WSU's Aracnídeo escrita por Gabriel Souza, WSU


Capítulo 6
Capítulo 5: A queda


Notas iniciais do capítulo

É preciso cair para aprendermos a nos reerguer.



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  — Onde... onde eu estou? — Tento me mover mas não consigo, estou preso, amarrado na verdade. Tento olhar ao redor, ver onde estou, minha visão não me corresponde tão bem também, desde que ganhei meus poderes eu percebo que minha visão está um pouco melhor, enxergo mais que os outros, agora, minha visão está pior do que nunca, meus músculos não respondem direito também, deve ser efeito de seja lá o que seja aquilo que aquele cara me injetou. Depois de tentar inutilmente me soltar de novo percebo uma que há uma pessoa escondida nas sombras.

— Quem é você!! Mostre-se desgraçado!

A pessoa que aparentemente estava de costas para mim, se vira em minha direção e começa a se aproximar, quanto mais perto, mais eu posso perceber suas feições, um homem, velho, na verdade, nem tão velho, provavelmente tem uns 50, 60 anos. Seu cabelo grisalho e volumoso com certeza é um charme para as coroinhas, seu rosto passa a impressão de uma pessoa bondosa, mas dada as circunstâncias onde me encontro, sei que ele não é uma pessoa assim.

— Vejo que acordou herói — Consigo sentir a ironia na última palavra falada pelo homem que se aproxima de mim.

— Quem... Quem é você? E o que fez comigo?

— Meu nome é John, isso é tudo o que você precisa saber. — Ele puxa uma cadeira, coloca ele em frente à cadeira aonde estou amarrado e se senta bem à minha frente. — Eu estou apenas tomando o que é meu.
Como assim o que é seu? Quem esse cara pensa que é? 

— O que é seu?

John simplesmente me ignora, enfia a mão em um bolso de sua calça de onde tira um pequeno canivete.

—Você não ouviu errado Aracnídeo. Ou prefere Jonas?

Sinto um calafrio passar por todo meu corpo, esse cara sabe meu nome, isso não está certo como que...

— Sim, eu sei o seu nome. Não foi difícil, nem um pouco na verdade. — Ele analisa o canivete em suas mãos — Um garoto... um garoto que acha que pode se meter nos meus negócios.... ACHA QUE PODE SE METER NOS MEUS  NEGÓCIOS?!? — Ele enfia o canivete com toda sua força em minha perna, logo acima do joelho. Sinto a dor lacerante de ter um objeto pontudo atravessando minha pele e furando minha carne. — RESPONDE VERME! — ele gira o canivete aumentando ainda mais a dor que sinto — Acha que pode simplesmente dizer que tem poderes idiotas e se meter nos negócios dos outros? Acha mesmo? — Não respondo, mesmo com toda a dor meu orgulho fala mais alto, eu não sei do que esse cara está falando, mas seja lá o que for, ele terá o troco assim que eu conseguir me soltar.

Ele tira o canivete de minha perna, limpa o sangue com um lenço e continua a falar.

— Muito bem, eu tenho os meus negócios e digamos que eu odeio quem me atrapalha, e você atrapalhou. — Ele examina o canivete mais uma vez — Eu deixei você agir enquanto você estava interferindo nos negócios dos outros, mas recentemente você atrapalhou um dos meus negócios, você interferiu numa transferência importante, me deu prejuízo, e isso eu não deixo barato, ninguém mexe com os meus negócios e continua inteiro, na verdade, ninguém mexe com os meus negócios e sai vivo. Você... — Ele me encara com um sorriso sádico no rosto:

— Você me estressou muito, você não parou com uma transferência, você fez de novo ontem, ajudou a prender dois do meus homens. E bem... — Ele me examina — Você é dessa maldita espécie mutante. — Espécie mutante? Do que ele está falando? — Não irei te matar. Irei te destruir.

