Progênie Maldita escrita por MarcosFLuder


Capítulo 4
Segredo revelado


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o capítulo 4, como prometido. Creio que finalmente consegui engrenar no enredo da história e isso deve ajudar a adiantar os capítulos daqui para frente. Se essa perspectiva se confirmar talvez eu consiga passar a regularidade da postagem dos capítulos para semanal, em vez de quinzenal É claro que isso ainda não poderá ser feito, tanto que o próximo capítulo só será postado daqui a 15 dias. Vamos aguardar os novos desdobramentos.



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— Você ainda não me disse como conseguiu abrir a caixa, moleque – a voz de Adam crescia em volume, combinando com a expressão de ameaça em seu rosto.

— Eu tenho meus truques para abrir coisas como essa – Tom aponta para a caixa, a voz se mantendo calma, bem como o rosto sem expressão, escondendo o medo que sentia naquele momento.

— Veja tudo pelo lado bom, Adam – a voz de Ivy soou no escuro, Tom agradecendo mentalmente pela fraca iluminação, pois sentia que estava corando, o coração acelerado pelo simples fato de ouvi-la falar. Ele fechou os olhos por um breve instante, amaldiçoando-a por provocar esse efeito nele – a caixa finalmente foi aberta e agora você pode verificar o conteúdo.

— É claro, uma droga de papéis – o olhar de desprezo dele deixa Tom preocupado, como se fosse rasgar o que tinha em mãos naquele instante.

— Por que alguém ia querer que roubássemos papéis? – a pergunta de um dos outros rapazes soou tão estúpida para Tom que este se imaginou azarando-o no mesmo instante. Em vez disso apenas se pronunciou.

— Esses papéis podem ser importantes para alguém – ele disse.

— É claro que esses papéis são importantes para alguém – Tom notou o olhar de Adam para ele. Era um olhar cheio de significados, que lhe pareceram estranhos e familiares ao mesmo tempo.

— Como foi que descobriu que eu os segui naquela noite? – a pergunta saiu espontaneamente do jovem bruxo, uma curiosidade que ele precisava ver satisfeita.

— Você pisou em vidro naquela noite – Adam respondeu – eu sempre os deixo de propósito, exatamente para denunciar algum invasor.

— O que vamos fazer com ele? – disse o outro rapaz – eu voto por uma boa lição.

— Eu tenho certeza que ele não falará nada, não é moleque? – Adam fica bem próximo de Tom ao falar. Ele sorri, mas o jovem sonserino percebe claramente a ameaça por trás daquele sorriso.

— Eu só estava curioso. Não falarei nada, eu prometo.

— Quem garante que ele não irá contar para a senhora Cole? – o outro rapaz insistiu. Tom se limitou a pegar uma das muitas garrafas que estavam numa caixa.

— Creio que ela já sabe sobre o que acontece aqui – Tom mal terminou de falar e o som da gargalhada de Adam Campbell tomou conta do ambiente.

— O garoto é mesmo bem esperto – um dos braços dele envolve o corpo de Tom, que sente um grande desconforto com o contato, mas disfarça muito bem, fazendo questão de dar o seu melhor sorriso – muito bem garoto, nós vamos lhe dar um voto de confiança. Quer saber? Vamos fazer muito mais do que isso. A partir de agora, você é um de nós.

Uma sensação estranha toma conta do jovem sonserino ao ouvir aquilo. Uma sensação de pertencimento, de aceitação, algo que ele nunca pensou sentir necessidade. O braço de Adam em volta de seus ombros já não lhe causava o mesmo desconforto de um segundo antes. Ao contrário, o que ele passou a sentir foi um sentimento de leveza, um grande relaxamento tomando conta dele. O sorriso em seu rosto já não era mais forçado. A nova sensação foi ainda mais reforçada ao vislumbrar o olhar aprovador de Ivy, seguindo de um sorriso que ele, para seu horror, retribuiu de volta espontaneamente. Tudo isso fez nascer no jovem bruxo uma estranha euforia, algo que ele só sentira até hoje quando fazia um feitiço. Até mesmo os sorrisos tolos dos dois outros rapazes não o incomodavam.

