A Rainha da Beleza escrita por Meewy Wu


Capítulo 1
Prólogo




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Marian estava furiosa, andando pela casa como um soldado correndo para a guerra. Só que com menos medo, saltos altos e o dobro de determinação. Ela achava inaceitável que o correio tivesse atrasado em uma semana tão importante como aquela.

O jornal do dia, ao quão ela sempre lia a primeira página e descartava, estava jogado sobre a mesa de madeira brilhante – um luxo que ela fazia questão de, sempre que recebia visitas, ostentar. Todos os móveis da casa eram de madeiras, cada mesa cama e cadeira.

—Bethany! – gritou ela, assim que me viu parada na beira da escada, observando seu pequeno show matinal – Bethany, você tem certeza absoluta de que o correio ainda não veio? Ninguém bateu na porta?

Respirei fundo. O correio estava apenas quinze minutos atrasado, coisa que Marian nunca notaria em um dia normal. Seu jornal estava na mesa, havia flores frescas nos vasos e seu café estava esfriando. – Não, ele ainda não passou por aqui, estava três ruas abaixo quando fui comprar leite e biscoitos, discutindo com a senhora que cria porcos na rua da padaria.

—Ah, aquela velha louca! – Marian xingou, voltando para a sala de jantar, e jogando-se dramaticamente na cadeira que ficava a ponta da mesa – Por causa dela, sou obrigada a passar por essa aflição... Preciso saber se Apolo conseguiu os convites. E onde está Isis? Você já a acordou?

—Ainda não, ela disse que queria dormir até mais tarde hoje.

—E você acha que ela se manda? – ela questionou, parando na metade do ato de tomar seu café – É ela quem lhe paga, também? Que compra suas roupas e te alimenta? Ande logo, vá chama-la. Não basta tomar café aflita, não irei toma-lo sozinha por conta da preguiçosa da minha filha!

Sorri, enquanto voltava para o corredor e subia as escadas. Já faz quase dois anos desde que conheci a família Drake e mesmo assim eu tinha a impressão que nunca me acostumaria com a forma como as coisas andavam naquela casa.

A senhora Marian Drake, viúva há quase dois anos era uma mulher de personalidade forte, com cabelos castanhos avermelhados que começaram a ficar grisalhos desde que o filho mais velho, Apolo, se voluntariou para o exército real. Desde então, toda a sua energia vem sido o tormento da filha mais nova, Isis.

É por causa de Isis que estou aqui, é claro, embora ela possa ser bem arrogante e insuportável às vezes, não é uma companhia tão ruim quanto às outras meninas da idade dela que conheci. Todas acham que são a garota mais bela de todo o reino, e todas acham que serão a próxima rainha. Mas Isis sabia tocar flauta, pintar e tinha gosto pela leitura, o que por vezes a fazia uma boa companhia para uma conversa desinteressada.

As manhãs eram quando ela tinha sua pior personalidade. Então fiquei aliviada ao ver que ela já estava de pé, e praticamente vestida quando entrei no quarto.

—Sua mãe está esperando para o café da manhã – anunciei, ajudando-a a fechar as costas do vestido e puxando seu cabelo no alto, prendendo em um rabo de cavalo – Como estão seus dentes?

—Pare de me tratar como criança, eu pedi para dizer a ela que eu queria dormir um pouco mais hoje – ela grunhiu, rangendo os dentes e puxando o cabelo das minhas mãos – Você não falou?

—Falei – dei os ombros – Mas ela não está muito paciente hoje. Está esperando a carta do seu irmão, e o carteiro...

—Poupe-me dos detalhes insignificantes, por favor, minha cabeça está doendo – ela molhou o dedo na tinta e passou na boca, dando um aspecto levemente avermelhado a sua pele pálida. Algumas garotas, podiam se dar ao luxo de usar batons escuros... Isis não era uma delas. Marian dizia que ela parecia uma garota da vida de batom escuro, e Isis xingava aos pais e avós por não ter herdado os cabelos ruivos escuros da mãe. Eu, por outro lado daria tudo para trocar meu cabelo cor de cevada, por seus cabelos laranja brilhantes, mas nunca diria isso para ela.

