Progênie Maldita escrita por MarcosFLuder


Capítulo 3
A casa da esquina


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui vai o terceiro capítulo da fanfic.



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ORFANATO SAINT PATRICK – LONDRES TROUXA – 1939

            As horas se passavam com uma lentidão agonizante, mas o sono não vinha. Tom sabia que não era o fato de ter desacostumado a dormir em sua antiga cama. Sentimentos conflitantes tomavam conta dele, ao se dar conta que a falta de sono tinha outra razão. Por mais que se esforçasse, não conseguia tirar a imagem da garota de sua mente. O jovem órfão nunca quis esse tipo de sentimento para si. Via os exemplos à sua volta, inclusive em Hogwarts, e queria o máximo de distância de tudo isso. A última coisa que desejava em sua vida era depender emocionalmente de alguém, ter seus pensamentos voltados para uma outra pessoa que não ele mesmo. A idéia de que seus desejos estivessem atrelados a vontade de outrem, tudo lhe era repugnante, inaceitável, e mais do que tudo, assustador.

Ele se revirava na cama, lutando por um sono que se recusava a acolhê-lo. O que ele queria era arrancar a imagem dela de sua mente, mas a visão daquele rosto delicado, simetricamente perfeito, permanecia lá. Por mais que se esforçasse, acabava sempre visualizando o seu sorriso luminoso, lembrando da voz suave, melodiosa, adornada com o leve sotaque irlandês. Ele voltou a fechar os olhos, mas dessa vez não tentou dormir, contrariando o desejo mais prático, queria reter a imagem dela, entender porque o seu corpo reagia a essa simples lembrança.

Não conseguia deixar de pensar nas diversas camadas que compunham a jovem que lhe tirava o sono. Às vezes lembrava a jovem altiva de sua primeira visão, do seu caminhar imperial. Por outro lado, também conseguia visualizar o jeito ligeiramente submisso com que ela lidava com o garoto maior, imaginando-a se dirigindo assim para ele. Seu corpo reagia a tudo isso. O sorriso surgia em seu rosto contra a sua vontade. Uma fúria de morte tomando conta dele, pois o sorriso nada tinha de prático, não servia a um propósito específico. Foi algo que surgiu naturalmente, da simples lembrança dela, o que fez Tom reprimi-lo quase que imediatamente.

            O jovem aluno da Sonserina percebe que não conseguirá dormir, assim como se dá conta de que tais lembranças o estão levando para um caminho que considera perigoso. Ele decide se levantar. O horário era totalmente impróprio para estar fora da cama, a senhora Cole sempre foi muito rígida sobre isso, mas Tom nunca fora de obedecer tais regras. Ele se esgueira silenciosamente pelo corredor. O seu objetivo é chegar próximo a uma janela, poder apreciar a noite silenciosa, as estrelas brilhantes, distantes e solitárias no céu, como ele próprio sempre se sentira. Tom sempre as apreciou por isso, sempre desejou ser como elas, de se manter longe dos outros, imune ao desejo por companhia, amizade, qualquer forma de interação com as outras pessoas. Sempre se sentira seguro assim.

Tom mantém seus olhos voltados para o céu estrelado. Era uma forma de garantir os seus momentos de reflexão solitária, isso o ajudava a manter seus pensamentos focados. Um leve barulho, vindo do lado de fora, acaba chamando sua atenção. É com muita surpresa que vê quatro pessoas também se esgueirando até o portão da saída. Mesmo na noite escura consegue reconhecer as figuras de Adam Campbell e da jovem que o tem impedido de dormir naquela noite. Junto a eles estão também dois outros jovens; não sabe o nome deles, e pouco se importa com isso, mais interessado em saber o que estariam fazendo naquela situação.

