A Rainha da Beleza escrita por Meewy Wu


Capítulo 28
XXVII - Sangue em Veludo




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—Você está sendo infantil. Infantil, egoísta e baixa – pisquei, parando antes de entrar na sala de jantar para o café da manhã, reconhecendo logo a voz de Isabel por trás daquele sermão – Mais do que isso, você está sendo cruel com a sua própria irmã!

Todas as meninas estavam sentadas a mesa, com exceção de Lilie e Isabel, que se encaravam em pé, e o lugar de Livie vazio entre as meninas.

—Você pode falar sobre isso como ninguém – Lilie retrucou, afofando seus cachos loiros perfeitos, caindo como caracóis nas costas do vestido rosa de saia rodada, e girando em 180 graus para sair da sala, cruzando por mim sem sequer me cumprimentar.

Olhei para as meninas, que pareciam concentradas demais em fingir que aquilo tudo, o que quer que fosse não estivesse acontecendo. – O que foi tudo isso?

Alicia deu uma batidinha com o dedo em frente ao acento de Isabel, e bufando a morena se sentou de pernas cruzadas, e com um único gole esvaziou uma xícara de café.

—O que está acontecendo aqui Bethany, é que Lillie é... – e então, Isabel começou a praguejar em Italiano, auto o bastante para que se ouvisse de todos os quartos da casa das musas - Una bella ingrata, viziata e arrogante!

—Isabel, por favor... – Kali pediu, fechando os olhos e dando um gole lento em seu chá.

—Pode ser mais específica? – ergui uma sobrancelha, sentando e deixando que uma empregada enchesse meu copo com suco vermelho brilhante, enquanto Isabel dava os ombros e olhava para Alicia.

—As meninas brigaram mais uma vez – Alicia explicou com simplicidade, porem seu olhar deixava bem claro que ela considerava tudo aquilo uma tempestade em um copo de água – Lilie acordou e havia um convite para jantar sob a porta dela.

—Um convite para Livie – Jin complementou, debruçada sobre a mesa. – Lilie atravessou o corredor furiosa, e proibiu a irmã de ir no jantar, por que ela não concordava com aquilo. Livie disse que ela estava sendo ridícula, e as duas começaram a discutir...

—...E Lilie disse que se Livie fosse, não seria mais sua irmã – Isabel complementou, com aquela pontada de veneno típica escondendo a fúria na sua voz.

—Você está exagerando, certo? Ela não pode ter dito isso! – exclamei, sem conseguir me conter. A doce Lilie não falaria algo assim para a irmã. Tina assentiu, confirmando a informação.

—Livie começou a chorar, dizendo que Lilie podia ficar com o embaixador, com alguma foto que não sabemos o que é, e até com o quarto dela se quisesse – Tina explicou, apoiando o rosto na mão – E saiu chorando, de pijama, e nós não conseguimos encontra-la. E Lilie está sendo... Difícil.

— Una cagna – Corrigiu Isabel, muito amargamente.

—Seus comentários não estão sendo de nenhuma ajuda Isabel – Alicia apontou, enquanto a morena revirava os olhos.

—No momento, é a única coisa que me impedem de revirar todo este palácio enquanto seu amigo e os colegas incompetentes dele procuram por Livie – Isabel grunhiu, mordendo uma torrada quase queimada da bandeja.

—Isso tudo, e Lilie nem sequer soube sobre o beijo ainda – murmurou Jin, enquanto todas nos virávamos para olhar para ela, que picou algumas vezes – Nem você, aparentemente. A moça que troca as flores do meu quarto está namorando um dos jardineiros, e ele contou para ela que contou para mim que o embaixador beijou a "gêmea dos cavalos" nos jardins ontem de manhã, logo após cavalgarem...

Todas saltamos da cadeira, quando a porta principal da casa das musas bateu com força, e Jin com os olhos arregalados soube que havia falado mais do que deveria.

—Bem, agora ela sabe – Alicia arrumou os ombros – Ela iria descobrir mais cedo ou mais tarde, não existem segredos no Petit Palace.

