A guardiã do gelo escrita por Kashinabi Chan


Capítulo 74
Encontrei um herói onde menos esperava


Notas iniciais do capítulo

Hey Batatinhas Ambulantes o/

Fico aqui pensando o que vocês vão achar desse capítulo especificamente, afinal, acho que muitos vão gostar haushsauhas

No capítulo de hoje - a morte se aproxima para Kary...

Tenham uma boa leitura o/



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Depois de chegar a rápida conclusão de que a pedra não havia sido pega pela Latakara, decido sair do templo apressada, com Malek e Utae no meu encalço.

— Quem você acha que foi? — questionou Malek enquanto saíamos.

— Não faço ideia — respondo. — Deve ter entrado escondido.

Já do lado de fora do templo, arregalo os olhos ao ver vários gêiseres explodindo lava para o alto. Gotas de suor ainda escorriam pela minha pele. A temperatura do local só aumentava. Com certeza era alguém que estava controlando tudo.

Mais agulhas perfuraram meu estômago.

— Utae, vou precisar que volte a ser uma águia — pedi. — Vai ter uma visão mais ampliada que a gente. Eu e Malek vamos ficar na forma animal também para te acompanhar.

Ele assentiu e deu alguns passos pra trás antes de correr e alçar voo já como uma águia. Olhei pra Malek e assenti para ele. Estava na hora de voltar a ser um lobo. Também dei alguns passos para trás e comecei a correr, sentindo a transformação. Logo quatro patas se colocaram no lugar das minhas pernas e braços e a minha velocidade de corrida aumentou.

Olhei pro céu ao ouvir um grito de águia e ao olhar para o lado, vejo que Malek me acompanhava em forma de raposa. Tentei não ir rápido demais por ele ser menor, mas ao menos ele conseguia me acompanhar numa velocidade considerável. O bom das nossas formas animais era podermos nos acompanhar com facilidade.

Mais gêiseres explodiram durante o caminho e o calor ainda me incomodava — apesar de ainda assim estar usando e abusando do poder de Poseidon. A corrida não facilitava as coisas, entretanto, decidi que a adrenalina daria conta de parte do recado.

Utae como águia deu uns quatro gritos. Aquilo deveria ser um sinal de que havia coisa pela frente. Isso me incitou a correr ainda mais rápido, fazendo com que Malek acabasse ficando um pouco mais atrás. Então logo já consegui avistar três pessoas correndo, todas usando capas pretas. Dei o máximo de mim para poder alcança-los. Utilizando um bom impulso, consegui pular nas costas da pessoa do meio. De imediato usei meus caninos para rasgar o capuz daquela maldita capa. Ao sentir o cheiro daquela pessoa, percebi que não se tratava de um desconhecido.

— SAI DE CIMA DE MIM! — vociferou a garota que eu havia pulado nas costas.

Me permiti voltar à forma humana e isso fez com que mãos agarrassem ambos os meus braços, tentando me tirar de cima da garota.

— Solta ela — reconheci a voz autoritária de Malek.

As mãos me jogaram de costas no chão ao lado, finalmente deixando a garota livre. Ela se levantou, batendo a poeira da capa e eu vi uma linha fina de sangue escorrendo por seu pescoço. Seus olhos dourados encontraram os meus.

— Yekaterina — digo. — Filha de Morfeu.

— Você...! — rosnou. — Sempre é em mim que tem que atacar, não é? — ela estava irritada e até puxou para o lado um pouco da capa para mostrar a horrenda cicatriz que eu havia deixado de presentinho no nosso primeiro encontro.

Dei um pequeno sorriso maldoso, cruzando os braços.

— Não tenho culpa se você está sempre no meu caminho.

Ela só não pulou no meu pescoço porque o garoto ao lado segurou seu braço. Ele deixou o capuz cair para trás, revelando os olhos alaranjados.

— Yeka, fica tranquila. São dois contra três — mesmo sério, consegui sentir seu tom convencido. — Assim que ganharmos, pode torturar a filha de Quione à vontade.

— Parece que você errou, Jorell — falei. — São três contra três.

Dito isso, Utae caiu do céu, aterrissando heroicamente ao meu lado. Adorava quando esse tipo de intimidação dava certo.

— Não acredito que estou vendo vocês de novo — disse Utae. — Vieram como ladrões mais uma vez? É só isso que sabem fazer?