            Tom Ridlle Jr. não acredita em sorte. A árvore apropriadamente próxima da janela onde está é para ele, apenas um instrumento a serviço de seu objetivo. Não tem dificuldade em descer por ela até o chão, resolvendo seguir o grupo que acabara de passar pelo portão. Ele os acompanha de longe, vendo-os entrar na famosa casa da esquina. Conhecia aquele imóvel desde sempre. Histórias sobre ele corriam pelo orfanato, sempre trazidas de fora por alguém. A senhora Cole, em especial, gostava de contar como chegou a conhecer o casal que morou ali, do crime terrível, um assassinato, seguido de suicídio, que ocorrera no local. Desde então, o sobrado de aspecto vitoriano, nunca mais teve outros moradores.

Após tanto tempo de abandono, seguiu-se com aquele imóvel o que se dá com locais assim: passou a ser considerado assombrado. Tom sempre achara graça desse tipo de superstição, uma opinião que manteve mesmo após descobrir a sua verdadeira natureza de bruxo. Foi o tempo que passou em Hogwarts que o ensinou sobre a real existência de fantasmas. Ele estava em frente à porta de entrada agora, sentindo um breve momento de hesitação. Não havia medo da parte dele, apenas considerava a utilidade de estar ali. Não via como poderia obter algum ganho com qualquer chantagem que pudesse fazer. No fim, foi a pura e simples curiosidade que o levou a entrar.

            A escuridão tomava conta do lugar. Apenas o brilho da lua entrava pela janela, iluminando fracamente o local. Tom podia ouvir um som distante de vozes no andar de cima, mas não queria correr o risco de esbarrar com aqueles a quem seguia, permanecendo onde estava, próximo à escada. Já começava a pensar em voltar quando ouve um barulho estranho, e ao mesmo tempo familiar. O som vinha de trás dele, que sente os pêlos de sua nuca ficarem eriçados; uma sensação de frio tomando conta do ar em volta. A experiência em Hogwarts já o ensinara o que podia ser e Tom se virou, já sabendo de antemão que a fama de mal-assombrada da casa tinha sua razão de ser.

A visão diante dele o deixa brevemente sem ar. A figura era quase translúcida, vestia uma roupa que denunciava o tempo em que aquela moradia era habitada. A aparência dele denotava uma profunda tristeza, misturado a um ligeiro ar de perplexidade. Os pés flutuavam no ar. Tom notou um extenso buraco na região da cabeça, claramente um tiro auto-infligido. O olhar dele brilhava, deixando Tom na dúvida se era o brilho do luar passando pela figura, refletindo nas pupilas brancas. Por um breve instante esqueceu completamente a razão que o trouxe àquele local. As pessoas no andar de cima deixando de ter qualquer importância para ele.

— Você consegue me ver! – o som emitido pela figura fantasmagórica não parecia sair da boca translúcida. A impressão é de ter sido gerado no próprio ar em volta dele. Tom notou uma quase euforia na figura que tinha diante de si, como se nunca mais esperasse ter uma conversa com alguém outra vez – como você consegue me ver?

— Os outros lá em cima não conseguem ver ou ouvir você? – Tom sussurrou para a figura diante dele.

— Eles nunca me viram, e só ouvem uns poucos sons que eu produzo – o fantasma respondeu, aproximando-se mais, encarando Tom como se este fosse uma criatura exótica – como você pode me ver e ouvir?

— Eu sou um bruxo – Tom empertigou involuntariamente o corpo ao dizer, ainda sentia um grande orgulho em se declarar assim, um tipo de deslumbre que ele procurava evitar cada vez mais – creio que essa condição me permite vê-lo e ouvi-lo.

— Eu nunca conheci bruxos enquanto estava vivo, nem mesmo acreditava que existiam.

— Pois saiba que nós existimos sim – afirmou Tom – eu já vi outros como você em Hogwarts.

— Hogwarts?

