There Is no Heart Without You escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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– Kuchiki. Onde você acha está seu coração?

– Humm... – Ela fez uma expressão confusa. – Hum, digo, é, você sabe... – Pôs a mão no lado esquerdo do peito. – Ele está bem aqui... – Hesitou. – Não é?

Kaien virou o rosto e sorriu-lhe suavemente. – Talvez – disse enquanto seguia na direção dela. – Mas eu acho que ele está bem aqui.

Estendeu o punho na direção dela. Rukia franziu as sobrancelhas.

– Cada vez que nós nos conectamos, um pequeno pedaço de coração “nasce” entre nós. O coração não é algo que está dentro de você... – Continuou Kaien, com seu semblante pensativo e sorridente. – Sempre que você pensa, sempre que você se lembra de alguém... É aí que o coração nasce.

Rukia não entendeu inicialmente.

– Se você fosse o único ser vivo no mundo todo, o coração não existiria, não é mesmo?

---

Rukia encolheu-se um pouco mais. Estava abraçada às suas pernas enquanto ouvia às explicações de Kaien a respeito da empunhadura da zanpakutou e outras coisas técnicas que não realmente lhe interessavam. Seus pensamentos voavam distantes; ou talvez, se pensasse melhor, estavam bem ali. Diante dela.

Ele fez um movimento rápido com a katana e deu uma gargalhada. Estava imitando alguém. Rukia sorriu.

Então, Kaien voltou a tagarelar sobre a zanpakutou e Rukia desligou definitivamente de sua lição.

O monte Koifushi estava sendo banhado por um belo dia de sol. Poucas nuvens no céu pintavam manchas brancas. Entretanto, era inverno e um vento frio esgueirava entre as árvores e fazia os cabelos escuros de Kaien sacudirem. Ele apontava a katana para o nada, segurava o antebraço e mexia somente o pulso a fim de fazer movimentos mais específicos com a katana.

Rukia sempre ficava feliz na presença dele. Sem exceção à regra. Mesmo que se sentisse um pouco boba demais por isso, de vez em quando. Ele tinha sua mulher, Miyako, e era obviamente feliz com ela. E Rukia não se sentia especial o bastante para, de repente, tentar interromper a alegria do tenente por um pensamento egoísta. Era melhor pensar que se ele estava feliz, ela também ficaria.

Era fácil falar, talvez, mas na prática as coisas sempre tomavam rumos diferentes. Mas ela se esforçava de verdade.

– Ei, Kuchiki! – Gritou ele, fazendo-a retornar de seus devaneios. – O que está fazendo, olhando para o além?!

– Desculpe. – Rukia baixou de leve a cabeça.

– Como eu estava dizendo, nós fazemos esse movimento com o punho para conseguir um corte mais preciso com a zanpakutou...

Kaien continuou e continuou. Rukia concentrou-se somente no que ele dizia e fez o possível para manter seus pensamentos apenas naquilo. E até que conseguiu êxito. Todas as explicações a partir dali foram muito bem absorvidas, e aplicadas com sucesso mais tarde, apesar de algumas tentativas falhas nas primeiras vezes.

Depois de todo o treinamento, ambos sentaram-se na inclinação do monte Koifushi para comer uns biscoitinhos de gengibre que Rukia havia trazido consigo. A baixinha foi mordiscando num deles enquanto o tenente devorava uns três de uma vez, por serem bem fininhos. E ela ria porque Kaien constantemente batia no shihakusho para tirar os farelinhos do doce.

Rukia tinha absoluta certeza que uma grande parte daquele coração que possuía... Grande parte era por causa dele. Era a conexão que possuía com ele. Talvez a recíproca não fosse tão intensa; não, não, com certeza não era. Mas, ainda assim, ela sorria por causa do palpitar que lhe causava.

Sim, ele estava certo... Se o coração nascia de cada pensamento e lembrança, Kaien era majestosamente o dono de uma enorme parcela do coração de Rukia. Onde ela guardava as pessoas mais importantes de sua vida.

– Está pensando no quê, Kuchiki? Está muito quieta hoje – observou ele de boca cheia.

– Eu? O senhor é quem fala demais, Kaien-dono – provocou com um sorriso. Shiba estreitou os olhos na direção dela, mas depois de alguns segundos de irritação, ergueu a mão e tocou-lhe o alto dos cabelos pretos.

– Te perdoo hoje, só porque fez um bom trabalho no treinamento. – Ele fez uma expressão humilde e voltou a devorar os biscoitos. Por sorte, Rukia havia pensado em levar outro pacote reserva, caso contrário, ia acabar morrendo de fome.

– Kaien-dono... – Chamou a atenção dele após alguns instantes em silêncio.

O sol já estava próximo do poente e o céu adquiria tons de laranja e vermelho bastante intensos. Mas o vento havia ficado mais rigoroso e Rukia sentia arrepios de frio.

– Que é?

– Qual é... Qual é o tamanho do seu coração?

Kaien franziu as expressivas sobrancelhas na direção dela. Segundos depois, a expressão relaxou. Talvez ele tivesse associado a pergunta ao contexto. Então, Shiba virou-se para olhar o céu à sua frente e pareceu pensativo. Rukia cogitou a possibilidade de ele não responder, mas logo, ele voltava a falar.

– Tão grande quanto a sua curiosidade – ele riu, fazendo a baixinha corar nas bochechas. Ao perceber a reação dela, Kaien parou de rir e deixou um sorriso repousar em seus lábios. – Não... Não, deve ser maior que isso... – Meneou a cabeça, e seus olhos esverdeados mudaram o curso para algo acima da cabeça da Kuchiki.

