A guardiã do gelo escrita por Kashinabi Chan


Capítulo 79
Kame, volta aqui! Tem um leão gigante tentando nos devorar!


Notas iniciais do capítulo

Hey Batatinhas Ambulantes o/

Então né, possivelmente agora eu vou ter que dar uma pausa na maratona porque houve um imprevisto... Imprevisto do tipo vai vir uma pessoa aqui em casa e eu precisarei dar atenção a ela x.x por isso, a maratona deve retornar lá pelas 17h x.x

Fiquem tranquilos, a fic ainda se encerra hoje u.u

No capítulo de hoje - a volta do Leão de Nemeia u.u

Tenham uma boa leitura o/



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Eu e Malek passamos alguns dias cuidando do dragão ferido. Como ainda tínhamos um pouco de gaze, acabamos por enfaixar todo seu rosto que eu acabei selando com um pouco de magia pra que não acabasse se deteriorando por causa da quentura da sua pele.

Nesse tempo, descobrimos que a sua lerdeza vinha da sua idade. Ele era bem velho e isso deixava seus movimentos limitados — fora o fato de suas asas não puderem ser abertas por causa das árvores. Não fazíamos ideia de como ele havia vindo parar aqui. Minha teoria é de que ele tenha pousado por um tempo, no exato momento em que o elemento da terra assumia o controle de tudo. Depois disso não deve ter conseguido mais escapar.

O dragão de estimação também acabou ganhando um nome: Kame. Não quis colocar logo de cara "Kameel" porque seria mais doloroso, então optei por deixar Kame. Malek havia entendido o motivo, mas não comentou abertamente sobre o meu antigo amante.

Naquele dia estávamos derrubando as árvores próximas — meio que tentávamos construir uma pista de voo — para que Kame conseguisse abrir as asas — que eram enormes por sinal. Tinha alguns dias que íamos derrubando algumas árvores. Aliás, o bom de se ter um dragão enorme é que nenhuma criatura ousava se aproximar de nós, com medo do nosso monstro.

Passamos mais um dia derrubando árvores quando a última caiu. A última que impedia que Kame abrisse as asas. Ao ver que tinha ganhado essa liberdade, ele não hesitou em fazê-lo. Então começou a batê-las intensamente e usando a pequena pista que havíamos improvisado, ele alçou voo como um pássaro, feliz por finalmente ter sido solto de uma "gaiola".

Acabei abrindo um pequeno sorriso, conseguindo imaginar apenas parte da felicidade que ele sentia por finalmente se sentir livre. Kame voou pelo céu, dando piruetas, aproveitando sua liberdade

— Conseguimos — disse Malek, me olhando com um sorriso vitorioso.

— Conseguimos — digo o mesmo.

Entretanto, meu sorriso vai desaparecendo aos poucos quando Kame começa a desaparecer do meu campo de visão, voando cada vez mais e mais longe. De imediato invoquei os ventos de Éolo e me pus a voar, querendo alcança-lo. Abusei da boa vontade da pedra Elemental e aumentei minha velocidade. Em pouco tempo eu praticamente me sentia um foguete.

— KAME, ONDE VOCÊ VAI? — berrei pra ver se ele me ouvia.

Um alto ruído saiu da sua boca e eu só consegui interpretar aquilo como "não vou te contar, sua intrometida". Bufei, querendo persegui-lo para descobrir, mas de propósito ele só aumentava a velocidade e eu me obriguei a parar. Não podia abandonar Malek por causa de um maldito dragão teimoso.

Tive que olhar no relógio para encontra-lo novamente — e mesmo com a ajuda do mapinha, demorou um tempo até eu de fato encontra-lo. O que me salvou foi o imenso desmatamento que havíamos feito. Pousei no centro do mesmo e ele veio correndo até mim.

— O que diabos foi aquilo? — questionou, atônito.

— Kame fugiu — murmurei, me apoiando em seus braços. — Kame fugiu... — dessa vez minha voz saiu mais frágil. — Kame...

— Eu entendi — ele me cortou. Não sabia se havia sido por causa de eu estar chamando pelo Kameel toda hora ou para que eu não repetisse aquilo que acabara por me deixar magoada.

— O que fazemos agora? Era nossa última esperança...

— Quanto ao dragão não podemos fazer nada. Vamos, Kary, senta.

Malek me fez sentar num toco de árvore. Ele se sentou ao meu lado e segurou minhas mãos.

— Vamos continuar, simples assim. Temos mais uma pedra pra achar.

— Eu sei! Por isso ele era nossa última esperança! A essa hora já devem ter conseguido pegar a última pedra!

— Não pegaram ainda. Quando a pegam, o cenário muda e ainda não mudou. Temos uma chance, mas precisamos começar essa caminhada agora pra dar tempo.

