Guardiões escrita por Godsnotdead


Capítulo 35
A amada pelos elfos




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Os três conselheiros se preparam para se fecharem em votação e nos dispensar. Mesmo tendo meu plano saído bem sucedido não me permiti ficar aliviando ainda. Precisava encontrar Mady e teria que ser o mais rápido possível. Caso contrário perderia minha sanidade. Doía em minha alma ficar separado dela.

— Só um instante. – Estanquei no lugar quando dois guardas vieram nos levar embora da presença dos lordes Elfos. Os três elfos me olharam inquisitivos. - Preciso ver a minha guardiã.  - Pedi deixando claro que não estava aberto para discussão. 
— Assim seja feito. – Annael assentiu. Um sorriso quase imperceptível brincava nos lábios finos - Leve nossos hóspedes as suas habitações e o jovem para ver sua guardiã. - Pela primeira vez em tempos estava conseguindo sentir alguma simpatia pela raça elfica.

A dupla de elfos platinados nos guiou para fora da clareira. Agora nos levavam para onde deduzi ser as habitações deles. A caminhada não durou muito logo Edward e Lizie foram se instalar em suas acomodações e eu continuei sendo guiado pelo emaranhado de árvores.

A nossa procissão continuou por mais alguns metros até que meu guia mostrou uma escada de madeira que se enroscava em uma árvore gigantesca. Suspirei, aquilo levaria bons minutos. Poderia apenas alçar vôo para o topo, mas não sabia se isso ofenderia de alguma forma os anfitriões e não queira isso. Não agora que estava tão próximo dela.

Subi os degraus intermináveis sempre atrás do elfo. A cada passo ficava mais ansioso. A escada em caracol terminava quase na copa onde estava um buraco circular no tronco protegido por cortinas de linho branco. 

— Esperarei aqui. - O Elfo deu passagem e eu entrei sem pensar duas vezes se fosse uma armadilha estaria condenado.  

O cômodo era circular ocupado por varias macas separadas por cortinas finas quase transparentes como se fossem tecidas por fios de ceda. No canto esquerdo uma elfa ruiva fazia anotações em um rolo de pergaminho. Ao notar minha presença levantou a cabeça. As feições lisas se contraíram em algo que deduzi ser desgosto e os olhos verdes brilharam perigosamente. Mantive a postura ereta não me deixando intimidar por ela.

— O quê faz aqui? Homens não são permitidos neste recinto. - A voz educada soou dura como granito. 

— Vim ver a jovem guardiã que trouxeram para cá. – Me mantive firme sem titubear. Nada e nem ninguém iria me impedir de ver minha Madison.  

— Não...

— O conselho autorizou. - Cortei sua negação. – Pelo próprio Annael. -A ruiva suspirou resignada como se já esperasse por algo assim. Sorri contente sabendo que ela não podia ir contra as ordens de seus superiores. 

— Venha. - A elfa fez sinal com a mão me olhando de maneira emburrada. A segui sem pestanejar. Fui guiado para uma maca no canto direito escondida pelas cortinas. Afastei o tecido quase desesperado. 

Mady dormia tranquilamente. A face não ostentava mais o tom pálido e doentio de ontem, a respiração também estava calma e compassada. Seja lá o quê fizeram deu certo. Aproximei-me com cuidado para não perturbar seu sono. 

Puxei uma cadeira de madeira próxima e sentei. Repousei minha destra sobre a dela fazendo carinho ali. Podia respirar quase aliviado.

— Sky? - A voz rouca saiu sussurrada por entre seus lábios.

— Estou aqui meu amor.  – Sussurrei. Ela abriu os olhos que pareciam estranhamente desfocados.

— Eu... Não o vejo direito. - Ela piscou algumas vezes. - Porquê tudo está embaçado? - Seu tom de voz subiu dois oitavos. A respiração ficando entrecortada. Mady estava entrando em pânico.

— Calma sininho. – Entrelacei meus dedos aos dela tentando passar confiança. - Tenho certeza que há uma explicação. - Olhei em volta procurando pela elfa.

Não tardou para a cabeleira ruiva dela despontar dentro da proteção das cortinas. Ela me lançou um olhar severo antes de se concentrar em Mady.

— Como se sente? - Estranhei o tom doce dirigido a minha namorada.

— Estou... Bem... Quero entender porque não consigo enxergar direito. – A guardiã murmurou.

