As Coisas Improváveis Sobre Nós. escrita por Lua B


Capítulo 8
Halloween.


Notas iniciais do capítulo

Preparem um lanchinho porque esse capitulo é longo, ja aviso!



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Dizer que o turno da noite era ruim era atenuar as coisas. O turno da noite era um pesadelo que tanto Sam quanto Lana adorariam poder escapar o mais rápido possível, o que não parecia que poderia acontecer tão cedo, já que havia se passado um mês e ninguém havia conseguido prender “O Maníaco de Staten Island” como diziam os jornais.

Todo mundo do esquadrão parecia no limite, não só pela pressão que havia para encontrarem o criminoso, mas, porque eles mal viam a luz do Sol. Lana - que ainda conseguia sair mais cedo do que Sam porque ele vivia fazendo horas extras agora - chegava em casa quando o dia estava amanhecendo e Steve e Bucky estavam de saída para sua corrida matinal, passava a manhã e a tarde dormindo e saia novamente quando o dia estava escurecendo.

Para Sam estava sendo ainda pior, ele chegava em casa quase às dez da manhã quase todos os dias e dormia muito pouco por estar acostumado a ir dormir e acordar muito cedo e vivia com olheiras profundas e bolsas embaixo dos olhos, além de estressado. Sua tenente parecia estar sempre no pescoço dele e de Misty já que eles foram os primeiros detetives a cuidar do caso e mesmo se matando de trabalhar eles pareciam estar tão perto de encontrar o assassino quanto de fazer chover canivetes.

Os únicos que ainda pareciam animados na casa para o Halloween, mesmo que eles não fossem mais fazer uma festa, eram Bucky e Steve que haviam comprado dezenas de pacotes de doces para as crianças que pediam no prédio e também para levar para a escola de Steve, onde ele ajudava a preparar a festa de Halloween dos alunos.

—Vocês deviam vir com a gente. - Bucky comentou na manhã do Dia das Bruxas quando Lana e Sam chegaram em casa, cada um com um copo enorme de café preto nas mãos e  tão de mau-humor por estarem perdendo seu feriado favorito que nenhum deles estava com paciência para praticamente nada.

—A gente tem quer dormir Bucky. - Sam respondeu tomando um grande gole de café - E eu ainda tenho que entrar mais cedo hoje porque é bem provavel que esse maniaco ataque hoje…

—E você, Lana?

—Mesma coisa que o Sam. - Lana respondeu, estava morrendo de dor de cabeça.

—Ah, qual é Lana. É Halloween! Falta ao trabalho!

Lana respirou fundo.

—Eu não posso faltar ao trabalho Bucky, porque mesmo que seja Halloween, as pessoas não deixam de ser assassinadas e é preciso que tenha alguém lá para poder abri-las e tirar as suas tripas. - ela respondeu mal-humorada e foi para o quarto, antes que desmaiasse de sono ali mesmo.

Bucky olhou de Steve para Sam e sorriu.

—Acho que eu sei como animar o Halloween dela… - ele comentou.

—Seja lá o que vocês forem fazer, me deixem de fora, se a Lana me matar, minha chefe me mata. - Sam resmungou e assim como Lana foi para o quarto e caiu na cama sem nem mesmo trocar de roupa.

—O que você está planejando? - Steve perguntou animado.

—Nada ainda, vou precisar da sua ajuda…

—Acho que eu sei o que a gente pode fazer… - Steve comentou com um sorriso malicioso.

*********************

 

Quando chegou  hora de saírem para trabalhar, os humores de Sam e Lana pareciam ter piorado pelo menos umas dez vezes.

—Dá uma raiva a gente ter que ir trabalhar enquanto todo mundo está indo comemorar o Halloween de alguma maneira… - Lana comentou bufando quando algumas crianças passaram fantasiadas por eles.

—Nem me fale… Eu devia ir me vestido de pirata, só para me rebelar! - falou Sam.

—Devia mesmo, eu ia te dar todo apoio!

—Pelo menos eles tiveram a decência de decorar a delegacia e o necrotério, ficou legal vai…

Lana bufou.

—Não vi a graça de decorar um necrotério com um monte de caveiras, já tem um monte de gente morta mesmo! Tinha que fazer uma coisa mais real, eu pensei em sugerir para a Melinda de a gente banhar as paredes com sangue e colocar alguns pedaços de corpos nas paredes, mas, fiquei com medo de ela me demitir por sugerir…

—Ainda bem que você não ajudou a decorar em casa! - Sam riu.