Então o filho de Héstia me puxou para os seus braços.

— Não podemos desapontar nossa equipe. Nenhum deles.

Kameel, Benigna, Rian, Melina, Tanay, Quant, Henrietta, Daniela, Nerea, Imma, Utae..., cada nome correu pela minha cabeça naquele instante. Até mesmo Quione havia pedido pra que eu fosse forte. Ser forte era aquilo que me levaria até a vitória.

— Você precisa ser forte agora — murmurou durante o abraço.

Nós sabíamos o dono daquela frase e isso me fez novamente sentir um peso no coração. Kameel e Benigna haviam morrido por ele, Henrietta e Nerea haviam morrido por mim. E Imma havia partido por nós.

— Vamos — digo, engolindo o choro e encerrando o abraço.

Ele assentiu, entendendo o comando e levantamos juntos do toco. Abri o mapa para ter certeza do caminho que seguiríamos e continuamos nossa caminhada na direção oeste. Com certeza não haviam conseguido capturar aquela maldita pedra ainda.

É porque ela nos pertence, Kary. Ela nos pertence.

Já com a lua brilhando fortemente no céu, decidimos parar a caminhada. Tínhamos andado bastante desde a partida de Kame e estávamos destemidos. Eram as lembranças que me deixavam mais forte e confiante. Tinha que ganhar o jogo por eles. Por todos eles. Não posso ter deixado ninguém ter se sacrificado em vão.

Sentamos no chão e Malek se encarregou de fazer uma fogueira com os galhos que conseguira pegar durante o caminho longo. Aquela era só uma maneira de termos uma fonte de luz.

Tudo parecia calmo quando um ruído incomodou meus ouvidos. Franzi o cenho. Durante todo o percurso eu andei nos vigiando e tinha certeza de que nada nos perseguia. Entretanto, o ruído acabou de mostrar uma realidade completamente diferente.

— Acho que alguém nos seguiu até aqui — sussurrei para Malek.

Seus olhos alaranjados se fecharam e eu acabei fazendo o mesmo querendo, assim como ele, ouvir os sons com mais atenção. Então ali estava o ruído em algum lugar na floresta eterna. Se tivéssemos com nosso dragão, nada desse tipo seria um problema agora.

O ruído ficou maior até se transformar numa árvore caindo ao nosso lado. Meu coração deu um pulo juntamente comigo mesma que não conseguiu ficar sentada naquele momento de desespero. Nisso, meu cérebro passou a ficar inquieto com o acontecimento.

Mais umas três árvores caíram até ouvirmos um rugido ecoar por toda floresta. Eu reconhecia aquele rugido. Por um segundo eu gostaria de que aquilo tivesse saído da boca de Kame, mas não pude sustentar aquela esperança por muito tempo. O rugido vinha da garganta de outro animal. Um leão. Gigante.

Leão de Nemeia.

— CORRE! — berrei pro Malek.

Nós dois saímos em disparada pela floresta escura. Logo estávamos correndo lado a lado e bem atrás de nós eu podia ouvir a criatura nos perseguindo. Por ser infinitamente maior que a gente, eu sabia que uma hora ou outra ele nos alcançaria. E nos faria em pedaços.

Um flash de memória de Kameel invadiu minha mente sem permissão, me fazendo lembrar do estado em que eu e Imma encontramos ele sem a perna. Kameel na época tinha tido sorte de Equidna chamar o leão de volta, caso contrário, teria virado almoço ali mesmo.

Bem, comigo e com Malek não parecia ser diferente agora.

Os passos apressados do leão ficaram mais audíveis. Mais árvores eram empurradas do caminho por ele para que pudesse nos alcançar. Em pouco tempo minhas pernas reclamaram do esforço — havíamos caminhado o dia todo! Malek possivelmente não estava numa condição melhor que a minha.

Estávamos ferrados.

No desespero, decidi invocar os ventos de Éolo. Voar era a melhor opção agora. Segurei o braço do Malek e nos impulsionei pra cima, esperando despistar o maldito leão. Aos poucos meu coração foi desacelerando ao perceber que o monstro não poderia nos atacar por estarmos a uma altura considerável.

Alívio percorreu o meu corpo, porém, esse alívio foi diminuindo quando o poder de Éolo pareceu falhar, nos fazendo cair pouco a pouco. Fiquei confusa, pois isso havia sido uma coisa que nunca tinha acontecido antes.

Até os deuses possuem seus limites, mortal, a voz ancestral de Éolo invadiu minha mente e eu tive que xingá-lo. Possivelmente era ele quem estava bloqueando meu acesso aos seus poderes. Eu já deveria imaginar, afinal, desde o começo ele não parecia ter ido muito com a minha cara. Não me venha com essa droga de limites, Éolo. Eu preciso dos seus ventos agora!, ou vou acabar morrendo, seu imprestável.

