três de bastões escrita por themuggleriddle


Capítulo 9
O Ministério da Magia


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigado Seren, godsnotdead e Ivory pelos reviews no último capítulo :))))) espero que curtam esse.



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Novembro estava acabando quando Frank e Feliks decidiram agir.

Duas semanas antes, eles haviam recebido o que a Srta. Zabini e Valentina haviam lhes prometido em troca do pingente azul: um saco cheio de roupas bruxas, varinhas falsas, documentos falsos de identificação do Ministério e um pedaço de pergaminho com alguns números rabiscados. Para Ravenwood, a Srta. Pickering ainda deu um baralho de tarô (não tão ricamente decorado quanto o dela, mas ainda assim muito bonito).

“Porque você estava tão adorável da última vez, tão interessado neles,” ela falou, com um sorriso no rosto, enquanto colocava o baralho nas mãos dele.

Eles tentaram entender os motivos por detrás da vontade de ajudar das duas bruxas, mas, aparentemente, tudo se resumia ao fato de Valetina ter sido despedida e a vontade delas de ter algum tipo de vingança, mesmo que isso passasse despercebido pelo Ministério (Frank dizia que essa era a melhor parte para elas, o conhecimento de que elas haviam ajudado dois trouxas entrarem no Ministério enquanto a instituição não tinha ideia de que elas podiam fazer tal coisa). Ao final das transações, Bryce e Zabini já estavam tratando um ao outro como velhos parceiros de negócios e ela o estava convidando para outro jogo na mesa de Coppersnout, quando eles terminassem todo o trabalho com o assassino misterioso.

E agora, tudo o que restava era colocar o plano em ação. Ravenwood gostaria de estar em melhor forma quando chegasse a hora, mas ele não podia fazer nada como fato de estar exausto por conta do trabalho (ele se perguntava se a proximidade do feriado de fim de ano aumentava a necessidade das pessoas por violência e homicídios, além da necessidade de cirurgiões arrancarem pedaços de pacientes). A maior parte do planejamento ficou por conta de Bryce, enquanto ele tentava organizar tudo no trabalho, já que ele havia notado que o Inspetor Chefe não parecia muito satisfeito desde que ele faltara o trabalho por conta da dor de cabeça... E, para alguém que costumava não se importar em fazer horas extras, Feliks agora estava muito mais a vontade em deixar o necrotério quando suas horas de trabalho acabavam para poder aproveitar o tempo livre que ele tinha (ele nunca contara para ninguém do trabalho que o seu tempo livre era preenchido com pubs mágicos e investigações de assassinatos feitas na surdina com o antigo suspeito do tal crime).

Estava frio e o céu começava a escurecer quando eles chegaram ao endereço que as bruxas haviam escrito no pergaminho. Era uma rua calma no coração da Londres Central e, naquela hora, não havia ninguém por perto para lhes lançar olhares estranhos por conta das roupas que eles estavam usando: o médico estava vestindo suas calças e camisa habitual, junto com uma gravata, um colete de um tom azul noite, com pequeninas estrelas bordadas em fio prateado, e um casaco (que mais parecia uma capa, por ser longo e quase esvoaçante) da mesma cor e com bordados parecidos na barra e nas mangas; as bruxas chegaram a tentar convencê-lo de furar uma orelha, dizendo que era uma nova moda entre alguns bruxos, mas ele decidiu recusar com educação. Frank, por outro lado, estava usando calças de lã de cor tijolo, assim como o casaco, com um colete verde escuro quadriculado com laranja, além de uma capa de uma cor verde musgo; ele também tinha um chapéu pontudo que estava carregando debaixo do braço.

“Deve ser aqui,” disse Bryce, apontando para uma cabine telefônica ao lado de um dos prédios.

Eles encararam a cabine por um momento, como se esperassem alguma revelação, mas, por enquanto, nem mesmo um pequeno sinal de magia era visível para Feliks.

“Vamos lá,” o médico murmurou, abrindo a cabine e entrando, encolhendo-se em um canto para que Frank pudesse caber junto. “Qual é o número mesmo?”

“62442,” disse Bryce, tirando o pergaminho de dentro das vestes. “Realmente espero que não seja uma brincadeira.”