Os dois se despediram na entrada dos elevadores da delegacia e Lana desceu para o necrotério, onde a moça que ficava no turno do dia, Wanda , já estava de saída.

—Oi Wanda! - Lana sorriu para ela, Wanda sempre havia sido meio gótico e um tanto mais sombria do que ela, com cabelos compridos, maquiagem escura e roupas pretas, mas, desde que havia mudado para o turno do dia parecia bem mais feliz. Lana até a viu usando um vestido floral uma vez.

—Oi Lana! - Wanda sorriu, já com sua bolsa, pronta para ir embora - Sinto muito que você tenha que passar o Halloween aqui… Prometo que não é tão ruim quanto parece, algum andar sempre faz festa de última hora e com certeza te chamam!

—Valeu, Wanda! - Lana agradeceu, não entendo porque ela e Wanda não eram amigas quando Wanda claramente parecia ser muito legal. Até o estilo das duas eram parecidos, sem contar que elas gostavam de trabalhar abrindo gente morta - E você tem planos para o Halloween?

—Meu irmão gêmeo vai dar uma festa, estou indo para a casa dele agora… Bom, até amanhã, Lana. Bom Halloween!

—Obrigado, Wanda, para você também!

Wanda acenou e saiu, deixando Lana sozinha em um necrotério cheio de morcegos, teias de aranha e caveiras colados nas paredes.

***************

Enquanto isso, Sam mal teve tempo de se sentar quando chegou ao esquadrão e a tenente apareceu apressada e dispensou Misty e ele para ficarem à paisana na área onde os assassinatos estavam ocorrendo. Os dois já estavam a quase uma hora sentados dentro do carro, no meio do mato e Sam rezava mentalmente para que o assassino aparecesse. Tenta matar alguém hoje para eu poder aproveitar meu Halloween, por favor!

—Por que você anda tão mal-humorado, Wilson? - Misty perguntou tirando os olhos da estrada deserta e olhando para ele.

—Porque é Halloween e eu não estou comemorando.

—Ah fala sério, Sam! Você está de cara feia porque não está fantasiando em alguma festa de Dia das Bruxas idiota?

—Você não gosta de Halloween? Quem te machucou desse jeito, Misty?

Misty revirou os olhos e Sam ergueu uma sobrancelha.

—Ninguém. Eu só acho essas festas uma maneira bem cara de pau de as lojas ganharem dinheiro de gente trouxa.

—Você nunca teve um Halloween decente, né? Pode falar a verdade, não vou te julgar muito… Prometo!

—Minha família sempre gostou de Halloween na verdade, mas, eu nunca vi graça....

Sam olhou indignado para Misty, não consegui entender como alguém tão diferente dele conseguia o encantar tanto e ele nem a conhecia direito… Desde que haviam começado a sair, não haviam passado do relacionamento físico, Misty havia deixado bem claro que não queria um relacionamento e ele respeitava isso, mas, não conseguia não gostar dela. Misty era incrível…

Atenção todas as patrulhas— falou uma voz no rádio do carro tirando Sam de seus pensamentos - homem suspeito avistado na área das balsas de Staten Island. Atenção todas as unidades…

Sam e Misty trocaram um olhar.

—Aqui são os detetives Knight e Wilson, SVU. Iremos dar uma olhada. Câmbio. - Misty respondeu o chamado.

—Tomara que seja o nosso cara. - Sam comentou abrindo a porta do carro.

**********

Lana já havia feito praticamente todo o seu trabalho. O lado bom do turno da noite era que sem distrações, ela conseguia realizar todas as tarefas que tinha de fazer em menos de quatro horas e sempre tinha pelo menos mais quatro horas livres depois da janta - o que não era bem janta, porque ela saia para “jantar” a meia-noite. O lado ruim do turno da noite é que além de perder seus dias e suas noites, Lana conseguia realizar todas as suas tarefas em menos de quatro horas e passava as quatro demais horas ociosa.

Nos primeiros dias ela levava algum livro e ficava lendo, ninguém ia no necrotério de madrugada e ela tinha liberdade o suficiente para isso. Depois que o chefe da técnica liberou o acesso a internet ela começou a assistir filmes de terror sozinha, ou junto de Steve que às vezes, ficava acordado até mais tarde para assistir com ela. Ele assistia de casa e ela do trabalho e os dois ficavam comentando por mensagem o que estava acontecendo. Quando Steve não conseguia ficar acordado para conversar com ela, Lana abria “The Most Popular Girls In School” no Youtube e ficava assistindo e rindo sozinha daquela série trash. Agora quando ela encontrava com Dottie, as duas sempre acabavam citando alguma fala e caiam na risada. Lana ainda não acreditava que Dottie era na verdade uma pessoa até que divertida - apesar de não comer chocolate, porque como assim tem gente que não gosta de chocolate?

