As Coisas Improváveis Sobre Nós. escrita por Lua B


Capítulo 12
"Está começando a se parecer muito com o Natal".


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Capitulo novinho para vocês!

Ele é inspirado no clipe de "Signal Fire" do Snow Patrol. :3



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Dezembro chegou com um inverno que não perdoava ninguém. Era impossível andar na rua sem pelo menos quatro camadas de agasalhos, botas de neve e paciência para não cair no meio da rua escorregadia.

O lado bom disso era que os crimes no Natal sempre pareciam diminuir ou pelo menos não envolviam tantos assassinatos o que deu a Lana a possibilidade de tirar duas semanas de férias para poder passar o Natal na casa dos Barnes, no interior do estado.

Sam parecia menos atolado no trabalho também, do que tinha ficado em meses. Sua única ansiedade era que o julgamento do criminoso que haviam prendido no Halloween, William Lewis, seria realizado em janeiro o que significava não só condenar aquele homem terrível, mas, ver Misty, já que como principais investigadores do caso, eles teriam que depor no tribunal. Eles não se falavam a quase dois meses e Sam, sinceramente tinha esperanças de se manter tranquilo perto dela, mesmo quando ainda pensava nela todos os dias.

Steve estava tão animado para o Natal quanto Lana e Sam haviam ficado para o Halloween depois de terem que trabalhar no turno da noite. Quero dizer, ele estava animado para o Natal, ele só queria que as semanas que antecedem o feriado passassem voando para que ele não tivesse que lidar mais com o estresse dos pais dos alunos que resolveram ficar em seu pescoço ao saber que ele estava ajudando a dirigir a peça de Natal do ensino fundamental e que seria uma versão das crianças para um filme do Homem-Aranha. Ele já havia escolhido o elenco e a mãe do menino que interpretaria Peter Parker não saia da cola dele, querendo saber como isso ou aquilo seria feito ou porque tal aluno ia ter mais falas que seu filho em determinada cena. O que não ajudava era que ele não podia nem sequer dispensá-la por ela ser a presidente da Associação de Pais e Mestres e poderia demiti-lo em questão de segundos se quisesse.

Bucky realmente não entendia como algumas pessoas poderiam achar a época de festas divertida quando tudo que ele queria fazer era arrancar os próprios cabelos de nervoso. Ele tentava esconder sua ansiedade e estresse e se animar para o Natal tanto quanto Lana e Sam pareciam animados, mas, era difícil já que ele nunca havia tido tão poucos clientes na mecânica quanto nas últimas semanas. Se as coisas continuassem daquele jeito ele não só teria que demitir seu único ajudante, como teria que declarar falência, só de pensar nisso ele sentia vontade de se esconder na varanda de Lana e fumar pelo menos um maço de cigarros escondido. As coisas com Dottie também não iam bem. Desde que ela havia brigado com Lana e parado de frequentar a casa, qualquer coisinha poderia tirá-la do sério e Bucky nunca havia discutido tanto em um relacionamento quanto discutia com Dottie. Ele gostava dela, em algum ponto do relacionamento havia até se apaixonado por ela, mas, agora ele simplesmente fazia o que ela pedia para evitar brigas, o que não duraria muito, ainda mais depois que ela descobrisse que ele levaria Lana para a casa dos pais no Natal ao invés dela.

*******************

Sam, Bucky e Lana passaram pelas fileiras quase cheias do teatro da escola em que Steve dava aula e se sentaram na primeira fileira, de frente para o palco. Os três estavam tão animados quanto os pais em volta para ver a peça de final de ano que o amigo havia preparado junto dos alunos e que seria uma reencenação da história do Homem-Aranha.

Quando a cortina se abriu, o lugar ficou em um silêncio apreensivo até a peça começar. De onde estava sentada, Lana conseguia ver Steve escondido em um canto do palco, prestando atenção nos alunos e orientando os que entravam e saiam. O olhar dos dois se cruzou e ela sorriu e acenou. Steve lhe devolveu um sorriso nervoso.

—É melhor que essa peça seja boa! - Sam resmungou - Eu não passei a noite toda pintando cartolina a toa!

—Sam! - Lana exclamou porque uma das mães lançou um olhar feio para os três.

