Guardiões escrita por Godsnotdead


Capítulo 33
Crise.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/718009/chapter/33

 

Suguei ar para os pulmões ruidosamente, meu coração estava acelerado como se fosse pular para fora da caixa torácica, as mãos suavam e formigavam. Juntei os joelhos e os coloquei junto ao corpo e os abracei como se isso fosse ajudar a diminuir toda a tensão acumulada. Reconhecia os sintomas fazia muito tempo desde que tive uma crise de pânico e não conseguia fazer nada para impedir. Meu raciocino estava lento e embaralhado, mal reconhecia o lugar a minha volta.

Os primeiros soluços escaparam sem querer juntamente com as lágrimas. Fechei os olhos em uma tentativa falha de fugir de meu atual estado. Mas só o que consegui foi rever os olhos vítreos de Bordash quando tirei sua vida. Minhas mãos estavam irremediavelmente manchadas com seu sangue.

— Mady! Céus! - Não. Por favor, ele não pode me ver assim. Os passos apressados dele cortaram o quarto no minuto seguinte o colchão da cama denunciando que agora ele estava comigo. - Calma meu amor. Respire de vagar. - Senti seus braços em minha volta puxando-me para junto dele.

— P-perdão Sky. - Balbuciei.

Por minha culpa estava atrasando toda a missão. Tentei a todo custo esconder o quanto a morte de Bordash havia afetado a mim; aparentemente meus esforços não foram suficientes. Sky pareceu ler em minha testa que havia algo errado e insistiu para que parássemos na vila seguinte. O pequeno espaço de tempo em que fiquei sozinha no quarto alugado foi suficiente para que ficasse no atual estado em que me encontrava.

— Shhhhhh. - Suas mãos afagaram meus cabelos. - Fale comigo sininho. Deixe-me ajudá-la.

— Eu matei aquele homem Sky... - Engasguei com o choro. - Não tinha o direito... De fazer isso... - O senti se afastando. - Não me deixe, por favor.

— Estou aqui meu amor. Não irei deixá-la nunca. - Suas mãos agora estavam em minha face segurando-a entre elas. - Olhe para mim Madison. - Fiz o que ele pediu encontrando com as orbes azuis dele transbordando preocupação. - Você não é uma assassina... - Abri a boca para protestar. - Apenas ouça. - Calei-me e prestei atenção no quê ele tinha a dizer. - Você salvou minha vida hoje. Não sei se percebeu o movimento da espada de Bordash... Mas o alvo dele era minha cabeça... Nenhum guardião jamais sobreviveu a uma decapitação. - Arregalei os olhos ao compreender suas palavras. - Isso mesmo. Se não fosse por você não estaríamos tendo esta conversa... - Fechei os olhos absorvendo essa nova informação. - Você é uma heroína Madison Clark. Não se puna dessa maneira. – O imortal voltou a envolver meu corpo em um abraço apertado. Aconcheguei-me a seu calor concentrei-me apenas no som de nossa respiração, aos poucos meus batimentos foram se normalizando e a sensação de está fora da realidade foi embora; conseguia respirar normalmente novamente.

— Obrigada. - Funguei nada delicada. Abri os olhos voltando a encará-lo afastando-me um pouco dele.

— Não há de quê. - O guardião sorriu minimamente e passou os polegares por minhas bochechas levando embora as últimas lágrimas. - Tente não me assustar dessa maneira tudo bem? Não quero surtar junto. – Deixei um riso baixo escapar.

— Como se isso fosse possível.

— Quando se trata de você meu amor tudo é possível. – Sky encostou sua testa na minha perdi-me sem medo na imensidão azul de seus olhos. - Precisa descansar. - Segurei o braço dele quando fez menção de levantar.

— Não vá.  - Choraminguei. - fica aqui comigo. - Apesar de estar mais calma não queria ficar sozinha essa noite.

— Tudo bem.  - Sky soltou-me e engatinhou pelo colchão. Ofeguei com a visão privilegiada que acabara de ter.  - Que foi Mady? - Ele sentou dou outro lado da cama, não houve tempo para desviar o olhar. Corei ao ser pega no flagra.

— Ham... Nada. - Abaixei o olhar e mordi o lábio inferior. Minha cara de culpada era mais do que evidente. E pelo riso abafado dele havia percebido.

— Vem? - Assenti. Tomei fôlego e deitei escorregando para junto dele.

O guardião deitou de barriga para cima e esticou o braço para que me encaixasse na lateral de seu corpo. Fiquei de lado e repousei a cabeça em seu braço passei o meu em sua volta aconchegando-me a ele. Era impressionante como parecia que nos encaixávamos como duas peças de quebra cabeça. Inspirei profundamente. O cheiro dele acalmava e arrepiava. Ele nos cobriu com o cobertor grosso de lam.

— Está acordada? – Ele sussurrou.

— Sim. – Suspirei. – Você iria contar algo quando entrou não é?