— É um efeito colateral do uso de seus poderes. Você rompeu um limite que ainda não estava preparada para romper.

— Isso quer dizer? - Questionei sério.

— Quer dizer que seu cérebro sofreu alguns danos. Mais especificamente no Lobo Occipital. - A ruiva respondeu igualmente séria me ignorando totalmente. Você poderá ter dificuldade em identificar cores e inabilidade de perceber como os objetos se movem.

— É permanente? - Mady fechou os olhos esperando pela resposta. Segurei sua mão com mais força.

— Não. É apenas um estado passageiro graças a sua condição de guardiã. Conforme for se curando tudo voltará ao normal. Só não posso dizer com certeza quanto tempo esse processo irá demorar.

— Obrigada. - Mady suspirou levemente aliviada.

— Não há de quê. - A ruiva sorriu simpática. - Em alguns minutos trarei uma poção restauradora para ajudar em sua recuperação.  Com licença. - Esperei que ela se retirasse.

— Ela parece ser simpática. - Mady constatou quando os passos da elfa se distanciaram.

— Só parece. Quase fui enxotado por ela. - Sorri ao vê-la sorrir. - Como se sente? Não oculte nada de mim. - Queria ter certeza.

— Tirando o fato de está meio cega estou bem.

— Fico feliz. - Afaguei sua face corada com a mão livre.

— Me desculpe.

— Pelo quê?

— Eu... Serei um estorvo para você enquanto não recuperar minha visão.

— Nunca diga isso. - Me aproximei dela. - Lembra do treino com a venda? – A loira assentiu. – Vamos encarar isso como mais uma fase daquele treino. Afinal o que não nos mata...

— Engorda. – Ela fez um biquinho fofo.

— Eu iria dizer fortalece, obrigada por estragar meu momento filosófico.

— Não há de quê. Estou sempre a disposição. – Ela deixou um riso baixo escapar. O som aqueceu-me dando-me a certeza de quê não importava o quanto demorasse iríamos vencer esse novo obstáculo e o faríamos juntos.

Contrariando a vontade da elfa enfermeira cão de guarda. Permaneci ao lado de Mady após dispensar o elfo que havia me acompanhado até aqui e ainda estava a minha espera do lado de fora da enfermaria. Depois que conheci a ruiva entendi por que ele optou por ficar do lado de fora esperando.

 As horas passaram fazendo com quê a tarde chegasse e Madison acordar de mais uma de suas sonecas convalescentes.

— Estou com fome. - Ela bocejou longamente.

— Bom saber. - Afaguei sua face.

— Tenho a impressão de quê sempre estou com fome. - A guardiã olhou em minha direção.

— Você não seria uma guardiã se fosse o contrário. - Ri baixo ao vê-la fazer bico.

— É frustrante não poder vê-lo direito. - Ela ergueu a mão buscando minha face.

— Está tudo bem. - Segurei sua mão e a levei até maçã de meu rosto.  - O importante é que está inteira.

— Quase inteira. - Ela riu escorregando as pontas dos dedos para meu nariz. - Gostaria de poder levantar para esticar as pernas e tomar um pouco de ar.

— Vai ser difícil com a sua enfermeira metida a general por perto. - Ri por causa das cócegas provocadas pelos dedos dela desenhando os contornos de meu nariz.

— Ela não é tão ruim. - Melhor não discutir, afinal, a ruiva só é antipática comigo. - O quê aconteceu depois que apaguei? - Mady subiu os dedos para os contornos de meus olhos circulando cada um. - Você não dormiu direito. - Bufei. – Deveria está descansado.

— Depois que você desmaiou entramos em desespero. - Achei melhor não contestá-la ela era teimosa demais para se dá por vencida e eu também seria um discussão fada ao fracasso. - Então os elfos nos cercaram e resolvemos que seria melhor não reagirmos e irmos com eles. Poderíamos ter simplesmente saído voando, mas não iria arriscar que te ferissem ou ferissem Elizabeth na fuga. mesmo que eu tenha entrado em pânico quando a levaram de nós. 

— E depois? - Arrepiei-me involuntariamente assim que os dedos dela desceram de volta para minha bochecha. Mais uma vez não contive o sorriso.  - Sempre quis tocar em suas covinhas.

— Está tirando meu foco sininho.

— Desculpe. - Mady pressionou os lábios contendo o riso.