—Acho que ele gosta mesmo de Livie – falou Kali, mordendo o lábio inferior – Só queria que Lilie entendesse isso logo, está ficando cansativo.

—Bem, moças, se me permitem trocar o assunto por um momento, eu preciso perguntar algo que está me deixando ansiosa desde que o café foi servido – Tina sorriu descontraída, se virando para Isabel e apoiando o queixo nas duas mãos – Por que está vestida assim, senhorita Venezza?

—Eu... – Isabel pareceu surpresa, ficando quase da cor da camisa vermelha. Ela estava realmente bem vestida, de um jeito incomum para Isabel, combinando a camisa com calças pretas de alfaiataria e seus nunca ausentes saltos altos. Menos nobre e mais empresarial do que de costume.

—Você está vermelha? – pisquei surpresa, e ela voltou ao normal me olhando feio.

—Não, que isso seja da conta de qualquer uma de vocês – Isabel começou, mergulhando uma colher no pote de melado e levando a boca – Mas irei representar minha madrinha em uma reunião daqui a pouco, e preciso passar a ideia certa.

—Uma reunião? – Annie estreitou os olhos – Com quem?

—Com a duquesa Rebecca e a sua...

—Ah, está explicado – Alicia trocou sorriso com Tina, antes de se levantar – Eu preciso ir. Se Livie voltar, mandem me avisar imediatamente.

Ela nos mandou beijos no ar, antes de sair quase saltitante, enquanto eu associava de onde conhecia o nome que Isabel havia acabado de falar, então soei como uma idiota quando perguntei – A mãe de Dylan?

—E as madrastas dele também, Vienna e Mikenna – ela assentiu, parecendo menos nervosa ou ao menos mais controlada do que há alguns minutos.

—Por que elas querem falar com sua tia? - perguntou Tina, desconfiada.

—Na verdade, queriam falar com minha mãe, mas é claro que ela se recusou a vir até Paris e é claro que as duas se recusaram a ir até Veneza – Isabel respirou fundo, jogando uma mecha do cabelo castanho sobre o ombro – De toda a forma, não fazem ideia que é comigo que irão encontrar, então não posso simplesmente aparecer com um vestido de princesa cor de rosa em uma reunião. Eu tenho que transmitir a seriedade necessária, se o assunto for o que eu imagino.

—E qual seria? – perguntou Annie, brincalhona, mas Isabel estava bastante séria, quando servia a si mesma outra xícara de café, antes de a empregada cruzasse a sala para fazê-lo, e respondia.

—Guerra.

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"Natalie Cordelle Paris – Ano de 2290

Querido diário. Acho que nunca fui uma moça comum – por suposto, é difícil ser uma moça comum quando se tem uma coroa sobre a cabeça. Passei os últimos três anos desde minha coroação relendo os relatos deste de livro – os relatos de homens – sobre essa família poderosa e amaldiçoada que me trouxe até aqui hoje. A minha família.

Aos quatro anos, por acidente, uma criada me disse que um dia eu seria rainha. E que meu irmão Frances, apenas onze meses mais novo, nunca seria rei. Dez anos mais tarde, aos quatorze anos, quando meu primeiro ciclo aconteceu, todas as aulas de dança e música foram trocadas por reuniões do conselho, línguas, diplomacia e esgrima. Minha mãe me preparou até seus últimos segundos de vida para assumir seu lugar, para me proteger, a minha nação e a meu irmão – minha única família – depois que ela partisse.

Gostaria que ela estivesse aqui agora. Que atravessasse comigo aquele corredor.

Fico aqui, esperando a hora certa, com Frances impaciente do outro lado da porta. Ler todos esses relatos, todos os casamentos felizes ou não da nossa família me faz pensar em como eu achei, por tantos anos, que nunca chegaria a me casar – e me faz sentir-me obrigada a registrar a minha parte da história como tantos antes fizeram. Como meu amado pai, de quem mal me lembro fez.

Não achava que os bailes tolos serviriam para algo além de encher a vaidade dos ricos, não até aquela noite gelada quando cruzei com William. À noite em que pensei que seria justo comigo e com o povo e com Frances se eu apenas fugisse e o deixasse reinar.