Quando deu meia-noite e o Halloween estava oficialmente acabado - ou começando para alguns - Lana terminou de organizar o laboratório e foi até a recepção para pegar a comida chinesa que havia pedido pelo telefone. Ela pagou o motoboy e voltou pelas escadas meio escuras aquela hora até sua sala.

Ao entrar, ela notou que uma das gavetas em que os cadáveres ficavam estava aberta - Eu tenho certeza de que fechei todas elas, Lana pensou - e ela foi fechá-la. Quando estava se sentando em sua mesa, Lana teve a impressão de ter visto uma sombra atrás dos freezeres, mas, ao olhar novamente, não havia ninguém. Ela deu de ombros, abriu o episódio de MPGiS em que havia parado e começou a assistir.

*************

Sam e Misty caminharam pela mata alta, armas e lanternas em mãos e extremamente atentos a tudo a sua volta, mas, o lugar parecia deserto. Havia música vinda de algum lugar distante - Provavelmente de alguma festa de Halloween que eu estou perdendo!, Sam acrescentou mentalmente - e a área era mal iluminada, os postes mais próximos ficavam a alguns metros de distância.

—Acho que estou vendo alguma coisa, Wilson. - Misty falou. Ela andava de maneira silenciosa, o corpo tenso e o olhar atento.

Os dois se abaixaram no meio do mato e Misty indicou para onde Sam deveria olhar. Ele se levantou e conseguiu distinguir  duas sombras mais distante.

—Vamos fazer isso sem chamar a atenção deles. - Sam falou. Misty concordou com a cabeça.

Os dois começaram a caminhar meio abaixados até onde as duas sombras estavam e ao se aproximarem mais conseguiram ouvir pedidos de socorro.

—Polícia! Não se movam! - Misty gritou erguendo a arma para as duas sombras agora visíveis sob a luz do poste mais próximo.

Eram dois homens, um que se encaixava no perfil das vítimas do maníaco e outro, que deu um sorriso macabro antes de empurrar Misty no chão e sair correndo.

—Misty! - Sam exclamou.

—Eu to bem, Wilson! Corre atrás daquele filho da mãe! - ela exclamou já se levantando.

Sem pestanejar, Sam saiu correndo.

*************

Estava acontecendo alguma coisa no necrotério e Lana não estava gostando nem um pouco daquilo. Ela ouvia portas batendo, as luzes se apagam sozinhas quando ela saía de algum cômodo e a porta que separava o corredor da escada que levava ao saguão ficava rangendo toda hora.

Lana tentou continuar assistindo a “O Babadook”, que já era assustador por si mesmo, mas, não parecia uma boa ideia, não quando já se passava das duas da manhã e ela estava sozinha em um necrotério onde ficavam acontecendo coisas estranhas.

É bom que isso seja alguma pegadinha, ou eu juro por Deus que vou ter um ataque do coração…

Ela quase pulou da cadeira quando ouviu a porta da escada bater.

—Quem está aí? - ela perguntou, mas, ninguém respondeu. É claro que ninguém vai responder, não tem ninguém aqui, sua louca!

Ela ouviu algo ranger e o barulho de algo sendo arrastado no chão.

Já chega, isso ta virando palhaçada!

Lana se levantou, pegou uma machadinha que estava em cima da pia de necropsia e foi em direção a porta da escada, sentindo o coração quase batendo para o fora do peito. Ela ouviu mais uma vez o barulho de algo se arrastando no chão e respirou fundo. Jesus humilha o Satanás, ela cantarolou mentalmente tentando manter a calma, Jesus humilha o Satanás... Ela virou no corredor e seu coração quase parou de susto e choque.

Havia um palhaço bloqueando a porta que levava para a escada.

A porra de um palhaço.Um palhaço alto, com um lençol cobrindo a maior parte do corpo e uma máscara assustadora cobrindo o rosto. E ele segurava um machado.

—Isso é uma piada, né? - Lana perguntou e sua voz saiu pateticamente trêmula.

O palhaço não respondeu, mas, começou a caminhar na direção dela.

************

Sam correu atrás do suspeito o mais rápido que conseguia - o que por sorte era bem rápido já que ele corria praticamente todos os dias - e gritou mais uma vez para que ele parasse, mas, o homem o ignorou.