Rukia tentou seguir o olhar, mas não encontrou algo relevante atrás de si, então voltou a olhá-lo.

– Eu não sei medir meu coração – concluiu por fim.

Então, ela apoiou os cotovelos nos joelhos dobrados e segurou a cabeça com as mãos, olhando admirada para a benevolência dele. Já devia ter imaginado que o coração de Kaien não era algo mensurável. Assentiu com a cabeça, satisfeita com a resposta que recebeu, e não continuou o assunto.

Shiba, entretanto, aparentemente havia gostado do tema e resolveu prosseguir.

– E o seu, Kuchiki?

– O meu... – Crispou os lábios de leve para o lado.

Havia muitas pessoas no coração de Rukia. Desde os meninos do rukongai até Renji, e Byakuya. Ukitake. E por aí afora. Aqueles a quem ela protegia. Até mesmo Kaien.

Talvez ela não soubesse medir o seu próprio coração, e também não poderia responder à pergunta dele. Benevolência afinal não era uma característica única de Kaien. No fundo mesmo, todos tinham aquele coração ao qual ele se referia. Até aqueles nem sequer imaginados por Rukia.

– Quantas pessoas cabem no seu coração?

– Não sei – ela sorriu fechado. – Acho que muitas.

– Será que tem um espacinho aí pra mim?

Os olhos violeta da baixinha imediatamente pestanejaram diante da pergunta que lhe foi feita.

– M-mas é claro que tem, Kaien-dono! – Afirmou convicta. Certamente não poderia dizer-lhe o tamanho do espaço que ocupava, mas Shiba podia saber que algum, certamente, estava reservado somente a ele.

Kaien riu baixinho diante do nervosismo dela. – Não fique tensa assim, Kuchiki, só de pensar que um Kuchiki me tem no coração já é um nervosismo. Imagine como eu me sinto! – Ele sacudiu os ombros como se sentisse um arrepio. E depois riu. Claro, porque Rukia sabia que ele não fazia qualquer diferença entre ela e outra pessoa somente por causa do sobrenome que carregava.

Depois de parar de rir do nervosismo bobo da morena, Kaien voltou a afagar-lhe os cabelos na parte de cima. Não estava fazendo para bagunçar como de costume, mas certamente fazia boa parte dos fios se rebelarem para todos os lados. – Você tem um espaço no meu coração também, Kuchiki.

Rukia sorriu, lisonjeada. Não importava o tamanho do espaço. Desde que estivesse no coração de Kaien, para ela era o bastante.

Eles ficaram alguns segundos assim.

– Como nós sabemos que estão nos falando a verdade, se não podemos ver esses sentimentos?

Ele franziu as sobrancelhas, pensando por um único segundo antes de tirar a mão do cabelo dela e levar ao rosto, tocando-lhe as bochechas com a costa dos dedos.

E mesmo com aquele ventinho de trincar os dentes, o toque dele era quente.

Rukia sentiu a garganta se retorcer inteira num nó que, apesar de soar desagradável, refletia o intenso sentimento que havia se espalhado por todo o seu corpo.

Todas as respostas estavam naquele gesto. No fato de, mesmo estando sobre o inverno... A sensação ainda era calorosa. A percepção do toque dele sobre sua pele era quente.

– É assim que sabemos. – Ele sorriu, percebendo o rubor nas bochechas dela.

Rukia sentiu-se tão assolada por aquele sentimento que não conseguiu responder, ou ter qualquer outra reação. A única coisa que fez foi virar seu olhar para a frente, encarando o céu sem realmente vê-lo.

Estava tão feliz...

Alguns instantes depois, Kaien levantou-se e espreguiçou o corpo, fazendo barulho por conta do aparente cansaço que sentia. Era uma mudança bastante brusca de circunstância, mas no fundo Rukia sabia que ele era assim. – Temos que ir, Kuchiki. Daqui a pouco vai anoitecer. – Shiba virou-se para ela e estendeu-lhe a mão.

Rukia demorou alguns instantes para processar a informação. Os olhos focaram no que ele fazia, e de repente, a baixinha ficou com medo de aceitar a mão de Kaien e não querer mais soltar. Não seria justo. Com ninguém.

Então, levantou sozinha, fazendo um bico de contrariedade surgir nos lábios finos dele. O rapaz bufou.

Ela parou diante dele e mostrou-lhe um sorriso que fez com que o nó na própria garganta se desfizesse facilmente. – Não vou me esquecer, Kaien-dono.

Kaien sorriu e bagunçou de vez os cabelos dela. – É bom que não esqueça, mesmo. – Resmungou amargamente, voltando a fazer uma carranca gigantesca e inútil. Rukia riu e correu na frente dele.

– Aposto que não chega ao pé do monte antes de mim – ela cantarolou.

Ele pôs-se a correr atrás dela. – Espera aí, Kuchiki, isso não vale!

Rukia foi descendo o monte rapidamente aos passos curtinhos, rindo enquanto ouvia Shiba reclamar de sua falta de honestidade ao partir na frente. Parou de rir e sorriu quando ele disparou em sua frente, como se fosse rolar até o final do Koifushi a qualquer momento por não conseguir controlar a velocidade. Ele ficou se vangloriando feito um besta, mas isso não a impediu de sorrir.

Sorria porque... Lá estava seu coração. Logo Kaien desapareceu por entre as árvores do monte e Rukia percebeu que, definitivamente, não precisava ver para acreditar.


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