—Olha, eu que ajudei a fazer a máscara do Homem-Aranha! - Bucky exclamou todo orgulhoso de si mesmo, apontando para a máscara enorme que estava presa ao fundo do palco.

—Você fez sozinho por acaso? - Lana perguntou cruzando os braços.

—Você ajudou, chata! - Bucky retrucou revirando os olhos.

—Calem a boca, vai começar! - Sam exclamou olhando para o palco. O menininho que interpretava Peter Parker entrou e as pessoas aplaudiram - O que será que vai acontecer agora?

—Nossa, não sei, a história do Homem-Aranha é tão inédita, não é mesmo? - Lana rebateu.

—Chata. - Bucky repetiu baixinho. Lana lhe deu uma cotovelada e voltou a olhar para o palco.

—Eu não sabia que a Peggy e o Steve ainda se falavam. - Sam comentou olhando para onde Steve estava agora conversando com uma professora de cabelos castanhos.

—Quem é essa? - Lana perguntou tentando manter a voz normal. Sam ergueu uma sobrancelha para ela.

—Ela é ex do Steve. - ele contou - Ele não te falou sobre ela?

—Não…

—A gente até achou que eles iam se casar um dia. - Bucky comentou, olhando desejoso para uma das mães que passou com um pacote de pipoca nas mãos - Steve não saiu com mais ninguém desde que eles terminaram. A gente vai comer depois daqui, não vai? Eu to morrendo de fome!

—Vamos passar no McDonald’s antes de pegar a estrada. - Lana respondeu. Aquele era o último dia letivo e eles iriam para a casa dos pais de Bucky, no interior. Ao invés de pegarem o trem, os quatro acabaram resolvendo ir de carro. Porque Nova York no inverno é o melhor momento para fazer uma roadtrip, Lana havia ironizado - Faz tempo que eles terminaram?

—Faz uns meses.

—Shh! - uma das mães sentadas atrás deles exclamou.

Lana se encolheu um pouco na cadeira e voltou a olhar para o palco. Steve e Peggy ainda estava no canto do palco, mas, ambos pareciam concentrados demais no que acontecia na peça.

Se fecha, Lana! Você quem disse que nao queria nada com ele, ela se repreendeu enquanto o menininho Peter Parker conversava com a menininha Mary Jane e uma criança vestida de aranha descia do teto amarrada por uma corda e “picava” o garoto, fazendo a platéia exclamar “awn” coletivamente.

A peça tinha quase uma hora e cada uma das crianças fazia pais animados e orgulhosos soltaram exclamações de fofura e no geral, a peça era bem fofa mesmo. Lana  não gostava muito de crianças, mas,não tinha como negar como era fofo ver um menininho de no máximo 10 anos interpretando o Duende Verde.

A peça acabou com o Homem-Aranha descendo do teto de cabeça para baixo e a pequena Mary Jane tirando sua máscara e o beijando. Ao lado de Lana, Sam soltou um “awn”.

Todos aplaudiram de pé e quando Steve entrou no palco para agradecer a ovação junto das crianças, a mãe que havia mandado que Sam, Bucky e Lana se calassem, subiu ao palco e entregou um buquê de flores a ele. Todas as crianças no palco começaram a abraçá-lo e ele pegou o Homem-Aranha no colo.

Ficava difícil para Lana tentar deixar Steve de lado quando ele era fofo daquele jeito sem nem mesmo parecer tentar. As vezes, ela ficava indignada, tentando ter certeza de que não estava vendo demais e que Steve era na verdade uma pessoa horrível. Era impossível demais que ele fosse tão encantador daquele jeito. Como é que alguém consegue?

Ela não conseguia entender como alguém conseguia fazer com que ela se sentisse daquele jeito. As semanas que haviam se passado desde que os dois haviam se beijado só haviam servido para que Lana se sentisse mais confusa e culpada com relação ao que sentia sobre ele. Ela não queria mesmo estragar as coisas, todas as vezes que ela pensava sobre isso era como se ela ouvisse a voz de Sam em sua cabeça dizendo que as coisas ficariam estranhas. Mas, a cada momento que ela passava com Steve ela se dava conta não apenas de que ele havia se tornado um de seus melhores amigos, mas, também que estava apaixonada por ele.