— Por que está nos chamando de ladrões? — Yeka se pronunciou. — Não roubamos a sua amiguinha da última vez. Teve sorte de deixarmos vocês saírem vivos.

— Você está se precipitando — respondeu Malek, num sorriso debochado. — Vocês que tiveram sorte de saírem vivos. Três contra cinco.

— Você também errou, Malek — digo, colocando o mesmo sorriso que o dele no rosto. — Eram dois contra cinco porque que eu me lembre bem, a Yeka mal se aguentava em pé.

— E eu fui besta o suficiente pra ter misericórdia de vocês — Utae resmungou alto.

— Agora, devolvam o que é nosso — falou Malek. — Queremos a pedra do fogo.

— Quem disse que estamos com ela? — disse Jorell.

— Tentaram roubar Nerea — falei. — O que impediria de vocês terem roubados outros Jogadores também? Inclusive uma deusa.

— Vão embora — Yeka vociferou. — Sério mesmo que estão comprando uma briga com a gente?

— Por que estavam fugindo se não roubaram nada? — pressionei. Eu queria respostas. Precisava delas.

— Olha ao seu redor, sua burra! Tá cheio de lava aqui! Por que não estaríamos fugindo?

Talvez a filha de Morfeu tenha um pouco de razão, confessei para mim mesma mentalmente. E se eles estiverem falando a verdade? E se eles não forem os verdadeiros ladrões da pedra?, será que aquilo era possível? Quem mais poderia ser então?

Não caia na conversa dela, Kary. Eu posso sentir o poder daquela pedra, Malek invadiu meus pensamentos e nós acabamos por trocar sérios olhares. Ela me colocou numa situação difícil. Não sei mais como acusa-los, desabafei. Então passei a observar o cara que até o momento não havia se pronunciado — e nem ao menos tirado o próprio capuz!

— Quem é você? Tira esse capuz — falei pro cara misterioso.

Ele me deu um vácuo de presente.

— Não vai defender a sua equipe? — desconfiança saiu da língua de Utae para o cara.

— Kary! — gritou Malek de repente e meu coração deu um pulo pelo susto.

Malek me empurrou pro lado, me fazendo cair mais uma vez. Um gêiser de lava explodiu onde eu estava. Engoli em seco. Demorou longos segundos até a lava parar de jorrar. Todos nós tivemos que nos afastar para não nos queimarmos. Apenas Malek ficou no centro do jato, recebendo toda aquela lava em seu corpo. Quando a fonte se esgotou, lá estava ele com os cabelos em chamas e os olhos mais vibrantes do que nunca.

Ah céus, mais uma vez ele havia salvado minha vida.

Utae me ajudou a levantar e de imediato meus olhos recaíram sobre o estranho calado.

— Foi você! — eu estava certa da minha acusação. — Seu maldito!

Caminhei pesadamente até o mesmo. Jorell segurou o braço de Yekaterina com mais força quando ela tentou me impedir de chegar até o estranho. Dei um empurrão no ombro do cara misterioso e isso fez seu capuz também cair, revelando um rosto conhecido. O olho — por que o singular? Porque onde deveria estar um de seus olhos, havia apenas um buraco com uma cicatriz horrenda — mel estava severo e o cabelo castanho cortado. Acima de sua cabeça brilhava o nível cinco.

— Rian... — apenas choque escapou da minha boca.

A pedra do fogo deu um leve brilho no seu colar. Estava com ele a pedra que tanto procurávamos. Se é com ele que está a pedra, então quer dizer que aquele gêiser só pode ter sido feito por..., meus olhos marejaram ao compreenderem.

— Tentou me matar? — não consegui evitar de embargar a voz.

Seu olho ainda me avaliava com seriedade. Logo ele se recaiu sobre meu colar com duas pedras e se prendeu lá por vários segundos antes de retornar aos meus olhos.

— Inutilmente tentei proteger vocês — foram suas primeiras palavras. — A primeira Héstia que viram era uma ilusão. Não sei porque fui idiota o suficiente para me livrar de Latakara.

— Não foi uma inutilidade, Rian... — Comprimi os lábios. Não ia me debulhar em lágrimas por rever um velho conhecido. — Obrigada por nos tirar daquela enrascada.

