Conforme os dias se passavam e Lana se acostumava a viver com três homens e eles se acostumaram a viver com uma mulher, Bucky não pode deixar de prestar atenção nela. Em como ela sempre ouvia música pela manhã enquanto se arrumava, como agora, depois de se “libertar” de Darcy - como ela mesma dizia - tinha pintado os cabelos de verde água ou, como mesmo não concordando com o fato de ele fumar de vez em quando, não se importava que ele fumasse em sua varanda.

Mas, o que mais a intrigava sobre ela era com certeza seu trabalho. Ela nunca dizia exatamente o que fazia e sempre que perguntada, começava a agir de maneira estranha. Sem contar que ela sabia a resposta do teste de serial killer, sempre falava de morte em tom de brincadeira e para completar, ela sempre chegava bem mais tarde que Sam do trabalho e Bucky havia lhe visto lavando uma blusa manchada com o que parecia ser sangue. Era uma hora da manhã de uma quinta-feira! Quem lavava roupa essa hora?

Bucky se via fascinado por Lana, mas, também se via cada vez mais preocupado. Só havia uma razão para ela agir de maneira tão esquisita: Lana só podia ser uma serial killer.

—Você bebeu de novo? - Steve perguntou incrédulo, era tarde da noite e Steve e Bucky assistiam a reprise de um jogo de basquete. Sam havia saído para um encontro com alguém que havia conhecido pelo Tinder e Lana ainda não havia chegado.

—Não! - Bucky se defendeu - Só estou falando que é muito estranho ela nunca falar onde trabalha e…

—Ela trabalha com o Sam, Bucky,  e o Sam é um detetive. - Steve interrompeu suspirando - Se a Lana fosse uma serial killer ele saberia.

—Tá, isso não explica como ela sabia do teste de serial killer! E aquelas músicas que ela ficou cantando aquele dia quando a gente foi na Darcy? “Eu sou uma assassina agora”?

—Bucky…

—E o fato de ela estar lavando uma roupa cheia de sangue no meio da noite? Ela é uma serial killer! - Bucky insistiu.

Steve abriu a boca para responder, mas, a porta se abriu naquele momento e Lana entrou parecendo exausta e carregando uma sacola de pano que parecia pesada e prestes a rasgar.

—Oi gente. - ela falou com a voz cansada.

Steve e Bucky trocaram um olhar e sorriram para ela.

—Oi Lana. - os dois falaram ao mesmo tempo.

—Tem pizza no forno se quiser. - Steve falou enquanto Lana carregava a sacola pesada até o corredor.

—Valeu, vou tomar um banho e já vou comer, estou morrendo de cansaço… - ela ia dizendo e xingou alto quando a sacola se partiu, espalhando seu conteúdo pela sala.

Steve e Bucky pularam do sofá e foram ajudá-la a pegar os objetos, ignorando seus protestos de que não precisava de ajuda. Steve tentou fortemente não parecer alarmado com os objetos que estavam espalhados, enquanto Bucky, que era muito menos sutil, soltou uma exclamação antes de começar a pegá-los. Havia uma serra elétrica pequena, diversas tesouras e duas facas de serra, um machadinho, agulha, martelo, uma pinça grande e alguns bisturis.

Lana pegou tudo rapidamente e enfiou na sacola rasgada de qualquer jeito, com o rosto muito vermelho. Ela murmurou um obrigado e foi para o quarto o mais rápido que pode, batendo a porta.

Bucky olhou para Steve com uma cara de “eu te disse”.

—Tá, eu acho que a Lana pode ser uma serial killer. - Steve concordou muito tenso e Bucky sorriu vitorioso - O que a gente faz agora?

—A gente descobre a verdade!

—Como?

—Seguindo ela, ué.

—Você tá falando sério? - Steve exclamou e Bucky fez sinal para que ele falasse baixo - E se ela for mesmo uma assassina e descobrir que estamos seguindo ela? Eu não quero morrer!