Ele finalmente conseguiu alcançar o homem e o jogou no chão, apesar de ele ter o dobro de seu tamanho e tentou imobilizá-lo. O homem se debateu e chutou, empurrando Sam no chão e acertando um soco em seu estômago. Sam xingou alto e tentou se levantar, mas, o homem o chutou de novo e tentou pegar sua arma.

Sam o empurrou e conseguiu se levantar, jogando o homem no chão mais uma vez,mas, ele empurrou Sam novamente como se Sam não pesasse nada. Antes que Sam pudesse se levantar porém, uma sombra passou por ele e voou em cima do homem.

Era Misty.

Ela chutou o homem na virilha, o deixando sem ar e o jogou no chão novamente. O homem tentou acertá-la, mas, Sam correu até ele e o imobilizou. Misty o algemou e o homem grunhiu.

—Cala a boca, seu bostinha! - Misty exclamou sem fôlego - Você está bem, Wilson?

—Porra, Misty, eu te amo… - ele soltou.

Misty arregalou os olhos para ele e Sam desejou fortemente que o suspeito tivesse acertado sua cabeça ao invés do que estômago.

***************

O palhaço continuou vindo na direção de Lana, mas, o grito ficou preso em sua garganta e ao de correr para o lado oposto, ela ergueu a machadinha.

—Você não vai me assustar seu palhaço, filho da puta! - ela gritou e partiu para cima dele erguendo a machadinha e o atacando.

—NÃO, LANA! POR FAVOR! - o palhaço gritou se esquivando e a voz dele parecia muito a de…

—STEVE?! - Lana gritou puxando sua máscara.

Steve olhava para ela de olhos arregalados. Ele deixou o machado que segurava cair no chão, o barulho ecoando por todo o corredor deserto.

—Steve que porra você está fazendo aqui?!!!! - Lana exclamou com o coração acelerado.

—Era uma brincadeira! - Steve se defendeu erguendo as mãos em sinal de rendição, seu rosto estava vermelho e os olhos arregalados de susto. Lana se deu conta de que ainda segurava a machadinha, mas, não a abaixou, ainda em choque com o que havia acabado de acontecer - Desculpa!!!

—Onde está o B…? - ela começou, mas, antes que pudesse terminar sentiu duas mãos apertarem sua cintura e alguém gritou “BOO” em seu ouvido.

Lana gritou e pulou de susto, a machadinha escorregou de suas mãos e ela ouviu Bucky gritar. Steve olhava a cena chocado e Lana soltou uma exclamação, vendo a cor sumir do rosto de Bucky enquanto uma trilha de sangue começava a aparecer em seu braço direito, bem onde a machadinha havia feito um corte.

***************

—Misty, me desculpa! - Sam exclamou pela milésima vez. Os dois estavam de volta a delegacia e prestes a interrogar o suspeito que haviam acabado de prender, William Lewis.

—Chega, Sam! - Misty retrucou entrando em uma sala de interrogatório vazia onde eles não poderiam ser ouvidos.

—É sério, Misty! Saiu sem querer! Me perdoa! - Sam exclamou se odiando por soar tão desesperado.

—Eu te disse que não queria nada sério, Sam! - Misty exclamou irritada.

—Eu sei! Olha, Misty, vamos fingir que eu não disse nada daquilo…

—Eu achei que você ia conseguir fazer isso, Sam, eu te disse desde o começo que não era para levar isso a sério, mas, eu devia saber…

—Misty…

—É melhor a gente não continuar mais com isso ta bom? Agora vamos, a gente tem um suspeito para interrogar…

****************

—Bucky, eu sinto muito! - Lana exclamou desesperada. Ela e Steve conduziram um Bucky muito pálido até a sala dela e Lana fez com que ele se sentasse em uma cadeira. Steve havia pegado o lençol que havia usado em sua fantasia e amarrado em volta do braço de Bucky para estancar o sangramento.

—É culpa minha, Lana, eu não devia ter te assustado… - ele falou com a voz carregada.

—A gente tem que levar ele para um hospital! - Steve exclamou cheio de preocupação.

—Sem hospitais! - Bucky exclamou na mesma hora - Não posso pagar por um hospital!

—A gente dá um jeito, cara… - Steve retrucou se postando ao lado de Bucky.  

—Deixa eu ver esse corte, Bucky. - Lana falou de maneira prática, já havia colocado luvas descartáveis e abria e fechava algumas gavetas, pegando gaze e soro.

