Descobrindo Sombras escrita por Lucy Devens


Capítulo 12
Nada Surpresa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/718615/chapter/12

Eu tinha um sorriso no meu rosto que não sairia tão cedo. Eu imaginava que ficar com John seria bom - principalmente depois de toda aquela tensão-, mas nunca imaginei que pudesse ser tão bom. Era quase mágico. Nós dois estávamos deitados na cama dele, olhando para o teto, os dois ofegantes e com um sorriso no rosto.

Mas eu tinha que voltar a realidade, tinha coisas que precisava perguntar. Me virei de lado e olhei para ele, tentando ficar séria, mas era impossível.

— O que foi? - Ele disse sorrindo.

Eu queria me cobrir inteira, não deixar ele ver que eu estava prestes a corar, ou então eu deveria ir para cima dele de novo.

Não! Não era hora disso. Era hora da verdade. Hope havia me dito aquilo, ela sabia de algo que ele sabia. Mas era ele quem iria me contar.

— Como você sabe? - Perguntei, tentando achar alguma seriedade na minha voz.

Ele olhou para cima e respirou fundo. Depois voltou a olhar para mim.

— Como eu sei o que, Mey?

Peguei um travesseiro e joguei nele.

— Ah, John! Qual é?

— Eu sei que você consegue ler mentes?

Fiz que sim com a cabeça. Ele continuou olhando para mim e nada vinha dele, aquele silêncio confortável continuava ali. Então eu comecei a ligar alguns pontos. Será que aquilo era possível?

Me levantei e peguei as minhas roupas do chão, agitada. Comecei a me trocar.

— Meu deus - Eu disse, ainda ofegante - É isso.

— O que?

Eu não conseguia me conter, tudo fazia sentido. Depois de colocar a minha calça e a minha blusa eu olhei para ele com esperança.

— Você é como eu - Eu disse, ele se levantou e colocou a calça, então foi andando até a mim - É isso, você consegue ler mentes!

— Eu não leio mentes - Ele sussurrou, mas eu mal pude ouvir.

— Quantos de nós existem por ai? São muitos? Podemos encontrá-los? - Minha euforia apenas aumentava - Eu sempre achei que eu fosse única ou que eu estivesse louca, mas não.

— Eu sabia que você iria reagir assim...

—Sabia? - O sorriso não saia do meu rosto - Você entrou na minha cabeça? - Tudo fazia sentido. Apontei para ele - É por isso que eu não consigo ler a sua mente, porque você estava lendo a minha!

— O que? - Ele riu - Não, isso não faz o menor sentido.

— Claro que faz!

Ele segurou o meu rosto e olhou no fundo dos meus olhos. Aquilo fez com que eu me acalmasse por um segundo.

— Mey, nós não somos um clube de super heróis - Ele disse quase sussurrando - E eu não sei ler mentes.

Minha adrenalina passou quando eu ouvi aquelas palavras. Todos os pontos foram perdidos.

— Mey, eu não sou um leitor.

Pensei em me pronunciar, mas respeitei o espaço dele. Era melhor ouvir o que ele tinha a dizer.

— Você lê mentes, você é uma leitora - Ele tirou a mão do meu rosto, mas continuou olhando paras mim - Eu sou diferente. Existem vários como nós, mas temos nossas diferenças.

— Diferentes como? - Não pude me conter.

Ele se afastou de mim e se sentou na cama.

— Tudo tem o seu tempo - Ele respirou fundo - É muita coisa para compreender, você não iria aguentar.

Me apressei e me sentei ao seu lado.

— Eu aguento, John - Assegurei-o - Eu aguento, eu prometo.

Ele acariciou meu rosto com uma mãos e olhou nos meus olhos.

— Confie em mim, Mey - Disse ele - Eu prometo te contar, mas uma coisa de cada vez.

Todas aquelas informações estavam borbulhando na minha cabeça. Eu queria demandar as respostas.

—Eu quero.. - Ele fechou os olhos - Eu preciso que você fique bem. Não posso te perder de novo.

— Como assim? - Indaguei.

Minha cabeça estava leve, minha euforia havia passado e aquilo me fez perceber que eu estava sendo um tanto egoísta. Naquele momento eu sabia que eu não era a única, que eu não estava sozinha, haviam mais como eu. Talvez mais pessoas confusas com elas mesmas, se julgando, eufóricas e ansiosas por respostas. Eu pude ver pela expressão de John que ele tinha muita coisa para me contar, mas não sabia por onde ou como começar.

— Se lembra quando eu conversei com Lúcio sobre uma garota? - Ele perguntou e eu pude ver uma certa dor em seus olhos. Apenas fiz que sim com a cabeça - Ela realmente morreu. Em 1977 - Engoli seco - Eu estava lá e Lúcio também. Ficamos esperando ela voltar por alguns anos, depois eu percebi que eu não devia encontrá-la, que talvez ela ficasse melhor sem mim. Mas ela voltou - Ele olhou no fundo dos meus olhos e eu pude jurar que ele estava usando todas as suas forças para não deixar as lágrimas virem - Você sempre volta.

Meu coração estava acelerado. Então aquilo realmente era possível. Aliás, é claro que era possível.

Me lembrei de quando eu tinha uns seis anos eu fiquei em uma família muito religiosa. Berry, a matriarca, ia à igreja pelo menos três vezes por semana e me levava junto com ela e mais dois meninos mais novos que eu - que no fim ela acabou adotando - e eu me lembro de sempre ouvir falar de Jesus e como ele havia vindo para a terra e voltou para o céu para cuidar de nós de lá. Foi quando eu resolvi contar a ela que eu ouvia vozes; no começo ela achava que eram dos anjos, mas quando ela me perguntava sobre o que falavam e eu podia revelar a ela que sabia seus pensamentos e segredos ela me mandou de volta para o orfanato dizendo que eu estava possuída pelo diabo. A medida que fui crescendo eu passei por diversas famílias com diversas religiões diferentes. Budistas, judeus, cristãos, ateus e até uma senhora que praticava vodu, que me disse que eu tinha forças dos espíritos. Por ter passado por diversas religiões eu pude estudar um pouco sobre todas elas e já me perguntei se a reencarnação era uma opção. Aparentemente era muito mais real do que eu imaginava.

— Então nos conhecemos - Sussurrei.

— Nos conhecemos há mais de dois mil anos, Mey.

Toda aquela informação me deixou em um estado de transe.

— Como? - Minha voz não saia mais do que um sussurro. - Eu preciso saber, preciso entender.

— Toda vez que você se lembra de algo, você sente os eventos no seu corpo - Ele disse - Você deve ter lembrado da sua última vida e por isso se sentiu como se estivesse doente.

Então era isso. Mas eu tinha uma solução.

— Depois que eu te vi, eu melhorei - Disse um pouco animada - Me ajude, John. Por favor.

Ele fez que sim com a cabeça

—Tudo bem - Disse ele - Vou te revelar uma memória para ser o seu gatilho, mas se você se machucar a gente deve parar.

Fiz que sim com a cabeça.

— É melhor você se deitar.

Fiz o que ele disse. Me deitei na cama e fechei os olhos. Podia sentir que ele estava próximo de mim. Pude sentir que ele se abriu para mim e eu pude entrar em sua mente, mas ele havia selecionado muito bem o que eu podia ou não ver. Respirei fundo e mergulhei nessa memória.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Descobrindo Sombras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.