Merda, ela xingou mentalmente observando a roda de crianças que abraçava Steve no palco. Merda, merda, merda. Eu to apaixonada por ele.

—Então o que vocês acharam? - Steve perguntou se aproximando deles carregado de cestas de Natal e o buquê de flores que a mulher havia lhe dado.

—Ficou fofo! - Lana exclamou. Uma criança passou por ela e foi abraçar Steve.

—Tchau, tio! - exclamou a menininha. Steve se abaixou e a abraçou.

—Tchau, Melody! Feliz Natal!

Melody saiu toda feliz e Lana corou ao ver que Steve a pegou olhando para ele com um olhar adorador.

—Vamos? Eu to morrendo de fome! - Bucky pediu.

—Vamos! - Steve falou - Vocês trouxeram minhas malas?

—Estão no carro!

Os quatro se encaminharam pelos corredores agora vazios da escola até o estacionamento coberto de neve, Sam teve que se segurar em Bucky algumas vezes para não cair porque ainda usava os sapatos sociais que usava para ir ao trabalho e Lana se ofereceu para ajudar Steve a carregar algumas das coisas que ele havia ganho.

Os dois estavam guardando as coisas no porta-malas do carro quando uma mulher loira, já nos seus quarenta anos se aproximou.

—Professor Rogers. - ela chamou e Lana achou muito estranho alguém chamá-lo de maneira tão formal. Ela imaginou se seria mais estranho ainda escutar alguém tratá-lo por sua posição no exército.

—Senhora Apricot. - Steve falou parecendo desconfortável.

—Que bom que consegui te encontrar antes de ir, não deu para falar antes, mas, espero que você tenha considerado minha oferta. - ela disse.

Steve abriu a boca para responder, mas, a senhora Apricot o interrompeu.

—Está tudo bem, não precisa me responder agora. Mas, pense a respeito durante o feriado, nós conversamos depois do ano novo. Feliz Natal!

—Feliz Natal. - ele respondeu desanimado observando a mulher se afastar com dificuldade por causa do agulha que usava.

—Tudo bem? - Lana perguntou vendo a expressão dele.

—Tudo… Aquela é a presidente da Associação de Pais e Mestres.

—Aquela que ficou te enchendo o saco enquanto você organizava a peça?

—A própria… Mas, não era só por isso que ela estava no meu pé… Ela me ofereceu o cargo de vice-diretor.

—Uau, Steve! - Lana exclamou impressionada - Isso é maravilhoso! Mas, espera, qual é o problema? - ela acrescentou vendo que a expressão dele não tinha melhorado.

—É que, sei lá… Não sei se eu estou apto para isso…

—Mas, as crianças te adoram!

—Eu sei e eu adoro elas e adoro dar aulas… Mas, eu me sinto meio deslocado às vezes… Sinto falta do exército.

Lana franziu a testa. Steve nunca falava sobre o exército e sobre seu tempo como capitão então ela simplesmente assumiu que ele não gostava de falar naquilo ou simplesmente não sentia falta o suficiente para tocar no assunto.

—Será que a gente pode ir antes de congelar, por favor? - Bucky perguntou colocando a cabeça para fora da janela do carro.

—A gente conversa sobre isso depois. - Lana falou a Steve.

Ele concordou com a cabeça e a acompanhou para dentro do carro em silêncio.

Bucky dirigiu atento a estrada e estacionou no primeiro McDonald’s que encontrou. E eles entraram para sair um pouco do frio. Lana e Steve foram para a fila enquanto Sam e Bucky iam até o banheiro.

—Olha, tem uma jukebox aqui! - Sam exclamou surpreso apontando para o aparelho antigo. Bucky se aproximou e olhou para a lista de músicas interessado.

—São três músicas por um dolar. - ele falou a Sam, vendo a plaquinha com o valor que ficava proximo a entrada de moedas.

Sam olhou para ele com um sorriso encapetado.

—Eu tenho uma ideia. Quanto você tem de moeda ai?

Bucky tirou a carteira do bolso e conferiu.

—Sete dólares. Por que?

—O quanto você gosta de “What’s New Pussycat?” - Sam perguntou ainda com aquele sorriso meio perturbador.

Bucky riu entendo onde Sam queria chegar e começou a inserir as moedas na máquina enquanto Sam escolhia a música. Depois de escolhidas as canções eles voltaram para junto de Steve e Lana que já faziam os pedidos.

