Guardiões escrita por Godsnotdead


Capítulo 21
Jardim encantado.


Notas iniciais do capítulo

Mais alguém aí estava com saudade do Sky?



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Voava logo atrás de Edward. Desde que ele veio morar comigo, nunca tinha o visto tão perturbado. Ed sempre foi muito prático. O humor vivo e a língua afiada sempre presente. Ele é a descontração que falta em mim, mas hoje vi todas essas características caírem por terra e sabia muito como ele estava se sentindo. Talvez, tenhamos encontrado nosso calcanhar de Aquilis. Sorri ao olhar de soslaio para a minha direita. Mady retribuiu o sorriso ao perceber meu olhar sobre ela.

— Irmão. — Orion se postou em meu lado esquerdo.

— Sim? — Meu irmão estava com o cenho franzido. Parecia preocupado.

— Não entendo como isso funciona.

— Ham. – Franzi o cenho, quem não está entendendo nada sou eu. – Do que está falando irmão.

— Desse sentimento que deixa você e agora Edward a ponto de entrar em curto só para proteger suas parceiras. Tudo que sei é o que as historias contam, e como sabemos elas são imprecisas.  

— Hum... Como posso te explicar. – Como se explica algo que também não compreende totalmente? – Não sei mesmo como descrever.

— Orion você leu Amanhece da saga crepúsculo? – Ambos olhamos para Mady ao mesmo tempo.

— Assisti ao filme. – Olhei incrédulo para o caçador prateado, o vento trouxe o riso de Edward até nós. – Que foi? Vou ao cinema ok? – Meu irmão elevou um pouco a voz, para que Edward também pudesse ouvir e empinou levemente o queixo. – Continue senhorita.

— Na história os lobos ao encontrarem suas parceiras sofrem imprinting certo?

— Sim. – Eu estava boiando. Me limitei a somente ouvir. – É uma ligação inquebrável.

— Exato... O que acontece com Sky... E eu... – Ri internamente vendo-a corar. – É quase... É...

— Um encontro de almas que antes estavam separadas. – Completei antes que ela explodisse de tão corada que estava.

— Entendi, eu acho... – Orion olhou para frente parecendo pensativo.

            O deixei com seus pensamentos. Ao chegarmos em casa ainda estava em silencio. Edward subiu com Elizabeth ainda no colo, Orion murmurou que iria tratar dos preparativos para a invasão do bordel, mas eu sabia que meu irmão ainda estava tentando entender toda essa loucura. Eu e Mady ficamos pela sala mesmo, me sentei no sofá e ela deitou com a cabeça em meu colo.

            Desde que chegamos aqui ainda não havíamos parado, parecia que fazia séculos desde a ultima vez que ficamos assim. Só nós. Com o indicador afastei a franja que caia sobre sua testa. Os olhos azuis dela se encontraram com os meus, um pequeno sorriso ameaçava aparecer.

— Estava pensando uma coisa.

— Compartilhe seus pensamentos.

— Você falou que encontrou recibos que registravam a compra de garotas... E Elizabeth falou que era mantida preza. – Esperei que ela terminasse o raciocínio. – Pode haver muitas outras garotas prezas em algum lugar... E se por um acaso nossa operação não sair como planejamos e algum daqueles homens escapar. Ou aquele guardião não esteja lá, ele pode simplesmente pegar as garotas que estão presas, sair de Krasnoyarsk e recomeçar com esse negocio hediondo em outro lugar. – A encarei impressionado. – Que foi? Falei besteira?

— Não. Muito pelo contrário, seu raciocínio faz muito sentido. Parece que temos uma estrategista no time. – Sorri sem conter o orgulho que sentia ao ver o crescimento esporádico da jovem guardião dona do meu coração. – Só há uma pessoa que pode confirmar sua teoria. E é a própria Elizabeth.

— Vamos esperar que ela se recupere para perguntar. Enquanto isso acho que podemos relaxar um pouco. – Madison se espreguiçou como uma garinha manhosa. – Sinto falta do sol de L.A.

— Eu também.

            Nosso momento de sossego foi interrompido por passos rápidos na escada, era Edward.

— Como ela está? – Perguntei quando ele estava próximo o suficiente.

— Parece está se recuperando do afogamento. É a hipotermia que me preocupa. – Ele cruzou os braços e olhou para escada. O pé batia ritmadamente como se estivesse ansioso com algo.

— Ham... – Acho que vou dar uma olhadinha em Elizabeth. Aproveito para trocar essas roupas pesadas. – Mady levantou e me selou. “Converse com Ed, ele parece que vai entrar em parafuso.” A voz dela sussurrou em meus pensamentos. E então subiu me deixando sozinho com um Edward agitado.

— Ed.

— Sim meu senhor?

— Sente-se aqui. – Mostrei o lugar ao meu lado onde antes Mady estava sentada. Ele me olhou desconfiado, mas sentou. – Agora conte-me o que está te incomodado.

— Elizabeth. – Ele suspirou. – Não consigo entender meu senhor. Do dia para noite esse sentimento apareceu... Eu...