— Como sabe? – Ele afagou meu braço que estava em volta de seu quadril.

— É só um palpite. O quê descobriu?

— Lesath passou por aqui. Mas não souberam dizer a quanto tempo.

— Pelo menos estamos na pista certa. – Meu raciocínio começava a ficar mais lento conforme o sono começava a chegar.

— Exato. Tenho certeza que os Elfos terão informações mais pontuais.

— Espero que sim. – Boceje.

O silêncio reinou no quarto, só a nossas respirações eram audíveis. Estava quase adormecendo quando o barulho de chuva batendo contra o telhado se fez presente. Agarrei-me a ele quando um trovão estourou do lado de fora. 
— Mady seus pés estão gelados. - Sky estremeceu e eu ri enroscando minhas pernas nas dele. - Sininho. - ri ainda mais de seu tom choroso.

— Você é quentinho. - O abracei mais forte como um bicho preguiça se agarra a uma árvore.

— A senhorita é manhosa.

— Eu sei. - Ronronei. - E a culpa é toda sua... - Bocejei.

— Durma sininho. Amanhã sairemos cedo.

— Ham ram... - Balbuciei sendo tragada pelo sono.

Meu sono foi tranqüilo não havia resquícios da sensação de pânico que havia me dominado. Conseguia sentir a presença dele até mesmo em meus sonhos.

— Acorde sininho. - Sua voz sussurrada chegava pouco a pouco a meu subconsciente trazendo-me de volta do mundo de Orfeu.

— Só mais dez minutos amor. - Protestei.

— Por mais que seja tentador ficar aqui com você por mais tempo. Não podemos. Lizie e Ed devem está preocupados conosco. - Arrepiei-me ao sentir seu hálito quente contra a minha pele. Seu nariz tocou o meu. Meio dormindo meio acordada tentei segurar o riso.  - Vamos sininho. - Meu coração acelerou com o contato de seus lábios na curva de meu pescoço.  Arregalei os olhos com o beijo deixado ali marcando-me como fogo. O sono invadiu-se completamente de mim.

— Isso foi um tremendo de um golpe baixo. - Sky estava quase debruçado sobre mim. Um sorriso maroto brincou em seus lábios desenhados.

— Você que pediu.

— Você está me deixando tonta. - Circundei seu pescoço. – Perigosamente tonta. - O trouxe para mais perto e grudei nossos lábios.

A chuva da noite passada ainda perdurava. Os pingos constantes pareciam molhar mais do que se estivéssemos no meio de uma tempestade.

Encolhi-me dentro da capa impermeável buscando ficar o mais seca possível. Sky cavalgava ao meu lado encolhido em sua cela. Ocasionalmente vapor saia de nossas bocas por causa da temperatura que caia conforme a chuva persistia.

Continuamos por horas a fio sem descanso na tentativa de recuperar o tempo perdido. A tarde já se aproximava quando senti uma mudança no ar. Foi como na London eye, o ar ficou ligeiramente carregado e crepitante. A estática arrepiava os pelos de meu braço. Estávamos próximos da passagem.

Fiz flecha parar ao lado de Lancelot. Sky olhava em volta buscando por Edward e Elizabeth. Um relincho veio da nossa esquerda. Flecha e Lancelot responderam prontamente.

— É Argos. - Sky sorriu aliviado.

— Como sabe?

— É um pequeno truque que ensinei. Os três aprenderam a reconhecer o relincho um do outro.

— nada me surpreende mais. - Sacudi a cabeça incrédula.

Desmontados caminhamos na direção que Argos nos indicou. Encontramos Ed recostado a uma árvore abarcando Lizie. Parece que adormeceram enquanto tentavam se manter secos e aquecidos.

— Dá até pena acordá-los. - Olhei para o meu guardião. 

— Faça as honras. – Sky lançou uma piscadela. Foi mal contendo o riso que cutuquei o pé calçado de Edward com o meu.

— Acordem pombinhos.

— Oh... – Ed piscou algumas vezes despertando. – Faz muito tempo que chegaram? – Ele bocejou. O guardião cacheado não soltou Elizabeth enquanto ela não começou a despertar.

— Acabamos de chegar. – Sorri ao ver Lizie arregalar os olhos ao nos ver e em seguida corar. – E vocês chegaram a muito tempo? – Engoli o comentário malicioso que iria fazer.

— Chegamos ontem. – Ajudei Lizie a levantar.  

Ainda debaixo de chuva fizemos uma modesta refeição regada a pão dormido e algumas frutas que Edward havia furtado de uma vila em que passou antes de chegar aqui. Nem ele nem Elizabeth falaram abertamente que haviam feito às pazes; mas os olhares trocados e os sorrisos involuntários falavam por si só.

Enquanto comíamos deixamos os cavalos pastarem e descansarem já havíamos exigido demais deles nesses últimos dias. E precisaríamos deles em plena forma quando recomeçarmos a viagem. Descansamos por meia hora e então pegamos nossas montarias.

