Guardiões escrita por Godsnotdead


Capítulo 5
Seguida.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas sabe com é... Natal, ceia e tal. Espero que estejam gostando e entendendo a trama.
P.S.: quero deixar um agradecimento todo especial para minhas amigas irmãs Mariana e Luíza. Sem vocês esse capítulo não estaria sendo postado. Agradeço a todos que estão tirando um tempinho para ler Guardiões. Até loguinho o/



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Não sabia de onde havia tirado tanta coragem para falar com alguém dessa forma. Ainda esse alguém sendo um cara com quase o dobro da minha altura e que sabia como imobilizar três caras sozinho. Uma pessoa com pelo menos um resquício de juízo evitaria aborrecer um cara como ele.  Porém, ele não pareceu nem um pouco aborrecido. Pelo contrário, parecia que ficou envergonhado. Quase esqueci minha raiva quando o vi corar, mas mudei de ideia assim que um sorriso brincalhão tomou o rosto belo dele.

Dei meia volta e continuei meu caminho. Não poderia perder tempo com esse  estranho tão lindo, porém ele não queria desistir de me aborrecer e continuou me seguindo.

  – Dá para parar de me seguir? – Falei entre dentes. 

  – Tecnicamente não estou te seguindo, estou caminhando ao seu lado. – Como ele consegue ser tão irritante?— Para onde está indo?

  – Desculpe, não falo com estranhos. – Respondi de mau humor.

  – Sky... Meu nome é Sky e qual é o seu? – Lutei para resistir ao poder da voz dele, mas não conseguia mais me manter com a mesma raiva.

  – Madison...

 – Madison. – Ele pareceu gostar do som de meu nome sendo pronunciado por ele, me odiei por também gostar. – É um bonito nome.

Me odiei mais ainda por não conseguir controlar o rubor que subia por minhas bochechas, Sky como sempre pareceu se divertir.

— Você não tem nada melhor para fazer além de me seguir? 

— Na verdade não. – Ele mostrou um lindo sorriso de covinhas, levando embora os últimos resquícios de raiva, me deixando apenas irritada.

— Humpf. – Bufei e segui mancando para o ponto de ônibus.

— Você deveria dar uma olhada nesse joelho.

— Não foi nada, a calça evitou que fosse mais sério.

— Hum... Tudo bem. – Sky pareceu relutante ao me responder, mas decidi a não dar muita importância.

Cheguei ao ponto de ônibus ainda seguida por Sky. Ele continuou nessa peregrinação dentro do ônibus e fez questão de sentar no mesmo banco que eu. Parecia que estava satisfeito com o silêncio entre nós, mas eu não estava.

— Então... Você por acaso estava passando quando me viu cair? – Olhei-o de canto, ele sorriu ladino, mostrando apenas uma das suas covinhas.

— Não, estava no café em frente, e por acaso a vi cair. Sabia que eles tem o melhor chocotino de L.A? – Por um segundo pensei que ele fosse admitir que estava me seguindo ou algo do tipo. Que ideia mais estúpida! Por que Sky faria uma coisa dessas? – Você estuda a muito tempo em Marlborough? – ele olhou diretamente em meus olhos, não consegui evitar querer responder a pergunta.

— A três anos, esse é o meu ultimo ano. – Sky pareceu ficar contente com minha resposta. Hum, dois podem jogar esse jogo. – E você Sky?

— O quê?

— Me diz algo sobre você.

— O que quer saber?

— Qual sua altura? – Mas que tipo de pergunta é essa? Sky me analisou por alguns segundos talvez me achando maluca e então riu. Era o tipo de riso contagiante que te fazia querer rir junto, o som era quase hipnotizante como tudo nele.

— Era esse tipo de pergunta que você estava se fazendo sobre mim? Você realmente é única.

— Mais ou menos, mas você não me respondeu, e não é educado responder uma pergunta com outra pergunta.

— Certo, me desculpe senhorita. – Por que ele tem que falar tão cadenciado? parece que estou conversando com um senhor inglês e não com um adolescente americano. – Tenho um e oitenta e sete de altura.

