Guardiões escrita por Godsnotdead


Capítulo 29
Expedição.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/718009/chapter/29

Finalmente estávamos indo para as dimensões sombrias e a esperança de encontrar minha mãe queimava dentro de mim como um combustível inextinguível. Sentia que estava próxima de encontrar as respostas para o enigma que é minha vida.

Olhei-me no espelho. Era evidente que eu havia mudado nesse último mês, não só fisicamente; mas internamente também. Não era mais aquela garota insegura de antes. Não havia mais aquele brilho incerto em meus olhos sabia muito bem o que queria e faria o impossível para conseguir.

Almejava um futuro onde minha Mãe e Sky estivessem, viveríamos em paz, ou tão em paz quanto um guardião poderia viver. Não podia esquecer Edward, meu irmão de outra mãe e conseqüentemente Lizie minha futura cunhada. Ri internamente com esse último pensamento, tudo estava perfeitamente traçado em minha mente só precisava encaixar as peças faltantes.

Ainda olhando no espelho abotoei a capa de tecido impermeável de cor indefinida que não faço idéia onde Sky havia conseguido era a ultima peça de meu figurino. Admirei o resultado final. Vestia uma camisa branca de linho as mangas compridas e bufantes terminavam na altura de meu pulso onde estavam presas por broxes de asas. A calça era de algodão só que marrom. Esta era um pouco justa e ia até os calcanhares; estes estavam muito bem escondidos dentro das botas de montaria de cano alto que iam até pouco abaixo dos joelhos.

Na cintura no lado esquerdo uma espada que parecia um florete, mas que segundo Ed era uma rapier descansava dentro da bainha. A arma era mais leve do que a espada com que treinava me dava uma margem maior e mais velocidade para atacar. Duas bainhas menores estavam presas a minha perna esquerda. Estas guardavam uma faca de atirar e uma mais longa para caso precisasse me defender em uma luta corpo, a corpo havia uma segunda faca de atirar dentro da bota por precaução, meu encontro com o vampiro na Sibéria me ensinou a sempre está preparada.

E para finalizar, em minhas costas descansava uma aljava com 30 flechas de plumagem azul clara. Parecia que estava indo para uma feira renascentista. Se essa era ideia de Sky para passar despercebido. Não queria nem imaginar como ele chama atenção. 

Saí do quarto ao mesmo tempo em que Elizabeth saia do dela que ficava bem ao lado do meu. Ela estava vestida igual a mim, só mudava a cor da blusa e o fato de não carregar uma aljava nas costas.

— Você está parecendo o exército de uma mulher só. – Ela brincou.

— Você também não está nada mal.

— Obrigada, mas ao contrário de mim suas armas não são objetos decorativos. – Ela tocou a empunhadura da rapier dependurada em sua cintura. – Só espero não ser um peso morto para vocês.

— Ah corta essa Lizie. Ia ser bem pior se você não fosse, não agüentaria a cara de desanimo do Ed. E tenho certeza que ele vai gostar de ensinar você. – Lancei-lhe uma piscadela e vi Elizabeth corando. Não contive o riso.

— Não tem graça.

— Claro que tem. – Enxuguei uma lágrima que escorreu pelo canto dos olhos.

— Você é boba. – Ela revirou os olhos desmanchando a cara amarrada. – Melhor irmos, os rapazes estão a nossa espera.

            Encontramos os dois cavaleiros colocando os arreios nos cavalos, e colocando nossos suprimentos em suas garupas.

— Estão prontas garotas? – Sky afivelou a cela no lombo do eqüino.

— Ham... Sem nem mesmo sermos apresentados? – Nunca havia montado e não estava a fim de pagar mico. O guardião arqueou uma das sobrancelhas e Edward abafou uma risada com a mão.

— Tudo bem então. – Sky deu de ombros. – Essa é a flecha vai ser sua montaria. – Ele realmente está fazendo isso? - Flecha essa é Mady sua amazona. – Ele mostrou o animal cor de chocolate bem mais alto do que eu. Estreitei os olhos, e o moreno sorriu como se dissesse “você que pediu”. A égua relinchou como se me cumprimentasse. – Ela gostou de você, venha, faço um carinho nela. – Assenti.

            Hesitante acaricie o focinho macio e quente. Flecha resfolegou contente, sorri orgulhosa de mim mesma.

