Alice e o Corvo escrita por Star


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Na história, apesar de ter usado várias descrições iguais às do filme do Tim Burton, a Alice ainda é criança, ok?



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- Qual a semelhança entre o corvo e a escrivaninha? Você sabe dizer? Sabe?

 

O Chapeleiro olhava atentamente para a pequena menina loira com suas enormes orbes arregaladas, uma delas inconscientemente puxada mais para a esquerda, e sua ansiosidade era de longe irônica, porque não havia espaço para sentimentos humanos e ruins dentro dos personagens do País das Maravilhas, exceto aqueles que já nasceram de coração corrompido.

Os dois caminhavam lado-a-lado em direção ao castelo da Rainha Branca, para o sagrado evento do chá da tarde, e haviam escolhido sem muitos rodeios o caminho que beirava ao penhasco. O Chapeleiro com seus sapatos pontudos e fofos ia pela grama, segurando a mão da pequena Alice para dar-lhe equilíbrio, já que ela resolvera andar sobre a cordilheira formada por rochas lisas cobertas de limo há um metro e meio do chão.

- Oras, isso não faz sentido. – Alice replicou, estava começando a se cansar daquela pergunta repetitiva da qual nunca recebia uma resposta. - Seria como perguntar qual a semelhança entre a Alice e o Chapeleiro.

Exemplificou com os dois em terceira pessoa, para testar se isso facilitaria o entendimento por parte de seu amigo inquieto, que, pelo contrário, pareceu mais entusiasmado ainda.

- Oh, sim, essa é boa! Qual é?

- Como?

- Qual a semelhança entre Alice e o Chapeleiro?

- Oh, bem... – Fez uma pausa, revirando os olhos na esperança de que alguma resposta rápida como o exemplo lhe viesse em mente, mas isso não aconteceu, e a garota voltou a se concentrar nas pedras nas quais saltava, tentando não dar muita atenção à irritação que viria por parte de seu amigo que odiava não receber respostas certas. - Eu não sei.

- Você não pode fazer adivinhas se sequer sabe as respostas!

- Nesse caso, responda-me de uma vez, qual a semelhança entre o corvo e escrivaninha?

- Que corvo?

Alice respirou fundo, controlando-se para não perder a cabeça com o pobre amigo que parecia estar à luta para tira-la do sério naquele dia, e pulou em uma enorme pedra que tinha a aparência escorregadia, soltando-se da mão enluvada dele para buscar um equilíbrio maior ao balançar seus pequenos braços esticados no ar, e botou-se a pensar novamente.

- Bem... Imagino que não há semelhança. Por isso não há resposta para a pergunta.

- Qual pergunta?

- O corvo e a escrivaninha. Não há semelhança alguma entre os dois.

Pela primeira vez no dia, em meses, em séculos desde a criação do País das maravilhas, o chapeleiro se calou. A pequena loira o observava andar ao seu lado ao mesmo tempo em que dividia a concentração com suas rochas de brilho sinuoso. O silencio era desagradável e deixava-lhe com uma certa sensação de culpa no estômago. Teria ela falado algo errado?

- Chapeleiro? – chamou, e em sua voz havia um quê de quem pede desculpas. – Eu disse alguma coi-...

- Se não há semelhanças entre o corvo e a escrivaninha – a interrompeu, com seu estranho ar de concentração focado em algum ponto do horizonte. – Então, não há semelhanças entre a Alice e o Chapeleiro?

Alice voltou a equilibrar-se com os dois braços estendidos, andando com suas pernas esticadas e quase imitando uma marcha de soldado, agora que o caminho se tornara menos perigoso.

- Não é exatamente assim. Deve haver alguma semelhança entre nós dois.

- E qual seria ela? – Perguntou, e a menina ficou feliz em ver que sua empolgação havia voltado no brilho dos enormes olhos verdes.

- Oh, bem... – Ainda não havia pensado em algo quando o pequeno muro de rochas no qual andava chegou ao fim, revelando um pulo de meio metro paro o chão.

Cordialmente, o Chapeleiro pôs-se na frente e ofereceu a sua mão para ajudar a pequena a saltar de volta.

Quando aterrisou de forma suave, de uma forma que lembrava muito o jeito de um gato, seu afofado vestido azul subiu e desceu em um movimento lento, o que fez a menina dar risadinhas. Olhou para os olhos contentes de seu amigo, que pareciam sorrir também.

- Nós dois somos um pouco loucos, não somos?- Perguntou, com seu sorriso de criança formando covinhas nas bochechas coradas.

O Chapeleiro assentiu com um enorme sorriso alegre mostrando seus dentes estranhamente pontudos e amarelados, mas que não diminuía a beleza da sua alegria.

- Você ficará comigo para sempre, não ficará, Alice? – Talvez a pequena não tivesse notado, mas além do entusiasmo natural, havia medo e insegurança por trás da sua pergunta.

- É claro que ficarei.

Os dois riram como dois bons amigos, e o Chapeleiro envolveu o braço de Alice no seu, para que continuassem a caminhar imitando os senhores da nobreza daquele estranho mundo exterior até o castelo da Rainha Branca, onde as árvores começariam logo a florescer, evento que acontecia no mínimo três vezes ao dia, para seu próximo chá da tarde.

- Se conseguimos achar uma semelhança para nós dois, talvez ainda haja esperanças para o corvo.

- Que corvo?

- Oh, tudo bem, esqueça...

- Hey, Alice, sabe no que andei pensando?

- Diga.

- Qual a semelhança entre o corvo e a escrivaninha?


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Notas finais do capítulo

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