            Tom não sabia o que dizer da ignorância dessa criatura. Ao contrário daqueles que conheceu em Hogwarts, este era claramente um fantasma Trouxa. Ele parecia estar naquela casa há muito tempo, como se aquela fosse sua prisão. Certamente era o marido que matara a esposa e depois se suicidara. Agora estava preso no próprio pesadelo que criara para si. Era um destino muito infeliz, mas não havia da parte do jovem bruxo qualquer tipo de solidariedade, muito menos compaixão. O olhar triste do fantasma não o comovia, apenas a curiosidade o mantinha conversando com ele. A criatura volta a falar, a contar histórias de quando estava vivo, sua ligação com a casa, mas Tom não tinha o menor interesse em ouvir.

É um quase alívio para o jovem bruxo notar que as vozes no andar de cima já não soavam mais tão distantes. Ao contrário, Tom conseguia ouvi-las com clareza agora, principalmente o comando de Adam, indicando que estavam descendo. Ele não queria ser flagrado ali e tratou de se esconder nas sombras, atrás de um velho sofá. A fraca iluminação da lua lhe permitiu vislumbrar as sombras paradas próximas. Sussurros indicavam a desconfiança de que havia uma quinta pessoa no lugar. Tom já se preparava para ser flagrado quando um barulho vindo de outra parte da casa chama a atenção das quatro figuras. Ele consegue ouvi-las, percebendo quando chegam a conclusão que não há ninguém ali além deles. Acabam decidindo ir embora, deixando um aliviado Tom Ridlle Jr. para trás.

— Está tudo bem agora, eles já foram – a figura aparecera para ele de repente. Tom não sabe se o susto foi o resultado da tensão por quase ter sido descoberto, mas não gosta da idéia de que mesmo um fantasma o veja assustado.

— Foi você que fez o barulho?

— Era o jeito de impedi-los de encontrar você – Tom não sentia nenhuma gratidão pelo gesto do fantasma, ainda assim forçou um sorriso.

— Eu agradeço por isso – o olhar dele vai para o andar de cima – você sabe o que eles estavam fazendo ali em cima?

— É onde eles guardam as coisas – responde o fantasma.

— Que coisas? – Tom nem mesmo espera que a resposta venha e segue pela escada, mesmo na escuridão.

            O andar dele é devagar, lamentando não ter trazido sua varinha, crendo firmemente que um simples feitiço Lunus não seria suficiente para chamar a atenção do ministério da magia. Havia várias portas no andar de cima e ele não queria ter de abrir uma por uma para encontrar o local onde, o que quer que o grupo liderado por Adam guardasse, estava. Isso não se mostrou necessário, pois encontrou o fantasma parado junto a uma das portas. Tom logo deduziu que era ali onde deveria entrar. Ele o fez sem demora. Assim que entrou sentiu o barulho sob seus pés. Vidro quebrado, ele logo deduziu, mas não deu importância. Seria um erro de que se arrependerá mais tarde, mas, naquele instante, tudo o que queria era encontrar uma forma de iluminar o local.

A escuridão era quase total, apenas a luz da lua entrava pela janela. Foi o suficiente para ver uma lamparina que não teve dificuldade em acender. Ao fazê-lo viu o que eram as tais “coisas” que eram guardadas ali. Objetos de todos os tipos, jóias, quadros e esculturas. Havia também caixas contendo moedas de ouro e prata, do tipo que Trouxas gostavam de colecionar. Não foi muito difícil para Tom perceber o que o pequeno grupo liderado por Adam fazia. De início, o intrigava como tudo isso poderia estar acontecendo bem debaixo do nariz da senhora Cole. Tudo fez total sentido após ver a caixa cheia de bebidas finas, quase todas com a marca favorita; fartamente consumida pela mulher que comandava o orfanato. Um astucioso sorriso surge no rosto de Tom ao pegar uma das garrafas.

— Eles roubam essas coisas de alguns lugares e depois trazem para cá – disse o fantasma. O fato da aparição dele se dar dessa forma repentina já estava incomodando Tom, mas este manteve esse incômodo para si – depois levam para outro lugar.

— Que outro lugar é esse? – a criatura nada disse, apenas fez o típico gesto dos que ignoram o fato.