—Você tá com medo da Lana? - Bucky perguntou rindo.

—É você quem está dizendo que ela é uma assassina! - Steve retrucou exasperado.

Bucky suspirou.

—A gente resolve isso amanhã, certo? - ele perguntou ouvindo a porta do quarto de Lana se abrir e o som de seus passos no corredor.

Sem saber mais o que dizer, Steve concordou com a cabeça.

—Certo, amanhã a gente descobre a verdade!

***********

Na manhã seguinte, Steve e Bucky estavam tomando café da manhã quando Sam chegou, com as mesmas roupas da noite anterior e parecendo mais feliz do que nos últimos dias.

—Isso lá é hora de chegar em casa, Chocolatino?! - Bucky comentou com maldade quando o amigo abriu a porta.

—Fica quieto, Vanilla Ice. - Sam se limitou a responder erguendo uma sobrancelha e indo até a bancada e se servindo de café.

Steve deu uma mordida em sua panqueca, ignorando os apelidos que os amigos tinham um para o outro.

—Bom dia gente. - Lana falou entrando na cozinha. Já estava vestida para sair e pegou um copo termico e se serviu de café, só então notando a presença de Sam - Ei Sam, como foi o encontro?

Sam sorriu.

—Foi bom, mas, acho que não vai rolar mais. - ele contou e Lana franziu a testa - Eu fui embora enquanto ela estava dormindo. - ele esclareceu.

Lana franziu a testa para ele, mas, não disse nada. Ela pegou algumas torradas de cima da mesa e acenou para eles.

—Tchau gente, tenho que ir senão vou me atrasar ainda mais! - ela exclamou e saiu batendo a porta.

—Onde ela vai a essa hora num sábado? - Steve perguntou curioso.

—Trabalhar. - Sam respondeu - O departamento dela está cheio de trabalho para rever desde que o ex-chefe dela saiu.

—Ah é? - Bucky perguntou curioso - E o que ela faz mesmo?

—Ela é assistente.

—Assistente de que? - Steve perguntou.

—Se ela não quis contar eu também não vou contar. - Sam respondeu sem se abalar - E por que vocês estão tão interessantes?

Bucky e Steve se entreolharam.

—Por nada, ué. É só que é estranho alguém ir trabalhar tão cedo em um sábado. - Bucky comentou.

—Não é não! Eu trabalho de sábado também, isso quando não tenho que trabalhar no domingo, igual a amanhã. - Sam retrucou se levantando - Parem de ficar se metendo no trabalho da Lana, se ela quiser contar o que faz, ela conta. Agora, fiquem quietos que eu vou dormir e eu sei que vocês adoram ficar fazendo barulho a essa hora da manhã.

—A gente não vai fazer barulho, Chocolatino. - Bucky falou - A gente já vai sair.

—A gente vai? - Steve perguntou e Bucky quis bater nele por ser tão desligado.

—Vai.

Sam deu de ombros e foi para o quarto resmungando algo sobre estar de ressaca demais para lidar com aquilo.

—Onde a gente vai? - Steve perguntou quando Sam fechou a porta do quarto.

—Descobrir se a Lana é uma serial killer ou não.

*****************

Bucky estacionou a caminhonete próximo a delegacia de polícia, olhando atentamente para a entrada.

—A gente vai ficar aqui do lado de fora da delegacia o dia todo? - Steve perguntou olhando para a entrada do prédio que era bastante movimentado mesmo para um sábado de manhã.

—Acho que não, olha ela ali. - Bucky apontou para a entrada do prédio.

Lana estava sozinha e andou apressada até um carro preto. Bucky deu a partida no carro e assim que Lana saiu, ele a seguiu da maneira mais discreta possível.

—Você acha que ela vai matar alguém de Uber? - Steve perguntou com sarcasmo, apesar de curioso.

—Nunca se sabe. - Bucky respondeu sério, prestando atenção nos movimentos do carro a frente - E achei que você quisesse saber tanto quanto eu.