Então sua mão lentamente se esticou e tocou meu ombro com um pequeno sorriso. Devolvi seu sorriso. Talvez aquele gêiser não tenha sido proposital, afinal, pegou a pedra agora, mal deve saber controlar seus próprios poderes. Sua mão passeou pela minha clavícula, chegou ao meu pescoço e tocou meu colar.

— Tem razão, talvez não tenha sido de todo inútil — disse ele.

— Kary... — senti o tom de reprovação do Utae.

— Quieto, Utae — o repreendi. — Não vê? Ele nos ajudou.

Rian acariciou com o polegar as pedras do meu colar e eu apenas observei. Seria bom se pudéssemos ter ele de volta na equipe. Tudo parecia que ocorria bem, até ele dar um puxão no meu colar. Meu coração deu outro pulo no peito pelo susto. Ao menos o fiozinho do meu colar não se partiu em dois pela a força usada para tentar arrebentá-lo, mas me deu de brinde um corte na nuca — eu conseguia sentir agora a linha fina escorrendo juntamente com meu suor.

— Seu maluco! — falei por impulso, dando um tapa na sua mão que tentara tirar de mim meu próprio colar.

— Desculpa, Kary, não queria ter te assustado. São apenas negócios.

Mãos agarraram meus braços e eu dei um chute pra trás, querendo que me soltasse quem quer que estivesse me segurando. Pelo gemido feminino, descobri que se tratava de Yekaterina.

— Solta ela — ordenou Utae.

— Mas eu já soltei — achei estranho uma voz doce vir de Yekaterina e eu só pude concluir que ela estava usando uma ilusão contra ele.

— É uma ilusão, Utae! — gritei.

O filho de Atena veio tapar a minha boca. Em seguida, ele sussurra ao se abaixar e aproximar seu rosto do meu:

— Eu não queria ser o responsável pela sua morte, mas se essa é a única forma de conseguir as duas pedras Elementais...

Algo gelado encostou no meu pescoço e eu tinha certeza de que era alguma lâmina. Suas mãos deixaram meus lábios.

— É assim? — minha voz voltou a embargar. — Vai me matar por causa de um maldito poder?

— É um jogo, Kary. Pare de levar tudo pro lado pessoal.

— Eu deveria ter deixado que Xander matasse você! — vociferei.

Seu rosto ficou sombrio.

— Ele já veio me cobrar parte da vingança. — Rian apontou para o buraco no rosto onde deveria estar um olho. — Eu preciso dessas pedras pra finalmente acabar com ele. Sendo da minha equipe ou não, eu vou matar aquele filho da ****.

— Eu também quero a minha vingança, Rian! Você sabe muito bem o que ele tirou de mim.

Fiquei embasbacada quando ele deu um tapa na minha bochecha. Por Yeka estar me segurando, eu nada pude fazer pra revidar.

— Lembrar do passado não vai me fazer mudar de ideia agora.

O metal contra minha pele fez mais pressão. Por defesa, deixei que uma camada de gelo começasse a cobrir a mesma. Nisso, Rian deu um soco no meu queixo, resultando em alguns pontos pretos na minha visão.

— Não torne as coisas mais difíceis pra mim, Karysha.

— Você é igual a ele... — murmurei e cuspi o sangue que começara a encher minha boca.

A camada de gelo foi desaparecendo da minha pele por causa da minha falha consciência. O soco havia me deixado um pouco desnorteada. Por isso, usei a última coisa que me restava como opção: Malek..., não sabia ao certo se ele me ouviria, afinal, se nada havia feito até agora, era porque também estava sob o domínio de Yeka. Malek, por favor, me escuta..., até meus pensamentos pareciam um lamento. Malek..., a faca finalmente abriu o corte, irradiando dor. Se afundasse mais um pouco, com certeza seria o fim. Malek, ignore essa ilusão. Eu... eu preciso... da sua ajuda..., infelizmente eu ainda abusava do poder de Poseidon para não morrer queimada. Eu preciso... do meu... herói..., nem eu acreditava que o estava chamando assim. Tudo para atrair a sua atenção.

Rapidamente, alguém acertou Rian em algum lugar porque ele praticamente voou pro lado. Yeka me soltou — até ela deve ter se assustado um pouco — e eu percebi que adaga dele havia caído perto de mim. A peguei e a cravei com todas as minhas forças no pé da filha de Morfeu. Ela gritou de dor.