Mas Frances não sabia sobre reinar mais do que qualquer um de nós sabia sobre o amor. Imagino se meu irmão criado da mesma maneira protegida, e crente apenas no amor gerado por sangue, um dia terá a sorte de encontrar alguém que lhe aqueça o peito a pensar em algo a mais do que guerras e poder.

Casada. A palavra ainda parece irreal. Willian não é nobre nem rico, mas sem dúvidas, como todos os homens que frequentavam aos bailes, é belo e galante. E justo, generoso e doce. Cheio daquela leveza que enchia o meu castelo e meu coração ambos gélidos e duros de alegria

Escrever isso me faz desejar que tenhamos muitos anos desta alegria para que eu encha estas páginas.

Frances esta batendo na porta, o relógio diz que em seis minutos preciso estar atravessando um corredor, em direção ao altar - mesmo que ambos nós preferíssemos poder casar no campo, com apenas nossas famílias e amigos de testemunhas.

Mas uma rainha deve fazer o que uma rainha deve fazer. E hoje eu mostrarei para toda a minha corte e todo meu reino o marido e consorte que eu escolhi. É hora de me casar.".

..................................

Já estava anoitecendo quando Livie enfim foi encontrada nos estábulos, vestida como uma cavalariça, com os cabelos loiros presos em um coque baixo sob o chapéu. Apolo, que pareceu decepcionado quando eu e Tina o acompanhamos pelo palácio para busca-la, foi quem avisou que ela havia sido encontrada. Mas ela não estava muito disposta a voltar para a Casa das Musas, onde a irmã também não aparecerá à tarde inteira.

Foi preciso que Tina ameaçasse chamar Veronicca, e prometesse que fariam uma festa do pijama, para que ela enfim cedesse e deixasse que a levássemos de volta ao palácio. Porém, mal entramos, e na escadaria principal estava Napho, sentado pensativo, olhando para o nada. Ele lançou um olhar confuso para o nosso pequeno grupo, mas que se iluminou quando percebeu quem estava por baixo daquele chapéu e das roupas de montaria surradas.

—Livie? – ele perguntou, se levantando e descendo as escadas restantes até nós.

Ela abaixou a cabeça, erguendo uma mão para ele, um gesto para que não se aproximasse – Por favor, não fale comigo – ela pediu, sem olhar para ele. Os olhos dela, percebi, estavam cheios de lágrimas – Por favor.

—E-eu não entendo – ele franziu a testa, dando mais um passo em nossa direção.

—Napho, acho melhor deixarmos Livie ir se deitar – falei, me colocando entre os dois – Ela teve um dia difícil.

—Eu também tive – ele arfou, tentando passar por mim, e então sobre meu ombro falando para ela – Passei o dia inteiro preocupado com você, todos diziam que você havia desaparecido. Por que fez isso?

—Embaixador, preciso pedir que se afaste – Apolo colocou sua mascara fria de guarda, a postura perfeita e os olhos ameaçadores.

—Isso é por causa de Lilie? – ele perguntou, mais calmo, quase desistente – Já lhe disse que não sinto nada por ela!

—Mas ela sente por você! – Livie arfou se afastando de Tina. Sai de entre os dois, deixando que se encarassem – Sente de verdade, e eu não posso ser a pessoa que vai tirar isso dela. Não é justo com ela, ela perdeu tanta coisa...

—Você também perdeu – ele apontou, dando um passo em direção dela – Como isso é justo para qualquer um de nós? O que eu sinto não é de verdade? O que você sente não é de verdade? Estava mentindo quando disse que gostava de mim nos jardins, Livie?

—Não eu... Eu – os olhos dela se arregalaram, olhando para além de Napho, além de nós, além dos cinquenta degraus da escadaria, onde Lilie assistia aquilo, com os olhos cheios de lágrimas negras me máscara caindo sobre o vestido cor de rosa – Lilie!