—Eu quero, mas, tô me sentindo culpado de seguir ela. Não acha que é um pouco demais, não?

Bucky deu de ombros, ignorando a pergunta e olhando para seu celular que tocava. Era a quarta ligação desde que havia entrado no carro com Steve e ele bufou.

—É a Dot? - Steve perguntou vendo a expressão do amigo.

—É, mas, não quero atender… Ela chegou de viagem ontem e quer sair hoje,mas, não estou a fim…

—Você tem certeza de que esse é o único motivo? - Steve perguntou - Quero dizer, você anda bem interessado na Lana desde que ela chegou…

—Eu só quero saber se estou morando com uma serial killer ou não. - Bucky respondeu rapidamente, os olhos fixos na rua - Nada além disso.

—Se você está dizendo…

Bucky estreitou os olhos para o amigo.

—E do que você está falando? Por acaso acha que eu não reparo o jeito que você olha para ela também?

—Você está vendo coisas demais! Além do mais, ela é muito bonita e eu não estou morto… - Steve desconversou.

—Por enquanto… - Bucky riu e Steve revirou os olhos.

Eles seguiram Lana por pelo menos mais quarenta minutos, até que o Uber em que ela estava estacionou em uma área um tanto abandonada que ficava próximo as balsas que levam a Staten Island. Ela desceu do carro carregando uma sacola em que eles não tinham reparado antes e seguiu pelo pequena estrada de terra, sumindo de vista.

Steve e Bucky trocaram um olhar antes de descerem do carro e a seguiram, se mantendo fora da vista dela.

—Onde você acha que ela está indo? - Steve sussurrou para Bucky.

—Por que você tá sussurrando? - Bucky perguntou - Só tem a gente e a Lana aqui.

—Porque eu não quero que ela escute! - Steve se defendeu e Bucky revirou os olhos.

Os dois seguiram pela pequena estrada de terra e foram parar em uma área já na beira do mar, onde a mata batia acima dos joelhos e parecia completamente abandonada.

O lugar era uma cena de crime, havia dezenas de policiais e policiais forenses em volta e eles viram Lana calçar algum tipo de proteção para os pés, colocar uma espécie de roupão e luvas. Já havia alguns curiosos em volta da cena e Bucky e Steve se juntaram a eles, observando enquanto Lana passava pelas fitas de proteção e ia até um cadáver que estava jogado um pouco mais distante de onde os curiosos estavam.

Lana se abaixou próximo ao corpo e começou a avaliá-lo, conversando com um homem alto e loiro que parecia ser um detetive. Depois de alguns minutos fazendo aquilo, uma equipe apareceu e cobriu o cadáver, o carregando em uma maca para e em seguida para um carro do IML.

Lana observou o corpo ser levado e se virou para ir conversar com o detetive Carisi, que era da mesma unidade de Sam e muito agradável aos olhos, porém algo em meio aos curiosos lhe chamou a atenção.

Steve e Bucky estava parados olhando para ela e quando perceberam que ela os encarava, se viraram e voltaram pelo caminho de onda ela também tinha vindo.

—Carisi, eu já volto. - ela falou ao detetive e se afastou da cena do crime, seguindo Steve e Bucky.

—O que vocês estão fazendo aqui? - Lana perguntou quando estava próximo o suficiente dos dois para que eles ouvissem.

Dois rostos cheios de culpa a fitaram.

—Hum… A gente estava nas redondezas… - Bucky comentou. Lana o fuzilou com o olhar e olhou para Steve, colocando as mãos na cintura de maneira inquisitiva.

—Steve? - ela perguntou em tom sério.

Steve olhou de Lana para Bucky parecendo um cachorrinho que tinha sido pego fazendo algo errado. Lana ergueu uma sobrancelha para ele e bateu o pé no chão em sinal de irritação e Steve suspirou, Bucky era seu melhor amigo, mas, ele se sentia um tanto intimidado por Lana - e se ela for uma assassina mesmo? - e não queria irritá-la.

