Guardiões escrita por Godsnotdead


Capítulo 20
(In) decisão.




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Não duvidava mais das boas intenções daqueles quatro, mas relembrar tudo que passei até aqui, trouxe uma angustia sem tamanho. Não fazia idéia de o que eles queriam dizer quando falaram em fechar aquele lugar. Não podem estar falando sério, quatro contra um bando de bandidos sem escrúpulos? É suicídio, e ainda tem ‘ele’ aquele homem de olhos sem vida.

            Não tinha duvida de que ele viria atrás de mim se souber que foi eu que dei com a língua nos dentes. E não queria estar por perto se isso acontecer, mas como poderia ir embora se prometi esperar?

            Mas se eu for agora... Será que eles viriam atrás de mim? Será que Edward ficará decepcionado com minha deserção?

— Ora! Porque estou preocupada com a reação dele? - Bufei exasperada comigo mesma. – A final nem o conheço direito. – “Ele também não te conhecia quando arriscou p pescoço ontem a noite.” Minha consciência argumentou.

            Levantei da cama e passei a caminhar pelo quarto, lutando comigo mesma, não devo ficar aqui, não irei suportar está aqui se caso algo dê errado e um daqueles quatro se machuque, ou... Aconteça algo pior.

            Não quero ter que perder mais ninguém! Vou embora enquanto ainda consigo e tenho coragem para isso. Abri o guarda-roupa de Madison e de lá retirei um casaco grosso, espero que não estejamos muito longe da cidade, na noite passada ficamos dando voltas por causa dos vampiros que nos seguiam.

            Desci sorrateiramente torcendo para não encontrar com ninguém, a casa parecia vazia, andei nas pontas dos pés, meus passos pareciam retumbar em meus ouvidos. Mas aparentemente as vozes vindas de um cômodo a esquerda abafavam meus passos de elefante.  

            Abri a porta e corri pelo caminho de pedra direto para o portão, o frio beija minha face, respirei aliviada por ter pego um casaco que conseguisse me manter aquecida. Olhei para o grande portão só me restava esse obstáculo para ultrapassar, no muro havia um único botão, que deduzi que servisse para abrir, o apertei e o portão abriu sem fazer ruídos.

            A minha frente só via neve e mais neve, olhei mais uma vez para trás, o portão se fechava lentamente. Sacudi a cabeça afastando os resquícios de indecisão, rumei em frente, com certeza uma hora ou outra encontraria a estrada.

            Na primeira meia hora, vi tamanho da burrada que havia feito. A neve que entrava dentro das botas começou a derreter em contato com a minha pele, molhando meus pés e assim fazendo com que o frio me atingisse.

A imensidão branca a minha frente parecia aumentar junto com o frio e o medo de está rumando para a morte certa.

— Será possível que só faço besteira? — Abracei o corpo tentando conservar o valor.

O que aquele programa de sobrevivência que assisti na ultima vez que vi TV, dizia mesmo a respeito de sobreviver em um ambiente gelado? Ah... Tentar conservar a temperatura do corpo, e ficar atento para que nenhum membro congele ou sofra queimaduras causadas pelo gelo. Bom... Falar é fácil.

Deixei que minha mente vagueasse, em uma tentativa desesperada de esquecer o frio. Foi assim que lembrei da primeira vez que meus pais me levaram há um parque de diversões, acho que tinha uns cinco anos na época, e havia conseguido a proeza de me perder deles.

"Papai, papai! Quero ir na roda gigante." Meu eu infantil quicava nos braços do homem robusto que mais parecia um panda.

"Quando for um pouquinho maior meu bem." O sorriso escondido pela barba se abriu na face corada dele. 

"Grande quanto? Desse tantão?" Abri os bracinhos.

"Sim! Desse tantão?" O riso  doce da minha mãe ecoou ao meu lado.

Nós três éramos o retrato de uma família perfeita, nenhum de nós imaginava que nossa felicidade tinha data de validade que se expiraria em somente seis anos.

As luzes do parque de diversões giravam como em um caleidoscópio, só que em proporções bem maiores. Foi em um momento de descuido que me perdi de meus pais, enquanto ele comprava uma maçã do amor vi um urso gigante em uma barraca não muito longe de onde estávamos. Queria aquele urso de qualquer maneira, hipnotizada corri em direção ao meu objetivo.

"Moço, quero aquele urso." Mesmo na ponta dos pés não alcançava o balcão.

"Claro mocinha, onde estão seus pais?" O dono da barraca era um senhorzinho que mais parecia um papai Noel.

"Meus pais?" Olhei em volta, não vi nem sinal deles. "Papai?! Mamãe?!"

"Ei pequena, você vai se perder..." Não dei ouvidos ao dono da barraca e me misturei a multidão a procura de meus pais.