Tom estava experimentando uma verdadeira alegria naquele momento. Uma parte dele se rejubilava com essa nova sensação. Outra parte sua, entretanto, odiava a todos que estavam com ele naquele lugar, presenciando esse momento. Para qualquer um no seu lugar, essa poderia ser uma experiência normal, até mesmo desejada, mas para Tom Ridlle Jr, em seu íntimo, significava um momento de grande fraqueza. Um pavor instantâneo tomou conta dele, ao se permitir experimentar uma emoção de sincero pertencimento, de genuína alegria. Olhou novamente para Ivy, sentindo o sorriso dela quase como uma carícia em seu rosto. Odiou-a mais do que todos que estavam ali.

DOIS DIAS DEPOIS

O som de passos interrompe os pensamentos de Tom. Ele finge dormir, embora mantenha os seus ouvidos bem atentos para o som ambiente. Um toque rude em seu ombro o força a abrir os olhos. Um breve momento de pânico ao se deparar com a figura de Adam Campbell olhando para ele. Tom recupera sua expressão neutra quase que de imediato, mas sabe que fora um esforço inútil. O sorriso do jovem diante dele não deixa dúvida de que percebera o susto que provocara no garoto menor. O olhar é breve, e Tom nota Carlinhos e Denis sendo acordados e retirados de suas camas, enquanto os demais são instados a voltarem a dormir.

— Hora de mostrar para você o quanto de mudança houve por aqui na sua ausência... Tom Ridlle Jr. – um breve gesto é tudo o que Tom precisa para compreender a urgência em sair da cama. Ele faz menção de pegar algo em seu baú, mas é impedido – você não precisa pegar roupa nenhuma – a mão de Adam o força a seguir em frente, este nem imaginando que Tom queria mesmo era pegar a sua varinha.

            Os outros dois jovens do orfanato, ambos da mesma faixa etária que Adam, estavam com ele. Chegando ao salão, eles viram Ivy e Amanda já esperando. Agora estavam todos lá, junto à porta de saída. Amanda tinha um ar bem assustado; misturado ao constrangimento de estar de pijama na frente de vários rapazes. O mesmo não poderia dizer de Ivy. Ela estava com um vestido, por sobre uma calça comprida masculina, mas que mesmo assim, dava-lhe um ar atraente. Ela olhou para Tom e sorriu discretamente. Mesmo no escuro ele sabia que tinha corado, retribuído o sorriso. Um conflito interno toma conta dele, pois odiava de fato que alguém pudesse ter algum poder sobre seus sentimentos.

— Todo mundo em silêncio – Adam sussurrou, enquanto abria a porta com uma chave. Tom não precisou de muito esforço para entender como ele a conseguira.

            O grupo saiu para a noite escura e fria, Adam seguindo na frente, junto de Ivy. Os dois rapazes mais velhos na retaguarda, enquanto Tom, Amanda, Denis e Carlinhos ficavam entre eles. Adam usou outra chave para abrir o cadeado do portão com igual facilidade. Todos se encaminharam para a calçada em frente do orfanato, onde dois carros esperavam. Adam só precisou fazer um sinal e os dois rapazes mais velhos entraram num dos carros com Denis e Carlinhos. Amanda entrou no outro carro, claramente aliviada por ir junto com Ivy. Tom se manteve parado, olhando firmemente para Adam.

— Algum problema garotinho? – o sarcasmo na voz dele era visível, contribuindo para irritar ainda mais Tom.

— O que significa tudo isso? – Tom olhava diretamente para Adam ao perguntar, o que não o impedia de notar todos os outros olhando para os dois.

— Esqueceu o que eu disse na outra noite? Você agora faz parte da minha quadrilha, garotinho – Adam mantinha o sarcasmo na voz, mas a expressão no rosto dele era bem séria – nós vamos fazer um roubo e você irá ajudar.

— Quem te disse que eu quero fazer parte da sua quadrilha?