Bucky se esquivou um pouco quando ela se aproximou, o que era bem compreensível, já que tinha acabado de levar uma facada dela, mas, suspirou e tirou o lençol do braço. Lana pegou uma tesoura e cortou a manga do suéter dele, depois começou a limpar o corte, concentrada. Bucky soltou alguns grunhidos de dor, mas, apesar da palidez e do sangue, ele parecia estar lidando com aquilo melhor do que ela esperava. Militares.

—Você precisa de pontos. - Lana falou por fim.

—Eu te levo no hospital! - Steve se prontificou.

—Não dá para eu ir no hospital, caramba! - Bucky exclamou fechando os olhos com dor.

—Eu dou os pontos. - Lana falou olhando séria para Bucky, seu rosto ainda estava bastante pálido e apesar de ela ter conseguido estancar o sangramento, se o corte continuasse aberto isso não ia durar muito tempo.

—O que?! - Steve e Bucky exclamaram ao mesmo tempo.

—Eu sei dar pontos, esqueceu? É meu trabalho!

—Mas, você dá pontos em gente morta! - Bucky exclamou desesperado.

—E daí?! Eu já dei ponto em gente viva também e é a mesma coisa!

—Não!

—Bucky…

—Você tem certeza que consegue fazer isso? - Steve perguntou olhando para ela de maneira séria - É que você meio que disse que começou a trabalhar com gente morta porque não conseguia trabalhar com gente viva…

—Eu sei o que eu disse, Steve, mas, se a beleza aqui não quer ir para o hospital a gente não tem muita alternativa!

Os dois trocaram um olhar e Steve assentiu.

—Tudo bem, então pode fazer. - ele falou.

—Com licença! - Bucky exclamou indignado - Você não pode decidir por mim, Steve! É o meu braço que ela vai costurar e não o seu!

Lana revirou os olhos.

—Escuta aqui, Bucky, a não ser que você seja o Wolverine e consiga se curar sozinho, se esse corte não levar pontos ele vai ficar aberto, infeccionar e você vai morrer mais cedo ou mais tarde. E eu sinceramente não quero ter sua morte na minha consciência ainda mais agora que eu já estou me sentindo culpada por ter te cortado!

—Foi um acidente, Lana… - Bucky começou a contrapor.

—Então me deixa dar a porra dos pontos, Bucky!

Bucky e Lana trocaram um olhar que pareceu durar horas, depois de alguns segundos, Bucky suspirou.

—Tá bom, vai…

—Ótimo! Agora, Steve eu vou precisar da sua ajuda também. Coloca essas luvas e segura o braço dele para que o corte não volte a sangrar. - Lana mandou entregando um par de luvas descartáveis para Steve, que fez o que ela mandou.

Ela voltou a andar pela sala abrindo outra gaveta e tirando agulha descartável e linha. Lana pegou outra cadeira e se sentou de frente para Bucky.

—Agora, isso talvez doa um pouco, mas, eu não tenho anestesia aqui…

—Não, tudo bem, eu já levei pior... Pode fazer… - Bucky pediu.

—Ok, vamos lá então. Não se mexe, tá bom? - ela pediu cheia de paciência como se estivesse falando com uma criança - Steve, não solta o braço dele.

Bucky e Steve assistiram um tanto impressionados enquanto Lana costurava o braço de Bucky. Ela olhava concentrada para o braço dele, seu toque era firme, mas, delicado e leve e Bucky praticamente não sentia dor alguma.

Lana não conseguia tirar os olhos do corte no braço de Bucky, não só porque estava concentrada no que fazia, mas, porque conseguia sentir os olhares dos dois homens praticamente lhe perfurando. Lana nunca havia se sentido tão exposta e sem jeito perto dos dois antes e resolveu que era melhor prestar atenção no que estava fazendo. Depois de alguns minutos de silêncio, com Bucky xingando baixinho quando sentia alguma dor ela resolveu que precisava falar alguma coisa.

—E então, qual era o ranking de vocês no exército?

—Sam e eu éramos sargentos e Steve era capitão. - Bucky falou com a voz um pouco mais normal.

—Bem a cara do Steve ser capitão mesmo. - ela comentou com um risinho.

—Ah é? Por que? - Steve perguntou.

—Porque você é meio mandão. - Lana ergueu uma sobrancelha para ele. Steve sorriu, os cantos de sua barba se repuxando.

—Não sou não!

—Acredite no que quiser, capitão. - ela disse a última palavra em tom de flerte e as bochechas de Steve coraram levemente. Então quer dizer que ele gosta que o chamem de capitão? Safadinho!

