelar e médio, como se fosse uma grande garra. E, pressionando-a de leve no pescoço de Manu sussurrou:

—Ponha seu rabinho entre as pernas e volte para o canil no qual você se esconde. Diga aos seus amigos que, se quiserem ver o elfo vivo, me devem trinta mil peças de ouro até domingo. Sem barganha. Caso contrário… -Ele deixou escarpar um riso curto. -Eu o matarei e levarei até Eyrell. Soube que ele vale vinte e cinco mil peças de ouro lá… -Finalizou, erguendo uma das sobrancelhas de forma intimidadora.

Manu tentou se levantar e a ponta do sai o perfurou, deixando escorrer um pouco de sangue.

—Quietinho aí! Eu não quero feri-lo ainda mais. Quando tiverem o dinheiro, levem-no em um saco dentro de uma carroça, esconda no meio do feno, até o fim desta avenida. Deixei-a ao lado do arbusto de folhas amarelas à meia-noite. Sinalize, da fortaleza mesmo, disparando luzes vermelhas para o céu. Quando eu pegar a carroça, soltarei o elfo onde a busquei. Sem trapaças… sei quantos são, mas você não sabe quantos estão comigo nessa jogada.

Darius há muito havia desmaiado. Quando o duende-humano o viu daquele jeito arregalou os olhos assustado.

—Relaxe. -Tranquilizou-o o sequestrador. -O sai que o perfurou tinha sido embebido em uma droga calmante. Ele está vivo, apenas dorme. Parece seu outro amigo está acordando, eu preciso ir. -E ficou novamente invisível.

Ele caminhou até o elfo fora de combate e, quando o tocou, tornou-o também invisível. Então jogou-o sobre as costas e arrastou-o, com certa dificuldade devido ao peso, para dentro da taberna. De lá, alguém o ajudaria a chegar em seu esconderijo.

 

***

 

Cena IV – Más Notícias.

20 horas e 24 minutos. Reino Anão – Ruthure. Fortaleza dos Guardiões das Chamas.

 

—Ezerk, você estava certo. -Disse Cícero ao chegar ao salão da fortaleza com Manu a seu lado. Todos se encontravam presentes, menos as Bruxas Siamesas e Targus, que haviam se recolhido. -Mas a emboscada não visava o Q.G.

—Fomos atacados. -Interpelou Manu. -Tentamos resistir, foi em vão… e Darius foi levado.

—Como Assim?! -Indagou Ezerk.

—Um caçador de recompensas sobrepujou a nós três e o levou. -Respondeu Cícero. -Ele quer trinta mil moedas de ouro como resgate até domingo, caso contrário o entregará para a Guarda de Eyrell. -Completou o duende-humano. -Trouxemos um de seus sais mágicos. O ninja os atirava e novos tornavam a surgir em suas mãos depois de um brilho prateado. -O híbrido abriu a bolsa e xingou mentalmente. -Sumiu.

—Devem desaparecer com a distância ou pela vontade do dono. -Supôs o feiticeiro. -Eu tentei acessar a mente dele, sem sucesso. -Falou, omitindo a parte na qual fora posto na lona. -A única coisa que descobri foi uma forte ligação com nosso amigo sequestrado.

—Mas que demônios! -Gritou Urak, descarregando um murro que fez a parede estremecer. -Eu devia ter ido.

—O erro foi meu. -Disse Ezerk. -Não se culpe.

—Estava na cara que era uma arapuca. -Concluiu o kvarbrakoj. -O raptor se identificou?

—Não, mas possui habilidades únicas e está recebendo auxílio dos Javalis. Será fácil encontrá-lo depois de confrontar os donos da taberna. -Falou Cícero.

—Únicas como? -Ezerk quis saber.

—Além das armas mágicas, ele era capaz de ficar invisível.

—Eu posso ver através da invisibilidade. -Falou Hilda que, até então, só escutava. É possível esconder o corpo físico, o espiritual não.

—Vamos agora mesmo atrás de Darius. -Decretou Urak, já com o martelo de batalha em punho.

—É melhor que esperemos até amanhã e planejemos com mais calma.

—O meu irmão acabou de ser capturado por negligência minha, Ezerk. Não vou dormir tranquilo sabendo que mais alguma coisa pode acontecer a ele pelo mesmo motivo. Eu irei.

—Seja cauteloso, general! -Pediu Ezerk. -Força e poder nunca venceram inteligência e prudência. Espere pela alta madrugada e então parta em socorro do seu amigo.

—Meu irmão! -Corrigiu o kvarbrakoj. -Como queira. Partirei as três e trinta. Nem um minuto a mais.


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