“Você ficaria irritado por ter caído num truque ou frustrado porque pensou que a Srta. Zavini era sua amiga?” perguntou Feliks, sem nem mesmo notar o que falava, enquanto discava os números.

“As duas coisas,” o outro respondeu, baixinho. “Mas que diabos-“

“Bem-vindo ao Minsitério da Magia,” disse uma voz feminina que parecia estar vindo de algum lugar dentro da cabine. “Por favor, informe o seu nome e razão da visita.”

“Feliks Holmes,” o médico falou, depois de revirar os bolsos atrás dos documentos falsos que foram lhes dados e depois vendo o que Frank lhe mostrava. “E Frank... Watson.”

Frank revirou os olhos. Seja lá de quem fora a ideia de escolher aqueles nomes, eles só podiam esperar que nem todos os bruxos conhecessem os trabalhos de Sir Arthur Conan Doyle.

“Estamos aqui para... fazer um exame médico nos funcionários,” disse Bryce, fazendo uma careta enquanto olhava o outro homem e sussurrava: ‘O que eu devia dizer?’

“Obrigada,” a voz ecoou outra vez. “Visitante, por favor, pegue a identificação e coloque-a em suas vestes.”

Um som metálico surgiu dentro do telefone e duas etiquetas prateadas foram cuspidas pela abertura onde, normalmente, as moedas caíam. As duas etiquetas tinham os seus nomes e a palavra ‘curandeiro’ escritas nelas.

“Visitante, você deve apresentar-se para inspeção e entregar a sua varinha para registro na mesa de segurança, a qual está localizada no final do Átrio.”

Feliks sentiu o chão da cabine tremer e notou que eles estavam deslizando para dentro do chão, como se estivessem em um elevador. Logo eles estavam ao nível da terra e tudo ficou escuro. O médico conseguia sentir Frank ficar tenso ao seu lado. Depois de um ou dois minutos, uma luz dourada iluminou os seus pés eles observaram a cabine descer em um local mais claro.

 

“O Ministério da Magia lhe deseja um ótimo dia,” disse a voz da mulher.

A porta da cabine se abriu e eles saíram com cuidado. Ravenwood sentiu-se ficar boquiaberto.

Eles estavam parados no final de um longo salão com paredes de azulejo preto e chão de madeira bem polida. Quando o médico ergueu a cabeça, ele viu que o teto era de um lindo azul pavão e cheio de símbolos brilhantes que ficavam mudando como os anúncios que ele certa vez vira numa televisão. Dos dois lados do salão, haviam lareiras ornamentadas em dourado das quais bruxos e bruxas saíam e entravam, surgindo ou sumindo dentro de chamas verde esmeralda.

“Isso é loucura,” Feliks sussurrou, tentando não deixar sua surpresa transparecer em seu rosto, mas sabendo que estava falhando miseravelmente nisso.

“Muita loucura,” murmurou Frank, puxando o homem para longe da cabine e esta logo voltou a subir. Não demorou para eles se misturarem aos bruxos que andavam pelo salão. O jardineiro pegou as etiquetas prateadas da mão de Feliks e as amassou, colocando-as no bolso. “Mas eles não precisam saber que é loucura para nós.”

Ravenwood assentiu. O homem tinha razão, eles tinham que passar por funcionários do Ministério, gente que via aquele lugar todos os dias ou, na pior das hipóteses, bruxos que não conheciam a instituição, mas não se surpreendiam com magia. E falando em magia... Se o Black Siren foi um carnaval de cores e luzes, o Átrio do Ministério era uma explosão. Por um momento, os sinais de magia vindos de todas as pessoas no salão fez a cabeça de Feliks doer e deixá-lo tonto, mas, lentamente, ele conseguiu se concentrar para ignorar a maior parte dos estímulos, focando apenas no que ele queria ver.

O médico acompanhou Frank que, outra vez, caminhava em uma velocidade impressionante para alguém que de vez em quando tinha dificuldade de atravessar um quarto. O homem atravessava por entre as bruxas e bruxos com a cabeça erguida e a postura rígida e correta, exceto pelo ombro que se arqueava para que ele pudesse se apoiar na bengala. Feliks aprendeu a reconhecer essa postura como aquela que o jardineiro usava quando queria intimidar os outros. Aquele andando na sua frente era o Tenente Bryce e a única coisa que o Dr. Ravenwood podia fazer era segui-lo.