— Nossa, devo parecer um chaveirinho perto de você. – Mais uma vez o riso adorável dele ecoou pelo ônibus.

— Não seja tão exagerada, há vantagens em ser baixinha. 

— Como o quê, por exemplo? Não consigo pensar em nada.

— É simples Mady, enquanto os outros tem que abaixar a cabeça para falar com você, você as responde de cabeça erguida. – Sky mais uma vez olhou diretamente em meus olhos. – Você não deveria se deixar intimidar por aquelas garotas, elas não são mais do que você ou do que qualquer outro. Sabe, as pessoas perdem muito tempo tentando agradar aos outros e esquecem o que é mais importante.

— E o que seria?

— Ser feliz, seja feliz com o que você é, então nada e nem ninguém vai conseguir te abalar.

— Como...

— O quê?

— Nada. – Desviei o olhar para minhas mãos entrelaçadas. Tinha que admitir que ele tinha razão, mas falar é fácil. Ainda mais alguém que parece ter tudo sobe controle.

O percurso foi feito quase totalmente em silêncio. Sky sempre arranjava uma forma de me deixar aturdida com um de seus comentários inteligentes.

Por fim, descemos na parada há alguns metros do meu trabalho. Ele me seguiu parecendo muito interessado nas pessoas que passavam por nós. Parecia uma criança que está saindo pela primeira vez. Não podia parar de observá-lo, tudo em Sky era atrativo para mim, até mesmo o gesto mais insignificante como de coçar a nunca era fascinante, porque ele parecia fazer tudo muito calculado, nada nele era exagerado. Mesmo quando ele me pegava observando-o não conseguia me sentir incentivada a parar, ele parecia não se incomodar, parecia mais que achava divertido e eu estava começando a desenvolver um pequeno vício em seus sorrisos variados.

Chegamos ao brechó e mais uma vez ele me surpreendeu ao abrir a porta para que eu entrasse, me seguindo em seguida. Peguei meu avental no cabide e pelos cantos dos olhos vi Sky analisando entretido as velharias da loja.

— Maghie cheguei!

— Boa tarde Mady. – A voz dela soou de algum lugar nos fundos das lojas, provavelmente estava arrumando algo no estoque.

— Não acredito no que estou vendo. – Sky pareceu entusiasmado com algo e me apressei para ver o que era. Ele parecia uma criança que acaba de descobrir um brinquedo novo, que no caso era um tocador de músicas enferrujado que está encalhado na loja há muito tempo.

— Por que tanto entusiasmo? É só um troço velho que nem funciona mais.

— Como pode dizer algo assim Mady? – Ele pareceu realmente ofendido, mas gostei do som do meu apelido saído dos lábios dele. – Você sabia que essa belezinha foi o primeiro reprodutor de sons? Se não fosse pelo gramofone hoje não existiria o iPod. Ele pode até parecer antiquado agora, mas em 1888 o gramofone era alta tecnologia, imagine como era fascinante. O áudio era impresso por meio de uma agulha no disco, composto de diversos materiais, e reproduzido pela agulha do aparelho, decodificando as “rachaduras” do disco em áudio. Graças a isso mais adiante o vinil foi inventado.

— Você fala com tanta nostalgia.

— Desculpe, acho que me empolguei... Então, quanto custa?

— O quê?

— O gramofone. – O meio sorriso de uma covinha me distraiu novamente.

— Você realmente quer comprar isso? Já falei que não funciona.

— Ora essa, que espécie de vendedora é você? – Sky bufou. “Ora essa”? – Me diga quanto custa Mady.

— Trezentos dólares. – Revireis os olhos, é dinheiro demais para desperdiçar com algo quebrado.

— Vou tentar consertar...

— Você por acaso lê pensamentos?

— Oh, claro que não, apenas está escrito em sua testa. – Ele tocou o local com o indicador. – Você parece ser daquelas pessoas que se preocupam demais. Não seja tão ansiosa Madison, não é saudável.

— É psicólogo agora? – Não escondi minha irritação, como se não ouvisse isso de meu terapeuta quase em todas as consultas, não precisava ouvir isso de um estranho também. Marchei para o balcão, com ele logo atrás de mim.