—Livie! – gritou Napho, mas Tina se colocou em frente a ele antes – Eu não sabia que ela estava lá... Por favor, me deixe corrigir tudo isso!

—Elas são capazes de se entenderem sozinhas, fazem isso desde que nasceram – Tina falou, duramente – Você parece disposto a causar muitos problemas em coisas bem definidas por aqui, Embaixador.

Napho parecia ter levado um soco no estomago – Não era minha intenção, minha princesa.

E Tina, parecia ter levado um soco igualmente doloroso - É tarde, todos deveríamos ir jantar. Posso acompanha-lo até a sala de jantar, embaixador?

—Seria minha honra, senhorita – ele lhe ofereceu o braço, mas Tina já havia partido.

—Senhorita Bethany – ele se despediu, e então de Apolo – Oficial Drake.

Nós nos encaramos, sozinhos no salão.

—Bem, acho que é meu dever acompanha-la de volta a Casa das Musas, senhorita Bethany – ele me ofereceu o braço.

—Como eu posso recusar? – sorri, aceitando seu braço e seguindo em direção à escada lateral para o segundo andar. Dificilmente algum de nos estava empolgado para acabar entrando na possível reconciliação de Lilie e Livie.

—Não acredito que passei o dia inteiro procurando por uma musa outra vez – ele me olhou feio, e nós dois rimos – Por que vocês insistem em ficar desaparecendo?

—Provavelmente para ter a chance de ser encontrada por algum guarda musculoso - fiz um gesto grandioso, jogando o cabelo para trás como Isis fazia – Que garota não quer dezenas de homens a sua procura?

—Ela diria exatamente isso – ele suspirou, ficando distante por um momento na lembrança da irmã, antes de retomar o assunto – Mas sua amiga deu mais trabalho do que você. Ao menos na noite do baile, você estava dentro do palácio.

—Acha mesmo que ela ficou disfarçada o dia inteiro? – perguntei encantada com aquela ideia – Sem que ninguém percebesse.

—Não – ele falou distante, e depois se voltou para mim – Não acho que a senhorita Livie tenha ficado nos limites do palácio, imagino que tenha cavalgado até bem longe e voltado. É a melhor maneira de fugir aqui.

—Você não parece o tipo que foge a cavalo no meio da noite – brinquei, e ele riu.

—Não, eu tenho outras formas de fugir que não incluem sair do palácio, Bethany – ele tirou uma pena de pássaro azul de dentro da manga, girando entre os dedos – Mas nem todos tem a minha sorte.

—Bem, eu queria sair daqui - falei, enquanto ele me olhava de sobrancelha erguida – Não ir embora, mas sabe, ver a cidade, caminhar pelas ruas, ver pessoas de verdade...

—As pessoas de Paris não se diferem em nada do que você vê aqui dentro, Bethany - ele garantiu um pouco amargo, e franziu a testa – Está ouvindo estes gritos?

 

—Talvez dependa de como você... – E então, um clarão iluminou todas as janelas no corredor em frente a nós, e nós vimos, um por um, os guardas virados de costas para o vidro se virarem apenas para serem acertados por uma chuva de tiros. Alguns passos. Só mais alguns passos, e estaríamos passando pela janela. Engoli em seco, e percebi que minha respiração começava a acelerar de novo.

Tentei dar um passo para trás e arfei de dor, saindo por um minuto do transe apenas para ver o buraco de bala e o sangue jorrando em meu tornozelo. Uma figura apareceu no corredor atrás de nós. Não vi quando Apolo empunhou sua arma, mas com muita agilidade ele se colocou na minha frente e atirou. Uma vez, no braço em que o homem inteiro vestido de preto segurava a outra. Outra vez – no coração.

—Você está bem? – ele se virou para mim, assustado. Abri a boca, e fechei, sem conseguir falar – Bethany, não sei o que aconteceu com você na noite do baile. Mas não pode acontecer de novo. Você não tem o luxo de perder o controle. Agora, me responda. Você está bem?