John se levanta, vai até uma mesa, acho que é uma mesa, e pega alguns jornais, jornais recentes. Joga-os na minha frente. Todos os jornais com capas retratando sobre mim: "O novo herói Pernambucano", "Quem será essa pessoas misteriosa que vem salvado pessoas na capital", "Aracnídeo, O herói que Recife precisa" entre tantas outras manchetes, todas na minha frente.

— Você tem feito um bom trabalho em conquistar o povo e a mídia. Devo reconhecer, você é bom, bom mesmo, mas não o bastante. — Ele se aproxima de mim e me pega pelo pescoço, me enforcando. Sinto a passagem de ar sendo tampada, a dor e agonia surgindo acompanhados de raiva, raiva do homem á minha frente.

— Você sabe o que é poder garoto? O verdadeiro poder? — Ele me larga e me encara novamente — O poder não está nos punhos, não está na política, o poder está no dinheiro. No que você pode fazer com ele. Poder está no respeito e no medo, na capacidade de botar insetos em seu devido lugar...

— Aranha... não é inseto.

Ele começa a rir, não uma risada sincera, uma risada zombeteira.

— Encontramos um comediante — Ele soca meu rosto — Quer que eu lhe mostre o que acontece com comediantes em situações como essa? — Ele me soca de novo. — Como eu estava falando, o poder não é algo que qualquer um possa conseguir, o poder está na capacidade de acabar com insetos com suas próprias mãos, ou mandar brutamontes imbecis fazerem o trabalho, está no controle, principalmente no controle.

— Sim, controle é a palavra que define poder, controle das sombras. Controle políticos, e terá leis, brechas a seu favor, controle a polícia, terá sempre aquela área e horário livres, pistas? Que pistas? Controle juízes, advogados. Controle a mídia, sim, a mídia, aquela que controla o pensamento das massas, controle ela que você terá o poder de controlar os pensamentos, opiniões das pessoas. Este sim, é o verdadeiro poder. Dúvida?

Ele se aproxima novamente da mesa e pega outros jornais que joga a minha frente. As manchetes são diferentes. "Aracnídeo é visto saindo de banco com sacola de dinheiro", Massacre no Porto Suape: Aracnídeo principal suspeito" essas e outras matérias, matérias falsas. Olho para o canto das capas e vejo a data, é a data de amanhã. Uma raiva cresce lentamente dentro de mim, posso sentir ela vindo, como ondas no mar que vão e voltam, mas que cada vez mais, lentamente, se aproximam das casas próximas da costa.

— Sabe, você tem feito um árduo trabalho nestas últimas semanas, impediu crimes, agiu como um herói em determinadas situações, achando que era um. Conquistou a confiança do povo, por incrível  que pareça, o mundo não se voltou contra você, uma aberração, mas tudo bem, eu respeito isso, as pessoas têm opiniões.

— Todos têm a sua, infelizmente, opiniões mudam, só precisam de um simples empurrãozinho como... Todos os jornais acusando-o de atos violentos, massacre, roubo, quem sabe assassinar uma família pacata? Ou quem sabe um casal que estava apenas se divertindo juntos? Nossa, a população não ficaria nada feliz, acho que iriam te queimar vivo, isso seria lindo de se ver. — Ele pega uma arma, uma pistola qualquer. — Sabe garoto, apenas matá-lo te tornaria um mártir, destruí-lo é muito mais divertido. — Ele aponta a arma em minha direção, se prepara para atirar, pelo ângulo da arma, não para matar mas sim para causar dor — Até mais pequeno garoto aranha.

Um barulho, uma porta aberta, alguém entrou no local onde estamos,  com a entrada da luz da lua pela porta consigo ver melhor, estou num armazém, um armazém bem acabado por sinal. Quem abriu a porta foi um senhor, deve ter uns 70 anos ou mais. Devia, John dá três tiros no pobre senhor que cai duro no chão sem vida.

— Concluindo... — Ele fala.

Por um segundo tudo o que sinto é paz, aquela onda de raiva que ia aumentando lentamente acabou por parar, me sinto anestesiado, como se nada no mundo importasse, um segundo, quando ele se acaba me recordo do que aprendi em geografia no oitavo ano" se as ondas pararem, se o mar recuar repentinamente, cuidado, por quê aí vem um tsunami".