— Muito bem, agora que foram devidamente apresentadas hora de fazer as honras Mady. – Engoli em seco e me aproximei da cela. - Esta vendo esse objeto cilíndrico no topo da cela? É o pito. Segure-se a ele para ter apoio. – Fiz como ele pediu. – Bom, agora coloque o pé esquerdo no estribo dê impulso e passe a perna direita sobre a sela. – Respirei fundo e segui as instruções. Sentei confortavelmente em cima da cela, meu coração martelando descompassado dentro do peito tamanha era minha alegria excitação. – Segure as rédeas, mantenha os ombros alinhados. Ela vai seguir seus comandos, puxe as rédeas para esquerda para ir para a esquerda, para a direita para ir para a direita. Puxe para trás para Pará-la, toque a barriga dela uma vez para passar para o trote e duas vezes para galopar.

            Trotei em volta da casa algumas vezes sentindo os movimentos da flecha e me adaptando a eles. Retornei para onde os outros estavam mais do que contente com meu desempenho. Sky já se encontrava montado em um puro sangue caramelo e Ed juntamente com Lizie estavam em um puro sangue da mesma cor que flecha só que seu focinho era completamente branco. Sky posicionou seu cavalo ao meu lado e segurou as rédeas de minha montaria.

— Segure-se.

— O que vai fazer? - Ele me lançou um sorriso esperto. – Oh não. - Arregalei os olhos. – Você consegue fazer translado comigo e dois cavalos?

— Calma Mady não é uma distancia tão grande, só se segure. - Segurei na cela e fechei os olhos.

A mudança no ar que denunciou que não estávamos mais na casa em Hampstead abri os olhos. Reconheci a London eye a poucos metros de nós. A visão noturno daquele lugar era mais do que linda, era surreal.

— Fecha à boca irmãzinha, você está babando. — Edward apareceu do meu lado esquerdo ostentando um sorriso matreiro. O cachinhos exalava felicidade com os braços que seguravam as rédeas em volta da cintura de Elizabeth que fazia de tudo para disfarçar o contentamento.

— Você só não é mais engraçadinho porque só é um. - Empinei o nariz e pressionei os calcanhares na barriga da égua indo em direção a roda-gigante iluminada. Ainda o ouvi rindo atrás de mim.

— Consegue sentir algo diferente? — Sky estava novamente ao meu lado, ele sempre buscava algo novo que pudesse ser ensinado e eu absorvia de bom grado cada nova lição. Fechei os olhos concentrando-me no ambiente a minha volta.

— O ar parece mais pesado há uma vibração diferente, mas não sei o que é.

— Isso mesmo. Estamos próximos a abertura da realidade. Veja se consegue achá-la. - Assenti. Puxei as rédea para que minha montaria parasse e fiquei em pé nos estribos para ver melhor ao longe.

Na base da roda-gigante próximo a cabine do vigia avistei uma ondulação, como aqueles dias quentes que você consegue ver o ar tremulando.

— Lá! Perto da cabine do vigia.

— Muito bem Mady! — Sky sorriu mostrando suas covinhas sedutoras. - Vamos lá! - Ele cutucou a barriga de seu cavalo. O animal disparou para frente.

— Quem chegar por último pega o primeiro turno de vigia! - Edward passou por mim gargalhando.

— Isso não vale! — Esporeei flecha e parti atrás deles. Passei por Edward fazendo questão de rir alto.

— Não sabe nem brincar. — O ouvi resmungar.

Olhei para frente a tempo de ver Sky se reclinar sobre o pescoço de sua montaria e em seguida saltando uma grade aterrissando graciosamente do outro lado. Segurei as rédeas com firmeza e me preparei para saltar também. Imitei os movimentos de Sky quando flecha se retesou para o salto.

Passamos voando pela grade meu peito se inflou de orgulho quando chegamos ao chão em segurança. Estava descobrindo uma nova paixão.

— Vamos lá garota! Vamos ultrapassar aqueles dois! - A Instiguei. A resposta foi imediata, flecha fazia jus ao nome que tinha.

Os cascos retumbavam contra o asfalto como trovões em uma tempestade alertando o vigia. De dentro da cabine um senhorzinho careca saiu confuso e meio sonolento, pareceu não acreditar no que estava vendo: três cavalos passaram por ele e entraram no nada que era a abertura na realidade. Provavelmente começará boatos de fantasmas na London Eye.

Cruzei a abertura um pouco atrás de Sky um pouco depois foi a vez de Edward e Lizie. Para minha surpresa nesse mundo a noite ainda não havia caído.

