Dizem que quem tem um melhor amigo possui um tesouro imensurável. É alguém com quem se pode contar todo o tempo. Um ombro para chorar, uma companhia para sorrir. Um irmão de outra mãe. Para Amethyst, seus melhores amigos eram o seu refúgio. Era com Saphire e Noah que Amy se esquecia das coisas ruins que passava em casa. Eles a entretinham horas e horas e ainda sim, ela nunca se cansava deles. O momento em que eles tinham que se despedir era sempre um dos mais tristes para a pequena Greengrass. 
Então, sempre que podia, Amethyst pedia a mãe que a levasse até os Nott ou que os deixasse virem até a própria casa. 

Foi num dia deste último, que Amy estava numa animação ainda maior para a visita dos primos. Ela estava aprendendo a escrever e, assim, ela estava sempre a fazer cartõezinhos com desenhos e mensagens carinhosas para todos que conhecia. Logo, dois cartões estavam prontinhos em cima da mesa de entrada, um para cada primo. O de Saph era decorado com canetinha vermelha e tinha um desenho das duas brincando de boneca. O de Noah, era com decoração azul e o desenho era dele entregando uma flor para ela.

Quando a campainha tocou, Amethyst soltou um gritinho e foi correndo até a porta para abri-la. Pansy ia atrás da garota, soltando exclamações de como ela tinha que se portar e não ficar correndo pela casa. A filha nem ligou, assim que viu os primos não tardou a abraçá-los fortemente um de cada vez.

—Saph! Nonô! — a pequena sorriu abertamente pelos dois terem finalmente chegado e então começou a os puxar para dentro — Eu fiz uma coisa pra vocês! — disse sem dar espaço para os dois falarem algo, pegando os cartões da mesinha e entregando-os — Eu escrevi o nome de vocês! — mostrou, orgulhosa de si mesma.

Saphire que estava aprendendo a ler e escrever com ela, deu um gritinho ao ver o cartão e olhou o desenho sorrindo ao ver as duas e dando um beijo na prima.

— Tá lindo, Grassie! – ela disse encantada enquanto observava o  desenho meio borrado das duas primas brincando com as  bonecas.

— Obrigado, Amy! – Noah também sorria, tendo conseguido ler o conteúdo do cartão com mais facilidade que a irmã e se sentindo feliz pela lembrança da garota com a flor. Por isso, ele a envolveu em um abraço apertado, que foi prontamente retribuído pela menina, ainda mais animada pelos amigos terem gostado do que fizera.

— Eu ganhei um monte de canetinhas novas para fazer desenhos e escrever! — Amethyst comentou quando saiu do abraço do primo mais velho — Vocês querem ver?

— Quero! — Saphire assentiu e puxou os dois para dentro de casa, se sentindo completamente à vontade ali.

Os três foram até o quarto de Amy, onde o chão estava coberto de canetas coloridas, lápis de cor e papeis em diferentes formatos e cores. Assim que viu tudo aquilo, Saph deu um gritinho agudo e se jogou no chão para desenhar. Noah riu da reação da irmã, mas também se juntou a ela, puxando a prima com ele.

— Vamos fazer cartões para todo mundo! — a pequena Nott gritou no aposento.

— Shh, Saph! Tio Henry pode estar em casa! — Noah repreendeu a irmã, pois sabia que o tio era muito intransigente e que sempre Amy que levava a bronca por qualquer coisa que faziam ali na casa dos tios. A irmã soltou um resmungo com aquilo. Não gostava do tio, mas resolveu ficar quieta para que ele não brigasse com Grassie.

— Certo... Vamos fazer cartões para todo mundo! — ela repetiu sua frase em um sussurro, o que fez  os  outros dois caírem na risada — Não riam de mim — a garota pediu fazendo biquinho e inflando as  bochechas.

Amethyst e Noah se controlaram a pedido dela e então se puseram a fazer os cartões que queriam. Amy, olhando que os primos faziam para os pais, resolveu fazer um para os seus também. Fez um rosa para a mãe, cheio das bolsas e sapatos que ela adorava e um verde para o pai. Nele, ela havia desenhado Henry abraçando a filha, como ela sempre via Theodore abraçando os filhos e querendo receber o mesmo carinho do próprio pai. Assim que Amy terminou, ela se levantou animada.

— Eu vou lá entregar os cartões para o meu pai e minha mãe! — avisou pros dois — Já volto!

Amethyst não esperou a resposta dos primos e encontrou a mãe no quarto dela, cuidando das suas joias. Pansy olhou para a filha um pouco repreensiva por ela estar atrapalhando, mas ao receber o cartão, sorriu sincera lhe dando um beijo em sua cabeça como em agradecimento. A garota ficou extremamente contente que a mãe havia gostado do que fizera e, então, lhe dá um beijo na bochecha antes de sair do quarto para ir entregar o do pai no escritório.

Quando estava descendo as escadas, sentiu que estava sendo seguida. Olhou para trás e viu que os primos estavam logo atrás dela.

— Já terminaram? – ela perguntou esperando pelos dois ao pé da escada com o cartão na mão.

— Já sim! — Saph comentou pulando os três últimos degraus, fazendo Noah soltar uma exclamação em repreensão — O que? — Ela perguntou inocente.

—  Você pode cair e se machucar! — Noah retrucou pensando também na bronca que levaria do pai por não ter cuidado da irmã direito.

— Parem de brigar vocês dois! — Amy riu se metendo no meio deles e os puxando para o escritório do pai. Quando chegaram, pararam na porta — Vocês vão entrar também?  — perguntou com a mão na maçaneta.