Não sei quanto tempo andei sem rumo, ninguém parecia se importar com uma garotinha perdida chorando. Até que com a visão embaçada pelas lágrimas esbarro em alguém.

"Desculpa." Murmurei sem ver em quem havia esbarrado.

"Não foi nada, está tudo bem?" A voz grave transbordava tranqüilidade, apenas sacudi a cabeça. "O que aconteceu?"

"Me perdi de meus pais." Choraminguei e olhei para cima, encontrando um homem alto, era a pessoa mais alta que já havia encontrado em minha curta vida, ele se abaixou para ficar com o olhos no mesmo nível que os meus.

Ele tinha cabelos castanhos cacheados que por estarem compridos caiam sobre sua testa, os olhos verdes brilhavam cheios de humor, isso quase me fez sorrir.

"Não chore, vamos achá-los." O sorriso gentil encheu-me de esperança. Foi a primeira vez na vida que tive a certeza que anjos realmente existiam.

 

Aquelas memórias estavam perdidas a tanto tempo que não lembrei dele quando o reencontrei na noite passada. Será que Ed é meu anjo da guarda? Ele não havia mudado nada, nem parecia que havia passado doze anos que esse evento havia ocorrido.

Sacudi a cabeça, o frio só poderia já está congelando meu cérebro. Será que consigo achar a casa se voltar agora? Meu corpo tremeu da cabeça aos pés, o frio começava a entorpecer minhas mãos. Dei meia volta e comecei a voltar, não poderia ter ido muito longe certo?

Errado, estava com a sensação que havia ficado completamente perdida, já deveria ter avistado os muros enormes e cinzentos da mansão de onde não deveria ter saído; mas só via neve. Quem em sã consciência faz uma casa no meio do nada? Questionei com raiva de minha falta de sorte e burrice.

Foi então que um som trazido pelo vento fez todos os pelos de meu corpo se arrepiarem. Uivos soaram muito mais perto do que eu gostaria, na Sibéria não tem lobo, tem? Minha resposta não tardou a chegar. 

Eram cinco ao todo, pelos cinzentos quase se camuflavam a neve ao meu redor e a que começavam a cair a minha volta, engoli em seco encarando os caninos arrebanhados em minha direção. Se eu correr, qual a chance de eles me pegarem?

Melhor nem pensar nas minhas chances, em um ato desesperado corri, as pernas meio dormentes e a neve atrapalharam minha tentativa patética de fuga.

Não precisava olhar para trás para ver que eles me seguiam, e se aproximavam rapidamente de mim. Continuei correndo, o ar se condensando ao sair da minha boca, o coração acelerado martelando contra as minhas costelas, o medo bombeando adrenalina por minhas veias me deram forças para continuar. Em um dado momento pisei em uma superfície dura e escorregadia.

Meus pés derraparam, o mundo girou quando cai de costas, batendo a cabeça no gelo. Estava consciente dos rosnados dos lobos perto de mim, mas minha cabeça doía e parecia girar. Mais próximo ainda o som de algo rachando se fez presente.

Não houve tempo para uma reação a não ser gritar pelo susto causado pelo gelo debaixo de mim se quebrando, meu corpo desceu rumo à água glacial. Me debati para tentar nadar para a borda. Mas ainda estava atordoada por causa da pancada e o gelo se desfazia ao meu toque. Aos poucos o frio cortante e o cansaço venceram, meu corpo começou a afundar.

Que jeito mais idiota de morrer. Pensei enquanto a água gelada invadia meus pulmões.

❄❄❄

O que Elizabeth não sabia, era que esteve a poucos metros da casa dos guardiões. O motivo pelo qual não conseguiu ver a construção era a barreira mágica que a circundava, uma das muitas proteções colocadas pelo caçador para afastar sua residência de olhares curiosos.

Do lado de dentro, Edward e os outros três guardiões, tentavam entender o sumiço de sua hóspede humana.

❄❄❄

Como não me dei conta de que ela não estava mais aqui?! Será que estava tão distraído assim?! Recrimine-me mentalmente.

— Edward, se acalme. — Era a voz de lorde Sky me trazendo de volta para a realidade.

— Preciso encontrá-la. — Olhei para cada um, Madison estreitou os olhos em minha direção, ela parecia sentir no ar minha perturbação. — Não estou pedindo que ajudem, só, por favor, não posso ficar de braços cruzados. – Fazia muito tempo desde que me deixei levar por meus sentimentos.

— Nos conte Ed, qual sua relação com aquela jovem? — Os olhos astutos de lorde Ódio pareciam ver minha alma.