Frank parou por um momento quando eles chegaram no outro lado do salão. Na frente deles havia uma fonte de água cristalina com quatro estátuas douradas: um bruxo com a varinha apontada para o teto, uma bruxa com as vestes esculpidas de um jeito que pareciam estar esvoaçando, um centauro erguido em suas patas traseiras e com um arco e flecha nas mãos, um goblin e uma daquelas criaturas pequenas com grandes orelhas que eles haviam visto no Black Siren. O centauro, o goblin e a criatura estavam todos olhando para o bruxo e a bruxa com expressões fascinadas em seus rostos dourados. O fundo da fonte brilhava com moedas douradas, prateadas e bronze.

“Se a gente sair dessa, vou jogar algo aqui,” Frank murmurou, seus olhos analisando cada estátua com cuidado.

“Vamos continuar,” disse Feliks. Era tentador ficar ali, apenas observando a fonte e os seus arredores, mas eles precisavam ir. “Ali.”

Os homens cruzaram o hall (tentando não parecer tão fascinados quanto estavam) até chegarem aos elevadores. Se esgueirando por entre bruxos e bruxas, eles entraram em um dos elevadores e Feliks se perguntou o quanto de tecnologia trouxa a comunidade mágica havia assimilado, afinal, ele estava dentro de um elevador mágico ao mesmo tempo que via uma mulher rabiscar em um longo rolo de pergaminho com uma pena. Quando o solavanco anunciou que eles entraram em movimento, a bruxa com o pergaminho soltou um gritinho quando sua pena escorregou e manchou o seu texto.

Bryce cutucou-o com o cotovelo e gesticulou para o teto. Acima deles, vários aviõezinhos de papel flutuavam, todos feitos de papel amarelado e marcados com um ‘M’ roxo nas asas.

 

“Nível sete, Departamento de Esportes e Jogos Mágicos, incorporando a sede da Liga de Quadribol Irlandesa e Inglesa, Clube Oficial de Bexigas e Escritório de Patentes Ridículas,” disse a voz feminina que havia falado com eles na cabine telefônica enquanto a grade dourada do elevador se abria e exibia um corredor bagunçado.

Um bruxo carregando quatro bolas vermelhas saiu e, antes que a grade se fechasse, eles conseguiram dar uma espiada no que parecia ser uma vassoura em miniatura voando no meio de um corredor. Frank esticou o pescoço enquanto tentava enxergar melhor os pôsteres coloridos que estavam pendurados nas paredes, todos mostrando pessoas em uniformes, segurando vassouras e vestindo assessórios de proteção como óculos, capacetes e joelheiras.

“Magpies de Montrose?” murmurou Bryce, lendo o nome em um dos pôsteres. “Hárpias de Holyhead? Isso são... times?”

“Montrose tem um time de algum esporte mágico?” Feliks sussurrou, logo antes de se apoiar no bruxo parado ao seu lado quando o elevador voltou a se mexer. “Desculpe.”

“Nível seis, Departamento de Transportes Mágicos, incorporando as Autoridades da Rede de Flu, Regulação e Controle de Vassouras, Escritório de Chaves-de-Portal e Centro de Testes de Aparatação.”

O elevador se abriu outra vez e duas bruxas saíram, junto com diversos aviões de papel. Pelo que eles viam, aquele corredor parecia um escritório normal, exceto pelo fato dos funcionários vestirem capas e chapéus pontudos, e pelos objetos voadores que às vezes cruzavam o ar.

Mais um solavanco e eles estavam subindo outra vez. A bruxa com o pergaminho se apoiou contra a parede.

“Nível cinco, Departamento de Cooperação Mágica Internacional, incorporando o Corpo Internacional de Comércio Mágico, Escritório Internacional de Leis Mágicas e a Confederação Internacional dos Bruxos, corpo britânico.”

Quando as portas se abriram, a uma mulher com vestes verdes entrou, seguida por pelo menos dez aviõezinhos. Eles continuaram a subir e, quando o elevador abriu outra vez, eles ouviram o que parecia ser um rugido, antes da voz anunciar:

“Nível quatro, Departamento de Regulação e Controle de Criaturas Mágicas, incorporando a Divisão de Bestas, Seres e Espíritos, Escritório de Afazeres Goblins e Escritório de Controle de Pragas.”