            Havia um quê de fascinação em Tom enquanto olhava para todos aqueles objetos, refletindo sobre o significado deles. Adam operava nas sombras, tinha um grupo sob o seu comando, e era isso o que Tom queria para si. Mas o seu desejo ia muito além de comandar uma quadrilha de ladrões juvenis. Ainda não sabia bem o que queria, mas certamente não desejava passar em branco na escola; muito menos sair de lá para se tornar um anônimo qualquer. Tom Ridlle Jr. aspirava a grandeza e faria de tudo para atingi-la, seja lá o que esse tudo fosse. Esse sentimento sempre existiu dentro dele, o de que não era como os outros, que estava destinado a algo especial. Descobrir que era um bruxo só lhe deixou claro a certeza sobre isso.

Ainda estava forte em sua mente o deslumbramento da primeira vez que avistou Hogwarts. O quanto ficara impressionado pela grandeza de tudo no lugar. Os meses em que passou estudando lá abriu para ele uma série de infinitas possibilidades. A forma como desenvolveu seus poderes, tudo o que ele aprendera, cada feitiço que dominava, era um segredo desvendado, poder e controle a seu dispor. Hogwarts, o próprio mundo bruxo em geral, tudo se revelava para ele como um universo inteiro de segredos. O grande problema é que ele duvidava se o curso normal de uma vida seria suficiente para desvendá-los. Essa era uma idéia intolerável para Tom Ridlle Jr.

            O jovem órfão deixou seus devaneios de lado ao notar uma caixa, colocada em destaque sobre uma velha escrivaninha. A luz da lamparina é aproximada do objeto e Tom percebe os detalhes entalhados com notável habilidade, qual não é o seu espanto ao reconhecê-los como algo do mundo bruxo. “Onde foi que eles conseguiram isso?”, Tom se perguntou. Ele tenta abrir a caixa, mas não consegue. Não demora a notar que várias tentativas foram feitas para abri-la sem sucesso. As lições que aprendera na escola se mostram úteis para ele, pois logo percebe que a dificuldade de abrir a caixa tem a ver com um feitiço. Mais do que nunca ele lamenta não ter trazido a sua varinha, ao mesmo tempo em que se dá conta de que não deveria estar tanto tempo longe do orfanato. Mesmo a contragosto, decide que é hora de ir.

— Você vai embora? Não volta mais? – há um tom de voz quase patético na criatura. Para Tom, isso só despertava nele, nada além do que desprezo, mas se forçou um sorriso.

— Voltarei em outra noite, não precisa se preocupar – ele respondeu, o sorriso forçado mais uma vez estampado em seu rosto, enquanto caminhava para a saída.

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            Os dias se passaram e Tom manteve um olhar discreto sobre Adam e seus cúmplices. No caso de Ivy, essa vigilância também tinha outras razões, mas ele se auto-iludia, afirmando a si mesmo que o seu único interesse era mesmo descobrir sobre essa vida secreta que levavam. Culpava o tédio em que vivia no orfanato, no fato de não poder fazer magia, pelo menos não do tipo que pudesse atingir alguém. Os dias se passavam com uma irritante lentidão para ele, a vigilância sobre o grupo comandado por Adam servindo quase como um bálsamo para a monotonia que era a sua vida naquele lugar.

            Sentia muita falta de Hogwarts, mas não era um sentimento nostálgico, do tipo que traia uma emoção genuína. O que ele ansiava mesmo era o desejo de voltar a praticar magia, de aprender novos feitiços. Queria voltar à biblioteca, principalmente à sessão dos livros proibidos, conhecer os segredos obscuros que o mundo mágico ainda tinha para ele. Algo mais também atormentava Tom. Desde que entrara em Hogwarts, ele se dedicara a encontrar vestígios de seu pai pela escola, mas não obtivera qualquer sucesso. Não havia qualquer indicação de que um Tom Ridlle tivesse estudado lá. Ainda não estava convencido de que não tinha um pai bruxo, queria muito voltar a Hogwarts, encontrar alguma prova de sua presença naquela escola.