Bucky olhou cética para ela.

—Algum problema sargento? - ela tentou com Bucky também, mas, ele não caiu nessa.

—Para de graça, sua palhaça!

Lana riu.

—Qual é o problema de vocês? Por que resolveram me assustar daquele jeito? - ela perguntou mudando de assunto.

—A gente só queria animar você e o Sam um pouco. - Bucky comentou - Já que vocês perderam o Halloween e tudo o mais…

—Se vestindo de palhaço? Eu disse que morria de medo deles!

—Por isso que eu me vesti de palhaço, era uma brincadeira! - Steve retrucou.

—Isso foi ideia sua?!

—Foi, por que?!

—Porque normalmente quem tem essas ideias malignas é o Bucky, você está realmente indo para o lado negro da força, né Steve? Eu podia ter matado vocês! A propósito, como vocês conseguiram entrar aqui? Sempre fica um policial na recepção.

—A gente falou para ele que veio reconhecer um corpo e ele deixou a gente entrar, aí nos escondemos no banheiro masculino. - Bucky contou.

—É, já que você disse que ficava sozinha aqui a gente achou que você não ia nos encontrar. - Steve acrescentou.

—Vocês são impossíveis! - Lana riu um tanto indignada, terminando o último ponto no braço de Bucky - Pronto!

Bucky olhou para seu braço agora com uma costura pequena.

—Quantos pontos tem aqui? - ele perguntou.

—13. - Lana respondeu - Agora, você não vai poder levantar muito esse braço e nem fazer muito esforço pela próxima semana. É para limpar os pontos com agua e eu troco o curativo para você e quando cicatrizar eu tiro os pontos também, entendeu?

—Sim, senhora. - Bucky concordou.

—Agora, deixa eu fazer um curativo para você não andar com isso exposto. - Lana se levantou e voltou a andar pelo laboratório, pegando mais gaze e micropore - Steve, eu preciso que você vá até a farmácia que fica a duas quadras daqui e compre alguns analgésicos e anti inflamatório para o Bucky. É uma farmácia 24 horas então está aberta ainda.

Steve concordou com a cabeça.

—Quem é a mandão agora? - ele riu.

—Você, capitão. Agora vai logo! - Lana retrucou.

—A senhora quem manda. - Steve comentou ainda corado e saiu rindo.

Lana e Bucky ficaram em silêncio por alguns momentos, enquanto ela terminava o curativo.

—Desculpe de verdade, Bucky. - Lana pediu mais uma vez quando acabou de cuidar dele - Eu não queria ter te cortado…

—Tá tudo bem, Lana. Podia ter sido pior… Agora eu já sei que não posso mexer com você porque você é perigosa!

Lana riu e deu um leve tapa em seu braço que não estava machucado.

—E olhando pelo lado bom, pelo menos agora eu tenho cicatrizes que combinam! - ele continuou.

—Como assim você tem cicatrizes que combinam?

Bucky tirou o suéter rasgado, revelando uma camiseta preta que dizia “I’m dead. Wanna hook up?” (Estou morto, quer dar uns pegas?) e levantou a manga esquerda, revelando uma cicatriz grande na parte inferior do braço, que ia do cotovelo a axila. Lana nunca tinha reparado naquela cicatriz, se dando conta de que mesmo que Bucky usasse regatas e às vezes andasse sem camisa pela casa, ele nunca mostrava aquela parte do braço.

Instintivamente, Lana tocou a cicatriz já enfraquecida com a ponta dos dedos, sentindo a pele que se sobrepunha a outra. Bucky exalou sem tirar os olhos dela.

—Afeganistão? - ela perguntou em voz baixa.

—O carro em que eu estava foi atacado, eu fui o único que sobreviveu, mas, quase perdi o braço.

Lana arregalou os olhos, sem saber o que dizer. Bucky tinha uma expressão triste e antes que pudesse se conter, ela o abraçou.

—Eu sinto muito, Bucky. - ela disse.

—Tudo bem. - Bucky respondeu, o rosto nos cabelos dela - Poderia ter sido pior, eu fiquei bem mal por um tempo, mas, agora estou bem.

—Fico feliz em saber que você está bem. Deve ter sido bem difícil.

—Está tudo bem agora. - Bucky falou de novo e ela concordou.

Lana se afastou e suspirou, sem saber o que dizer depois desse momento de impulsividade ela se levantou e começou a organizar os materiais que havia usado, jogando fora a maioria das coisas, inclusive o suéter agora destruído de Bucky.