“Temos sorte de Kettleburn arriscar apenas a própria vida,” disse o bruxo que entrou no elevador, desviando de um goblin que estava saindo. “Pelo menos ele não leva essas coisas para Hogwarts.”

“Por enquanto,” disse outro homem que o acompanhava enquanto carregava uma caixa de papelão que emitia ruídos estranhos. “Graças a Merlin Scamander está de férias, caso contrário teríamos que ficar com isso aqui no escritório.”

A coisa na caixa pareceu se agitar ainda mais quando o elevador voltou a subir com um solavanco.

“Nível três, Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas, incluindo Esquadrão de Controle de Danos Acidentais, Sede dos Obliviadores e Comitê de Desculpas Trouxas.”

Três bruxos saíram e eles voltaram a subir. Outra bruxa saiu do elevador quando eles chegaram no Departamento de Aplicação de Leis e, quando eles chegaram no primeiro nível, a maioria dos bruxos e bruxas cumprimentaram um homem de meia idade com olhos brilhantes e cabelo loiro sujo que entrou. A mulher com o pergaminho se esgueirou para fora do elevador, depois de um rápido olhar e um sorriso para o recém-chegado.

“Boa noite, Ministro,” disse um dos homens parados perto de Ravenwood e o médico viu Frank virar a cabeça para olhar o tal bruxo. “Como a Sra. Ellacott está se saindo no trabalho?”

“Oh, ela é ótima,” disse o Ministro, sorrindo. “Não podia esperar nada diferente, claro. O marido dela é muito competente também.”

“Ah, sim. Você fez certo de promover August à Secretário do Departamento de Sigilo, Leonard. Ele está fazendo um ótimo trabalho, especialmente agora com a guerra,” o outro bruxo falou, assentindo.

O elevador começou a descer. Eles pararam em todos os outros níveis de novo, com mais aviões de papel entrando e saindo, assim como homens e mulheres, até chegarem no Átrio, onde o Ministro da Magia saiu. Quando a grade dourada fechou outra vez, o único botão que ainda brilhava no painel era o do nível nove.

“A gente devia ter esperado por um que estivesse só descendo,” Bryce resmungou quando eles viram que eram os únicos no elevador.

“Pelo menos ganhamos um pequeno tour,” disse Ravenwood, olhando para cima e vendo um único aviãozinho de papel voando em círculos acima deles, suas asas brilhando com uma luz amarelada que ele reconheceu como a magia que o mantinha no ar.

Quando as portas do elevador se abriram, Feliks sentiu um arrepio atravessar o seu corpo ao ver o corredor que os esperava: era longo e coberto por azulejos negros, sem qualquer porta ou janelas, exceto por uma porta preta no final deste. O avião de papel voou pelo corredor, baixando voo e deslizando pelo chão quando chegou na porta, acabando por se enfiar pela fresta debaixo desta.

“Nível nove, Departamento de Mistérios,” a voz feminina anunciou.

“Tem certeza de que estamos no lugar certo?” perguntou Ravenwood, dando um passo para fora, hesitante.

“A Srta. Zabini disse que os arquivos ficam no último nível,” disse Frank, andando pelo corredor, mas, antes de alcançar a porta, parou e apontou para uma abertura na parede de azulejos. “Acho que é aqui.”

A abertura levava a uma escada que devia levá-los a outro nível do Ministério. Bryce permitiu-se relaxar a postura um pouco, agora que estavam sozinhos. O próximo corredor que encontraram também era todo negro e sem janelas, mas havia várias portas de madeira ao longo deste.

“Elas falaram que ficava no mesmo andar dos tribunais.” Bryce andava pelo corredor a passos lentos, mantendo a voz baixa como se estivesse com medo de interromper algo. “Devem ter julgado Morfin Gaunt aqui.”

Feliks simplesmente assentiu.

“O quão fundo nós estamos no meio de Londres?” o médico perguntou, seus olhos fixos na última porta do corredor, a única que não parecia tão pesada e tinha uma maçaneta diferente: era delicada, dourada e no formato da garra de um pássaro segurando uma bola.

“Prefiro não pensar sobre isso, doutor.”

Bryce encarou a última porta por um momento e então olhou Ravenwood, parecendo esperar algo. Feliks observou a porta e analisou a maçaneta com cuidado, tentando ver se havia alguma magia por ali (uma das outras portas tinha pequenas linhas de luz formando uma teia sobre a sua maçaneta).