— Nos trancafiaram em uma cela. - Tentei ignorar a quentura nas bochechas. - Onde tivemos que passar a noite. O pior é que nos o brigaram a comer legumes. - Fiz careta.

— Não! Sério?! – A guardiã gargalhou Alto. Olhei para os lados buscando pela enfermeira esperando que ela viesse me por para fora e parasse de incomodar a paciente dela, mas por algum milagre ela não apareceu.

— Não é legal rir da desgraça alheia moça.

— Desculpa. - Ela respirou fundo contendo o riso. - Pode continuar.

— No dia seguinte nos levaram para sermos julgados pelo conselho. Dois deles pareciam prontos para nos declarar culpados pela primeira acusação que aparecesse em suas mentes. Mas o terceiro resolveu nos ouvir. Contei tudo a respeito de Lesath e sobre a magia deles sendo vendida na terra. Por fim eles se fecharam para deliberar e aqui estou cuidando de você. – Mady corou até a raiz dos cabelos.

— Você gosta de me deixar sem graça.

— Não posso deixar uma boa oportunidade passar quando a vejo. – Ela corou ainda mais.

— Bobão. - Mady revirou os olhos e escorregou os dedos agora em direção a minha boca. - Gostaria de ter visto. Sua eloqüência é sempre fascinante.

— Não perdeu nada demais. - Segurei sua mão que ainda contornava meus lábios e beijei as pontas dos dedos e a palma. Senti contente ela se arrepiando com meu toque.

— Sky...

— Hum?

— Beije-me. - Madison murmurou.

Não deixei que pedisse duas vezes. Curvei-me um pouco para frente e toquei seus lábios com os meus. Arfei quando ela entreabriu os lábios para aprofundar o beijo. E teria feito de bom grado se um pigarreio perto de mais não tivesse feito com que quase saltasse da cadeira.

— Trouxe algo para a paciente comer. - A elfa ruiva me fuzilava com o olhar.

— Ham... Obrigada. - Mady limpou a garganta constrangida. E sentou-se na cama. A ruiva colocou uma bandeja contendo uma tigela funda cheia com uma espécie de mingau sobre o colo de Mady. - Quando poderei ter alta?

— Assim que comer. Creio que esteja suficiente bem. 

— Obrigada. - Mady tateou em busca da colher sem prestar atenção na ruiva que me lançou um ultimo olhar desgostoso em minha direção antes de se retirar. - Ajudaria se não estivesse vendo tudo desfocado e duplicado. - A loira rosnou sem conseguir alcançar seu objetivo.

— Calminha. Iremos trabalhar sua falta de noção de espaço. - Peguei a colher de madeira esculpida e enchi com o mingau espesso e de aparência apetitosa. - Huuum. Parece delicioso.

— Ei! Concentre-se em mim.

— Tudo bem senhorita gulosa abra a boca.  - Ela obedeceu prontamente parecendo um passarinho prestes a receber comida. - Olha o aviãozinho. - Fiz barulho de motor e levei a colher até a sua boca.

— Você é tão bobo.

Fazia quase dois dias que os conselheiros deliberavam e não havia uma previsão certa para quando terminariam. Nesse meio tempo eu meus amigos tínhamos uma preocupação: O atual estado de Mady. Apesar de ela mostrar pequenos sinais de melhora a loira se mostrava constantemente aborrecida consigo mesma. E eu temia que algo mais sério acontecesse como o ataque de pânico de alguns dias atrás.

Mas hoje após o almoço tive uma idéia ao ouvir Lizie e Edward conversando. E era por isso que agora subia a escada que levava para a habitação que dividia com a guardiã loira.

— Sininho! - Atravessei a abertura no tronco protegida por uma cortina que agora se encontrava amarrada para que o calor do sol entrasse e assim iluminasse e aquecesse o cômodo circular composto apenas por uma grande cama de casal. Encontrei Mady fazendo flexões e pelo estado de sua blusa de linho ela estava a algum tempo fazendo esse exercício.

— 1542... Eles finalmente terminaram? 1543...

— Não! Eu que tive uma idéia.

— Devo ficar preocupada ou animada? – Ela sentou prestando atenção em mim.

— Os elfos tem uma área de treinamento Edward está indo para lá com Elizabeth treinar esgrima. – Entreguei uma toalha que estava dobrada sobre a cama.