Não sou seu bichinho de estimação, mortal, foi a resposta que ele me deu em seguida. Nem tive tempo de continuar protestando porque eu e Malek íamos despencando a altura que tínhamos conseguido subir anteriormente. Tive que usar meus próprios poderes sobre o vento para que não atingíssemos tão violentamente o chão.

Mesmo com essa precaução, o impacto doeu.

O Leão de Nemeia rugiu alto, ferindo meus ouvidos. O monstro estava bem mais próximo agora e eu já podia olhar bem fundo nos seus olhos escuros. Estava praticamente estampado na sua testa que iria nos devorar.

Malek usou do seu fogo para tentar afastá-lo e eu mesma tentei invocar o fogo de Héstia, mas assim como o poder de Éolo, não consegui usá-lo. Ele deve ter convencido a deusa a me travar também. O leão não gostou muito daquele fogo, entretanto, o filho de Héstia continuou e aquelas chamas foram aumentando cada vez mais, até envolverem o leão numa espécie de explosão.

Fiquei impressionada por Malek estar dando conta de tudo sozinho.

— Isso, continua — o incentivei.

Talvez aquele fogo não fosse matá-lo, porém, poderia nos dar uma chance de escapar mais uma vez.

— Não sou eu.

Franzi o cenho sem entender o que queria dizer.

— Como assim? Bloquearam meus poderes. É você sim.

O ruivo negou com a cabeça e o acontecimento seguinte fez meu coração dar um pulo forte no peito. Kame apareceu, lançando suas chamas em todas as direções, inclusive no monstro de Nemeia. O dragão avançou contra o leão, usando seus dentes afiados para tritura-lo em mordidas violentas.

Obriguei-me a levantar e a dar passos hesitantes para trás. O leão nem havia tido chance de se defender pois Kame agia rápido, como se estivesse morto de fome. Para um dragão idoso, ele parecia bem feroz agora.

Malek acompanhou meus passos, olhando quase tão paralisado quanto eu. Se Kame podia fazer aquilo num leão que deveria ser invencível, em nós, meros mortais, podia ser algo muito pior. Esse pensamento me fez ter um arrepio na espinha.

Kame só parou de triturar o leão quando o mesmo se encontrava esquartejado, sujando boa parte da floresta com seu sangue. A lenda sobre o monstro de Nemeia de fato deveria ser verdade: não poderia ser morto por um mortal ou sequer armas mortais. Nela não dizia nada sobre dragões assassinos. Acho que o Leão de Nemeia estava finalmente morto.

O dragão rugiu, lançando chamas para o alto, parecendo decretar a própria vitória. Então, ao parar sua "comemoração", o mesmo olhou para nós e pela primeira vez senti um verdadeiro medo dele. Quando eu e Malek cuidamos dele, parecia ser um animal mais tranquilo e lento por estar velho, mas agora eu tinha a prova concreta do contrário.

Comprimi os lábios, esperando que nos atacasse da mesma forma que tinha feito com o leão. Porém, o dragão apenas abaixou a cabeça como se esperasse algo de nós. Troquei olhares com Malek e ele parecia tão confuso quanto eu.

Uma bufada vinda do dragão esquentou minhas pernas. Ele parecia impaciente. Engoli em seco e vou até ele em passos hesitantes, tocando sua cabeça — espero que seja isso o que ele quer. Kame fechou os olhos como se apreciasse o toque e eu continuei, começando a acaricia-lo como fazia quando estava preso ao chão.

Novamente meu olhar se encontrou com o de Malek e ele se aproximou, fazendo o mesmo. Então inesperadamente o rabo do dragão veio até mim e se enroscou na minha cintura. Respirei fundo, querendo acreditar que ele não me faria mal. Kame então me levou até um monte de carne e eu arqueei uma sobrancelha. Não pode ser...

O dragão me colocou no chão perto da carne e eu não consegui evitar um sorriso. Só podia ser aquilo que eu estava imaginando. Kame havia saído para buscar carne para nós — ele deve ter percebido o quanto eu e Malek estávamos com fome enquanto cuidávamos dele.

A pontinha do seu rabo passou pelo topo da minha cabeça como se fosse ele me acariciando e eu tive que engolir o choro porque por dentro estava completamente emocionada.

Ele simplesmente era o melhor bichinho de estimação do mundo.


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Notas finais do capítulo

O dragão Kame é um amor, não é mesmo? *3*

No próximo capítulo - a volta... do Kameel?

Até o próximo capítulo o/



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