— Sabe meu amigo. Não faz muito tempo fiz essas mesmas perguntas a meu pai. E ele tinha razão. Não adianta tentar fugir do que está aqui dentro. – Toque em meu peito.

— Eu vi o que aconteceu com Mady desde que entramos na vida dela, não consigo imaginar Elizabeth correndo os mesmos perigos... Ela é... Humana.

— Antes pensamos que Mady também era uma humana lembra? – Ed assentiu contrariado. – E a situação é completamente diferente Edward. Elizabeth não tem um ser misterioso no encalço querendo a cabeça dela. – Ed se contraiu e me olhou ofendido. – Ok. Desculpe pela analogia infeliz, mas o que estou tentando dizer, é que a situação é diferente.

— Mas e quando tivermos que partir?

— Ed. Tente se concentrar no agora. Sempre te admirei por que nunca deixou que o futuro o abalasse, sempre encarou tudo de frente. Com Elizabeth não é diferente. Viva o momento ou vai enlouquecer.

— Obrigada. – Meu amigo suspirou, e o seu sorriso zombeteiro retornou. – Não sabia que havia virado um especialista em sentimentos.

— Sempre se pode ensinar truques novos a uma guardião velho não é mesmo. – Ri com minha piada horrível.

— O senso de humor com certeza melhorou. Mas suas piadas continuam péssimas. – Ed riu relaxado.

— Tenho que concordar meu caro Ed. – Era Orion retornando. Ele sentou no braço do sofá.

— Mady, tem uma teoria. – Os dois olharam para mim interessados. – Precisamos saber se existem outras garotas em cárcere e libertá-las antes de fecharmos aquele bordel. Vamos ter que confirmar com Elizabeth.

— De qualquer forma. Vamos precisar de tempo para nos preparar.

— Por mim tudo bem lorde Orion, Mas agora vou tomar um banho e depois dar uma olhada em Lizie.

            Observei Edward subir os degraus para o segundo andar, pela postura descontraída podia jurar que ele seria capaz até de assobiar. Orion me encarava com um olhar cheio de interrogações.

— Nem queira entender.

— Tenho certeza que não quero. Pelo menos não agora. – Ele deu de ombros. – Então... Você já deu uma olhada no meu jardim?

— Não. – O olhei intrigado.

— Não sabe o que está perdendo. É um bom lugar para um piquenique. – Fingi não notar o tom conspiratório na voz dele. – Tenho certeza que sua Madison vai gostar. – Ele levantou não antes de lançar uma de suas piscadelas infames.

Segui o conselho implícito de meu irmão e corri para a cozinha. Fucei nos armários da Cozinha em busca de uma sesta de piquenique. Abri uma gaveta lateral e achai uma toalha xadrez. Que lugar mais estranho para guardar isso. Dei de ombros e coloquei a toalha dobrada sobre a mesa. Voltei a minha procura pela sesta.

Ao achar o que procurava, parti em busca das guloseimas. Ainda no armário peguei o pão. Na geladeira encontrei geléia de morango e uma dúzia de cupcakes com uma cobertura azul. Espero que Orion não se importe que eu pegue alguns. Afinal a idéia foi dele, não é mesmo?

Peguei também algumas frutas e meio bolo leite de pássaro que estava escondido atrás de um jarra de suco. Acho que o jantar ainda vai demorar então não vejo problema em enfiar o pé na jaca. Estava organizando tudo dentro da sesta quando Mary me chamou na sala.

— Sky?

— Na cozinha. - Respondi. Logo ela estava no cômodo me olhando curiosa.

— O que está aprontando? - A guardiã recostou-se no batente da porta da cozinha.

— É uma surpresa. - Pisquei para ela. Sabia que essa pequena frase seria suficiente para deixá-la ardendo de curiosidade. - Pronto. Podemos ir.

— Para onde?

— É surpresa senhorita curiosa já disse. - Seria uma surpresa para mim também. Não fazia a menor ideia do que encontraria no jardim de Orion.

Entrelacei nossos dedos e fomos em direção aos fundos da casa. Onde uma porta de correr de madeira se encontrava fechada. Assim que a abri e passei por ela entrando no jardim. Não contive uma exclamação de surpresa quando o calor morno me atingiu em cheio.

Não parecia que estávamos no meio do nada na Sibéria. Um gramado verde e florido se estendia por quase quatro metros quadrados. Arbustos floridos com varias espécies fé flores que variavam de rosas vermelhas a narcisos amarelos. O jardim crepitava com magia elfica.

— Minha nossa. - Mady estava tão embasbacada quanto eu. - Como isso é possível? - Ela olhou para cima. - O dia está nublado e nevando, e aqui dentro está quente.

— É magia élfica. Não está sentindo? Está em todo lugar. 
— Ah é. O ar parece está carregado de estática. – A guardiã soltou minha mão e foi até uma das roseiras. - Isso é tão incrível! - Ela riu deliciada. O perfume das flores no ar me fazia lembrar da primavera. - Será que Orion consegue mudar o clima?