Assenti, apavorada. Mais tiros, mais explosões, minha cabeça girava. Apolo olhou sobre os ombros, ele tinha de ir fazer seu papel, defender o palácio – Bethany, me ouça – ele pediu, os grandes olhos verdes como os de Isis e Marian fixados em mim – Se algo acontecer comigo preciso que diga a ela... Diga que eu sinto muito por fazer com que ela passasse por tanta coisa... Por deixar que a fizessem passar por tanta coisa... Por deixar que enfrentasse todos aqueles demônios, sozinha. Eu nunca quis que ela se sentisse sozinha Bethany.

— O que? - Pisquei, surpresa, tentando prestar atenção unicamente nele. Uma garota. Apolo falava de uma garota - Apolo, do que você está falando? Falar pra quem?

—Diga que eu sinto muito por ter sido tão covarde, por temer não estar lá para protegê-la como não pude estar para Isis e minha mãe... Bethany, diga a ela que a amo. Diga a Alicia que a amo. - Pisquei atônita, e então ele apertou meus ombros, me sacudindo – E agora, se esconda. Encontre um abrigo. Fique viva Bethany.

E então ele correu, na direção oposta aquela em que eu iria - um soldado, sem medo da morte. E eu olhei para o meu tornozelo, para o que Apolo não havia visto.

Não olhei para o lado de fora das janelas. Mantive-me colada na parede, arrastando a perna o mais rápido que podia para acompanhar a outra, até o pequeno intervalo que separava dois aglomerados de janelas.

Gritei. Minha cabeça voltava a girar, quando um tiro acertou o quadro na parede ao meu lado - Entre os olhos negros da pintura do pai de Fox. Os mesmos olhos dele.

Minha cabeça começou a girar. Cheiros e sons que eu já não tinha certeza se eram reais. Fumaça, sangue, música, espadas, mar...

Biblioteca pensei. Eu tinha de chegar até a biblioteca. Meu tornozelo cedeu sobre o salto fino, e a dor aguda percorreu toda a minha perna e cai de joelhos não chão. Eu não iria conseguir.

Eu podia morrer agora, pensei. E ser livre.

Mas em vez disso, Jin e Kali surgiram, engatinhando pelo corredor, vindas do lado contrário ao meu provavelmente saindo da casa das musas.

—Bethany! - Exclamou Jin, arregalando os olhos - O que você...?

—Meu tornozelo - expliquei - Não consigo andar.

—Precisamos chegar à passagem mais próxima... - Kali falou, balançando a cabeça - É muito longe. Não vamos conseguir carrega-la.

Eu sabia que passagem ela falava. De alguma forma, eu sabia, assim como sabia chegar aos estábulos ou ao escritório de Dylan.

—Precisamos ir para a biblioteca - falei, enquanto as duas me olhavam como se eu estivesse louca - precisam confiar em mim. Tem um lugar seguro lá.

—Vire de bruços - pediu Jin e eu o fiz, deitando no chão - se equilibre nos joelhos e cotovelos. Vou cuidar para que seu tornozelo não ceda... Você vai na frente, e rápido.

Kali assentiu, engatinhando com uma velocidade surpreendendo em minha frente. Chegar à biblioteca foi fácil, subir os sete andares dela nem tanto. Quando chegamos ao último andar, os tiros alertam que não estávamos tão seguras.

Quando as duas me puxaram para dentro da passagem, e fecharam a porta, não demorou muito para que ouvíssemos passos logo abaixo de nós. Depois gritos, e mais tiros.

Senti vontade de gritar - de chorar - quando mais e mais tiros ecoaram de todo lugar, de baixo, de cima, de fora e das torres aos lados. Repeti para mim mesma que estávamos bem - que estávamos seguras - enquanto as horas passavam.

As duas se mantiveram abraçadas, unidas, cobertas de medo. Eu tão pouco mantive a calma - mas desta vez, eu não podia me dar ao luxo de fugir daquele som que me atordoava tanto sem eu não entender. Então, me isolei naquela bolha que eu criara no espaço limitado onde estávamos e me mantive o mais afastada delas, o mais calma que conseguia, pra não lhes alarmar.

Para que não soubesse o quão assustadoramente quebrada eu me sentia.


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