            Tom tinha tudo programado em sua mente. Ele só esperava a resposta de Adam para fazer a volta, retornando ao orfanato. A resposta, no entanto, foi muito diferente do que imaginava. Em vez de palavras, Adam lhe deu um soco bem forte. Enquanto caia no chão da calçada, ele já podia sentir o gosto ácido do sangue, misturado com a saliva de sua boca; também ouviu o som de um grito bem agudo, que imaginou ser de Amanda. A dor não chegou a incomodá-lo, mas sim o sentimento de impotência, ao instintivamente buscar sua varinha na parte da calça onde costumava guardá-la, mas nada encontrar. Um sentimento ainda mais agravado a se ver sendo olhado de cima para baixo pelo mesmo sujeito que lhe dera o soco.

            Adam Campbell sempre se orgulhou de saber “ler” as pessoas, desde o momento que as conhecia. Esse orgulho só aumentou ao constatar que essa habilidade se mostrara mais uma vez precisa com o garoto que estava caído diante dele. Sabia que ele o contestaria, que o desafiaria. Mas ele sabia também, que as restrições dele estavam longe de qualquer objeção moral a cometer algum roubo. Adam podia ver a crueldade espreitando por trás da face neutra, daqueles olhos sem expressão. Havia algo de diferente nele, algo maligno. Mas ainda era humano, ainda era um típico garotinho de 12 anos, perfeitamente vulnerável aos encantos de Ivy, por exemplo.

Adam não queria prolongar aquilo, pois estavam numa situação de risço. Era muito tarde, mas ainda podiam ser vistos por algum transeunte desavisado na rua. Os dois carros que estavam a sua disposição tinham de ser entregues na manhã seguinte. Não havia opção de perdê-los por uma confusão na rua. Tudo dependia de passarem despercebidos pelas autoridades, pois não havia como explicar tantos jovens e crianças em dois carros, circulando altas horas da noite. Mesmo com a cobertura da senhora Cole, ele sabia que precisava resolver a explosão de rebeldia desse garoto imediatamente.

— Pense muito bem no que irá dizer ou fazer quando se levantar Tom Ridlle Jr. – não havia mais qualquer sinal de sarcasmo na voz de Adam – talvez algum dia você possa me desafiar, mas esse dia não será hoje. Se este dia vier, se vier, será daqui a muito tempo – Adam ofereceu a mão para o jovem caído, que, depois de uma breve hesitação, acaba aceitando.

            Tom é levantado com rapidez. As mãos de Adam meio que limpam a sujeira da rua nas roupas do garoto. É um gesto feito de maneira brusca, tipicamente masculina. O jovem aluno da Sonserina nota o sorriso no rosto do jovem que tinha acabado de agredi-lo, mas percebe que não há nada de zombaria nele. Em verdade, o que o jovem sonserino nota é um ar de certo respeito naquele olhar. O fato de tê-lo desafiado o fez crescer aos olhos de Adam, este colocando suas mãos no rosto de Tom, dando-lhe uns tapas bem de leve enquanto continuava sorrindo. Definitivamente, era um sinal de respeito entre homens, o que, para o horror de Tom, lhe causa um profundo sentimento de lisonja.

Adam se dirige para o carro e agora é Ivy quem se aproxima de Tom. Ela tem um lenço na mão e o passa delicadamente na parte do rosto onde ele levou o soco. A outra mão dela desliza suavemente por seu pescoço e ombro. O contraste com o que sentira em relação a Adam é mais do que evidente. Por mais que se esforce para manter o controle, Tom não consegue evitar que seu corpo reaja ao toque de Ivy, ao mesmo tempo hábil e delicado. Ele sente sua respiração acelerar. Ao mesmo tempo, um alívio instantâneo toma conta dele, a dor do soco logo esquecida. Ele sente o rosto corar, sorrindo brevemente, um sentimento de sincera alegria tomando conta dele, ao vê-la retribuir o sorriso. Ele sabe o que está sentindo, algo que antes de conhecê-la, jamais imaginou que alguém fosse capaz de lhe proporcionar. Era um sentimento de felicidade genuína, causada por um gesto simples, aparentemente banal e despreocupado. Odiou-a mais uma vez por ter esse poder sobre ele.

 - Vai ficar tudo bem – ela disse, enquanto o conduzia delicadamente para a parte de trás do carro. Ele entrou sem reclamar, sentando ao lado de Amanda, enquanto Ivy se acomodava junto a Adam na frente. Os dois carros saíram imediatamente, ambos se perdendo na noite escura e fria.

