Descobrindo Sombras escrita por Lucy Devens


Capítulo 8
Descoberta




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Já podia ver Roland me esperando na frente da sala de Anatomia com o meu copo de café na mão. Aquilo me animou um pouco depois de passar domingo me revirando em livros, tentando estudar e entender John Ionahee. Roland parecia animado.

— E então? - Ele me entregou o café e eu tomei um gole aproveitando o calor da bebida - Ele te levou para o quarto de novo?

— Isso já está sem graça.

Meu amigo riu e entramos na sala, sentando nos assentos de sempre. Logo a sala começou a encher.

— Nenhuma novidade para me contar? - Ele perguntou.

— Não - Respondi seca e comecei a pegar meu caderno e livro para a aula - E na verdade eu estou mais preocupada com o gráfico de potencial de ação do que com assuntos relacionados à homens e suas complexidades.

Meu amigo continuou com aquele sorriso cínico, mas não olhava para mim.

— A não ser, é claro, que você queira me contar algo sobre Vanilla - Tomei outro longo de café e olhei para ele.

Não conseguia entender muito bem os pensamentos de Roland, mas senti que aquilo liberou um tanto de adrenalina, pois sua cabeça de repente ficou a mil.

— Ah, o que tem ela? - Ele tentou disfarçar.

— Me conte você.

Ele respirou fundo antes de prosseguir.

— Ela acha que eu gosto de você - Quase me engasguei com o meu café quando ele disse aquilo - Mas ela não consegue ver além disso.

— Aham...

— Bom dia, alunos - O professor interrompeu todas as conversas.
Roland foi salvo pelo gongo.

Logo a aula começou e eu tive que me concentrar bastante. Dessa vez não era apenas sobre decorar nomes de partes do corpo e sim o funcionamento. Tive que me concentrar muito para não deixar a confusão interna de Roland me atrapalhar. Não pude evitar em reparar que John não tinha comparecido. Nem nesse dia, nem nos dias seguintes. Eu chegava cedo e encontrava Roland, que me ajudava a estudar um pouco antes do professor chegar e deu certo. Pelo menos eu consegui me situar um pouco melhor na matéria para não precisaria ficar o fim de semana todo estudando.

As outras aulas foram tranquilas, nada muito difícil além de textos e mais textos. O pior ainda estava por vir: a aula de Lucio. A matéria dele era incrível, na quarta feira ele falou sobre a origem dos Deuses, a importância do Nilo e teorias sobre como as pirâmides foram construídas, mas toda vez que o seu olhar cruzava com o meu eu sentia meu estômago embrulhar.

Assim que a aula dele acabou eu tentei sair dali o mais rápido possível, mas ele não deixou. Quando eu estava perto da porta ele me segurou de leve pelo braço e eu, instintivamente, me soltei dele com força.

— Você está bem? - Ele parecia genuinamente preocupado, o que fez com o que eu me sentisse uma idiota por tratá-lo tão mal - Você tem parecido distante nesses últimos dias, preocupada.

— Desculpe, professor. Acho que estou me acostumando de novo com o ritmo das aulas depois desse verão.

— Se precisar de algo, pode contar comigo.

Eu acenei com a cabeça, mas evitei olhar em seus olhos. Tinha a sensação de que se eu olhasse para ele outra imagem minha que não era eu ia aparecer.

Resolvi voltar para o dormitório e estudar um pouco. Tentei ler textos e ver vídeos, mas nada conseguia fazer com que eu me concentrasse. Peguei meu caderno de desenho e olhei o último desenho, a imagem que havia aparecido na minha cabeça quando falei com Lucio no Honor's e consegui refúgio quando John apareceu.

John havia dito que aquela era a última semana dele no restaurante. Me lembrei disso e, num impulso, peguei as minhas coisas e fui para o Honor's.

— Seja bem vinda ao Honor's... - Disse a atendente com o seu discurso ensaiado.

— Eu sei - Eu disse tentando não ser grossa. Eu só estava tão cansada daquela frase quanto ela - Sou só eu.

— Me acompanhe.

Dei uma olhada no restaurante e consegui ver onde John estava.

— Na verdade, acho que vou ficar no bar.

— Tudo bem - Senti uma onda de ciúmes quando ela me viu olhando para John - Fique a vontade - Ela desistiu de me levar até o bar e ficou esperando o casal que estava atrás de mim.