—O que vocês estavam fazendo? - Steve perguntou desconfiado.

—Nada. - Bucky desconversou quando “What’s New Pussycat” do Tom Jones começou a tocar.

—Vocês não tinham outra música para escolher não? - Lana perguntou pegando uma bandeja.

—Ah, espera só para ver. - Sam falou pegando a outra bandeja.

Bucky escolheu a mesa mais distante do jukebox e que permitia que eles vissem todo o restaurante. As pessoas pareciam ocupadas em suas mesas e em seus trabalhos até que introdução da música começou pela quinta vez. Sam e Bucky estavam tentando conter o riso. Steve soltou um “pelo amor de Deus” baixo e Lana começou a agitar a perna, irritada. Ela levou a mão a boca e olhou para os dois, sentados de frente para ela.

—Isso foi obra de vocês não foi? - ela perguntou com os dentes cerrados.

Os dois se fizeram de desentendidos, esperando a música acabar. Os clientes em volta começaram a reclamar que a máquina estava quebrada, com exceção de um pai, que estava sentado em uma das mesas proxima a maquina com quatro crianças que cantavam junto com a música toda vez que ela começava. O homem fuzilava Bucky e Sam com o olhar e quando a música acabou e começou de novo ele jogou sua bandeja no chão, gritou “ENFIA ESSE GATO NO INFERNO” e fez as crianças o acompanharem para fora da loja.

Foi demais para Bucky e Sam e eles caíram na risada, os olhos cheios de lágrimas de riso contido. Steve quase engasgou com seu refrigerante e Lana teve que dar batidinhas em suas costas, caindo na risada também.

—Quantos vezes vocês escolheram essa música? - ela perguntou sem fôlego.

—Algumas vezes. - Sam respondeu secando os olhos.  

—Vão expulsar a gente. Certeza. - Steve falou tossindo um pouco.

A música acabou pela sexta ou sétima vez e começou a tocar “It’s Not Unusual” também do Tom Jones. O restaurante todo soltou um suspirou de alívio e pareceu relaxar, isso até a música acabar e “What’s New Pussycat” começar de novo.

Sam, Bucky, Steve e Lana não conseguiam parar de rir e o restaurante todo olhava para eles de cara feia até que o gerente tirou a jukebox da tomada e foi até eles, pedindo encarecidamente que eles fossem embora. Steve ficou se sentindo tão culpado que comprou mais quatro lanches para eles comerem no caminho, recebendo olhares feios das pessoas em volta ao sair.

—Vocês são muito cara de pau! - Lana riu, sentando no banco do motorista do carro.

—Fazia tempo que a gente não fazia umas pegadinhas dessas, né? - Sam comentou com Bucky.

—É porque você se tornou uma pessoa chata e séria, por isso. - Bucky esclareceu enquanto Steve sentava-se ao lado dele no banco de tras do carro - Eu não acredito que você comprou mais lanche.

—Eu tive que comprar depois daquela palhaçada. - Steve riu - Aquela foi a melhor de vocês.

—Muito obrigado! - Sam agradeceu com orgulho pegando o saco da mão de Steve e pegando um pacote de batatas.

Lana dirigia o mais devagar e cautelosamente que conseguia na estrada coberta de neve, ela estava tão concentrada em dirigir que havia ficado em silêncio enquanto os três jogavam conversa fora.

Ela xingou quando um carro passou por eles em alta velocidade, fazendo os pneus derraparem um pouco na neve e a fazendo recuar com força.

—Filho da puta! - Sam gritou para o carro que já estava distante.

—Vocês estão bem? - Lana perguntou.

—Estamos. Você quer que eu dirija? - Steve ofereceu - Ou seria melhor a gente encontrar um hotel e pegar a estrada de manhã quando a neve diminuir?

—Não, tudo bem, acho que eu consigo me virar… - Lana falou um pouco tensa. Ela deu partida no carro mais uma vez e continuou a dirigir na estrada escura, no meio da madrugada.