*****************************************

Os carros pararam próximos à entrada de uma mansão numa área rural. O isolamento do local permitiu que o fizessem sem maiores preocupações. Todos já tinham trocado suas vestimentas para algo mais adequado ao trabalho que tinham de fazer. Roupas escuras, calças cumpridas, máscaras, botas e luvas. Não houve dificuldade em arrombar os cadeados que mantinham o grande portão trancado. A imponência do local ficando evidente a todos. Não havia duvida sobre a nobreza da família que ali residia, óbvia pelo nome e símbolos que eram vistos na entrada. O grupo caminhava junto, Adam na frente. Uma sensação estranha tomava conta de Tom, ao mesmo tempo em que sentia também uma grande excitação com tudo o que estava vivendo.

— Não há perigo de encontrarmos vigias ou cães de guarda? – Tom olhava de um lado ao outro enquanto perguntava.

— Se fosse nos áureos tempos da família que é dona dessa propriedade, com certeza – Adam respondeu – mas hoje em dia já é muito que consigam manter empregados durante o dia.

— Isso não quer dizer que a propriedade esteja vazia – Ivy interveio – devemos tomar cuidado para não chamar a atenção do caseiro e sua família. Mesmo eles vivendo numa cabana próxima à mansão.

            Entrar na casa foi tão fácil como arrombar o portão. O ambiente mal iluminado não escondia os claros sinais de decadência. Mesmo com a fraca iluminação de suas lanternas, era possível notar a falta de alguns objetos de decoração, a poeira sobre os móveis, o ar geral de abandono. Tom notava o olhar intimidado de Denis, Amanda e Carlinhos. Da parte de Ivy ele via admiração, cobiça e excitação. Nos dois garotos mais velhos, havia um receio que não admitiam sentir, mas que era transparente para o jovem bruxo. Adam, por sua vez, mantinha uma postura bem segura. Se havia algum receio nele, Tom era obrigado a admitir, se mantinha bem escondido em seu interior.

— Ivy você pega os menores e faça a simulação de roubo comum – Tom já ia seguir com a jovem e os outros quando a mão de Adam pousou em seu ombro – menos você Ridlle, você vem comigo e os outros.

            Tom manteve a mesma expressão de sempre, mas por dentro tinha dificuldade de conter o seu entusiasmo. A idéia de não ser confundido com Amanda, Carlinhos e Denis o animou muito. Seguindo entre Adam e os outros dois mais velhos, eles chegaram no que parecia uma imensa biblioteca. Por um breve instante, Tom imaginou estar em Hogwarts, na biblioteca de lá. Ainda que essa fosse bem menor, mesmo assim não faria feio diante da que existia em sua escola. Havia algo mais naquele lugar, no entanto, uma sensação que crescia dentro dele, algo familiar. Os barulhos vindos do lado de fora chamaram a atenção de Tom, juntamente com a ação de Adam e dos outros mais velhos, iniciando uma procura frenética pelo local.

— O que estamos procurando? – Tom estava realmente curioso.

— Documentos antigos; do mesmo tipo que estavam naquela caixa que você abriu – Adam respondeu, fazendo um gesto, indicando que o jovem aluno da Sonserina também procurasse.

            Tom decidiu fazer o que lhe foi dito, provavelmente tomado pela curiosidade, bem como pela estranha sensação dentro dele. Voltou-se para a biblioteca, examinando os livros, a sensação dentro dele cada vez mais forte, como se algo o estivesse chamando. Vários minutos de busca se passaram, mas ele finalmente encontrou um livro enorme, muito parecido com alguns dos que vira na biblioteca de Hogwarts, até a simbologia na capa evocava a sua escola. Surpresa maior ele teve ao abrir o livro e ver que era completamente oco por dentro. Tudo o que havia eram pergaminhos, muito semelhantes ao que encontrara no mundo bruxo. Um ar de incredulidade toma conta de seu rosto, principalmente depois de abrir um dos pergaminhos e reconhecer os caracteres que estavam escritos.