Enquanto ela descia as escadas e seguia para a sala de jantar, a batida na porta me fez recuar e atender. O carteiro, cheirando a gordura e a terra, estava suado e parecia irritado, quando me entregou a única carta da semana. Tentei não sorrir de ansiedade enquanto seguia a sala de jantar e entregava a Marian a carta de Apolo, mas não pude me conter quando ela levantou o convite dourado, escondido no centro da carta. Isis estava dentro. Iria para Grande Paris conhecer a Rainha. Talvez, um dia, ela fosse rainha.

...

  -Talvez eu devesse levar um cobertor – falou Isis, tocando a coberta da cama – Ou pelo menos uma manta, pode estar frio no trem.

—Não é uma longa viajem, vamos chegar lá antes de anoitecer – Marian falou – Partiremos no primeiro trem da manhã, talvez você ainda não tenha acordado Bethany. Cuide bem da casa e alimente meu gato, não vamos demorar mais do que uma semana... Bem, a não ser que alguém conquiste o coração do príncipe!

—Não é uma questão de coração – falou Bethany, se levantando e sentando em frente à penteadeira – é uma questão de aparência!

—Não há garota no trinta Estados mais bela do que você – falei, penteando o cabelo dela – Não esqueça sua gargantilha!

—Bem lembrado! Vai precisar do melhor ouro que temos, e do máximo de sorte que pode conseguir – Marian pegou a corrente, e colocou sobre o criado mudo – Vai colocar amanhã antes de sairmos, e não vai tirar esse cordão do pescoço até nós voltarmos!

—Se voltarem... – falei, sorrindo.

—Ah, nós temos que voltar, eu nunca deixaria meu gatinho para trás – Falou Marian, quando o bichano negro pulou em cima da cama – Nem você, é claro, Bethany... Isis precisará de uma boa amiga, se se tornar rainha. Alguém que saiba cuidar do rostinho bonito dela!

—Que não vai estar tão bonito se eu ficar acordada até tarde – Isis falou, jogando o gato para fora da cama – as malas estão prontas, então será que vocês duas podem sair do meu quarto?

—Hoje, por que amanhã será um grande dia, deixarei passar sua má educação e vou fingir que é nervosismo – falou Marian, olhando severamente para ela – Você também deveria ir dormir Bethany, vou ficar acordada mais um bom par de horas arrumando minhas próprias malas, mas prefiro fazer isso sozinha.

—Tudo bem – sorri, seguindo para meu quarto. O segundo andar da casa era dividido em cinco quartos, com banheiros particulares. A suíte de Marian e do falecido esposo, com um grande closet e uma mini biblioteca, ocupava metade do andar, e os quartos de Isis e Apolo, ocupavam dois terços do espaço restante. Sobravam os quartos de hóspedes, um que permanecia para as inesperadas vistas, e o que eu fui instalada assim que cheguei naquela casa.

Não tinha nem um quarto do tamanho do quarto de Isis, e era muito menos enfeitado, mas era maior e mais bonito do que qualquer coisa que eu poderia imaginar nos dezessete anos que passei no orfanato.

Peguei o jornal daquela manhã, folhando pelas manchetes. O caos estava cada vez pior, diziam que haviam incendiado uma cidade Russa há dois dias, e estavam se aproximando cada vez mais da Grande Paris. O último ataque havia sido ontem, no litoral da Itália. Perto demais da Suíça para que a cidade se sinta segura.

Eu ouvi Marian reclamando da suíte, como suas malas eram pequenas, e dormi sorrindo, ouvindo sons de cavalos passando pela rua.

Acordei com o cheiro de queimado.


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