Steve retornou alguns minutos depois com uma sacola da farmácia e entregou os remédios a Bucky.

—Só toma um analgésico agora, senão você vai ficar muito louco. - Lana avisou.

—Eu sei, não sou doido! - Bucky retrucou tomando sua medicação.

—Então, qual era a outra parte do plano de vocês? O que vocês iam fazer depois de me assustar? - Lana perguntou.

—A gente ia esperar o turno de vocês acabar para fazer uma surpresa para os dois. - Steve contou.

—Vocês não vão assustar o Sam?

—Você ficou doida? Sam anda armado, se a gente fosse assustar ele era bem capaz de ele nos dar uns tiros! - Bucky exclamou indignado.

—Isso não é justo! - Lana retrucou - Tem que assustar o Sam também!

—Relaxa, a gente já resolveu essa parte! - Steve deu uma piscadela para ela.

—E qual é a surpresa?! - Lana perguntou.

—É surpresa! A gente não vai contar! - Bucky retrucou.

—Eu já te cortei uma vez, Bucky, quer que eu te corto de novo? Pode me contar qual a surpresa!

—Pode ameaçar quanto quiser! A gente não vai contar!

—Pode me contar vai! Não é justo!

Steve fez um sinal negativo com a cabeça.

—O seu turno já está acabando, não está? Logo logo você descobre! - ele comentou.

—Vocês dois são muito chatos!

***************

Aquele tinha sido provavelmente um dos interrogatório mais difíceis que Sam havia feito. Ele havia conseguido enterrar seus sentimentos por Misty, para que conseguisse fazer seu trabalho junto dela e se focou no suspeito. Só de pensar no homem, Lewis, Sam sentia um arrepio.

Em menos de dez minutos de conversa eles constataram que ele era um sociopata. Não só ele havia confessado todos os assassinatos, como quando foram recolher seu DNA, descobriram que ele havia queimado os próprios dedos, eliminando assim uma das maneiras de rastreá-lo e registrá-lo.

Depois de uma hora de conversa e uma confissão espontânea  e orgulhosa de seus crimes, Sam ficou mais do que aliviado de levar o homem para a prisão onde ele teria de aguardar até a sessão na corte onde a acusação formal aconteceria. Pelo menos você vai apodrecer na cadeia, seu filho da mãe, Sam pensou.

O lado bom de tudo aquilo era que nenhum deles precisaria voltar a fazer o turno da noite tão cedo e a tenente havia dado o dia de folga para todo mundo e quando seu turno acabou, Sam desceu até o necrotério para contar a novidade para Lana.

Havia um machado e uma mancha de sangue enorme no corredor que levava ao necrotério e o coração de Sam quase parou de preocupação. Ele praticamente correu até a sala de Lana e a  encontrou assistindo algo no computador junto de Steve, que segurava uma máscara de palhaço nas mãos e Bucky, que tinha um curativo enorme no braço.

—O que diabos vocês dois estão fazendo aqui? - Sam perguntou surpreso - Lana, porque tem um monte de sangue no corredor?

—Olha, é a Ashley Katchadourian! - Bucky comentou rindo - Era para você estar olhando a porta, Ashley Katchadourian!

Sam revirou os olhos.

—Oi Sam! Steve tentou me assustar se vestindo de palhaço e eu quase ataquei ele com uma machadinha e  cortei  Bucky sem querer… - Lana contou - A gente tava esperando o seu turno acabar, enquanto isso a gente tá assistindo MPGiS!

—Vocês dois também não! - Sam resmungou.

—É legal, cara! - Steve comentou - Não seja uma Jenna Darabont e assiste com a gente…

—Não me faça querer matar vocês dois! - Sam implorou.

Lana pausou o episódio e olhou para ele, Sam parecia exausto.

—O que aconteceu, Sam? - ela perguntou.

—Nós pegamos o maníaco de Staten Island.

—Sério?!

—Sim, e ele é literalmente um maníaco, sério o cara me causou calafrios. Mas, agora ele está preso e podemos voltar ao nosso turno normal amanhã. E a tenente nos deu o dia de folga, para todos que trabalharam no caso.

—Isso é ótimo, Sam! - Lana exclamou animada, mas, pela cara de Sam ela viu que ele não parecia tão feliz assim - Foi só isso que aconteceu?

—Misty e eu terminamos… Quero dizer se é que a gente tinha algo para terminar…

—Ah Sam, eu sinto muito! - Lana exclamou - Você está bem?