— Pelo visto foi uma boa idéia trazer o moleque – disse um dos rapazes mais velhos, chamado Albert – mas que língua é essa nesse manuscrito?

— Está escrito em Runas Antigas – Tom respondeu – eu já vi manuscritos como este na biblioteca da minha escola.

— E o que quer dizer esses textos? – pergunta o outro rapaz.

— Isso eu não sei – Tom disse aquilo com desagrado, detestava não saber as respostas.

— Nada disso importa – Adam interveio, tomando os manuscritos da mão do jovem bruxo – a única coisa que importa é o dinheiro que vão nos pagar por isso.

— Quem contrata você para roubar isso? – Tom arrependeu-se da pergunta no segundo seguinte. A ansiedade mal disfarçada em sua voz, denunciando algo que preferia manter só para si.

— Você ainda precisa de muito mais vivência conosco para ter esse tipo de resposta, moleque – a resposta de Adam veio ríspida e Tom sentiu o golpe – vamos embora, já temos aquilo pelo que viemos buscar.

**************************************

            Eles chegaram ao orfanato ainda de madrugada. Adam os instruiu para entrarem, enquanto ele seguia de carro para um local desconhecido, levando consigo os manuscritos. Apenas Albert fora instruído a se livrar do segundo carro antes. Tom mal conseguia conter sua frustração por não ter tido a chance de ler os manuscritos que o namorado de Ivy levara consigo. A curiosidade o dominava, nem tanto pelos papéis encontrados nesta noite, que mal teve tempo de pôs os olhos, mas pelos da noite anterior. Ele queria muito saber o que significava aquele termo Horcruxes. Um instinto dentro de si lhe indicava que não poderia perguntar sobre isso a qualquer pessoa, menos ainda em qualquer situação. Ainda faltava muito tempo para retornar à Hogwarts, e foi pensando nisso que uma idéia audaciosa surgiu em sua mente: ir atrás de Adam. O fato deste já estar longe e de carro, não o preocupou, até porque, Tom tinha certeza de que sabia para onde ele estava indo.

            Sair do orfanato não era o problema. Tudo o que precisou fazer foi esperar um pouco e descer pela mesma árvore que já utilizara antes. Não teve como abrir o portão, mas acabou encontrando um jeito de pular o muro. O problema maior era como chegar ao local onde ele sabia que Adam estava se dirigindo. A solução se apresentou assim que vislumbrou uma das residências na rua onde ficava o orfanato. Aquele era um bairro residencial respeitável, onde diversas famílias não viam com bons olhos um orfanato cheio de crianças tidas como rejeitadas vivendo. Apesar disso, nunca houve problemas mais sérios entre essas famílias e o local onde Tom nascera. As pessoas ali se sentiam seguras. As cercas eram baixas, a tranca dos portões muito frágeis. No quintal de uma das casas Tom viu o que ele precisava, e não teve maiores dificuldades em pegar.

ÁREA PRÓXIMA AO BECO DIAGONAL

            Tom chegou ao local bastante suado, fruto do esforço em andar de bicicleta pelas ruas escuras de Londres. Apesar do cansaço, uma parte dele se sentia eufórico. Andar de bicicleta era praticamente o único prazer Trouxa que sempre gostou de desfrutar. Ele tinha 8 anos quando andou pela primeira vez. A senhora Cole comprou uma bicicleta e instituiu os horários em que cada menino ou menina do orfanato poderia utilizá-la. O que mais se destacavam se tornavam os preferidos da velha bêbada. De início Tom sentiu um medo tremendo de andar, pois via muitas crianças caindo e não queria viver essa situação. Já naquela época, tudo o que ele menos desejava em vida era ser motivo de piadas para as outras crianças do orfanato.

            O temor da queda não se confirmou. Ele andou pelo quintal do orfanato por vários minutos e a bicicleta não caiu, ou mesmo ameaçou cair. A sensação era maravilhosa. Pela primeira vez em sua vida, Tom Ridlle Jr. experimentou uma verdadeira alegria. O vento em seu rosto parecia um bálsamo. Os aplausos das outras crianças, admiradas por ele conseguir andar de primeira sem cair, não deveriam significar nada para ele, mas ainda assim, sentiu-se orgulhoso pela admiração recebida. Tom andava de bicicleta sempre que podia, e nenhuma vez ocorreu qualquer queda. Só bem mais tarde é que ele percebeu que vivera a sua primeira experiência com magia.