— Provavelmente sim - Estendi a toalha sobre o gramado e sobre a toalha coloquei a sesta. Madison deixou as roseiras e veio sentar-se ao meu lado, ela ostentava um sorriso tão grande que creio que seria possível ver até se ela estivesse de costas. - Gostou da surpresa?

— Amei. - A guardiã aproximou os lábios em direção aos meus. Rompi a pequena distancia sentindo a euforia que sempre vinha junto com nossos beijos me invadindo. - Obrigada por me proporcionar esse momento. - Ainda permanecíamos próximos.

— Não a de quê. - A selei. Era mais do que óbvio que estava viciado em seus beijos.

— Então... O que temos para comer? - Ela murmurou contra meus lábios. - Estou faminta. Porque sempre estou faminta?

Ri da pergunta. Sentindo-me corajoso o suficiente para me afastar de seus lábios convidativos.

— Seu metabolismo está mais acelerado.

— Então agora também sou uma magra de ruim igual a você e Edward?

— Vou encarar isso como um elogio. - Fiz bico. A loira riu, era bom ouvir o som do riso dela. Melhor ainda era esse nosso momento de relaxamento.

Entre comida, risos e beijos roubados passamos boa a parte da tarde. Os melhores momentos sempre eram as caras e bocas que Madison fazia experimentando as iguarias russas. E ela estava fazendo a maior bagunça. Sorte que Ed não estava por perto, pois a foto de uma Mady com bigode de glacê já teria sido tirada.

— Porque está rindo? – A garota estreitou os olhos.

— Você fica uma graça de bigode de glacê.

— Não tem graça. — Ela fez bico. As bochechas se tingiram de vermelho enquanto tentava limpar o glacê. — Limpou?

— Quase. Ainda tem um pouco no canto da boca.

— Aqui. — Ela passou o dedo sujo de glacê aumentando ainda mais a bagunça.

— Quase. – Ri. — Deixe-me limpar. — Segurei em seu queixo com o polegar e o indicador. E beijei o canto de sua boca, levando embora o glacê sabor algodão doce. — Muito bom. Acho que tenho um novo sabor preferido.

— Bobão. — Ela se aproveitou da nossa proximidade e minha distração e passou o dedo sujo em meu nariz. — Azul combina com você.

— Ora que espertinha. Dois podem jogar esse jogo. — Catei um cupcake próximo.

— Ah. De jeito nenhum. — A guardiã se afastou e deu uma cambalhota para trás ficando de pé com a agilidade de um felino. – Vai ter que me pegar primeiro velhinho. — Ela correu o riso tilintando pelo jardim.

— O termo certo é milenarmente experiente. — Levantei largando o bolinho e indo atrás dela. — Vou pega-la sininho.

Nosso riso enchia o jardim. Sentia como se houvesse voltado para o tempo em que eu era apenas um guardião jovem sem responsabilidades. Era uma sensação enervante, como tudo a respeito do que Madison Clark me fazia sentir.

— Peguei! — A agarrei pela cintura. Medi gritou fé surpresa quando a Girei antes de colocá-la no chão e vira-la para frente. A face corada pela corrida, o brilho nos olhos e as feições de menina mais uma vez me atingiu com intensidade. Será que meu coração sempre irá reagir assim a ela? Parece que todas as vezes que a olho encontro algo novo que me leva a... Amá-la com mais intensidade.

Com o polegar da destra limpou o glacê ainda presente em meu nariz. Com as pontas dos outros quatro dedos acariciou minha face descarregando pequenas faíscas em mim. A trouxe para mais perto. Estava prestes a beijá-la quando pequenos pingos começaram a cair sobre nós. Era chuva.

Olhamos para cima, uma chuva morna de verão molhava todo o jardim. A assisti fechar os olhos apreciando o toque delicado da chuva sobre nós. Joguei a cabeça para trás abrindo a boca recolhendo um pouco da chuva mágica de Orion. Teria que agradecê-lo mais tarde.

Voltamos a nos olhar, ambos exultantes embriagados com a presença um do outro. "Eu te amo Sky." A voz dela sussurrou em minha mente.Tinha plena certeza do que sinto por ela, mas ouvir essa pequena declaração dela, mesmo que em pensamentos era muito mais do que esperava. Meu coração acelerou loucamente quando nossas bocas se encontraram.

Não tinha a menor pressa para terminar, o sabor levemente adocicado de seus lábios entorpeciam todos os meus sentidos. Naquele momento éramos só nós e o jardim mágico de Orion. 


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Notas finais do capítulo

Uma curiosidade o bolo de leite de pássaro é uma iguaria russa. " O Leite de Pássaro foi o primeiro bolo soviético a ser patenteado. Sua receita foi inventada por um grupo de confeiteiros soviéticos liderado pelo cozinheiro-chefe do restaurante Praga, no centro de Moscou, Vladímir Gurálnki, usando como base o marshmallow francês. O doce pode ser facilmente encontrado em muitas lojas e confeitarias na Rússia." Quem tiver curiosidade e quiser conhecer mais algumas das guloseimas do lar do Orion aqui está o link: http://gazetarussa.com.br/articles/2012/08/26/12_doces_mais_populares_na_russia_parte_1_15337



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