— Ham... Você está sugerindo que treinemos esgrima também? – Ela enxugou o pescoço. – Acho que não é uma idéia muito boa com meu atual estado. A não ser que esteja querendo perder uma orelha. O que lamentaria profundamente por que tenho quase certeza de que outra não crescerá no lugar. E não quero desfigurar meu namorado lindo – Ela me lançou um sorriso esperto. Sinto muito senhorita Clark, mas não vai ser dessa vez.

— Na verdade estava pensando em outra coisa.

— Em quê?

— Vai saber quando chegarmos lá. – Os olhos azuis dela brilharam curiosos. Ponto para mim.

— Então vamos logo. – Ela levantou de um salto e estendeu a mão em minha direção para que guiasse pela porta.

— Sim senhora. Seu pedido em uma ordem. – Com cuidado atravessamos a porta. – São cinqüenta degraus Mady vamos descer o primeiro. Em 03... – Posicionei sua mão em volta de meu braço. – 02... 01.

            Descemos todos os degraus quase em total sincronia. Seguimos mantendo um passo ritmado até chegarmos há uma clareira excepcionalmente grande onde arenas estavam montadas e nelas elfos jovens e adultos treinava suas habilidades. Caminhamos para a área onde eles treinavam o tiro com o arco.

— Chegamos.

— E agora?

— Só um minuto. – Olhei em volta procurando por Edward. O encontrei a alguns metros recostado em um tronco observando Elizabeth desferir golpes em um tronco. Acenei chamando a atenção dele. Não tardou para que ele se juntasse a nós trazendo a encomenda.

— Olha só o que o vento nos trouxe! – Ed bagunçou os cabelos da loira. – Pensei que iria realmente virar uma fada das arvores.

— Rá! Tão engraçado! – Mady revirou os olhos só aumentando o divertimento do imortal. – Estou curiosa aqui. Por quanto tempo vão me torturar?

— Não mais meu amor. Levante o braço esquerdo. – Ela obedeceu e passei a alça da aljava fusionando em suas costas. Agora pegue. – Lhe entreguei seu arco recurvo.

— Sky...

— Shhhhh. Confie em mim sim?

— Tudo bem? – Madison assentiu incerta. A virei de frente para um dos alvos. – Bem a sua frente está um alvo do mesmo tamanho daquele que usei para te treinar ele está posicionado a trinta metros de onde você está. Quero que faço um sucessão de três tiros.

— Eu não sei posso...

— Claro que pode Mady! Está tudo aqui na sua memória. – Toquei sua testa. Você consegue ver os contornos do alvo não consegue?

— Sim...

— Então. Use isso juntamente com que você aprendeu quero fazer com quê sua mira se torna puramente instintiva. Vamos tentar?

— Tudo bem. – Ela suspirou. – Se eu acertar alguém a culpa será toda sua. – Ela resmungou.

— Vai em frente. – Me afastei dois passos para dá espaço a ela. A guardião respirou fundo e atirou a primeira e com o curto espaço de tempo de meio segundo atirou mais duas.

— Acertei?

— A primeira e o segundo acertaram um pouco acima do circulo central e o ultimo a mosca. Muito bem sininho. Vamos continuar?

— Sim. – Ela assentiu convicta.

— Mais três tiros sucessivos.

            A cada tiro certeiro Madison ganhava confiança e platéia ouvia murmúrios e mais murmúrios impressionados com as habilidades da jovem guardiã.

— Pronta para aumentar a dificuldade?

— Vamos nessa. – Esperamos que Edward recolhesse todas as flechas fincadas no alvo e as repusesse na aljava. – Quais as instruções?

— Há outro alvo a dois metros a direita e um a esquerda com a mesma distância. Sua tarefa é atingir primeiro o da esquerda uma vez, em seguida o da direita três e o do meio uma.

            Toda a arena ficou em silencio esperando pelos tiros. Um a um Mady atingiu a mosca fazendo os espectadores irem a loucura aplaudindo e gritando eufóricos.

— Faramir! Faramir! Faramir! – Eles gritavam entusiasmados.

— Quem é esse? – Mady abaixou o arco e olhou para mim por cima do ombro.

— É você. – Me aproximei dela e a abracei pelos ombros. – Parece que você tem um fan clube jovem jóia da caça a Aranel. Não poderia ser diferente não é mesmo? Somente um tolo para não se render a seus encantos.


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Notas finais do capítulo

Curiosidades: Faramir significa joia da caça em elfico e Aranel significa princesa.

Acho que é isso pessoal.



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