 – Desculpe, não quis irritá-la.

 – Vai querer quem embrulhe? – Ignorei as desculpas dele, por que raios ele está aqui mesmo?

 – Não, obrigado. – Ele suspirou e pegou a carteira de dentro do casaco e de lá retirou três notas de cem dólares.

 – Obrigada pela preferência. – Sky pareceu não me ouvir apenas assentiu e foi explorar a loja mais uma vez.

 – É seu amigo? – Maghie quase me matou de susto com sua mania de andar por aí sem fazer barulho.

 – Quer ficar sem a única funcionária? – Respirei fundo tentando acalmar o coração que batia descontrolado.

 – Perdão, querida, mas não me respondeu. O rapaz bonito é seu amigo? – Revirei os olhos. Não queria responder a pergunta, porque realmente não sabia a resposta. Sky é um amigo? A verdade era que queria que a resposta fosse sim. Querendo ou não, esse estranho estava atiçando minha curiosidade.

 – Sim Maghie, Sky é um amigo. – Assim espero.

 – Bom saber que tem amigos, estava começando a pensar...

 – Que eu sou uma excluída ou coisa do tipo? – Pensou certo Maghie.

 – Oh querida é só que nesse tempo que trabalha aqui só conheci sua amiga Helena.

 – É por que ela é a única.

 – Tudo bem não vou mais ser tão intrometida. – Ela bagunçou minha franja e voltou cantarolando para o depósito.

Sacudi a cabeça  para tentar manter meus pensamentos em ordem. Nesse momento o sininho da porta tocou anunciando a entrada de alguém na loja.

Um senhorzinho encarquilhado usando um terno de risca de giz e portando uma bengala andou até o balcão onde eu estava.

— Em que posso ajudá-lo? – Sorri gentil.

— Estou a procura de um chapéu coco senhorita.

— Hum... Acho que temos um, só um instante.

Me dirigi para os fundos da loja, Sky estava por lá apreciando outro objeto de aparência antiga que provavelmente estava quebrado, passei por ele direto para uma prateleira a esquerda. Os chapéus estavam na parte mais alta, olhei em volta e localizei o cavalete de rodinhas perto da porta que levava ao depósito. Arrastei-o até onde queria. Podia sentir o olhar de Sky em mim, observando cada movimento meu.

Tentei me concentrar em minha tarefa e subi cada degrau com cuidado, até conseguir alcançar o que queria. Uma variedade de chapéus estava espalhada ali, depois teria que organizar isso. Procurei pacientemente até que encontrei o que queria, estava embaixo de um sombreiro exageradamente grande que estava embaixo de uma pilha de outros chapéus. Puxei o chapéu coco com um pouco de força. Não contava que tudo que estava em cima do pequeno chapéu cairia em cima de mim, me desequilibrando. Fechei os olhos e esperei o impacto de meu corpo contra o chão, mas o que senti foi um par de braços que me seguraram com firmeza, abri os olhos me deparando com um Sky risonho.

 – Opa.

 – Obrigada.

 – De nada. – Ele aumentou o sorriso, mostrando as benditas covinhas.

 – Pode me soltar agora? – Antes que eu fique tonta e esqueça o meu nome.

 – Claro senhorita. – Sky me colocou no chão, então ficou perto demais. Prendia a respiração, sabendo o que estava por vir, então ele retirou algo da minha cabeça. – Lamento Mady, mas isso não combina com você. – Sky riu mostrando a cartola, soltei o ar aliviada e desapontada.

 – Melhor eu ir... O cliente está me esperando. – Me abaixei e peguei o chapéu coco que havia deixado cair. – Ainda tenho que arrumar essa bagunça. – Olhei pesarosa para a pilha de chapéus no chão.

 – Vai lá, deixa que arrumo isso.

 – De jeito nenhum, esse é o meu trabalho.
— Não foi você que disse que o cliente estava esperando? Vamos apresse-se. – Ele me enxotou com a mão.

Bufei e virei as costas pude ouvir o som da risada dele. Garoto irritante.

Voltei para o balcão, onde o senhor me esperava. Ele parecia irritado com a minha demora.

 – Aqui está, desculpe a demora.