“Parece limpa,” ele falou, segurando a maçaneta e a girando. A porta soltou um estalido e abriu.

O lugar cheirava a mofo e livros velhos. Era escuro e atulhado com prateleiras altas cheias de livros e rolos de pergaminho, alguns pendurados e quase caindo de seus lugares. Os dois homens ouviram um farfalhar de papéis e viram, rapidamente, o que parecia ser uma daquelas criaturas de orelhas grandes correndo por entre as prateleiras e sumindo.

“Como diabos a gente vai achar esses arquivos?” perguntou Frank, seus olhos perdendo o brilho que haviam adquirido desde que chegaram no Ministério.

“Nós vamos achá-los, não se preocupe.” Ravenwood sorriu fraco e começou a andar pelo corredor improvisado que ocupava a entrada do lugar: as paredes baixas deste eram feitas de caixas e malões, com uma abertura que levava até o labirinto de estantes e uma mesa vazia onde uma pena estava escrevendo por conta própria em um livro grosso e velho.

Desde a visita ao Black Siren, o humor de Bryce havia oscilado entre uma confiança exagerada e uma tristeza que quase o impossibilitava de pensar sobre aquela investigação. Feliks o havia visto, logo depois de uma das visitas ao pub, chorando em silêncio e, quando perguntou o que havia acontecido, a única resposta que recebeu foi um resmungo ou dois sobre ‘aquelas cartas estúpidas’ e ‘aquela vila maldita’. Aparentemente, a leitura de tarô o atingira em algum ponto sensível e fora o suficiente para quebrar a máscara de Frank por um momento. Mas, durante os últimos dias, o homem parecia confiante e animado com a visita ao Ministério da Magia... E agora, ao ver a bagunça no meio do qual a história dos Riddle estava, a sua expressão pareceu quebrar outra vez.

Eles alcançaram a mesa vazia e espiaram do outro lado desta. Ao não ver ninguém, Frank suspirou e bateu a campainha empoeirada que havia ali, fazendo a pena parar de escrever no meio de uma frase e ficar parada no ar.

“Parece vazio,” disse Bryce, franzindo o cenho. “Vê alguma coisa?”

“Magia? Aye,” ele respondeu. A pena estava sendo segurada por uma luz morna, a mesma que ele conseguia ver no livro e em vários outros objetos na mesa.

Passos ecoaram dentro da sala e logo uma mulher apareceu entre as estantes, parecendo assustada, como se fosse completamente estranho outras pessoas entrarem na sua área de trabalho.

“Sim?” ela perguntou, aproximando-se deles.

Ela parecia mais nova que Frank, com um rosto pálido e sardento, olhos azuis e cabelos castanho escuros que estavam presos atrás da cabeça, mas com muitos cachos escapando do penteado e dando a ela uma aparência bagunçada. Ela era alta, quase da altura de Bryce, e usava um robe azul sobre uma saia longa cinzenta e uma blusa. Mas a coisa mais interessante era a luz suave que emanava das mãos dela. A magia dela, Feliks decidiu, era muito boa de se olhar.

“Olá, ahm...” o jardineiro falou. “Precisamos de ajuda. Estamos procurando por alguns arquivos-“

“Seus nomes?” ela perguntou, aproximando-se da mesa e puxando outro livro empoeirado debaixo desta. Ela pegou a pena no meio do ar e a sacudiu como que para fazê-la voltar a si.

“Frank Watson e Feliks Holmes,” disse Bryce e a mulher arqueou uma sobrancelha.

“Qual departamento?” A bruxa perguntou e foi possível reconhecer um sotaque diferente em sua língua, principalmente quando o ‘R’ e o ‘T’ se faziam presentes.

“Na verdade, não trabalhamos no Ministério,” Frank começou a explicar, sorrindo quando viu a garota os olhar outra vez. A atenção dela logo mudou dos rostos deles para algo que eles não conseguiam reconhecer, mas era possível ver que ela estava prestando atenção em algo, como se tentasse ouvir alguma coisa enquanto virava o rosto levemente para o lado. “Mas estamos conduzindo uma investigação por ordem do Departamento de Leis-“

“Ele está mentindo,” ela falou, logo depois de sacudir a mão no ar, a magia em seus dedos brilhando ainda mais. Ela então olhou diretamente para Feliks, apontando para o outro trouxa. “Não é?”