O tédio que sentia poderia ser abrandado se pudesse fazer magia, mas Tom não esquecia as recomendações sobre não poder praticar feitiços fora da escola. A ideia de não poder fazer seus experimentos com os outros órfãos o irritava profundamente, mas não se atrevia a ir contra a regra que lhe impuseram. Esse sentimento de ser forçado a fazer o que não desejava incutia nele um profundo ódio pelos que lhe impuseram essa regra. Esse ódio era dirigido principalmente contra uma pessoa: Dumbledore. Aos poucos, no entanto, Tom constatou que poderia fazer alguns feitiços, sem chamar a atenção do ministério da magia. Isso era possível desde que fossem feitiços bem simples, e que não tivessem qualquer conseqüência noutras pessoas. Descobrira isso quase por acaso, ao utilizar um feitiço Lunus numa de suas vigilâncias noturnas.

Ao longo de todas as noites, desde a última vez que estivera na casa da esquina, Tom vigiava a ala onde ficavam os órfãos mais velhos, para ver se escapariam do orfanato, mas nada disso aconteceu ao longo de vários dias. A paciência não era uma qualidade que o jovem aluno da Sonserina tinha, mas foi obrigado a cultivá-la para atingir o seu objetivo. Essa espera foi recompensada numa noite, quase uma semana depois de tê-los seguido na primeira vez. Tom ouviu o barulho, indicando um grupo saindo da casa às escondidas. Era uma noite de lua cheia, iluminando toda a área da frente do orfanato, permitindo que Tom os visse se esgueirando até o portão. A mesma árvore próxima de uma das janelas foi utilizada para que o jovem órfão pudesse chegar até o lado de fora. Dessa vez ele estava levando a sua varinha, além de uma lanterna que roubara do escritório da senhora Cole.

            Ele entrou na casa, dessa vez sem qualquer hesitação. Em vez de ficar exposto, tratou de ir para um outro cômodo, que parecia ser o que restava de uma cozinha, de onde podia observar o quarteto quando este descesse. A sensação a que já se acostumara em Hogwarts retorna, indicando que o fantasma da casa estava junto a ele. Não demorou muito e a criatura apareceu. Tom tratou de suprimir a irritação que sentia pela presença deprimente daquele ser, alguém que ele considerava menos do que patético. O jovem bruxo não queria perder tempo com ele, mas sabia que não era uma boa ideia enxotá-lo.

— Você voltou – a alegria na voz dele não despertou nada em Tom, além de tédio e irritação, mas este voltou a forçar um sorriso, como se estivesse contente em revê-lo.

— Estou feliz por vê-lo de novo também – Tom respondeu – temos que esperar eles descerem.

            Um som distante, de algo sendo atingido, chega aos ouvidos de Tom. A curiosidade toma conta dele, mas sabe que não deve sair de onde está, por mais que quisesse saber o que estava acontecendo. Ele desconfiava do que poderia ser, mas não se atrevia a sair de onde estava. Mais uma vez ele se irritava por não poder fazer o que desejava, pelo sentimento de impotência que sentia por ser obrigado a reprimir as suas vontades. Os minutos que se seguiram pareceram uma eternidade, até que ele viu Adam descendo as escadas. Mesmo no escuro, ele podia sentir a irritação do jovem, sorrindo ao antever o que isso significava.

— Vamos embora. Nós temos muito trabalho a fazer hoje – ele diz imperialmente para Ivy e os outros dois rapazes. Tom vê o grupo saindo juntos da casa.

            Ele espera quase um minuto antes de tomar a iniciativa de subir às escadas. Tom ignorou completamente o fantasma que o seguia, mal ouvindo o tagarelar de alguém que ansiava por conversar. Ele chegou no quarto e foi direto até a caixa. As marcas do martelo que encontrou do lado dela constatavam as tentativas inúteis de arrombá-la, muito provavelmente da parte de Adam. Tom não perdera tempo nos dias de espera. Consultando seus livros, ele encontrou um feitiço que poderia abrir a caixa. O seu temor era chamar a atenção do ministério da magia. Ele sabia que ainda não podia fazer isso, que tudo o que desejava conseguir deveria ser feito nas sombras. Ainda assim, mesmo temeroso, ele sabia que precisava arriscar. Tirou a varinha de suas vestes apontou para a caixa, murmurando o feitiço.