— Acho que deixamos o vigia em estado de choque. — Ed parecia achar graça. - Para onde agora?

— De acordo com o mapa da Mira há uma pequena vila a pouco mais de meio dia de cavalgada. — Sky olhou para o céu. O sol estava a pino. - Chegaremos lá à noitinha.

Cavalgamos em um ritmo constante durante toda a tarde. Eu já havia desistido de tentar comparar as horas entre os mundos. Meu relógio biológico estava entrando em parafuso tentando se adaptar a mudança brusca de ambiente. Volta e meia me pegava cochilando na cela, pois na terra com toda certeza estaria dormindo confortavelmente em minha cama.

Sacudi a cabeça e procurei uma posição mais confortável, já havia parado de sentir meu traseiro a dois quilômetros atrás. De meu lado direito Sky permanecia inabalável, do outro lado Edward parecia ainda mais satisfeito com Elizabeth dormindo reclinada em seu ombro.

A noite já caia quando avistamos as luz bruxuleantes do pequeno vilarejo onde passaríamos a noite. Atravessamos a única rua em direção ao maior prédio da cidade onde uma pequena placa borrada balançava preguiçosamente.

Saltei da cela desajeitadamente, os músculos rijos e doloridos se tencionaram dificultando meus passos, andei meio cambaleante tentando fazer com que o sangue voltasse a correr. Esperamos Edward acordar Lizie para guiarmos os cavalos para o pequeno estábulo nos fundos da taberna e pousada.

Tiramos as celas e arreios dos cavalos, escovamos os pelos até que os pelos ficassem brilhantes e por fim colocamos comida. Só então nos dirigimos para a entrada da pousada, em um movimento quase ensaiado puxamos os capuzes sobre as cabeças, deixando nossas faces escondidas.

As pessoas que se encontravam dentro do pequeno bar olharam quando a porta se abriu deixando uma brisa fresca entrar e assim fazendo com as chamas das velas do lustre em forma de roda carroça tremularem. Os olhos curiosos dos diversos seres ali estavam sobre nós.

— Procurem uma mesa no fundo, eu e Edward vamos pedir nosso jantar e alugar os quarto. – Sky cochichou para mim e Elizabeth e foi o que fizemos.

            Passamos por algumas mesas ignorando os olhares curiosos sobre nós, sentamos em uma mesa quase escondida pelas sombras. Podia ver perfeitamente o balcão onde os dois guardiões conversavam relaxados com o taberneiro rechonchudo que parecia muito com um roedor.

            Os dois ao retornarem pareciam satisfeitos com o resultado obtido, mas ainda não pareciam a vontade o suficiente para baixar o capuz da capa. Os dois puxaram as cadeiras restantes e sentaram de costas para o balcão.

— Conseguimos dois quartos. – O olhei esperançosa. – Eu e Ed ficamos com um e as moças com o outro. – Meus ombros arriaram. Não custa nada sonhar não é mesmo? Pouco mais de vinte minutos se passaram quando trouxeram nossa refeição, uma travessa com algum tipo de ave assada batatas cozidas e pão. Dentro de quatro canecas estava um liquido amarelo espesso e espumante.

— Isso por acaso é cerveja? – Cheirei desconfiada o liquido duvidoso. – Já falei que minha mãe mata vocês se me derem bebida alcoólica?

— Relaxa baixinha não tem algo. Nós não bebemos. – Estava tentada a acreditar em Edward, mas o sorriso ladino dele me deixou com as orelhas em pé.

— Pode ir sem medo. – Sky bebericou de sua caneca enquanto mordiscava um pedaço de pão. – Nada mal. – Dei de ombros e bebi também, o gosto era agridoce com uma pitada de gengibre no final.

— Sua falta de confiança em mim me entristece. – Edward repousou a mão dramaticamente no peito.

— Ele é sempre assim? – Lizie arqueou uma das sobrancelhas.

— Não. É bem pior. – Arrisquei comer um pouco da ave e não me arrependi. – O que me leva a questionar como deve ser Ed bêbado. – Sky riu e quase se afagou com a cerveja do seu lado Edward corou até o ultimo cacho. – Oh, foi tão ruim assim?

— Não queira saber. – O guardião moreno tossiu se recuperando do riso. Elizabeth olhou intensamente para um Ed suspeito e calado que fingiu que não era com ele, péssima idéia maninho ela vai arrancar até o ultimo detalhe constrangedor e eu vou amar saber de cada um.