A lembrança dessa época deixou sua mente assim se deu conta de que estava certo sobre onde Adam estava. O olhar de Tom fixou-se onde ficava a entrada do Beco Diagonal, a lembrança da primeira vez que passara pela entrada mágica trazendo-lhe uma sensação agradável. Adam estava parado embaixo de um poste, a iluminação permitindo a visão de seu rosto, igualmente voltado para a mesma entrada. Uma desconfiança surge na mente do jovem sonserino, mas ele tem dificuldade em admitir que possa ser verdade, até ver alguém surgindo magicamente da entrada do Beco Diagonal. A primeira coisa que Tom nota é a total falta de surpresa de Adam com isso. O jovem aluno da sonserina percebeu que ocorria uma breve conversação entre Adam e o misterioso homem, claramente um bruxo. Sentia uma grande curiosidade em saber o que conversavam, mas a distância deles não lhe permitia ouvi-los.

Ele ainda estava concentrado em tentar ouvir o que ambos os homens falavam, até notar uma mudança sutil no ambiente. A sensação dentro dele é que o tempo parecia correr mais devagar. Notou o olhar dos dois homens voltados para o local onde estava escondido e um temor tomou contra dele. O coração de Tom bate mais acelerado, a sua respiração torna-se mais difícil. É nesse instante que ele sente seu corpo sendo puxado, como se amarrado a cordas invisíveis. Não se passou mais do que alguns segundos até se encontrar tão próximo dos dois homens como não gostaria de estar.

— Mas o que nós temos aqui – disse o bruxo para Tom.

— O que diabos faz aqui, moleque? – a voz de Adam era dura, mas Tom sentiu um quê de preocupação da parte dele.

— Então você o conhece? – o bruxo pergunta, se voltando para Adam.

— Ele fez o roubo comigo – disse Adam – eu não acredito que você teve a coragem de me seguir até aqui.

            Tom sentiu o olhar do bruxo sobre ele; sabia que estava sendo medido, analisado. A sua primeira reação é pegar a varinha que trouxera consigo, mas o pensamento de fazer um feitiço proibido pelo ministério o manteve paralisado. A sensação de estar indefeso o deixava com medo e furioso ao mesmo tempo. Era uma sensação humilhante para ele, algo que jamais gostaria de voltar a experimentar. Tom se deu conta que não estava assustado com a idéia de morrer. O que o deixava apavorado mesmo era a idéia de não poder descobrir todos os segredos do mundo bruxo. Havia tanta coisa a descobrir e ele ansiava por essa oportunidade. Esse medo se foi quando o jovem bruxo olhou nos olhos daquele que o mantinha preso, vendo o reconhecimento neles. Isso lhe deu a segurança de que sua hora ainda não tinha chegado.

Ainda assim, Tom sentia o seu corpo paralisado pelo feitiço. Ao mesmo tempo, podia notar no bruxo que o enfeitiçara, a dificuldade em mantê-lo dessa forma. A expressão em seu rosto era severa, gotas de suor descendo por ele, denotando a dificuldade em manter o jovem sonserino sob o seu feitiço. O medo que sentia agora não era de morrer, mas de ser tratado como um nada por aquele bruxo, que, ele percebia, não era nada excepcional. Os poderes que demonstrava pareciam estar um pouco acima do medíocre, mas era o suficiente para deixar Adam apreensivo, para manter Tom sob seu controle.

— É isso mesmo o que estou vendo? – disse o bruxo, o olhar agora voltado para Adam – você sabia, meu caro, que tinha um jovem bruxo na sua pequena quadrilha?


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Notas finais do capítulo

Espero que os leitores da história estejam gostando dos desdobramentos, inclusive sobre a nova descoberta do Tom, em relação ao Adam. Se ele é um bruxo ou não, isso será revelado no próximo capítulo, nada de enrolação. Até daqui a 15 dias.



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