 – Quanto custa? – Ele fingiu não ouvir minhas desculpas.

 – Cinquenta dólares.

Ele pareceu se ofender com o preço, mas pagou sem reclamar. Coloquei o chapéu em uma caixa e o entreguei. Esperei que o cliente saísse para voltar para os fundos da loja e arrumar a bagunça que havia feito, mas ao chegar lá o que encontrei foi Sky em cima do cavalete arrumando os chapéus em ordem de tamanhos e cores enquanto cantarolava. Por que tudo que ele fazia parecia tão fácil e natural?

No final do expediente, Sky me acompanhou até o ponto de ônibus, sempre insistindo que seu motorista poderia me levar para casa e recusei todas as vezes. Estava inebriada demais com a presença dele, não sei se continuaria sã se ocupasse um pequeno espaço com ele. Então ele acabou por desistir e ficou comigo lá até que o veículo chegasse, ele trazia o gramofone velho com ele. Sempre achei aquele troço pesado demais e evitava até mudá-lo de lugar, mas Sky o trazia sem muito esforço – ele deve ser realmente forte – me contive para não olhar para os braços dele. Chega de fazer coisas constrangedoras.

Por fim o ônibus que me levaria para casa chegou. Havia chegado a hora de ir. Será que dizer um até logo é apropriado? Porque não sei se voltaria a vê-lo e eu gostaria muito de voltar a vê-lo. Há tantas perguntas que gostaria de fazer e não tive coragem de perguntar. Se tiver a sorte de esbarrar nele novamente irei fazê-las e até lá terei que controlar e tentar não ficar mais distraída do que o normal.

 – Então... acho que é um adeus. – Levantei.

 – Você quer que seja um adeus? – Ele também levantou, parecia quase suplicante, eu era covarde demais para falar, então apenas assenti de maneira negativa. – Então até logo. – Por que ele tem que sorrir assim?

Entrei no veículo ainda tonta, procurei um lugar na janela, de onde o vi acenando quando parti.

Durante a noite tive um sono agitado. Claro que Sky povoou meus sonhos. Pela manhã estava cansada e mal humorada. Tomei café da manhã silenciosamente. Minha mãe já havia saído para o trabalho, então não podia conversar. Só me restava ir de uma vez para a escola. Caminhei pesarosamente para pegar o ônibus. Não sei bem quando percebi, mas estava sendo seguida. Uma pessoa usando um sobretudo longo e um chapéu que me impossibilitava identificá-lo me seguia desde que saí de casa. Por sorte não tive que esperar pelo ônibus. Quase tropecei no degrau quando tentava entrar rapidamente.

O meu perseguidor continuou me seguindo até a escola, ou seja, não consegui ter uma aula produtiva. Só pensava no estranho que me seguiu. Será que era Sky querendo me pregar uma peça bizarra? Se for, é bom ele se preparar para levar uns bons tapas.

Quando finalmente a aula de História acabou, me senti aliviada, detestava essa matéria e para piorar teria que fazer uma redação sobre a revolução francesa. Hoje Magh teria que se virar hoje sem mim, porque sou muito ruim em História e levaria toda a tarde para concluir essa tarefa.

Saí apressada da escola. Ao sair pelo portão avistei a pessoa que estava me seguindo. Só que agora ele estava acompanhado por mais dois, todos vestidos da mesma forma. Engoli em seco, lembrando da noite em que fui atacada. Será que aqueles três foram soltos e voltaram para terminar o que não conseguiram? Não iria esperar para descobrir. Me apressei. Caminhava mais rápido que podia e torcia mentalmente para o ônibus chegar na hora.

Porém, quanto mais rápido caminhava, mais os três se aproximavam. O pior era que ninguém parecia ver. Começava a sentir o pânico subir pelo estômago e as lágrimas arderem em meus olhos. Olhei mais uma vez para trás. Eles estavam a poucos passos de mim.

Não tinha escolha, iria correr, era um ato desesperado, mas era a minha única chance. Contudo, antes que fizesse isso alguém me abraçou pelos ombros. Meu coração martelou contra as costelas. Era tarde demais.


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Notas finais do capítulo

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