Após o um segundo de calmaria sinto tudo vindo para fora, toda a raiva que sinto, a merda que eu fiz com meu amigo, o acidente, o meu pai ausente, a minha briga com Rafael e o mais recente, esse homem, esse homem na minha frente, ele... me derrotou, não fisicamente, mas simbolicamente, destruiu a minha fama, destruiu o meu possível legado, destruiu uma vida na minha frente.

Sinto minha unhas crescerem instantaneamente, a droga que injetaram em mim não mais faz efeito, quatro patas começam a crescer em minhas costas causando uma dor imensurável, caio da cadeira e fico ajoelhado no chão enquanto a dor aumenta cada vez mais. Dentes se tornam presas, a dor continua a aumentar. Fecho os olhos apertando-os , junto dos punhos como se isso fosse fazer algum efeito anestésico.

Felizmente, ou infelizmente, a dor gradativamente some, ela se transforma em ódio, ódio pelo homem que está a minha frente, abro os olhos e percebo que enxergo tudo com clareza, mais clareza do que jamais enxerguei, cada detalhe, cada minucioso detalhe não passa despercebido pelos meus olhos, ouvidos e até mesmo meu nariz, meus sentidos foram ampliados e eu sei como vou usá-los.

Parto para cima do homem que meu causara dor, John Soares, um homem que merece morrer pelo que fez comigo, pois, se eu sou um monstro, ele é um monstro pior e é ele quem vai morrer hoje.

Parto para cima do homem que tivera um sorriso substituído por uma expressão de medo, soco seu rosto e vejo sangue jorrar de sua boca, escuto movimentos apressados do lado de fora do armazém, quatro, não, cinco homens estão vindo.

— Sua hora vai chegar. — falo.

Corro em direção à porta antes que os homens entrem, fico acima da porta esperando que entrem, assim que o último dos homens passa pela porta eu salto em cima dele e o enforco com as pernas até deixá-lo inconsciente, os outros se viram para mim e começam a atirar, desvio de todas as balas ao me movimentar numa velocidade incrível, me aproximo de um, soco  três vezes sua barriga e depois finalizo perfurando com as minhas garras, dois a menos, faltam três.

Um deles ao me avistar em uma parede atira em minha direção, corro pela parede me aproximando dele, salto dela e caio em cima dele, arranho seus dois braços e o finalizo com um soco no pescoço. O dois últimos se aproximam de mim, pego a arma do homem que acabei de derrubar e atira em um deles que caio ferido no chão, o outro, olha rapidamente para o companheiro caído, aproveito a situação e solto teia nele, o puxo até mim e soco seu rosto. Cinco a menos, restam zero.

Olho ao redor em busca de John, ele sumiu, fugiu. Vou até o único homem ainda consciente, o que levou o tiro e agora se arrasta no chão tentando sair do garrafão.

— Aonde pensa que vai seu verme?

Piso em sua mão esquerda, ele grita de dor e eu aproveito cada segundo do grito dele. — O que foi? Tá com dorzinha? — piso novamente em sua mão e novamente o homem grita. — Está bem... diga-me onde está o seu chefe.

— Eu não sei cara, eu não sei, por favor, me deixe ir... — Ele grita desesperadamente.

— Péssima resposta. — chuto sua cabeça e vejo o homem a minha frente perder a consciência. Fico parado por, alguns segundos olhando o armazém , agora, silencioso. Essa violência toda me diverte, o poder que eu sinto dentro de mim, é algo inexplicável. Esses homens tiveram o que mereceram.

Me dirijo a saída do armazém quando avisto o homem que fora assassinado por John Soares bem na minha frente a pouco tempo atrás, de repente uma nova onda de sentimentos me atinge, mas não é uma onda de raiva, é uma onda de culpa, culpa pelo o que acabei de fazer. Culpa por ter gostado do que fiz.

— O que eu fiz?


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