 - Vamos atravessar em dupla e ao chegarmos do outro lado fiquem atentos. - Sky posicionou Lancelot em frente à abertura da realidade. Sua montaria refletia a inquietação que podia ver nitidamente em seus olhos azuis. "Você está preocupado." Sussurrei em seus pensamentos. Fiz com que flecha ficasse ao lado da montaria do meu guardião. - Só fique atenta... - Ele me olhou longamente tentando passar tranqüilidade antes de voltar sua atenção para a passagem.

Não sabia o quê estava a nossa espera do outro lado, mas de uma coisa tinha certeza. Sky não ficaria nervoso por pouca coisa.

Por precaução coloquei meu arco atravessado na cela ao alcance de minhas mãos. Segui o imortal atravessando a passagem lada a lado com ele. Por  alguns segundos minha visão foi ofuscada pela luminosidade do portal.

A dimensão dos elfos parecia o parque Nacional das sequóias com suas árvores gigantescas. As copas verdes iam tão alto que tive a impressão de que tocavam o céu azul anil. Saímos de uma chuva torrencial e entramos em uma floresta tropical.

— Isso é... Lindo. - Elizabeth olhou boquiaberta para a imensidão verde. – Mas; onde estão os elfos?

Lizie mal havia fechado a boca quando Sky ergueu a mão agarrando uma flecha que veio em sua direção. No segundo seguinte outra aterrissou entre as patas dianteiras de Lancelot. O cavalo caramelo deu dois passos para trás assustado.

— São tiros de aviso. Estão nos mandando retornar. - A voz de Edward soou tensa atrás de mim.

— ouçam! - Sky ergueu a voz. - Não vamos retornar, precisamos passar para a dimensão sombria. - Não ouve resposta. - Falaremos com seu líder se assim o quiserem, mas não retornaremos para onde viemos sem cumprir nosso propósito. - Era a primeira vês que o via falar com tanta autoridade. Aparentemente isso não impressionou nossos atacantes.

Mais alguns segundos de silêncio se fizeram presentes. Tomamos isso como consentimento e impelimos os cavalos para frente. Foi um erro, um enorme e irremediável erro, pois no momento que fizemos isso uma chuva de flechas veio sobre nós. Desesperados demos meia volta. As flechas passavam assobiando por cima de nossas cabeças ameaçadoramente.

— Deixem os cavalos, eles estarão a salvo é a nós que eles querem. - Sky saltou do lombo de Lancelot, foi seguido por uma Elizabeth que mais caiu da cela do que saltou e por mim. Corremos em direção a uma árvore no extremo oposto da floresta.

Vi quando Sky e Lizie se protegeram atrás de uma árvore próxima. Estava quase chegando ao esconderijo quando ouvi relinchos agudos atrás de mim. Olhei por cima do ombro avistando Ed ainda montado. Ele lutava para controlar o cavalo negro que empinava e escoiceava assustado. Sem parar para pensar no que faria dei meia volta indo em auxílio de Edward. Pude ouvir Sky chamando por mim e por Edward se dando conta do quê estava acontecendo.

Foi como na noite que invadidos o bordel. Tudo a minha volta desacelerou, os sons ficaram mais nítidos. Foi assim que ouvi o zunido vindo em minha direção. Em um único movimento agarrei o projétil e o coloquei em meu arco. Pelo canto do olho capitéis um pequeno movimento e foi nessa direção que atirei. Não mirei porque não queria correr o risco de ferir um dos elfos e deixar as coisas mais caóticas do que já estavam.

Continuei correndo em direção a Edward. Agora eu era o alvo deles. As haste passavam a centímetros de mim. Tirei uma das minhas de dentro da aljava e preparei para atirar.

— Não Mady! Eles só vão ficar mais furiosos. - Ed advertiu. Ele finalmente conseguiu acalmar sua montaria que agora bufava e sapateava descontente.

Deve haver algo que possa fazer para que eles nos escutem. Foi então que lembrei do treino que tive com Orion a maneira como consegui invadir a mente dele e sugerir que fizesse o que eu queria. Era uma idéia arriscada, mas era o que tinha no momento.

Usei meu atual estado de alerta como auxílio. Com a ajuda de minha audição sensível capitéis o batimento cardíaco de dez corações. Todos espalhados pelo caminho a frente. Concentrei-me por alguns milésimos de segundo e então projetei meus pensamentos nem suas mentes. "Não somos inimigos. Somos guardiões, não atirem, por favor."

As flechas pararam, mas houve um preço. O esforço de entrar em tantas mentes ao mesmo tempo abalou todo meu corpo. Minhas pernas fraquejaram de tal maneira que caí de joelhos. Minha cabeça parecia que iria explodir. Levei as mãos a ela como se isso aliviasse a dor.

Tudo pareceu girar não conseguia mais distinguir o que acontecia a minha volta. Tudo escureceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Guardiões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.