— Vamos mudar de assunto? – Por enquanto irei salvar sua pele. – Qual nosso próximo passo? – Olhei em volta conferindo se havia alguém prestando atenção em nossa conversa. Aparentemente as pessoas já haviam perdido o interesse em nós.

— Vamos nos separar, buscando por informações que nos sejam úteis. Há dois caminhos que vão para a próxima abertura, nos encontraremos na cidade próxima a ela.

            Com os planos traçados aproveitamos nosso jantar então nos recolhemos para nossos quartos. Estava tão exausta que adormeci instantaneamente ao me deitar. No dia seguinte ao acordar percebi que Lizie não estava mais na cama. Levantei-me em um salto, vesti-me quase em tempo recorde, mais rápido ainda coloquei as armas em seus devidos lugares então desci.

            A encontrei sentada no balcão bebericando algo e comendo pão, aliviada juntei-me a ela. Não vi nem sinal dos dois rapazes, muito provavelmente ainda dormiam o sono dos justos.

— Bom dia senhorita. Aceita uma caneca de café?

— Sim, obrigada. – O taberneiro assentiu de maneira simpática e me serviu.

            Tomei satisfeita o liquido quente, a cafeína deixava-me ainda mais em alerta, mas era uma sensação boa. Mastigava satisfeita o pão saboroso quando de repente os murmúrios de conversa baixaram até cessar. Pelo canto do olho vi o vulto de um homem parrudo alto tão largo quanto um armário entrou no estabelecimento.

            O homenzarrão andou até onde estávamos, o rosto era quase todo coberto por uma barba ruiva desgrenhada. Ele bateu a palma da mão que mais parecia um remo de tão grande que era contra o balcão. Todos ali se encolheram em seus lugares a tensão era quase palpável.

— Norin! Sirva-me com um pouco dessa sua água suja que chama de café! – A voz de trovão fez o taberneiro tremer da cabeça aos pés.

— Sim... Sim Bordash... – Assisti calada o pobre homem se atrapalhando com as canecas arrancando risos do gigante mal encarado. Suspirei resignada chamando a atenção do grandalhão para mim. Lizie me lançou um olhar de advertência, apenas sorri para tranqüilizá-la.

— Ora, ora, ora. O que duas moças fazem em um lugar como esse sozinhas?

— Comendo. – Respondi e Elizabeth sacudiu a cabeça pedindo que eu ficasse quieta. – E estamos acompanhadas.

— Hum, pois não vejo seus supostos acompanhantes. Espero que eles saibam como é perigosos deixar duas donzelas sozinhas em um lugar como esse.

— Ah, mas eles sabem que sabemos nos virar. – Descobri o punho da espada que até então estava escondida debaixo dela. – O ruivo pareceu achar graça e riu alto jogando a cabeça para trás.

— Gostei vê você moça. – Ele repousou a mão gigante em meu ombro. – Que tal deixar esse seu acompanhante e vir comigo?

— Nem que a terra abrisse e me engolisse e você fosse a única corda de salvação. E tire essas sua mão de mim! Ou vai se arrepender!

— Bravinha. Gostei. – Ele ignorou meu pedido, será que quanto maiores eles são menor é o cérebro? O tal do Bordash apertou meu ombro.

— Deixe a garota... Não quero confusão.

— Calado Norin! Você é um covarde! – Será que é pedir de mais um dia tranqüilo?

— Pedi para tirar a mão de mim! – Tirei sua mão de meu ombro e agarrei em sua barba oleosa o pegando de surpresa, sem dar chance para que ele entendesse o que estava acontecendo puxei seu queixo para baixo fazendo com que se chocasse contra o balcão. Bordash desabou como uma jaca ruiva madura no chão totalmente desacordado.

            Retornei a me concentrar em minha refeição, pouco a pouco os clientes voltaram para suas conversas esquecendo a cena de segundos atrás.

— Que ótimo, meu café esfriou. – Resmunguei.

— Tome. Esse é por conta da casa. – Norin o taberneiro ostentava um sorriso satisfeito, algo me diz que Bordash vem sendo uma pedra no sapato dele. Terminava de comer quando Edward e Sky resolveram aparecer, os dois olharam para o homem desmaiado em seguida para mim.

— Perdemos alguma coisa? – O moreno arqueou uma das sobrancelhas inquisitivo.

— Ham... Não. – Sorri inocente.          


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Guardiões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.