—Ta bom, vai, a gente meio que tava te seguindo… - ele confessou e Bucky soltou uma exclamação.

—Steve!

—Ah, qual é cara! Ela ia descobrir de qualquer jeito!

—Vocês estavam me seguindo? - Lana exclamou indignada - Qual é o problema de vocês seus stalkers? Enlouqueceram, foi?!

—Não! A gente só…

—A gente só o que, Bucky Barnes? “A gente só” o que? - Lana estava positivamente ficando furiosa agora.

—A gente só achava que você seria uma serial killer! Por causa daquelas coisas que você estava carregando ontem e porque eu vi você limpando uma roupa toda suja de sangue de madrugada… - Bucky falou rápido demais. Steve concordou com a cabeça.

Lana olhou para os dois sem saber o que dizer e então… caiu na risada.

Steve e Bucky trocaram olhares chocados, sem saber o que fazer quanto Lana apenas ria de gargalhar.

—E-Eu não acredito… Vocês acham que eu sou uma serial killer? É por causa daquele teste? Eu já conhecia ele, sabia que tava dando a resposta de um serial killer…

—Se você não é uma serial killer então o que você faz? - Bucky perguntou tentando não se sentir um idiota.

—Vocês querem saber mesmo? - Lana perguntou e eles concordaram com a cabeça - Prometem que não vão ficar esquisitos comigo depois que eu contar?

—A gente promete. - Steve garantiu.

—Certo… - Lana olhou de Bucky para Steve e suspirou - Eu trabalho no necrotério. Sou assistente da médica legista. Aquelas coisas que eu estava carregando ontem são o meu material de autópsia, tinha esquecido a chave do meu armário em casa e não podia deixar as coisas jogadas no laboratório, por isso levei para casa.

Steve e Bucky pareciam mais chocados do que antes.

—V-Você trabalha no necrotério? Tipo com gente morta? Tipo você abre elas e tira seus órgãos? - Bucky perguntou.

—Vocês prometeram que não iam agir esquisito! - Lana lembrou, mais aliviada do que apreensiva. Era sempre assim, todo mundo que  a conhecia fora do trabalho ficava chocada quando descobria que ela trabalhava com gente morta, depois de um tempo tendo que lidar com isso, ela achou melhor simplesmente dizer que era assistente. Poupava as dores de cabeça de ter que se explicar.

—Tá, mas, é que isso é meio chocante! - Steve exclamou - Você não parece uma legista?

—E como é que uma legista deveria se parecer? Gótica? Se quiserem eu começo a usar sobretudo e crucifixo… - Lana brincou - E além do mais, vocês foram para a guerra e Sam vê gente morta o tempo todo também, sendo policial.

—Eu sei, eu sei… - Bucky falou tentando assimilar as informações.

—Espera, foi assim que você conheceu o Sam? No necrotério? - Steve perguntou.

Lana concordou com a cabeça.

—Ele apareceu lá no meu primeiro dia e eu tinha acabado de me formar na faculdade, então estava bem nervosa. Na época meu cabelo era rosa e ele disse que meu cabelo era a coisa mais viva daquele lugar, aí a gente ficou amigo. - Lana resumiu.

Steve e Bucky riram.

—É, isso parece muito coisa do Sam mesmo. - Bucky concordou e o clima entre eles pareceu se aliviar.

—Desculpa, Lana. - ele pediu em tom sério - Desculpa a gente ter te seguido e achado que você era uma serial killer.

—É, desculpa. - Steve concordou - Prometo que a gente não é nenhum stalker maníaco que segue nossos colegas de quarto!

Lana sorriu.

—Tudo bem, estão desculpados, mas, com uma condição. - os dois olharam para ela surpresos - Já estou acabando aqui e vou embora, então nada mais justo do que irmos almoçar, o que acham?

Steve e Bucky sorriram para ela.

—Você quem manda, Lana.

—É, eu sei disso! - Lana riu - Serial killer, francamente…