Lana mal piscava, morrendo de medo de tirar os olhos da estrada e derrapar de novo, mas, eles pareciam ser o grupo de pessoas doido o suficiente para dirigir as duas da manhã na nevasca. Ela havia começado a relaxar no volante quando a luz quase cegante de um caminhão apareceu na contramão e Lana teve que desviar, jogando o carro para o acostamento. Ela tentou manter o controle, mas, havia se assustado tanto com o caminhão que perdeu a direção e Sam, que estava ao seu lado, pisou no freio e conseguiu fazer o carro parar antes que atingisse a árvore mais próxima, jogando todos para frente.

—Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus… - Lana começou a murmurar, os olhos arregalados e as mãos ainda agarradas ao volante - Vocês se machucaram? Tá todo mundo bem?

—A gente ta bem, Lana. - Bucky falou calmamente e desceu do carro, para olhar o capô do veiculo que começava a sair fumaça.

Sam e Steve abriram as portas e desceram, mas, Lana não se moveu. Em choque com o que tinha acabado de acontecer.

—Lana. - Sam chamou - Você está machucada?

Ela fez que nao com a cabeça e ele abriu a porta do motorista.

—Vem, é melhor você descer enquanto a gente da uma olhada no carro.

—Sam, eu podia ter matado a gente. - ela murmurou - Me desculpa.

—Tá tudo bem, foi um acidente. - Sam falou em tom tranquilizador - E você não matou ninguém então não precisa se preocupar.

—Mas, eu podia ter matado, aquele caminhão veio do nada… Se eu não tivesse visto…

—Lana, vem. - Steve chamou se juntando a Sam - Tá tudo bem.

Ela olhou de um para o outro e concordou com a cabeça, descendo do carro para o tempo congelante. Steve segurou sua mão e apertou, mas, soltou ao ver que Sam olhava para eles.

—Você está bem? - Bucky perguntou a Lana, tirando os olhos da parte interna do carro.

—Tô sim, me desculpa. - ela pediu, Bucky deu de ombros como se eles quase terem morrido na estrada não fosse grande coisa - E o carro?

—O motor está funcionando, mas, o carburador soltou, mas, dá para arrumar. Só vai demorar um pouco. - Bucky falou- Ainda bem que eu sempre ando com as minhas ferramentas.

Ele deixou o capô aberto e foi até o porta-malas, cavucando entre as malas até achar o kit de ferramentas que sempre trazia consigo. Lana achou um toco de árvore próximo ao carro e foi se sentar, sua respiração visível no ar gelado.

—A gente devia encontrar um hotel só para passar a noite. - ela falou - E voltamos para a estrada amanhã.

—Tudo bem. - Steve concordou tirando o celular do bolso.

Ele começou a procurar por hotéis na região enquanto Sam ajudava Bucky no concerto do carro e Lana ficava ali sentada, olhando para a neve, sem muita vontade de conversar depois do acidente que havia causado.

Os quatro ficaram quase uma hora na neve e entraram praticamente correndo no carro quando Bucky terminou o concerto. Dessa vez, Lana se sentou no banco de trás ao lado dele e Steve assumiu a direção. Para tentar animar Lana, Bucky ficou ameaçando tocar nela com a mão imunda de graxa, fazendo-a rir e melhorar o clima no carro. Alguns minutos depois, Steve estacionou em um motel de beira de estrada que parecia decente apesar do ar abandonado de filme de terror.

—Eu só espero que a gente não seja assassinado aqui. - Sam comentou quando eles entraram na recepção - Se fosse no Halloween até que teria graça, mas, é Natal e não quero perder a ceia.

—Somos dois. - Lana concordou.

Eles foram atendidos por um adolescente mal humorado com um ar de Norman Bates, que informou em tom monótono que só havia um quarto disponível e que se eles não quisessem, poderiam dormir na nevasca. Resmungando, Lana aceitou o quarto disponível e eles voltaram pela nevasca até o quarto número 5.

—Ah, que ótimo! Como é que a gente vai dormir? - Sam reclamou vendo que havia apenas duas camas de casal.

Bucky passou por ele e se jogou na cama mais próxima, batendo no espaço vazio ao seu lado.

—Você pode dormir comigo Sammy, - ele falou com um sorriso malicioso - eu não mordo.

—Menos aí, Edward Cullen. - Sam retrucou, mas, se sentou ao lado dele na cama.