— Talvez seja melhor a gente esperar aqui — Noah se manifestou receoso. Não queria irritar o tio à toa.

— Certo — Amy assentiu e então abriu a porta — Licença... — ela pediu hesitante vendo o pai trabalhando em sua mesa.

Henry, sem ter prestado muita atenção na filha, assentiu, ainda concentrado nos papéis que lia. A pequena se aproximou devagar, esperando para ver se ele se pronunciava. Quando viu que ele estava indiferente a sua presença ali, falou:

— Pai? — pronunciou em um tom baixo, ainda hesitante.

— O que é, Amethyst? — Henry perguntou impaciente sem olhar para a filha.

— Eu fiz algo para o senhor... — Amy tentou falar novamente.

— Agora eu não posso, Amethyst – cortou a filha irritado — Você não está vendo que eu estou ocupado? — bufou.

— Mas eu só queria entregar... — ela tentou mais uma vez.

— Pelas barbas de Merlin, Amethyst! Será que você não consegue me deixar em paz um segundo? — ele a encarou furioso — O que você quer?

Sem falar mais nada, a garota estendeu o cartão para o pai que bufou novamente, arrancando o papel da mão da filha sem delicadeza nenhuma e o abrindo. Nem se deu ao trabalho de terminar de ler e amassou o cartão, jogando-o no lixo, fazendo Amy arregalar os olhos, sentindo as lágrimas acumularem ali, vendo o cartão no lixo.

— Isso é besteira, Amethyst! — Henry esbravejou ao notar a filha quase chorando — Não quero saber de ser interrompido por mais uma palhaçada dessas, fui claro? — perguntou sério.

A garota assentiu com a cabeça se controlando para não chorar na frente do pai e saiu do escritório de cabeça baixa.

Noah e Saph que ainda estavam na porta, olharam para ela sem saber o que fazer ou falar. O garoto foi o primeiro a tomar uma atitude a puxando para um abraço forte.

— A gente tá aqui pra você, Amy — ele disse acariciando seus cabelos, fazendo a garota soluçar baixinho, ainda tentando se conter.

— É não liga pra isso, Grassie... Vamos brincar! — Saph tentou ajudar, sorrindo amarelo.

— Eu quero ir pro meu quarto um pouco —  ela disse contra a camisa do primo ainda sem chorar. Depois de tudo o que passava com o pai, Amethyst sempre evitava chorar.

— Quer que a gente vá embora? — Noah perguntou, não gostando de ver a prima assim e querendo fazer qualquer coisa que a fizesse se sentir melhor. Mesmo que precisasse ir embora.

A garota negou com a cabeça ainda em seu abraço. Sabia que se os primos fossem embora, iria ser muito pior.

— Só quero ir pro meu quarto — repetiu baixinho.

— Certo — Saphire mordeu o lábio sem saber muito como agir para ajudar a amiga — Vamos juntos então... — ela pegou na mão da outra e, junto com o irmão, eles levaram a Greengrass até de volta ao seu quarto.

A pequena foi logo até a sua cama, se abraçando ao travesseiro. Noah e Saph se entreolharam, impotentes e frustrados por não conseguirem animar a prima quando a garota teve uma ideia, fazendo sinal para o irmão que ao ver para onde ela apontava, prontamente entendeu.

O silêncio reinou no quarto de Amy por pelo menos trinta minutos. Lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto dela que por um momento até esqueceu que os primos estavam ali também. Isso mudou, porém, quando Saphire, ao terminar o que fazia, gritou:

— Pronto! — exclamou sorridente mas se encolheu com o olhar repreensivo do irmão mais velho — Desculpa...

— Amy...? — o garoto se levantou e olhou para as costas da prima hesitante. Ela limpou os olhos rapidamente, fungando audivelmente pela primeira vez desde que entrara no quarto e, então, se virou para os primos com os olhos inchados.

— A gente fez pra você! — Saph pulou na cama, dando um cartão para ela.

Amethyst franziu o cenho, pegando o cartão e vendo os desenhos que a prima fizera. Na parte superior do papel, havia uma tentativa da prima de escrever alguma coisa, mas que estava riscado, pois Saphire não tivera a paciência de terminar. Ao terminar de analisar o desenho das duas brincando nos jardins da mansão Nott, sorriu.

— Você não acha que isso é besteira? — Ela perguntou com a voz ainda um pouco chorosa, encarando Saph com os olhos ainda marejados.

— Claro que não! Cartões são muuuuuuito legais! — Saphire respondeu ainda pulando em cima da cama, fazendo Amethyst rir.

— Eu também fiz algo! — Noah subiu na cama também, se sentando ao lado de Amy — Não é bem um cartão... — ele disse sem jeito e estendeu a flor em dobradura para a prima. Ele a colorira como se fosse uma flor de verdade. O caule verde e as pétalas vermelhas, como a primeira flor que ele lhe dera. Amethyst pegou a flor na mão com um sorriso bobo no rosto.

— Essa não vai morrer! Essa eu posso guardar para sempre! — Exclamou beijando a bochecha de Noah contente — Obrigada, Nonô! — E então fez o mesmo com a outra garota — Obrigada, Saph!

— Não fica mais triste! — A Nott retribuiu o beijo da prima.

— Vamos sempre estar aqui para você! — Noah completou e abraçou as duas ao mesmo tempo.

As duas riram e fizeram, então, um abraço triplo, voltando logo a brincar, esquecendo do ocorrido. Porque para Amy, o que importava era estar com quem ela se sentia querida.

E Amethyst era querida por seus melhores amigos.