Descobrindo Sombras escrita por Lucy Devens


Capítulo 10
Hereditário




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Me espreguicei com vontade. Me senti como um gato acordando de um longo sono, os lençóis finos acariciavam a minha pele. Acordei com um sorriso, até abrir os olhos e perceber onde eu estava. Ainda estava na casa de John. O sol entrava pela longa janela dele e parecia estar beijando a minha pele. Olhei para o relógio na mesa de cabeceira  que já eram dez da manhã. Pude ver também que John havia dobrado as minhas roupas e deixado-as na cadeira de descanso ao lado da cama. Me levantei e me troquei rapidamente. Então desci para a sala e percebi que estava sozinha na casa. Havia um bilhete na mesa de centro.

 

Fique a vontade para pegar qualquer coisa da cozinha. A casa é sua.

John

 

Tive vontade de rir para a carta. Curto, seco, como John havia sido esse tempo todo. Também revirei os olhos para ela. Peguei meu celular e pude ver pelo menos trinta mensagens de Vanilla, todas perguntando se eu já havia acordado, se eu estava bem e para ligar para ela. Eu resolvi ser sucinta e mandei uma mensagem.

 

~Mey:

Waffle house?

10:12 AM

 

~Vanilla:

Vou te buscar agora mesmo

10:12 AM

 

A velocidade com que ela respondeu a minha mensagem me fez rir. Então eu subi rapidamente para o quarto e arrumei a cama. Não sabia como ele a costumava deixar, então apenas dobrei o lençol e o cobertor e os deixei em cima da cama. Acabei dando uma volta a mais no quarto dele, por pura curiosidade. Ele tinha um painel perto da porta, ao lado do seu guarda roupa, que continham várias fotos e mapas. Vi fotos do egito, da Itália, da França, de vários lugares dos Estados Unidos, um mapa mundi com vários círculos, talvez de lugares que ele já visitou ou gostaria de visitar. Também haviam algumas fotos. Olhei para uma foto que estava ao lado do mapa e vi que era John, ele parecia estar abraçado com uma menina de cabelos longos com pontas loiras em um píer, ao entardecer. Olhei bastante para ela e por um segundo eu lembrei da imagem que Lucio havia pensado. A garota parecia muito comigo.

Ouvi a buzina frenética do carro de Vanilla e aquilo me deu um susto enorme. O suficiente para me tirar do meu transe. Peguei minha bolsa e fui correndo para o carro dela.

Assim que entrei eu pude sentir que ela estava extremamente agitada, com mil pensamentos.

—Meu deus, Vanilla! Eu estou bem.

—Bom mesmo - Ela estreitou os olhos e fomos em direção ao nosso café da manhã americano. - Minha vó perguntou de você hoje de manhã. Disse que estava morrendo de saudades e queria te ver.

Olhei bem para ela.

—Sua vó? - Indaguei.

—É, então - Ela continuou - Lembra de quando eu te contei que, quando eu era pequena, ela dizia que nós éramos feiticeiras e um dia eu iria receber meus poderes? - Ela disse em um tom de deboche, mas por dentro estava ansiosa, se perguntando o quanto daquilo poderia realmente ser verdade - Parece que a velhice dela está fazendo ela reviver essas fantasias. - Ela riu, apreensiva - Loucura, não?

Dei de ombros. Nada mais me parecia loucura.

Estacionamos e fomos até dentro do pequeno restaurante. Nos sentamos em um sofá perto da janela. Logo a atendente passou por nós e anotou nossos pedidos. Nós duas pedimos Waffles, com uma porção de batatas hash brown e café. Em minutos aquele monte de comida estava na nossa frente. Peguei meu garfo e comecei pelas batatas. Vanilla ainda não tinha tocado em sua comida.

—O que foi, Nilla? - Perguntei com a boca cheia.

Ela parecia distante, olhando aquele tanto de comida, depois olhou no fundo dos meus olhos.

Silêncio. Seus olhos pareciam estar mudando de cor, indo para um tom violeta conforme ela olhava cada vez mais fundo para mim. Engoli toda aquela comida e senti um arrepio pelos meus braços.

—Vanilla? - Ela continuou olhando para mim como se estivesse em um tipo de transe - Vanilla! - Bati o garfo na mesa e ela se assustou.

Então pegou sua xícara de café e tomou ujm longo gole.

—Meu deus, o café daqui ainda é horrivel - Ela sorriu para mim e levantou a mão para a garçonete - Moça, você me traz mais creme, por favor?

Minha amiga começou a comer como se nada houvesse acontecido. Em seus pensamentos, as coisas continuavam iguais. Era como se aquilo só tivesse acontecido na minha cabeça, apesar dos seus olhos continuarem em um tom violeta.


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