Lana e Steve olharam um para o outro. É de propósito, com certeza, ela pensou. Bem agora que eu não quero estar apaixonada por ele a gente vai ter que dormir junto…

—Eu posso dormir no chão, se quiser. - Steve falou como se estivesse lendo os pensamentos dela.

—Ou você pode dormir com a gente! - Bucky brincou com uma piscadela.

—Cala a boca, Bucky se não você é quem vai dormir no chão! - Sam avisou.

—Não tem problema. - Lana falou tentando manter um tom de voz neutro - Além do mais está -5º lá fora e eu já quase matei a gente na estrada, não quero que você pegue uma pneumonia também.

Steve olhou para ela intensamente como se estivesse lendo seus pensamentos, mas, concordou com a cabeça lentamente.

—Você dorme embaixo das cobertas e eu durmo em cima. - ele falou por fim.

—Você quem sabe, capitão.  - Lana respondeu tirando os sapatos.

Ela foi até sua mala, pegou seu pijama e foi para o banheiro se trocar e escovar os dentes. Depois, voltou para a cama e se cobriu com o edredom e ficou mexendo no celular enquanto os três se arrumavam para dormir. Sam e Bucky caíram no sono assim que se deitaram, cada um dormindo de um lado da cama, seus roncos enchendo o quarto.

Steve se demorou para ir deitar, e quando a cama afundou um pouco com seu peso, Lana sentiu como ele estava tenso e tentou fortemente agir normalmente com ele tão proximo daquele jeito. Ela estava tão exausta quanto os outros, mas, só de saber que Steve estava ali fazia com que ela não quisesse dormir. Decidindo que seria muito pior se ela ignorasse a presença de Steve, Lana se virou para ele.

Steve estava deitado de barriga para cima, os braços embaixo da cabeça e inclinou o rosto para ela.

—O que foi? - ele perguntou com um sorriso.

—Nada - ela retrucou - Você está bem?  

—Tô… - Steve respondeu esperando para ver onde aquela conversa ia dar - Porque?

—Porque antes da gente pegar a estrada você disse que sentia falta do exército e você nunca fala sobre isso…

Steve suspirou e se virou, ficando de frente para ela. Ele cheirava a pasta de dente e loção pós barba.

—Eu sinto as vezes, na verdade, tenho sentido bastante falta nesses últimos tempo.

—Algum motivo em particular?

Steve deu de ombros, uma das mãos apoiando a cabeça e olhando para ela.

—Não sei… Eu gosto de dar aula, mas, acho que podia estar fazendo mais do que ensinando educação física, no exército eu tinha mais liberdade e tinha mais ação… Acho que eu sinto falta disso.

—Então porque você saiu?

—É complicado… Quando eu fui dispensado eles chegaram a me oferecer um cargo administrativo, trabalhando no escritório das Forças Armadas, em Manhattan mesmo, mas, na época eu estava estressado, estava cansado e traumatizado com o que a gente tinha vivido no Afeganistão, então não aceitei… Mas, agora…

—Agora você acha que deveria ter aceitado. - Lana completou por ele - Sabe, as vezes eu fico pensando também em como teria sido minha vida se eu tivesse continuado a trabalhar em hospital, ao invés do IML.

—Você não teria nos conhecido.

—Sim, essa seria a parte ruim…

—Você tem vontade de voltar a trabalhar em hospital?

—Sai fora! - ela exclamou rapido demais. Steve riu - Quero dizer, não! Eu gosto de ser legista, é bem mais legal do que as pessoas pensam…

—Eu não duvido. - ele respondeu com um leve sarcasmo.

—É legal sim, tá! Mas, não muda de assunto! Você está pensando em parar de dar aula?

—Não sei, de verdade… Talvez sim, talvez nao… Mas, não sei se me aceitariam de volta…

—Bom, você nunca vai saber se não tentar - Lana citou a frase mais clichê que conseguiu.

—Obrigado, Shakespeare. Muito inspirador!

Lana deu um tapa no braço dele.

—Foi inspirador sim, engraçadinho!

—Da para vocês calarem a boca que eu quero dormir? - Bucky resmungou se virando na cama. Ele chutou Sam sem querer e Sam o empurrou balbuciando coisas que eles não conseguiram entender.

—Boa noite, Lana. - Steve falou rindo e voltando a se deitar de costas.

—Boa noite, Steve.


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