“O que? Claro que ele não est-“

“Sim, ele está e você está com ele nisso.” A bruxa estreitou os olhos azuis. “É por isso que sua magia está tão agitada.”

“Nós não estamos mentindo-“ o médico começou a falar, antes de se interromper. “Que? O que você quer dizer com minha magia...?”

“Sua magia está agitada e o seu rosto está te traindo, senhor.” A jovem enfiou os dedos no bolso do robe e puxou uma varinha dali. A magia dela pareceu ficar mais forte enquanto ela apertava o pedaço de madeira entre os dedos. “Quem são vocês e o que querem aqui?”

Frank estava boquiaberto, olhando do médico para a bruxa. Ravenwood suspirou, deixando os seus ombros caírem enquanto ele olhava a garota outra vez. Pela expressão em seu rosto, ela estava pronta para chutá-los para fora dali caso ele não lhe desse uma história mais crível.

“Olhe... Yelena?” Feliks começou a falar, lendo o nome gravado na placa de metal na frente da mesa. “Você nos pegou. Não estamos sendo totalmente sinceros aqui. Não trabalhamos para o Ministério, é verdade, e nós estamos conduzindo uma investigação também, mas... Não estamos sob ordens de nenhum departamento.”

A bruxa ainda segurava a varinha e sua magia continuava brilhando forte em suas mãos, mas sua expressão ficou levemente mais suave.

“Este é Frank Bryce e eu sou Feliks Ravenwood. Nós acabamos nos envolvendo em um caso de assassinato e estamos tentando descobrir o que aconteceu por conta própria, já que as autoridades fizeram pouco caso de tudo,” ele explicou e viu Yelena virar o rosto na direção de Bryce, inclinando-se mais na direção dele.

“Você não é um bruxo,” ela sussurrou, franzindo o cenho.

“Nem ele,” disse Frank, apontando para o outro homem.

“Não estamos aqui para expor você ou qualquer bruxo ou bruxa,” disse Feliks. “Sou um médico e trabalhei em um caso de assassinato onde tentaram incriminar Frank. Mas todas as provas falavam contra o envolvimento dele.”

“O Dr. Ravenwood viu... coisas nos cadáveres,” Bryce continou. “Depois descobrimos que essas coisas eram magia. Ele consegue ver magia e viu isso nos corpos.”

“Acabamos descobrindo que as vítimas foram mortas por magia e que o Ministério chegou a investigar o assassinato, mas acabou prendendo alguém que não tinha nenhum envolvimento com o caso. Nós queremos saber quem realmente fez isso e achamos que os seus arquivos podem nos ajudar-“

“Dois trouxas investigando um crime cometido por um bruxo?” ela perguntou, começando a baixar a varinha. “Por quê?”

“Frank conhecia as vítimas. Eram amigos dele,” Ravenwood explicou, vendo como os olhos da bruxa se fixaram no outro homem.

“E você?”

“Ele só é curioso e tem muita boa vontade para o próprio bem,” disse Frank. “Ele viu a magia e queria saber o que era. Acabou comigo no encalço, caçando um assassino.”

A mulher encarou-os por um longo momento, antes de guardar a varinha e respirar fundo. As mãos dela ainda brilhavam com magia enquanto ela batucava os dedos sobre a mesa. Ela acenou com a mão, a luminosidade diminuindo um pouquinho, e então falou alto, sua voz ainda carregada por um sotaque estranho, como se para mais alguém ouvir:

“Certo, Sr. Watson e Sr. Holmes, só me deem o nome do caso e me sigam.”

***

 


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Notas finais do capítulo

Eu empaquei em um capítulo mais para a frente, então decidi traduzir esse aqui e postar pra ver se conseguia me dar um pontapé para continuar de verdade. Sei lá... eu sei que é basicamente uma repetição do que foi em Ordem da Fênix, mas eu adoro essas cenas de introdução de cenários mágicos? E, hey, eles conseguiram!

1) Magpies de Montrose: é um time de quadribol pelas informações de Rowling. Montrose é uma cidade escocesa;

Como sempre, reviews são muito bem vindos e espero que tenham gostado.