Já podia sentir os raios de sol no meu rosto enquanto me espreguiçava na cama e batia de encontro ao corpo de Peeta. Ele dormira no meu quarto mais uma vez, o que significava que estávamos sendo cada vez mais imprudentes. Olhei de relance para aliança que simbolizava meu falso casamento enquanto balançava Peeta para acordar o empurrando pelos ombros. Quando ele finalmente abriu os olhos e deu um de seus largos sorrisos, já sabia que tinha perdido a batalha de brigar com ele antes mesmo de começar.

Aqueles sorrisos dele sempre derretiam o meu coração.

—Bom dia meu amor. – ele disse me puxando para um beijo do qual eu me esquivei tentando ao menos manter o bom senso.

— Você tem de ir! Não é só porque Cato não está no palácio que podemos abusar da sorte.

— Eu odeio quando você o chama pelo primeiro nome.

Revirei os olhos. Eu ali tentando manter o controle da situação e aquela foi a única parte que ele escutou.

— Peeta, para fora agora!

— Detesto desobedecer a suas ordens, minha dama. Mas hoje as coisas serão um pouquinho diferentes.

Eu podia ouvir mesmo ali do meu quarto o barulho incomum nos andares mais abaixo, mas não tinha me preocupado ainda com aquilo. Peeta porém me olhou como alguém que sabia exatamente o que estava acontecendo.

— O que você fez?

Perguntei enquanto já esperava pelo pior.

Ele se vestia enquanto sinalizava que eu pegasse minhas roupas. Depois de já estar vestida, notei que ele colocava minhas roupas e sapatos desajeitadamente numa pequena bolsa.

— O que você está fazendo?

— Temos pouco tempo.

— O que está acontecendo?

Ele me puxou do quarto e fomos caminhando pelos corredores do castelo, enquanto eu via várias estátuas e quadros quebrados. Cato teria um surto quando voltasse para casa.

Não. Cato teria um surto ao voltar para casa e descobrir que eu não estava mais lá.

— Rebeldes. Eu facilitei a entrada deles aqui com a condição que eles facilitassem a nossa saída daqui. A sua saída.

— Eu não consigo acreditar que você se arriscou a esse ponto por mim. Não sei se quero te bater ou te beijar agora.

— Vamos ter que decidir isso depois, precisamos sair do castelo para chegar a nossa barreira.

           Imaginei milhares de vezes o dia que conseguiria fugir dali e seria mais uma vez livre. Dessa vez com sorte para sempre, mas nunca pensei que seria tão fácil fugir do bloqueio e de tudo aquilo. Os guardas estavam ocupados demais em tentar conter os rebeldes para se preocuparem comigo.

Ou para acharem que eu seria burra suficiente para tentar sair da minha torre com o lugar sendo atacado por rebeldes.

Todo aquele plano havia sido planejado perfeitamente, mas algo me incomodava. Tinha de haver um motivo para Peeta não ter me contado até o momento de fugirmos.

Fui tirada dos meus devaneios sentindo a brisa fresca do jardim batendo no meu rosto e meus cabelos. Finalmente estávamos fora, Peeta me abraçou com força e os dois com nossas habilidades materializamos a nossa barreira. Nossa brecha entre os dois mundos para onde sempre fugíamos.

— Não consigo acreditar que chegamos até aqui. Que vamos embora.

Peeta segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou tão intensamente que desejei que aquele beijo nunca tivesse fim.

— Peeta, temos que ir. – disse quando finalmente nos separamos sem fôlego. – Não podemos perder tempo.

Ele andava de um lado para o outro e eu não podia entender qual o motivo da crise dele agora. Já estávamos a salvo. Até que eu entendi.

— O que você prometeu aos rebeldes? – ele não conseguia nem me encarar. – Peeta?

— Não vou com você. Eu sinto tanto, Katniss. Precisava tirar você daquela prisão, você sabe que eu faria qualquer coisa por você, não sabe?

— Não... Eu não vou.

— Sim, você vai. Não sabemos se algum dia vamos ter outra chance assim de novo.

— Você tem que vir também. Danem-se os rebeldes e o que você prometeu.

— Eu vou ser o espião deles lá dentro, se não voltar eles saberão e virão atrás de nós. Não vou por sua segurança em risco.

Eu o abracei com todas as minhas forças, não queria soltá-lo nunca mais.

— Não é um adeus, Katniss. Quando a guerra acabar, não importa que lado ganhe eu vou atrás de você.

— Você me promete?

Senti os braços dele em volta de mim enquanto os dois mentalizávamos aquele mundo azul tão lindo em que sonhamos tantas vezes recomeçar nossas vidas. E agora eu simplesmente não queria ir.

Ele me empurrou para dentro da barreira antes que eu pudesse sequer ter tempo de me defender. Puxando meu rosto para um último beijo antes que a passagem me sugasse completamente.

— Eu te juro Katniss, é só um até breve.

E aquilo foi a última coisa que ouvi antes de cair duramente no chão e ao abrir os olhos notar o lindo céu azul do lugar que agora eu poderia finalmente chamar de lar.