— Eu... — hesitei, sabia que tinha que contar ou ficaria maluco. — Ontem no bordel quando a salvei, não a reconheci. — Havia passando tempo, até mesmo a memória de um imortal pode falhar. — Mas depois que a adrenalina do momento passou e pude pensar com mais clareza, uma súbita impressão de que aqueles olhos castanhos e feições eram familiares. Só hoje quando Elizabeth mencionou Newcastle foi que a lembrança veio. Foi há doze anos, estávamos perseguindo um ogro em um parque de diversões.

— Oh... Eu me lembro disso, nós nos separamos para procurar mais rápido. – Lorde Sky parecia está juntando os pontos.

— Sim, foi logo depois que nos separamos que uma garotinha esbarrou em mim, ela não podia ter mais que cinco anos e havia se perdido dos pais.

— Era Elizabeth? — Mady parecia surpresa, assenti confirmando.

— Preciso achá-la, ela está sozinha aí fora... – Não era só lá fora que ela tem estado sozinha e estranhamente me sinto responsável por ela agora.

— Tudo bem, nada mais me surpreende. — Orion deu de ombros. — Já demoramos demais devemos começar as buscas. — O olhei sem saber o que dizer, não era segredo para ninguém que o caçador não estava acostumado a sair de seu lar quentinho em busca de garotas humanas perdidas. — Não me olhe assim, sou uma manteiga derretida, um cordeirinho.

— Ta mais para lobo em pele de cordeiro. — Lorde Sky puxou o colar de dentro da camisa, não deu atenção ao olhar de falsa magoa do irmão. — Em nossa forma de guardião vai ser mais fácil achá-la.

Nos dividimos, cada um em uma das quatro direções; mas mesmo a distancia que nos separava capaz de ocultar nossa presença poderosa, agradecei por estarmos em uma longa distancia de qualquer criatura hostil, não queria uma luta agora. Concentrei-me procurando por traços da aura dela.

Não demorei a encontrar, por sorte não estava muito longe, bati as asas, acelerando o vôo. Mantinha-me concentrado em sua localização.

— Espere só mais um pouco Elizabeth.

Já estava bem próximo dela quando minha audição captou o que parecia ser um grito de susto seguido de algo rachando e caindo na água. Com um nó na garganta senti a aura dela se esvaindo.

— Não! — Continuei aumentando a velocidade, cortei o ar como uma flecha.

Do alto avistei um lago congelado, quase na margem havia um buraco no gelo, a sentia a energia de Elizabeth ficando cada vez mais fraca logo abaixo de mim. Mergulhei no buraco sem pensar duas vezes, a água gelada pinicava em minhas asas, não importei com isso e continuei nadando. A avistei inconsciente afundando, a agarrei pela cintura e levei para fora d’água.

A pele dela estava fria e arroxeada, a deitei na margem com cuidado, ouvia seus batimentos fracos e erráticos, não tinha muito mais tempo. Com o indicador e o polegar tampei as narinas dela, com a outra abri sua bocam levei a minha até ela e assoprei levando o ar de volta a seus pulmões, retirei a boca para que ela pudesse expirar antes de repetir o processo mais duas vezes e parti para a massagem cardíaca.  Ouvi os outros aterrissando logo atrás de mim, mas não dei atenção.

— Vamos Elizabeth, não te salvei duas vezes para que me deixasse dessa forma! — Não escondi meu desespero, nunca lidei muito bem com a fragilidade da vida humana. Era tão cruel, eles nos cativam e depois nos deixam só com as lembranças.

A visão ficou turva com minhas lágrimas teimosas, mal via o rosto pálido dela. Não cheguei a senti quando duas mãos afastara as minhas que estavam sobre o peito dela.

— Continue com a respiração boca a boca. — Lorde Sky tomou meu lugar na massagem cardíaca. Mais uma vez a admiração que nutria pelo auto-guardião cresceu.

Subitamente ela inspirou e tossiu cuspindo a água em seus pulmões. O alívio que me atingiu quando os olhos dela se abriram foi indescritível? Então é esse o sentimento que lorde Sky sente todas as vezes que salvou Mady?

— Ed... — Os olhos castanhos entraram em foco, enquanto seu corpo tiritava de frio. — Você... É... Meu... Anjo da guarda? - me permiti sorrir.

— Sou o que você quiser. — Naquele momento seria até a rena do nariz vermelho se caso ela quisesse, só queria aquecê-la e deixá-la segura.

A peguei no colo e levantei, sabia que a temperatura um pouco mais alta proporcionado pela armadura, ajudaria até que voltássemos. Elizabeth recostou a cabeça em meu peito, parecia exausta de mais para continuar com os olhos abertos. Naquele momento soube que estava encrencado, mas não estava me importando com a dor de cabeça que teria futuramente.


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Notas finais do capítulo

E agora? O que será acontecerá?



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