Sam deu de ombros.

—Vou ficar… - ele murmurou.

Steve e Bucky trocaram um olhar.

—O seu turno já acabou? - Bucky perguntou.

—Já. - Sam respondeu.

—Então vamos para casa, nós temos uma surpresa para vocês. - Steve falou.

**************

Depois de esperarem o turno de Lana acabar, Steve e Bucky os levaram para casa. Bucky dirigia o carro de Sam, que cochilava no banco do passageiro e Lana e Steve iam no carro dele. Ela caiu no sono quando Steve ligou o rádio na estação do trânsito, tinha algo sobre a voz monótona do radialista reportando o trânsito na cidade que a deixava extremamente sonolenta.

Sam e Lana praticamente se arrastaram da garagem do prédio até o apartamento parando na porta quando Bucky e Steve bloquearam sua passagem.

—Coloquem isso primeiro - Steve falou e entregou uma tiara de gatinho para Lana e óculos de fundo de garrafa que soltavam as lentes para Sam.

—Eu quero os óculos! - Lana exclamou na hora feito uma criança.

Os dois trocaram, Sam usando a tiara de gatinho na cabeça e Lana brincando com as lentes dos óculos.

—Vocês dois esperem aí fora e só entrem quando a gente chamar. - Bucky avisou. Ele e Steve entraram no apartamento e fecharam a porta.

—O que será que eles estão aprontando? - Lana perguntou.

—Não faço idéia! - Sam respondeu bocejando.

Depois de alguns minutos Steve gritou de lá de dentro que eles podiam entrar e Sam e Lana ficaram boquiabertos de surpresa.

—Feliz dia das Bruxas! - Steve e Bucky sorriram.

Os dois haviam preparado uma mesa de café da manhã toda de Halloween. Havia biscoitos em forma de caveira, panquecas em formato d teia de aranha com chantilly em formato de fantasma, uma forma de ovos com catchup que pareciam olhos e um bolo com o rosto do Jack Skellington. Steve usava um chapéu de bruxa e Bucky uma tiara com chifres de demônio.

Lana foi até os dois e os puxou para um abraço. O cansaço a deixando emotiva.

—Isso é a coisa mais fofa que alguém já fez por mim no Dia das Bruxas! - ela exclamou. Dava até dó de comer de tão bonita que a comida era.

—Isso é muito legal! - Sam exclamou impressionado - Mas, eu não vou abraçar vocês!

—Para de frescura, Sam e vem me dar um abraço! O capeta ta mandando!  - Bucky exclamou fazendo biquinho.

Ele se aproximou de Sam e o puxou para um abraço, dando cascudinhos em sua cabeça enquanto Sam tentava se esquivar.

—Você gostou? - Steve perguntou a Lana, os olhos brilhando.

—Eu amei! - Lana sorriu para ele.

—Agora vai abraçar o Steve! - Bucky exclamou para Sam, ele havia tirado um tridente de Deus sabe onde e agora ficava cutucando Sam até que ele abraçou Steve - Isso, muito bem. O capeta agradece!

Lana riu, olhando para os três. Um sentimento forte explodindo dentro de si. Ninguém nunca havia feito nada daquilo para ela e ela se deu conta do quanto amava Steve, Bucky e Sam e do quanto eles eram importantes para ela. Meus garotos, ela pensou.

—Você tá bem? - Sam perguntou notando o jeito que ela olhava para os três.

—Eu não sei como minha vida seria agora se não tivesse conhecido vocês três. - ela falou.

—Provavelmente muito menos divertida. - Steve comentou. Os outros dois concordaram.

Lana riu e concordou com a cabeça. Bucky a cutucou nas costelas com o tridente e Lana deu um gritinho de susto.

—Quer que eu te esfaqueio de novo, Bucky?

—Não! Quero que a gente vá comer, o capeta está com fome!

—Você vai passar o resto do dia se chamando de capeta? - Sam perguntou a ele.

—Vou! O capeta pode se chamar do que quiser! Agora vamos comer antes que eu leve todos vocês para o inferno.

Lana revirou os olhos e se sentou junto deles para comer. Ela olhou de Sam para Bucky que ainda discutiam sobre o capeta para Steve que lhe deu uma piscadela. Aquele com certeza entrava para a lista de melhores Halloweens que ela tinha vivido.





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Notas finais do capítulo

Eu avisei que o capitulo era longo, mas, espero que tenham gostado! :p
E me digam o que estão achando da fic, adoro saber a opinião de vocês e prometo que vou tentar ser mais presente!



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