Me sentei no banco alto do bar e logo John veio me atender.

— O que vai querer? - Ele foi seco e indiferente.

— Uma cerveja - Respondi com a mesma indiferença e tom de voz.

— Você não tem vinte e um anos.

— Nunca me impediu.

— Que tal um refrigerante?

Olhei no fundo dos olhos dele e me foquei em extrair um pensamento, uma emoção, qualquer coisa. Não sei se ele reparou, mas sustentou o olhar por um bom tempo até que respirou fundo e desfez a pose dura.

— O que você quer? - Ele parecia cansado desse jogo.

— Uma cerveja.

Ele me lançou um olhar de reprovação, mas mesmo assim encheu um copo e deixou na minha frente. Eu o peguei e o levantei fazendo um gesto de "saúde". Depois que dei meu primeiro longo gole John voltou a arrumar as coisas do balcão do bar.

— Você não tem ido as aulas de anatomia - Observei.

— Essa matéria é fácil. Eu só precisava relembrar alguns nomes, então acho que você não vai me ver mais por lá.

— Bom, já que sabe tanto sobre, poderia me ajudar um pouco. Estou meio perdida.

— Achei que seu amigo Roland estivesse te ajudando - Ele deixou escapar com um pouco de veneno.

Não pude deixar de lançar um sorriso desafiador. Então ele andava me observando. Aquilo me animou um pouco. Talvez ele estivesse com a mesma coceira que eu, e só ele poderia resolver.

— Olha, Mey - Ele se apoiou no balcão e olhou para mim. Olhou tão fundo que fez com que um arrepio percorresse pela minha espinha - Aquilo foi um erro, você não deveria querer se aproximar de mim.

— E por que não?

Sustentei o olhar dele e por um segundo ele abaixou a guarda. Não consegui ler seus pensamentos, mas senti o que ele estava sentindo. Ele estava magoado, como se já houvesse sofrido muito e pude entender.

— Já te magoaram muito - Observei em um sussurro.

Ele respirou fundo.

— Eu devia tentar esconder isso melhor - Ele sussurrou para sí.

Tomei mais alguns goles de cerveja, na ansiedade de acabar com aquilo logo. Sentir toda aquela mágoa me deu tristeza e raiva. Como alguém poderia machucar John? Senti que, se eu encontrasse a mulher que fez isso com ele, poderia entrar em uma briga com ela. Ele tinha um ar diferente, honesto e chamava atenção. Todos já haviam observado aquilo.

Terminei a cerveja e deixei uma nota encima do balcão.

— Desculpe - Eu disse para ele e ele apenas acenou com a cabeça aceitando as minhas desculpas - Te vejo por aí então.

— Te vejo por aí - Ele disse, mas eu senti que ele faria de tudo para me evitar.

Voltei andando para casa, pensando em tudo aquilo. Dei uma volta enorme no campus. Passei pela biblioteca, na frente das salas de aula. Devo ter andado por horas no campus até finalmente chegar ao pátio do prédio de história.

— Você não pode me impedir -Ouvi alguém dizer, uma voz familiar.

Fui de fininho até perto dali e pude ver Lucio conversando com John. Me escondi atrás de um pilar e observei a conversa dos dois.

— Eu finalmente a encontrei e você está aqui - Lucio tinha um tom sarcástico e raivoso em sua voz - E agora quer que eu fique longe dela?

— Eu não estou aqui por ela - John esbravejou de um jeito contido, para não chamar atenção - Toda vez é assim. Ela sempre aparece e me encontra. Você, por outro lado, vive tentando alcançá-la. Não é natural.

— Sinceramente, John. Você acha que eu vou acreditar em você depois de todo esse tempo?

Lucio fez menção de sair dali, mas John o segurou. Me escondi atrás do pilar e tirei eles do meu campo de visão, mas ainda podia escutá-los.

— Eu estou falando sério, Lucio. Fique longe dela. - Podia sentir a raiva crescendo em John.

— Dessa vez ela vem comigo, Ionahee. Você vai ver.

Meu coração estava disparado. Saí dali o mais rápido que pude e fui comprar um chá para acalmar meus nervos. O que era aquilo? Então John e Lucio estavam atrás da mesma garota? Seria a mesma que magoou John? Muitas perguntas pipocaram em minha mente, mas eu não tinha resposta para nenhuma delas e passei a madrugada inteira tentando me convencer de que aquilo não era problema meu.


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