Aproveitando a deixa, faço um grosso espinho de gelo e cravo no outro pé — usar meu poder estando tão fraca, causou mais uns pontos pretos na minha visão. Mais um grito escapou da sua boca. Ao menos ela não conseguiria andar por um tempo.

Tento levantar, mas alguém me dá um chute na bochecha. Isso apaga minha visão por um segundo e eu me deixo cair no chão quente, ainda usando a água para não me deixar morrer queimada. Assim que minha visão foi retornando, a mesma estava turva e uma dor de cabeça acompanhou a falha visão.

Virei de lado, tentando recuperar a nitidez, entretanto, estava sendo um pouco difícil. Mesmo assim, consegui ver que Malek estava por cima de Rian e utilizava a adaga flamejante de Héstia para... esfaqueá-lo de maneira brutal. Obrigada visão por estar falha porque eu não gostaria de ver essa cena, só de pensar naquilo já dava um nó no meu estômago. Já bastava uma memória bem guardada na minha mente sobre a morte horrível de Kameel.

 

Não consegui contar quantas esfaqueadas Malek deu no Rian, só sei que depois de um tempinho ele se levantou, ainda com a adaga em mãos e veio na minha direção. Yekaterina continuou agonizando de dor, o que significava era que Jorell não havia feito nada para ajuda-la. Por um segundo eu pensei que Malek iria vir me ajudar, mas ele seguiu caminho e eu ouvi mais gritos saindo da garganta de Yeka. Aos poucos os gritos foram ficando úmidos como se ela estivesse se afogando em algo. Por fim o barulho vindo dela cessou.

— Onde está Jorell? — questionou Malek a alguém. Devia ser Utae.

— O desgraçado conseguiu fugir — respondeu o filho de Zeus.

— Tá, pouco importa agora.

Um pontinho vermelho foi jogado perto do meu rosto e eu deduzi ser a pedra Elemental do fogo — minha visão ainda estava turva por causa do chute. Logo alguém se abaixou e só descobri que era Malek pela sua voz:

— Kary, você tá bem? — Mãos quentes tocaram minha bochecha ferida e algo quente também escorreu do local. — Não é seu o sangue — garantiu.

Alguns segundos se passaram. Sangue escorreu da minha boca.

— Utae, ela tá de olhos abertos, mas não responde — consegui perceber a preocupação na voz de Malek.

— Calma. É a Kary. Ela não se deixaria vencer tão fácil assim.

— Kary, se estiver me ouvindo, pode puxar a linha. Puxe a linha. Se cure.

— Ela vai ficar bem, Malek — demorei uns segundos para reconhecer a voz de Héstia. — Os outros me obrigaram a ir com eles, mas com vocês irei de bom grado oferecer todo o meu poder — a voz dela estava serena como sempre. — Malek, receba minha benção por fazer justiça em meu nome.

— Precisa me perdoar, mas não quero a sua benção. Cura a Kary. Usa a sua benção para curá-la.

Um silêncio se arrastou antes de um poder envolver meu corpo, restaurando minha consciência aos poucos e aliviando toda dor que sentia. O sangue na língua foi removido e fui me sentindo cada vez mais forte. Mais do que antes de toda essa batalha.

Pisquei várias vezes, ainda deitada no chão, porém, me sentindo rejuvenescida. Agradeci mentalmente pela minha visão ter voltado ao normal e me sentei no chão, já nem sentindo mais a quentura do fogo. Então bem ali na minha frente estava Malek com vários cortes no rosto, sangue espalhado pelo seu traje e mãos... A adaga flamejante apagada e embainhada em seu cinto.

— Obrigada... — murmurei com os olhos marejados, segurando seu rosto. — Obrigada...

Acariciei sua bochecha com o polegar, tentando engolir o choro, mas mesmo assim as lágrimas deixavam úmida minha bochecha.

— Obrigada... — Foi meu último murmuro antes de encostar seus lábios nos meus.


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Notas finais do capítulo

Tá aí! Finalmente aconteceu algo que muitos estavam pedindo pra que acontecesse u-u estão felizes agora? u-u

No próximo capítulo - a briga da separação T-T

Até o próximo capítulo o/



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