— Allomorra! – ele murmurou, sentindo o poder sair de si, passando pela varinha. Era uma sensação que ainda o fascinava. Um sorriso de triunfo e euforia tomando o seu rosto ao ver a caixa abrindo.   

            O sorriso desmanchou-se ao constatar que havia apenas alguns pergaminhos na caixa. Nada que parecesse realmente valioso. Ainda assim ele decidiu olhá-los. Ligou a lanterna que trouxe, pois um feitiço já estava bom para a noite. Aos poucos se deu conta de que não eram pergaminhos comuns. Em verdade, uma sensação estranha tomava conta dele à medida que lia o que estava escrito naquelas folhas. Tinha dificuldade em entender o significado do que estava escrito naqueles papéis, ainda assim, podia sentir o poder que era representado por aquelas palavras. Pelo que conseguia entender, tratava-se de um texto que falava sobre um feitiço muito antigo e poderoso. Ao ler o conteúdo dos pergaminhos, um termo em específico, despertou a sua curiosidade. A leitura, no entanto, foi bruscamente interrompida com mais uma repentina aparição do fantasma da casa. Dessa vez Tom não conseguiu esconder sua irritação com ele.

— O que você quer? – ele perguntou.

— Você precisa ir agora – Tom estava tão ansioso com que estava lendo que mal notou o desespero na voz dele.

— Vá embora você – ele respondeu.

— Está falando com quem garotinho? – a voz de Adam provocou em Tom um arrepio de medo, seguido de uma onda de ódio pelo fato de alguém ter sido capaz de assustá-lo.

            Tom respirou fundo antes de se virar. Sabia o que encontraria pela frente, mas jamais se permitiria ficar intimidado por quem quer que fosse. Apesar do ambiente mal iluminado, era possível ver as quatro figuras junto à porta. Não havia como escapar dali, ele sabia. O jovem aluno da Sonserina tratou de enfrentá-los, ainda com os pergaminhos em suas mãos. O rosto de Adam era intimidador, as sombras em que estava envolto ajudavam muito nesse aspecto. De Ivy, ele visualizava os olhos de um azul profundo, ganhando ainda mais destaque na escuridão que os envolvia. Não se deu ao trabalho de se preocupar com os outros dois, pois estes nada fariam sem autorização daquele que os comandava. Era definitivamente com Adam que devia se preocupar.

— Então era você que estava nos espionando naquela noite, moleque – ele avança para Tom e arranca os papéis da mão dele.

— Espere, eu... eu... – as palavras não saiam de sua boca, deixando-o embaraçado e também furioso, ao mesmo tempo em que nota o olhar de Adam sobre a caixa aberta.

— Como conseguiu abrir essa caixa, moleque?

            Tom não sabia o que dizer. Ele estava receoso, não das pessoas que o encaravam, mas de não poder voltar a ler os papeis que agora estavam com Adam. Era um novo segredo do qual queria se apropriar. Uma nova descoberta que queria ter em suas mãos. Aqueles papéis não poderiam estar nas mãos de Trouxas. Eles não tinham como saber a importância do que estava escrito ali. O jovem sonserino tratou de se acalmar. Ele não queria perder a chance de continuar lendo o conteúdo dos pergaminhos, tentar entender o que era o seu significado, principalmente de uma palavra que chamou muito a sua atenção: Horcruxes.


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Notas finais do capítulo

Eu pretendo continuar com uma regularidade quinzenal nas postagens dos capítulos, pelo menos até ter uma frente segura de capítulos que me permita a passar para um regularidade semanal, como foram as minhas duas fanfics anteriores. Espero que quem esteja lendo tenha gostado desse capítulo também.